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Influência da exposição ao ar condicionado

No documento Carolina de Oliveira Buonocore (páginas 125-130)

4.2 Percepção térmica em ambientes naturalmente ventilados

4.2.2 Influência da exposição ao ar condicionado

A exposição dos estudantes aos ambientes internos com ar condicionado ativo foi abordada nesta pesquisa de duas maneiras: perguntou-se sobre o modo de condicionamento ao qual estavam expostos uma hora antes do estudo de campo (denominada exposição prévia ao ar condicionado, ou apenas exposição prévia), e sobre a vivência cotidiana em ambientes com ar condicionado (chamada de exposição rotineira). Os votos de percepção térmica foram relacionados a cada forma de exposição, e os resultados são apresentados a seguir. Figura 50 – Distribuição da amostra por exposição prévia em ambiente NV

Na Figura 50 é ilustrada a distribuição da amostra de pesquisados por tipo de exposição prévia (C/AC significa com exposição ao ar condicionado uma hora antes do estudo de campo, e S/AC, sem exposição). Constatou-se que a proporção entre estudantes com e sem ar condicionado na hora anterior ao estudo de campo é de aproximadamente 1:2 – a maioria dos alunos não esteve em ambientes com ar condicionado ativo no intervalo horário anterior ao estudo de campo.

O teste de qui quadrado para independência foi aplicado em relação às categorias de variáveis estudadas, a fim de verificar o quantitativo de cada categoria por tipo de exposição. Nesse teste, o resultado do p-valor maior do que 0,05 (nível de significância adotado nesta pesquisa) indica independência entre as categorias de variáveis analisadas. Apenas a variável Top resultou em p-valor maior do que 0,05, garantindo a independência entre os dois critérios de agrupamentos. Tal resultado foi considerado satisfatório, uma vez que Top é a variável ambiental de maior peso na percepção térmica dos estudantes. Ou seja, as diferenças entre os votos de percepção térmica entre os grupos com e sem exposição não são oriundas da influência da temperatura operativa interna.

Figura 51 – Distribuição da amostra por exposição rotineira em ambiente NV

Na Figura 51 é ilustrada a distribuição da amostra de pesquisados por tipo de exposição rotineira (S representa o grupo com exposição rotineira ao ar condicionado, e N representa o grupo sem a exposição em questão). Nesse caso, a proporção entre estudantes que não possuem vivência e que possuem vivência em ambientes com ar condicionado é proxima de 1:3 – a maioria usa ar condicionado na dia-a-dia. Em relação ao teste de qui quadrado, a independência entre agrupamentos de exposição rotineira e categorias de variáveis ambientais foi confirmada para todas elas (p-valor > 0,05).

Na análise da distribuição dos votos de percepção térmica em função dos agrupamentos de exposição, foram utilizados o teste de qui quadrado para tabela de contingência (Qui qua) e o teste T de Welch para médias (valor numérico dos votos) de duas amostras não associadas. Os resultados de p-valor dos testes realizados estão descritos na Tabela 27. O p-valor < 0,05 indica a dependência (associação) entre as categorias de exposição ao ar condicionado e o voto de percepção térmica em questão, pelo teste de qui quadrado. E indica que a diferença entre médias numéricas do voto de percepção térmica analisado é estatisticamente significativa, no caso do teste T de Welch.

Tabela 27 – Testes estatísticos relacionando exposição e percepção em ambiente NV

Exposição Prévia Exposição Rotineira Qui qua Teste T Qui qua Teste T

Sensação 0,11 0,21 0,01* 0,001*

Aceitabilidade 0,61 0,55 0,29 0,24

Conforto 0,28 0,25 0,007* 0,005*

Preferência térmica 0,02* 0,03* 0,31 0,69

Pref. mov. ar 0,005* 0,001* 0,008* 0,001*

Pref. por um modo de condicionamento

0,22 - 3,8e-07* -

*p-valor < 0,05

Observou-se que a exposição prévia ao ar condicionado teve influência sobre as preferências questionadas ao longo do horário de aula (térmica e quanto ao movimento do ar). Na Figura 52 está representada a diferença percentual entre as duas amostras (C/AC e S/AC), nas quais se percebe o aumento da preferência por resfriamento e por maior movimento do ar no grupo sem exposição prévia, ou, em outras palavras, a diminuição da preferência por resfriamento no grupo com exposição prévia. Os demais votos analisados não tiveram alterações significativamente estatísticas em função da exposição prévia. Já a exposição rotineira ao ar condicionado influenciou os votos de sensação e conforto térmicos, além da preferência por movimento do ar e da preferência por um modo de condicionamento – questionados sobre qual escolheriam para o ambiente em questão, com opções entre ar condicionado (AC), ventilação natural (VN) e ventilação natural + ventiladores (VN + VENT).

