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Caracterização dos votos proferidos pelos estudantes

No documento Carolina de Oliveira Buonocore (páginas 98-103)

4.1 Caracterização geral

4.1.4 Caracterização dos votos proferidos pelos estudantes

Abaixo, estão relacionadas as principais respostas aos ambientes térmicos estudados, agrupados por modo de condicionamento e independentes da estação do ano (Figura 28, Figura 29 e Figura 30). Figura 28 – Votos de sensação térmica (A) e preferência térmica (B) em ambiente NV (esq.) e AC (dir.)(continua...)

No geral, a resposta de sensação térmica (Figura 28) entre os dois modos de condicionamento se assemelhou, com cerca de 75% dos votos entre levemente com frio, neutro e levemente com calor – tendendo a frio em ar condicionado e a calor em ventilado naturalmente. Essa tendência era esperada, uma vez que nos ambientes NV predominam as temperaturas mais elevadas, ao passo que nos ambientes AC há a tendência ao resfriamento devido ao rigoroso calor externo. Os valores médios do voto de sensação térmica são de 0,83 (NV) e –0,62 (AC).

Estudos realizados ao longo da estação de verão em ambientes residenciais e em escritórios naturalmente ventilados na Índia obtiveram resultados próximos: Kumar et al. (2016) encontraram 79% dos votos de sensação térmica na faixa considerada confortável (-1 a +1 na escala sétima), com voto de sensação térmica médio de 0,67, ao passo que o estudo de Dhaka et al. (2015) obteve sensação térmica média de 0,73. Em relação ao contexto brasileiro, a distribuição dos votos de sensação térmica em salas de aula naturalmente ventiladas de Maceió (CÂNDIDO et al., 2010b), ao longo da estação mais quente, é semelhante ao cenário encontrado em São Luís, em que pese as proximidades contextuais e ambientais de ambos os estudos.

Um estudo realizado em Cingapura (DE DEAR et al., 1991), cujo contexto de variáveis ambientais internas e externas se aproxima do de São Luís, apresentou distribuição dos votos de sensação térmica similar, e médias numéricas de sensação térmica por categoria de temperatura interna semelhantes, tanto em ambientes NV quanto AC. No entanto, o isolamento de vestimenta e a taxa metabólica podem ser diferentes devido ao uso residencial no caso naturalmente ventilado.

A preferência térmica (Figura 28) diferiu bastante entre ambos os modos de condicionamento, com preferência maciça por maior resfriamento em ambiente ventilado naturalmente e maior equilíbrio

entre aquecimento/ resfriamento em ar condicionado. Essa constatação indica que as condições ambientais internas desejadas pelos estudantes serão encontradas nas salas de aula que operam com ar condicionado (sub-item 4.4).

A preferência térmica geral encontrada na pesquisa de Cândido et al. (2010), cuja abordagem diz respeito apenas a salas de aula naturalmente ventiladas em Maceió, difere bastante da preferência em São Luís. Acredita-se que as maiores percentagens para “mais aquecido” e “assim mesmo” se deva à ocorrência de menores valores de temperatura interna em uma das estações do ano, acompanhadas de maiores velocidades do ar internas, em Maceió.

Figura 29 – Votos de aceitabilidade térmica (C) e aceitabilidade do movimento do ar (D) em ambiente NV (esq.) e AC (dir.)

A aceitabilidade térmica (Figura 29) foi bastante elevada em ambientes com ar condicionado (97%), e ainda pode ser considerada elevada em naturalmente ventilado (acima de 85%). A aceitabilidade obtida em NV, neste trabalho, pode ser comparada à obtida em salas de aula naturalmente ventiladas na Índia (MISHRA; RAMGOPAL, 2015a),

NV AC

superando 80% a 30 °C ou mais de temperatura interna; à aceitabilidade de 82% registrada em residências naturalmente ventiladas de Cingapura (CHEUNG et al., 2017), cujas temperaturas internas foram semelhantes às registradas nas salas de aula em São Luís; e à aceitabilidade em torno de 90% em salas de aula naturalmente ventiladas em Maceió (CÂNDIDO et al., 2010b).

Já a aceitabilidade ao movimento do ar (Figura 29) também foi grande em ambos os modos de condicionamento – e maior em ar condicionado. A porcentagem de votos para “aceitável – pouco” é relevante mesmo para ambientes condicionados. Na comparação entre a proporção de votos de movimento do ar “aceitável” e “inaceitável”, há uma grande proximidade entre os resultados deste trabalho e do estudo de Cândido et al. (2010); no entanto, analisando-se apenas os votos de movimento do ar “aceitável”, há uma notável diferença entre as proporções de “aceitável-suficiente” e “aceitável-pouco”. Neste estudo, predomina o diagnóstico de pouco movimento do ar, ao passo que naquele houve grande equilíbro entre os quantitativos das duas opções, o que deve refletir as diferenças de temperatura interna e velocidade do ar citadas.

Figura 30 – Votos de preferência por movimento do ar (E) e de conforto térmico (F) em ambiente NV (esq.) e AC (dir.)

NV AC NV AC

A preferência por movimento do ar (Figura 30) difere entre ambos os modos de condicionamento. Em ventilado naturalmente, é predominante a opção por maior movimento do ar (78%); mesmo em ar condicionado, essa porcentagem é relevante (37%). Acredita-se que haja grande influência da temperatura interna na preferência por movimento do ar, uma vez que em ambientes NV a porcentagem que preferiu “maior movimento do ar” se assemelha à porcentagem de preferência térmica por maior resfriamento, e em ambientes AC houve o registro de temperaturas mais elevadas do que o usual para esse modo de condicionamento. No estudo de Cândido et al. (2010), inclusive, é apresentada a relação entre o voto de sensação térmica e o voto de preferência por movimento do ar, na qual a preferência por “maior movimento do ar” acompanhou os votos de sensação térmica correspondentes à faixa de calor (+1 a +3).

O voto de conforto térmico (Figura 30), ao contrário do voto de aceitabilidade térmica, é bem diferente na comparação entre ambientes NV e AC; fica evidente o desconforto por calor nos ambientes naturalmente ventilados, ao passo que em ambientes climatizados se verificou desconforto por frio e por calor a depender da situação. No entanto, o que mais chama a atenção é a diferença entre a noção de aceitabilidade e de conforto por parte dos estudantes em São Luís.

Ao mesmo tempo em que a aceitabilidade térmica foi elevada nos ambientes naturalmente ventilados (85%), o percentual de conforto térmico registrado foi bem abaixo (65%), levando a crer que a aceitabilidade foi considerada algo próximo da condição térmica máxima tolerável, ao passo que o conforto, próximo à condição térmica desejada. No estudo de Mishra e Ramgopal (2015a) em salas de aula naturalmente ventiladas na Índia, foram registradas diferenças entre os percentuais de aceitabilidade e conforto térmicos nos estudos de campo, principalmente em situações nas quais a aceitabilidade foi considerada menor do que 80%.

Na comparação entre o quantitativo geral dos votos de sensação térmica e conforto térmico em ambientes naturalmente ventilados, percebeu-se que 75% das sensações registradas estão entre “levemente com frio” e “levemente com calor” (-1 a +1); no entanto, 65% das participações estão em conforto, o que indica que cerca de 10% das sensações citadas foram consideradas termicamente desconfortáveis pelos estudantes; considerando o contexto, é provavel que essas sejam referentes aos votos de “Levemente com calor”, e serão investigadas adiante.

4.2 PERCEPÇÃO TÉRMICA EM AMBIENTES NATURALMENTE

No documento Carolina de Oliveira Buonocore (páginas 98-103)