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O trabalho, conforme exposto acima, baseia-se principalmente em entrevistas semi-estruturadas realizadas entre fevereiro de 2006 e abril de 2007 com homens e mulheres, entre 15 e 47 anos, a partir de um roteiro em que abordamos temáticas

90 relacionadas a uma breve caracterização da história de vida destes, fazendo recortes em relação à vivência religiosa, e sua relação com outras instâncias da vida, notadamente, com representações e vivências sobre o “ser jovem”, adentrando em questões que giravam também em torno da vida afetiva e sexual destes. Foram ao todo 42 horas de depoimentos gravados e posteriormente transcritos.

Dos/as adultos/as entrevistados/as, num total de cinco, quatro eram do sexo masculino e uma do sexo feminino. Dos jovens num total de 15, foram entrevistados 09 mulheres e 06 homens. Quanto à cor/raça, predominam entre eles e elas pessoas que se autodenominam “morenas” sendo que apenas uma jovem se identificou como negra. Sem entrar na ampla discussão que emerge ao pensar nesta questão, que não está em foco neste trabalho, podemos observar que, em princípio, parece não haver uma preocupação com a afirmação em termos étnicos independente de nível de escolaridade e renda, pensando-se a cor dentro da perspectiva de “senso comum” vigente em nossa sociedade. É interessante ressaltar que a AD é uma instituição com forte presença negra e mestiça no Estado, onde predominam também entre as lideranças.

Conforme já mencionado, apesar de se tratar de um trabalho que tem como foco central jovens; recolhemos depoimentos de algumas pessoas adultas. Isto, de início, embora em parte quase incidental, foi tomado como uma estratégia para um melhor entendimento da estrutura da denominação e de sua história. Entretanto, além da riqueza trazida em relação a este ponto, nos fez adentrar a uma dimensão com a qual nem pensávamos em trabalhar, ainda que de modo sucinto: a perspectiva de mudança do que representa ser jovem (perspectivas e atribuições) entre gerações passadas e presentes de crentes assembleianos, assim como a visão da juventude atual por estes/as adultos/as, o que deverá ser abordado no trabalho. Estes/as adultos/as podem, “grosso modo”, a partir da vivência representada, ser agrupados na geração dos pais dos atuais jovens (remetendo principalmente a uma visão da igreja e das experiências vividas entre o os anos 70 e 80 do século XX), embora nenhum deles/as seja pai ou mãe de entrevistado jovem.

Apenas uma jovem era casada, enquanto entre os adultos um homem e uma mulher eram casados, 02 homens eram separados e 01 era solteiro. Quanto à escolaridade, predomina entre a maioria uma escolaridade maior que à da média brasileira e assembleiana (IBGE, 2001). Oito haviam concluído o ensino superior ou estavam cursando este, 08 cursavam o ensino médio, 02 tinham o Ensino fundamental II ou cursavam e só uma havia parado de estudar antes de concluir o primeiro grau, para

91 trabalhar como empregada doméstica. A renda da maioria (e de suas famílias) situa-os entre classes populares e classe média baixa.

Dos/as entrevistados/as jovens apenas uma era ex-membro da igreja, sendo os/as demais praticantes assíduos: freqüentadores de cultos e demais eventos promovidos pela igreja, participando efetivamente ao menos de um dos coros (de adolescentes, de jovens e de adultos), havendo entre eles/as várias lideranças leigas: de jovens, escola dominical, adolescentes, crianças e instituição vinculada à igreja. Entre os/as adultos/as, dois ex-membros na ocasião estavam revendo sua postura diante da igreja, num processo de aproximação que não veio a se concretizar até o presente.

A mulher adulta entrevistada é de família evangélica e liderança numa igreja da periferia, e os demais homens adultos crentes são congregados numa igreja de periferia, mas tem uma participação limitada nesta, segundo afirmam: pelo comportamento e idéias que vivenciam ou defendem (encontram-se “à margem”); num caso, num processo em que a congregação quer que se afaste e ele resiste; e noutro, embora também faça uma crítica da igreja e de suas transformações, por uma auto-percepção como estando em falta com suas diretrizes e determinações.

Em todo o grupo destaca-se como característica marcante a ascendência evangélica, sendo: doze deles/as “criados/as no evangelho” e os demais convertidos a posteriori. Entre os segundos observa-se em alguns casos a influência de parentes crentes que os conduziam ou aconselhavam a “aceitar evangelho”.

Os depoimentos variaram quanto ao tempo, entre uma hora e meia e seis horas, sendo no último caso, realizados em duas etapas, em geral na mesma semana, ou uma semana após a primeira conversa. Quanto ao local de realização, foram feitas na residência (ou no terreiro desta) dos/as entrevistados/as, numa sala ao lado de uma igreja, na rua em frente à outra igreja e em dependências das Universidades Rural e Federal de Pernambuco.

Em geral houve uma boa recepção e um bom encaminhamento das entrevistas, cujos conteúdos refletem em grande medida os sentidos atribuídos pelos/as interlocutores/as a vários aspectos de sua vida, considerando o pertencimento (atual) ou o fato de ter sido afiliado/a no passado à igreja. Isto também, no que diz respeito aos vazios, reticências, recusas polidas em falar sobre certas questões ou imputando sempre a “outros/as” determinadas possibilidades e realidades, por vezes destoantes do padrão tomado como referência. Há também falhas e ausências que dizem respeito às limitações da pesquisadora, que, acredito se revelem também para outros pesquisadores

92 que consideram ao ver o material coletado, que poderiam ter explorado mais determinados temas, e questionado sobre tantos outros. Há sempre a possibilidade de se rever, retornar, mas há que se fechar num dado momento com o que se tem em mãos.

O fato de a pesquisadora ser mais velha que a maioria dos/as entrevistados/as certamente cria um contexto diferenciado para a exposição dos/as mais jovens e mais velhos. Também, o fato de ser mulher cria um determinado viés na relação com homens e mulheres das diferentes idades. Coloco isso muito mais para expor as condições do trabalho, que como visão de uma limitação, partindo do princípio de que não haveria um “tipo ideal de pesquisador/a”, que estivesse acima ou aquém de classificações e conotações e isento de vieses e limitações.

O trabalho é baseado principalmente nos depoimentos dos/as entrevistados/as; cujas falas serão expostas (ainda que não necessariamente de todos/as) no desenvolvimento das várias temáticas abordadas ao longo dos capítulos que se seguem.

Fechamos este ponto apresentando uma tabela que identifica, caracteriza e condensa dados que consideramos mais relevantes (para nossos objetivos) sobre os/as entrevistados/as. É importante destacar que os nomes destes/as são fictícios, e que nos permitimos, em alguns casos, ocultar dados que pudessem favorecer a uma identificação direta, considerando o pequeno (embora diverso) universo do qual partimos; as pessoas com as quais estabelecemos uma interlocução.

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Quadro de Informantes de Adultos/as

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