• Nenhum resultado encontrado

3.2 André

3.2.3 Caracterização dos Modos de Ação de André na Interação com a Pesquisadora

Foram realizadas duas sessões entre André e a pesquisadora. Essas sessões foram realizadas em uma das salas da Creche (sala da secretaria), onde foram

colocadas uma mesinha e duas cadeiras – sobre a mesa havia um carrinho com cinco peças de encaixe, um conjunto de lápis de cor, um conjunto de giz de cera, folhas em branco, massa de modelar e peças de madeiras/plástico para montagem. A única instrução da pesquisadora a André foi a de que poderia brincar com o que quisesse. Nas duas sessões ele se mostrou bastante envolvido com os objetos, brincando uma boa parte do tempo com o carrinho com peças de encaixe. Durante as brincadeiras a pesquisadora fez várias perguntas a André sendo que somente algumas delas foram respondidas. As poucas respostas verbais vieram em referência aos desenhos que fez, cobra e bolas. A maior parte da interação ocorreu pelo olhar e pelos gestos de André, que várias vezes, buscou contato com a pesquisadora através dessa linguagem física. Sempre que a pesquisadora se movimentava ou pegava algum objeto André a olhava. Um especial interesse foi demonstrado quando a pesquisadora imitava vozes infantis representando algum boneco. Entretanto apesar de mostrar um “olhar” atento André não deu continuidade à brincadeira. Durante boa parte do tempo a pesquisadora somente observou André brincando sem que fosse incluída na brincadeira. Nas duas sessões ele retirou os pés do tênis e ficava movimentando os pés enquanto brincava. André mostrou-se curioso, explorando, todos os objetos trazidos pela pesquisadora. Em alguns momentos demonstrou dificuldade em conseguir escolher com o que brincar, mantendo vários objetos em suas mãos. André se mostrou resistente a voltar para a sala no término das duas sessões. Na primeira delas a pesquisadora inclusive deixou que ele levasse um dos brinquedos.

3.2.4 Caracterização dos Modos de Ação de André na Interação com sua Mãe Foi realizada uma sessão entre André e sua mãe. Essa sessão foi realizada em uma das salas da Creche (sala da secretaria), onde foram colocadas uma mesinha e duas cadeiras – sobre a mesa havia um carrinho com cinco peças de encaixe, um conjunto de lápis de cor, um conjunto de giz de cera, folhas em branco, massa de modelar e peças de madeiras/plástico para montagem. A única instrução da pesquisadora foi que podiam brincar com o que quisessem e que depois de algum tempo deveriam montar um quebra-cabeça. A interação entre André e sua mãe se modificou ao longo da sessão. No início ele se mostrou bastante envolvido com os objetos. Sua mãe lhe fez várias perguntas e ele não respondeu a nenhuma delas, propôs algumas

brincadeiras e ele brincou um pouco com ela. Com o passar do tempo André começou a responder e a interagir mais com a mãe, que em determinado momento, virou seu rosto para que visualizasse o rosto dela, depois disso André passou a responder a suas perguntas e a manter mais contato visual. A mãe de André se mostrava bastante satisfeita sempre que ele respondia às suas perguntas, sorrindo e dizendo: “Ah!!!”. Depois de cerca de meia hora do início da sessão a pesquisadora solicitou que eles guardassem os brinquedos que estavam na mesa e montassem o quebra-cabeça. André ajudou sua mãe a guardar os brinquedos. André e sua mãe dividiram as peças do quebra-cabeça e cada um começou a montar individualmente suas peças. A pesquisadora informou que as peças pertenciam ao mesmo quebra-cabeça. A mãe convidou André para montarem juntos. André lhe entregou suas peças e lhe disse que não conseguia. André passou a mexer em uma caixa e abandonou o quebra-cabeça. Sua mãe solicitou sua ajuda, como André não demonstrou interesse, ela montou sozinha o quebra-cabeça. Nesse momento a pesquisadora comunicou a André que poderia brincar com as peças que estavam dentro da caixa, e explicou que se tratavam de peças de encaixe que traziam o nome do objeto, sua figura e sua primeira letra. André e sua mãe mexeram nas peças, a partir desse momento André se mostrou muito mais envolvido no contato com a mãe. As peças funcionaram como um bom mediador para que eles mantivessem interações mais contínuas. André não só respondeu as perguntas feitas pela mãe sobre as figuras como também fez outros comentários. Após 50 minutos do início da sessão a pesquisadora lhes avisou que a sessão estava terminando e pediu que escolhessem uma última atividade para fazer. Pegaram papel e as caixas de lápis de cor e giz de cera. Sua mãe contornou a mão de André com um lápis de cor e ele fez movimentos para indicar que desejava fazer o mesmo. Sua mãe então pegou outra folha e mudou o lápis da mão esquerda de André para a mão direita, assim ele conseguiu contornar sua própria mão. Depois disso eles brincaram mais um pouco com o giz de cera e novamente a pesquisadora avisou sobre o fim da sessão. André pareceu desconsiderar o aviso e continuou a brincar, sua mãe se manteve inerte, parecendo não saber o que fazer. Ficamos com a impressão de que não se sentiu à vontade para interromper a atividade por conta própria. Desse modo, depois de mais cinco minutos a pesquisadora solicitou que André interrompesse as atividades e encerrou a sessão.

Assim como nas sessões com a pesquisadora André resistiu a voltar para as atividades da Creche.

Nessa sessão com a mãe André demonstrou habilidade em conversar, se expressando pelo uso correto das palavras, mas ao mesmo tempo demonstrou também que esse modo não era seu modo mais freqüente de comunicar-se, reforçando os padrões apresentados em sala de aula e nas sessões com a pesquisadora. Apesar de ter se comunicado com a mãe, demonstrou maior interesse pelos objetos do que em estabelecer interações com ela. A mãe também não conseguiu demonstrar interesse em desenvolver atividades conjuntas com André. Suas tentativas foram somente verbais, sendo que ao longo da sessão, ela pareceu desistir de obter a atenção de André. A montagem do quebra-cabeça evidenciou esse fato porque não foram implementadas estratégias para convencer André a participar da atividade que acabou sendo realizada somente por ela. André e a mãe não apresentaram comportamentos que evidenciassem proximidade afetiva entre eles (troca de olhares, sorrisos, aproximação física), mantiveram-se com o mesmo humor durante a sessão, desse modo o “clima emocional” se manteve estável.