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1 INTRODUÇÃO

2.3 APRESENTANDO A PESQUISA DE CAMPO

2.3.1 Caracterização dos executivos/as globais

A fim de proteger a identidade dos entrevistados eles estão aqui representados por nomes fictícios. O nome das empresas em que atuam também foi ocultado, constando apenas o ramo da empresa.

Quadro 2 – Relação de executivos/as globais entrevistados - por nacionalidade e sexo

Nacionalidade dos entrevistados

Homens Mulheres Total p.

nacionalidade

Número Número Número

Alemã 1 0 1 Brasileira 4 0 4 Colombiana 0 1 1 Francesa 2 3 5 Norueguesa 0 1 1 Portuguesa 2 0 2

Total geral 14

Fonte: autoria própria

Ressalto que não foi trivial encontrar e contatar mulheres executivas globais para entrevista, uma vez que elas estão ainda sub-representadas nas expatriações. Das cinco executivas entrevistadas, uma era solteira, e das outras quatro, consegui entrevistar apenas dois esposos, na França. Os outros dois foram contatados no Brasil, mas não ofereceram disponibilidade.

O próximo quadro apresenta algumas características dos executivos/as entrevistados/as.

Quadro 3 – Caracterização dos executivos/as globais entrevistados

Nomes

(fictícios) País de origem Idade Estado civil N. de filhos Formação expatriN. de ações

Países de expatri

ação

1 Paulo Brasil 47 Casado 2 Engenharia

civil 3 México, Malásia Angola 2 Túlio Brasil 44 Casado 2 Engenharia

mecânica 1 França

3 Roberto Brasil 35 Casado 4 Engenharia

elétrica 1 França 4Ronaldo Brasil 31 Casado 1 Analista de

sistemas 2 França

5 Tiago França 46 Casado 4 Administr.- logística

intern.

1 Brasil

6 Carlos França 41 Casado 3 Administr.

finanças 2 Brasil 7

Fernando Portugal 44 Casado 2 Engenharia mecânica 2 Espanha e França 8 Claudio Angola 44 Casado 2 Engenharia

agroalimen tar

2 Espa

nha e França 9 Lucas Alemanha 42 Casado 1 Ciências

políticas 3 Zimbá bue Moçam bique

10

Valentina França 41 Casada 2 Engenharia mecânica 1 Brasil 11

Melissa Colômbia 37 Casada 0 Engenharia química 2 França Japão 12

Mônica França 34 Casada 1 Engenharia agrônoma 1 Brasil

13 Carla França 33 Casada 2 Letras 1 Brasil

14

Daniela Noruega 48 Solteira 0 Letras 1 França

Fonte: autoria própria

Serão elencados na sequência alguns comentários que julgo importante destacar a respeito dos executivos/as entrevistados, iniciando pela sua formação e área de atuação.

Uma das primeiras constatações feitas é sobre o conjunto dos executivos globais entrevistados. A população deles caracterizou-se pela heterogeneidade de origens sociais, de trajetórias e de status profissionais.

Área de formação/atuação

A engenharia foi a formação predominante entre os entrevistados. Dos 14 profissionais entrevistados, 8 são da área de engenharia, de diversas especialidades, todos eles atuando no setor secundário – indústria de transformação. Também na indústria atuam outros três profissionais, sendo dois na administração (uma na logística de transporte internacional e outro em finanças) e o terceiro na área de análise de sistemas.

Duas profissionais formadas em letras atuam na área cultural, como diretoras, e o cientista político que atua em cooperação técnica internacional.

A formação destes profissionais é um fator importante em suas carreiras, assim como o são o capital cultural e social que detêm. Em sua maioria engenheiros, estes profissionais formaram-se em seus países de origem, tanto em grandes universidades públicas quanto em universidades privadas. Apenas dois profissionais franceses estudaram em grandes escolas na França e na Suíça, e no

retorno de suas expatriações estavam ocupando cargos mais elevados nas empresas, em seu país de origem, em nível de direção. Pela sua condição de vida, declarada nas entrevistas, e também pelo estilo de suas moradias, pude perceber que estes dois profissionais estavam materialmente alguns níveis acima dos demais entrevistados.

Entre os 14 entrevistados, apenas três exerceram/exercem a função de diretores na expatriação. Um executivo francês e duas executivas, uma francesa e uma norueguesa. Os demais, tanto homens quanto mulheres exerceram função técnica, gerenciando/liderando equipes na execução de projetos específicos na expatriação, como gerentes de projetos.

