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CAPÍTULO 5 CARACTERIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ACTUAL

5.1. Caracterização do País

Cabo Verde é um pequeno país, com uma situação geográfica privilegiada, no Oceano Atlântico, no cruzamento dos continentes africano, europeu e americano, a quem é exigida a responsabilidade de contribuir para transformar o Atlântico num corredor de paz e de segurança, de estabilidade e num importante instrumento de desenvolvimento para todos os países atlânticos.

É um arquipélago da África Ocidental situado a cerca de 500 km da costa ocidental africana em direção ao Senegal e ao promontório africano donde provém o seu nome. Possui fronteiras marítimas a oeste com o Senegal, Mauritânia, Gâmbia e a Guiné- Bissau e tem uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas Marítimas de África, com um extenso mar interior e uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) de 734.265 km2 e conta com uma linha de costa de 1200 km2.

A história refere que a descoberta de Cabo Verde se deu no século XV, mais precisamente em 1460. A colonização portuguesa começou logo após a sua descoberta. A primeira ilha a ser povoada foi a de Santiago, em 1462, por se mostrar a mais favorável para a ocupação.

Cabo Verde servia de entreposto comercial e de aprovisionamento nas rotas que ligavam a Europa, a África e o Brasil, com especial destaque no tráfego de escravos, devido à posição estratégica que ocupa no Atlântico.

Para incentivar a colonização, a corte portuguesa estabeleceu uma carta de privilégio aos moradores de Santiago relativa ao comércio de escravos vindos do continente africano. Em Ribeira Grande, na ilha de Santiago, estabeleceu-se a primeira feitoria, que serviu de ponto de escala para os navios portugueses e para o tráfego e comércio de escravos, que começava a crescer nessa época.

O cabo-verdiano, decorrente da sua história, é a união de europeus livres e escravos da costa africana, resultando-se assim num povo com uma cultura que advém dessa

147 miscigenação. Europeus e africanos uniram-se, criando um povo de características próprias.

O crioulo emergiu como idioma da comunidade, maioritariamente mestiça, sendo, atualmente, a língua materna falada no quotidiano e o português a língua oficial.

Abolido o tráfico de escravos em 1876, o interesse comercial do arquipélago para a metrópole portuguesa decresceu, só voltando a ter importância a partir da segunda metade do século XX.

Com a abolição da escravatura e a progressiva deterioração das condições climáticas, o arquipélago começou a dar sinais de fragilidade, entrou em decadência e passou a viver com base numa economia pobre, de subsistência.

No século XX, a partir da década de 50, começaram a surgir os movimentos independentistas no continente africano. Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, Pedro Pires, entre outros jovens patriotas da Guiné-Bissau e Cabo Verde, fundaram em 1956, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que surgiu no âmbito do movimento libertador africano, com o objetivo de lutar contra o colonialismo e iniciar uma marcha rumo à independência dos dois países

Ainda na época colonial, com o processo de formação nacional, nomeadamente a criação de liceus nas Cidades do Mindelo e Praia, e existência de seminários católicos que contribuíram para a formação e para o desenvolvimento intelectual dos cabo- verdianos, muito cedo a máquina administrativa foi sendo gradualmente assegurada pelos nascidos em Cabo Verde, ou pelos que já tinham grande identificação com a colónia.

Esta assunção administrativa de Cabo Verde estava associada a uma escolarização relativamente desenvolvida e à existência de uma imprensa mais ou menos dinâmica que contribuíram para o surgimento de uma elite intelectual e burocrática. Esta

148 começou, no século XX, a discutir cada vez mais a questão da independência, gerando um clima de atrito com os representantes da metrópole.

A 19 de Dezembro de 1974, foi assinado um acordo entre o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde e Portugal, instaurando-se um governo de transição em Cabo Verde. A 5 de Julho de 1975, foi proclamada a independência do país, considerado na altura por muitos como um país inviável, devido às fragilidades próprias do arquipélago.

Após a independência, Cabo Verde atravessou um período de forte centralização das principais atividades económicas. Com efeito, o Estado desenvolveu a maior parte das atividades económicas, cabendo aos privados, o papel de agentes económicos de pequena e média dimensão. De realçar que nesse período não existia uma classe empresarial forte, capaz de assumir a liderança de grande dimensão.

Em 1991, na sequência das primeiras eleições pluripartidárias realizadas no País, foi instituída uma democracia parlamentar com todas as instituições de uma democracia moderna. Hoje, Cabo Verde é uma República soberana, unitária e democrática, que garante o respeito pela dignidade da pessoa humana e reconhece a inviolabilidade e inalienabilidade dos Direitos do Homem como fundamento de toda a comunidade humana, da paz e da justiça.

“A República de Cabo Verde organiza-se em Estado de direito democrático assente nos princípios da soberania popular, no pluralismo de expressão e de organização política democrática e no respeito pelos direitos e liberdades fundamentais” – Constituição da

República, 2ª revisão ordinária, 2010.