Figura 52 – Preferências em função da exposição prévia em ambiente NV

Figura 53 – Preferências em função da exposição prolongada em ambiente NV

Na Figura 53 são ilustradas as preferências afetadas pela exposição rotineira ao ar condicionado. É bem claro o aumento no percentual de preferência por utilizar o ar condicionado como estratégia de condicionamento das salas de aula, com o propósito do resfriamento, quando analisada a amostra S. Assim como ocorreu com a exposição prévia, a preferência por maior movimento do ar no grupo sem exposição rotineira (N) foi percentualmente maior. Esses resultados estão de acordo com os do estudo de Kalmár (2016), no qual se percebeu que pessoas não habituadas ao uso constante do ar condicionado preferiram temperaturas internas menores e maior movimento do ar durante o verão. A preferência por maior movimento do ar nesse grupo foi atribuída ao costume de operar janelas durante o verão, na ausência de equipamentos condicionadores de ar (KALMÁR, 2016).

A distribuição dos votos de sensação térmica foi diferente entre as duas amostras, apesar de que as variáveis ambientais não diferiram entre ambas. A principal diferença é o aumento do percentual de votos de extremo calor (+2 e +3) e a diminuição da quantidade de votos próximos à “neutralidade” (0 e +1) para o grupo com exposição rotineira ao ar condicionado (Figura 54). É provável, portanto, que a exposição prolongada provoque a redução da tolerância térmica em relação às sensações de calor. Os resultados da pesquisa de Cândido et al. (2010b), realizada em salas de aula naturalmente ventiladas em Maceió, apresentaram tendências similares em relação aos votos de sensação térmica e de preferência por um modo de resfriamento, proferidos pelos estudantes.

Figura 54 – Sensação térmica em função da exposição prolongada em ambiente NV

Para os votos de conforto térmico, evidenciou-se o aumento do percentual de votos de desconforto na amostra com exposição rotineira (Figura 55). Considerando que as condições ambientais são as mesmas para ambos os grupos – com e sem exposição rotineira –, e que as variáveis têm influência comprovada sobre os votos de percepção térmica, verificou-se que a exposição rotineira a ambientes internos com ar condicionado ativo teve impacto sobre os principais votos de percepção térmica abordados. Tal exposição pode vir a alterar as interpretações sobre o que é conforto e desconforto, e sobre o que representam as sensações descritas pela escala sétima (neutro, levemente com calor, com calor e com muito calor), no entendimento de cada indivíduo.

Figura 55 – Conforto térmico em função da exposição prolongada em ambiente NV

A aceitabilidade térmica não teve relação com nenhuma das duas categorias de exposição ao ar condicionado. Com base na discussão sobre variáveis ambientais internas e votos de percepção térmica feita até o momento, tal afirmação contribui para o pensamento de que o julgamento da aceitabilidade térmica por parte dos estudantes tem influência de fatores não apenas relacionados à dimensão ambiental das salas de aula, mas também relativos às expectativas e a contextos específicos não mensurados (por exemplo, insatisfação por razões extra classe), dos quais não se descarta um impacto sobre os votos de percepção térmica ao longo da pesquisa.

No geral, percebeu-se que o impacto da exposição prévia sobre a percepção térmica dos estudantes refletiu uma condição de momento – sobre as preferências para o horário de aulas – ao passo que a exposição rotineira traz uma espécie de ação a longo prazo, sobre os referenciais e opiniões individuais, influenciando as escalas de percepção do ambiente térmico com impacto sobre os limites toleráveis para sensações de calor. A análise da influência das categorias de exposição sobre os votos de percepção térmica também foi feita com a amostra de estudos de campo realizados em ambientes com ar condicionado (sub-item 4.4).

No documento Carolina de Oliveira Buonocore (páginas 125-130)