Faixa etária

Quanto à idade dos profissionais expatriados encontrei uma variação. Nesse caso, conforme percebi e também foi relatado, para as ETN´S não importa o sexo, a situação civil ou a idade do profissional que será expatriado. O que direciona o profissional a ser expatriado é o projeto a ser realizado no exterior. Neste caso as empresas buscam os profissionais mais qualificados para gerenciar os projetos. Se no passado recente, as ETN´s privilegiavam as expatriações de profissionais mais velhos e com mais tempo de casa, no presente ocorrem também situações diversas. Se a necessidade é para cargos de alta chefia, envolvendo diretorias, normalmente os expatriados são mais velhos e não existe um limite de idade para tal. Podem ter de 40 a 70 anos de idade, conforme informou a gerente de mobilidade internacional de uma empresa sueca em Curitiba. Já para os cargos técnicos, de gerência de projetos específicos, os expatriados estão cada vez mais jovens. Entrevistei profissionais que foram expatriados antes dos 30 anos, nos primeiros anos de suas carreiras, sobretudo em uma ETN brasileira de construção civil e infraestrutura.

Outros, o foram na faixa dos quarenta anos. No momento da entrevista encontrei as seguintes faixas de idade: 9 profissionais entre 40 e 50 anos e 5 profissionais entre 30 e 40 anos. No entanto, ressalto que a maioria destes profissionais iniciou suas primeiras expatriações na faixa dos trinta anos.

Nacionalidade

Pelo ângulo do país de origem, nossa pesquisa envolveu profissionais de 6 nacionalidades diferentes. Foram 4 executivos brasileiros, 5 executivos franceses (2 homens e 3 mulheres), 2 executivos portugueses, uma executiva colombiana, uma executiva norueguesa e um executivo alemão. Importante frisar que, independente da nacionalidade, tanto encontrei profissionais trabalhando em ETN´s de seus países de origem, quanto profissionais atuando em ETN´s de outros países. Isso vem exemplificar uma tendência atual de atuação de ETN`s – a formação de equipes multiculturais e multidisciplinares em seus quadros, fato este inerente à crescente mobilidade internacional de profissionais qualificados em todo o mundo.

Independente de sua nacionalidade, estes profissionais ocuparam funções de liderança, em nível de gerência, nas filiais de ETN´S para onde foram expatriados.

Direção das expatriações

Também pude perceber quatro movimentos distintos nestas expatriações, no que se refere aos países de origem e de destino dos profissionais. Tanto houve expatriações na direção Norte-Sul, em que ETN´s de países europeus desenvolvidos enviaram seus profissionais para filiais no hemisfério sul, quanto expatriações nas direções Norte-Norte, Sul-Norte e Sul-Sul.

A direção Norte-Norte ocorreu quando ETN´S de países europeus enviaram seus profissionais para outros países europeus. A direção Sul-Norte em menor escala, mas em expansão, ocorre quando ETN´S de países do hemisfério sul expatriam seus profissionais para suas filiais no hemisfério norte, também encontrada na pesquisa. A direção Sul-Sul, ocorreu no caso de uma ETN brasileira que expatriou seu profissional entrevistado para países também do hemisfério sul.

Essa é sem dúvida uma mudança expressiva no que se refere às tendências anteriores de internacionalização do capital de ETN´S. Nos primeiros anos do pós-

segunda guerra mundial, até meados da década de 1980, houve a predominância dos movimentos internacionais de capitais quase que exclusivamente partindo de ETN´S de países do hemisfério Norte para o mesmo hemisfério e também para o hemisfério Sul. Porém, nas últimas três décadas esta situação tem sido alterada consideravelmente e presenciamos hoje, a internacionalização de capital de todas e para todas as direções do globo. Isso se explica pelo crescimento econômico de diversos países do hemisfério Sul, inclusive do Brasil nas últimas décadas, o promoveu a internacionalização do capital de diversas empresas destes países em direção aos mercados, tanto do hemisfério Sul quanto do Norte.

Estado civil

Excetuando-se uma executiva global norueguesa solteira, sem filhos, todos os demais profissionais eram casados. Entre os profissionais casados, apenas um casal sem filhos. Ao todo foram entrevistados 11 casais, dos quais, seis eram de casamentos envolvendo duas nacionalidades, a saber: executivo alemão casado com brasileira; executivo francês casado com brasileira; executivo português casado com francesa, executivo angolano casado com portuguesa, e duas executivas

francesas casadas com brasileiros.

Estes casamentos ocorreram, em sua maioria durante as expatriações de executivos solteiros. Importante ressaltar que os maridos brasileiros permaneceram com suas esposas profissionais no Brasil e não desejam outras expatriações, fato que no futuro vai influenciar a carreira destas profissionais.

No entanto, as esposas brasileiras estão residindo com seus maridos executivos no exterior, uma na França, outra na Alemanha. Esta é uma situação típica, que bem ilustra a questão de gênero, apontando as diferenças de comportamento e de intenções entre os brasileiros e as brasileiras, casados com executivos/as estrangeiros. Neste caso, segundo os depoimentos de suas esposas, os homens estão menos dispostos a abrir mão de suas carreiras no Brasil para seguir em uma vida de expatriações com suas esposas francesas.

Por outro lado, as mulheres brasileiras, seguidas das mulheres francesas e das portuguesas, seguem acompanhando seus maridos executivos, e colocando suas próprias carreiras em segundo plano, questão que será analisada mais adiante. A seguir apresento a caracterização dos cônjuges entrevistados.