Sofrendo de diversos constrangimentos, entre os quais se destacam a insularidade e séries prolongadas de chuvas insuficientes, ocasionando secas cíclicas, sem recursos naturais, a economia foi basicamente orientada para o sector dos serviços que representa cerca de 70% do Produto Interno Bruto - com um crescente contributo do Turismo.

149 De acordo com o Censo de 2010 realizado pelo INE, uma boa parte da população (39% em 2010) habita nas zonas rurais, mas apesar disso, a produção de bens alimentares é claramente insuficiente implicando consequentemente que mais de 80% do consumo seja satisfeito através de importações o que torna o país dependente do exterior para responder às necessidades básicas dos cerca de 491.000 habitantes e obter matéria- prima para as atividades económicas.

O mar circundante, apesar de possuir razoável potencial não se encontra adequadamente explorado.

A qualidade dos seus Recursos Humanos foi internacionalmente reconhecida pelo 132º lugar a nível mundial no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 2012 (acima da média do grupo de países em que se insere, melhor classificado entre os PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, publicados pelo PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

O facto de Cabo Verde ser um arquipélago constituído por 10 ilhas implica um duplo condicionamento, o primeiro derivado da sua condição insular e o respetivo distanciamento de qualquer outro território continental e o segundo condicionamento que deriva da descontinuidade física do território o que leva a um distanciamento entre as várias ilhas e a inerente multiplicação de infra estruturas.

Cabo Verde pretende ser visto no futuro como “um país aberto ao mundo, com um

sistema produtivo forte e dinâmico, assente na valorização do seu capital humano, capacitação tecnológica e na sua cultura. Uma sociedade solidária, de paz, e justiça social, democrática, aberta e tolerante. Um país dotado de um desenvolvimento humano durável com um desenvolvimento regional equilibrado, sentido estético e ambiental, baseado numa consciência ecológica desenvolvida” José Maria Neves -

Primeiro-ministro de Cabo Verde. “As Grandes Opções do Plano: Uma Agenda Estratégica” – 2002.

150 Para a prossecução destes objetivos, Cabo Verde aposta na boa governação e capacidade empreendedora, no desenvolvimento do capital humano, na promoção de uma política global de desenvolvimento social, numa relação de parceria estratégica e boa vizinhança com os outros países e no desenvolvimento de infraestruturas básicas e económicas e na promoção do ordenamento do território com vista a um desenvolvimento equilibrado.

As autoridades cabo-verdianas têm-se empenhado num plano de aproveitamento da posição geopolítica do arquipélago, nas vertentes do turismo e entreposto comercial, com particular atenção ao desenvolvimento do sector de serviços, no sentido de combater a degradação económica do País.

A estratégia de desenvolvimento de Cabo Verde passa pelo crescimento dos sectores do turismo, dos transportes e das telecomunicações, tendo como base de sustentação, a valorização dos recursos humanos numa perspetiva de competitividade global, e a atração do investimento externo.

Cabo Verde é um país democrático onde se respeita as opiniões das pessoas e a separação dos poderes. Contudo e como qualquer outro país, apresenta pontos fortes e fracos. As principais potencialidades e vulnerabilidades devem ser analisadas de modo a potenciar as primeiras e corrigir as segundas.

Como potencialidades, Cabo Verde apresenta a sua privilegiada situação geográfica, de grande valor estratégico uma vez que o arquipélago pode constituir um ponto de escala para os navegantes da rota atlântica e no cruzamento dos continentes europeu, africano e americano; um conjunto territorial sem conflitos fronteiriços; sistema democrático consolidado e estabilidade social; enorme espaço aéreo e marítimo que pode ao mesmo tempo constituir uma vulnerabilidade se não houver controlo; população homogénea sob o ponto de vista linguístico, étnico, religioso e com um grau de escolaridade considerável; grandes comunidades espalhadas pelo mundo, o que privilegia as relações com os países de acolhimento; facilidade nas relações económicas com a Europa e com

151 os Estados Unidos; associado a mais conjuntos insulares nomeadamente Madeira, Açores e Canárias.

As principais vulnerabilidades assentam-se na reduzida população, com a agravante de estar dispersa pelas ilhas do arquipélago; na reduzida superfície terrestre, agravada pelo facto da insularidade dificultar a coesão, a ligação e o exercício do poder; no mercado interno muito limitado resultando numa elevada dependência dos mercados externos tanto para as exportações como para as importações (forte dependência económica); escassez de recursos naturais; elevada dependência de capitais externos (ajuda externa e remessas dos emigrantes); sector industrial pouco desenvolvido e fraca produtividade agrícola resultante de secas cíclicas, das condições do solo, do clima e da erosão.

É importante a criação de mecanismos de desenvolvimento sustentado com base nas vantagens comparativas e competitivas como forma de libertar o país da dependência externa. Para isso deve-se apostar nas relações bilaterais, explorando as vantagens que a situação geográfica lhe confere, servindo de porta de entrada do Ocidente para África.

5.2. Evolução dos Recursos Humanos da Administração Pública