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Subculturas, culturas e estilos juvenis: Algumas noções na perspectiva de pensar os/as jovens assembleianos/as

Neste tópico continuamos na delimitação de instrumentos analíticos visando forjar uma compreensão adequada em relação às especificidades dos/as jovens com os quais lidamos. Para tanto vamos adentrar a uma breve discussão sobre alguns conceitos, iniciando pela visão de subcultura no contexto dos estudos sobre juventude.

51 O conceito de subcultura emerge no período pós- guerra, dando conta das diversas manifestações culturais ligadas a uma nova condição juvenil. Principalmente, formas de expressão, práticas, atitudes e comportamentos diferenciados de grupos de jovens urbanos reunidos por um estilo e/ou interesses comuns. Este conceito solidificou-se nas décadas de 1970 e 1980, principalmente no campo dos estudos culturais da Universidade de Birmingham. Hebdige (1979) vê as subculturas como formas expressivas que denotam uma tensão fundamental entre aqueles que estão no poder e aqueles que se encontram em posições subalternas, representando, acima de tudo, uma forma de resistência em que contradições e objeções à ideologia dominante seriam representadas num certo estilo.

O estudo das subculturas trouxe contribuições significativas, principalmente ao tentar dar conta da diversidade e pluralidade existente nas sociedades, abordando estilos e sentidos dos símbolos criados pelos/as jovens que poderiam ser entendidos como culturas alternativas, ampliando-se o próprio conceito de cultura, que não estaria associado somente a um conjunto de valores, normas e tradições predominantes em uma dada sociedade, mas que envolveria aspectos da vida cotidiana de grupos pluralmente constituídos nesta.

Tal noção, entretanto, tem sido objeto de críticas principalmente quando empregada em relação a grupos juvenis. Para críticos deste conceito o termo subcultura de antemão sugeriria a existência de uma cultura superior, podendo ser tomado em função de um sentido pejorativo e etnocêntrico. Em se tratando dos/as jovens não faria sentido diante da pluralidade de modos ou estilos, que não seriam, por sua vez, específicos de uma dada cultura, uma vez que poderiam manifestar similaridades (e diferenciações) em distintas localidades e mesmo em distintos continentes (PAIS, 1993; ABRAMO, 2005).

O termo provocaria associações depreciativas e levaria a crer que estamos tratando de segmentos específicos da sociedade que devem ser demarcados ou diferenciados com o objetivo de melhor controlá-los. Assim, "cultura juvenil" ou "culturas juvenis" seria o conceito mais indicado, notadamente porque ampliaria a possibilidade de compreensão das distintas manifestações juvenis, de seus estilos ou modos de vida, criados e recriados em diferentes localidades e contextos sociais (PAIS, 1993).

Estudos recentes (BASSIT, 2006; PAIS, 2007) associam a importância dos estilos culturais na adolescência e juventude às tendências de des-institucionalização do

52 indivíduo, de individualização das classes ou camadas sociais e de transformações estruturais da condição juvenil. A análise das culturas juvenis em diferentes contextos sociais demandaria a busca de alternativas teóricas para além de um modelo utilitarista da ação, muitas vezes distante da realidade empírica dos jovens pesquisados, buscando- se observar a condição juvenil como espaço-tempo no qual estilos de vida são descobertos e experimentados, experiências geracionais são constituídas, identidades são construídas e/ou reconstruídas, o que não caberia numa interpretação do ser jovem e das culturas juvenis como meras respostas ou soluções para os problemas enfrentados no cotidiano, como as desigualdades étnicas e de classe.

Nos estudos sobre as culturas juvenis observa-se em geral uma 'invisibilidade' feminina ou ausência de estudos sobre a participação feminina nas mesmas (MÜLLER, 2004). O que parece se associar a idéia de juventude associada em grande medida à noção de cultura juvenil como forma de protesto e resistência, ou seja, ligada a uma concepção utilitarista da ação. Quando vistas de forma superficial e estereotipada, algumas culturas juvenis femininas parecem não demonstrar uma atitude de protesto ou resistência às desigualdades étnicas e de classe; certos estilos e formas de expressão sendo vistos como pouco racionais e voltadas somente para o consumo de produtos. É interessante levantar ainda que sucintamente tal ponto, destacando à necessidade de dar visibilidade às distinções de gênero, fugindo de certos estereótipos que dizem mais do viés sexista presente nos estudos, que da visão das de diferenças internas aos/às jovens.

Concordamos com Pais (1993) para quem é necessária uma reflexão dinâmica acerca das culturas juvenis, explorando o seu “sentido antropológico” "que faz apelo para modos de vida específicos e práticas quotidianas que expressem certos significados e valores não apenas ao nível das instituições, mas da própria vida quotidiana" (p 55). Para o autor, mais que fazer uma dedução dos “modos de vida” dos jovens a partir de um centro imaginário correntemente identificado com a cultura dominante (geracional ou classista), deve-se estar aberto a uma análise de seus modos de vida, partindo de seus mecanismos infinitesimais, tentando perceber como esses mecanismos são investidos, utilizados e transformados, quais seriam as suas possíveis involuções e generalizações. O autor ainda lembra o quanto é importante ver de que forma a sociedade se traduz nos indivíduos, sabendo-se que dos contextos vivenciais ou cotidianos dos indivíduos fazem parte crenças e representações sociais que eles compartilham sem que diretamente tenham tomado parte na sua elaboração.

53 assembleianos/as apresentam estilos peculiares que podem ser observados, mas não se esgotam, em seu modo de apresentação pessoal e valores que defendem; o que os distinguiria a priori de outros jovens ou grupos de jovens, com os quais se interconectam no cotidiano, sendo influenciados e influenciando-os. Procuramos, contudo, fugir a generalizações e estereótipos através dos quais os/as jovens têm sido vistos/as ou auto-contidos, levando em conta tanto marcadores sociais que os distingam internamente, tais como: gênero, classe e escolaridade, quanto elementos sutis relacionados aos capitais sociais que detenham ou com os quais joguem e suas trajetórias de vida. O cotejamento com os dados – a fala dos /as interlocutores/as – nos apontará as maneiras como estes/as poderão ser mais bem entendidos.

1.2.2 Juventude, religião, gênero e geração: Ainda tecendo conceitos para pensar

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