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3.2 André

3.2.2 Caracterização dos Modos de Ação de André na Creche

Refeitório: Durante as refeições André se alimentava rápido, sendo geralmente o primeiro a terminar. No almoço sempre pedia mais para as educadoras. Houve somente uma sobremesa que ele recusou: melancia.

Sala de aula: André conseguia se comportar como as outras crianças da turma quando estava envolvido com alguma atividade: desenho, brincadeira com blocos de plástico ou madeira, ouvir estórias, fazer dobradura. Mostrava-se bastante inquieto durante os intervalos entre uma atividade e outra, quando tinha que esperar sentado com as pernas cruzadas (posição denominada na Creche de “pose do chinês”). Nesses momentos foram inúmeros os episódios de desobediência ao comando das professoras, André não conseguia se manter parado sem atividade e por isso sempre se locomovia pela sala. Algumas vezes para buscar contato com outras crianças, outras para ver o que tinha acontecido em outro lugar da sala (por exemplo, quando alguém derrubava algo ou estava sendo repreendido pela professora).

Parque: André brincou com os brinquedos do parque do mesmo modo que as outras crianças, sem apresentar qualquer comportamento diferente. Demonstrou possuir as habilidades físicas e motoras necessárias ao uso dos brinquedos. Exigiu maior atenção da professora no término da atividade, pois se mantinha no brinquedo mesmo depois de ser avisado sobre o término do “recreio”.

Pátio Interno: André brincava mais com os brinquedos e menos com as crianças, houve poucas interações com colegas. Chamou a atenção o fato de durante um desses momentos carregar vários brinquedos ao mesmo tempo (estava em um velocípede, carregando outro e um carro).

Interação com as professoras: A relação de André com P1 foi marcada pelos episódios de repreensão verbal e física. André se mostrou pouco envolvido e atento às falas de P1, raramente atendia às suas solicitações para cantar alguma música e fazer os gestos. Ele não demonstrou qualquer constrangimento diante das várias repreensões de P1, sendo que tanto suas repreensões verbais como suas atitudes físicas de fazê-lo obedecer às ordens não se mostraram efetivas, pois André, assim que possível, voltava a se movimentar como queria. Essas atitudes nos pareceram evidenciar que André não reconhecia em P1 uma figura de autoridade. Umas das situações ilustram essa hipótese: após o almoço as crianças voltaram para a sala e foram colocadas em círculo para que aguardassem serem chamadas para escovar os dentes e ir ao banheiro, para então descansarem. André, após ter sido conduzido por P1 fisicamente durante várias vezes de volta para “seu” lugar na esteira, passou a brincar com três almofadas que estavam atrás do círculo das crianças, no momento que percebe a aproximação de P1, André faz um meio sorriso (colocando a língua entre os dentes e o lábio inferior), olha para P1 e rapidamente se levanta das almofadas e corre para outro canto da sala.

Na interação com P2 André se comportou de modo um pouco diferente. Ele respondeu parcialmente às suas ordens, conseguindo fazer o que era solicitado, mesmo que provisoriamente, ou seja, que depois de algum tempo voltasse a se movimentar como queria. Acreditamos que essa diferença de comportamento esteja relacionada aos modos de agir das professoras, mas também as atividades que são realizadas em cada turno, pois à tarde os intervalos entre uma atividade e outra são menores do que no turno da manhã, sendo que as crianças ficam mais tempo envolvidas na realização de atividades.

Interação com as crianças: André buscou interagir com outras crianças, especialmente os meninos. Sua abordagem foi predominantemente física, chegava cutucando, empurrando, mexendo com a outra criança, somente algumas vezes conseguimos registrar André conversando com os colegas, na maior parte dos contatos a comunicação era física, imitando os gestos, olhando as brincadeiras dos outros. Registramos também alguns episódios em que André bateu em outras crianças (dando cotoveladas, empurrando a cabeça), esses episódios também ocorreram nos intervalos entre as atividades. Em alguns momentos André também foi alvo da agressão de outras crianças, algumas vezes ele reagiu, em outras se manteve inerte, mas em nenhuma

ocasião comunicou o fato às professoras.

De modo geral André pareceu não se importar com o fato de ser repreendido diante dos colegas, ou mesmo de não ser “aceito” pelas professoras, nesses episódios André não demonstrava qualquer reação que evidenciassem constrangimento. Em algumas situações em que outras crianças comunicavam às professoras que ele havia batido nelas, André tentou argumentar verbalmente dizendo algo do comportamento delas. Mas de modo geral não parecia incomodado com o fato das professoras chamarem sua atenção. Mostrava-se inquieto nas situações em que foi fisicamente contido, mexendo braços e pernas para tentar se livrar da contenção. As interações com os colegas demonstraram uma certa inabilidade para iniciar contato, André não conseguiu “seduzir” outras crianças para que pudesse participar de interações já iniciadas, por isso, várias vezes, se manteve só observando a brincadeira dos colegas. Durante as brincadeiras com objetos mostrou-se muito envolvido não procurando interagir com os colegas. Não conseguia fazer uso da palavra para reclamar ou solicitar alguma coisa, os episódios em que falou algo em voz alta foram muito restritos e normalmente ocorriam quando estava respondendo junto com os colegas alguma pergunta das professoras. Citamos como exemplo desse fato a seguinte situação: P2 após contar a estória da chapeuzinho vermelho utilizando uma boneca que se transformava em três personagens dessa estória deixou a boneca circular entre as crianças. André estava um pouco atrás do círculo entre duas meninas, a boneca passou da mão de uma para outra, sem passar em sua mão, ele então acompanhou com o olhar a boneca passando nas mãos das outras crianças e quando estava na mão da penúltima criança do círculo foi até lá e ficou atrás dessa criança. Nesse momento P3, que estava excepcionalmente ajudando P2, retirou André e o colocou de volta no lugar em que estava anteriormente. P2 esperou Marcos, última criança do círculo, pegar a boneca e então a guardou sem que André tivesse tido a oportunidade de tocá-la. André não fez qualquer reclamação.

3.2.3 Caracterização dos Modos de Ação de André na Interação com a