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4 O CONTEXTO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: A REDE MUNICIPAL, A

4.2 Caracterização da escola investigada

A escola escolhida para a realização da pesquisa localiza-se em um bairro da regional nordeste da cidade de Belo Horizonte. Atende a uma população de classe baixa, filhos de trabalhadores do setor de serviços, com ensino fundamental completo. A região não é considerada de risco, mas a escola recebe alunos de bairros vizinhos avaliados como “áreas de risco”.

A instituição trabalha com educação infantil e ensino fundamental (1º e 2º ciclo) e tinha, no ano de 2011, 180 crianças matriculadas na educação infantil e 570 no ensino fundamental, em um total de 750 alunos(as), na faixa etária de 4 a 11 anos, sendo que no ensino fundamental, 18 eram considerados(as) com NEE. O fato de a escola ter uma listagem com a identificação dos(as) alunos(as) com NEE facilitou o trabalho de pesquisa e demonstrou cuidado com o alunado público alvo da Educação Especial.

A escola é obra do Orçamento Participativo22 de 1995. A construção se deu entre os anos de 1999 a 2001, sendo que a inauguração oficial aconteceu em 27 de abril de 2001. A comunidade do entorno da escola se envolveu na luta pela conquista da obra, mobilizada pelos representantes da Associação do Bairro em que a escola se localiza e de bairros próximos, com apoio das lideranças religiosas. Como a obra durou um ano e 7 meses, mesmo antes da entrega oficial do prédio à comunidade, a escola começou a funcionar no salão paroquial da igreja vizinha.

“O início foi muito difícil. Sem materiais pedagógicos e recursos financeiros, espaço próprio, o quadro de professoras da escola incompleto, precariedade na confecção da merenda e uma

22 Proposta da Prefeitura de Belo Horizonte visando que as comunidades discutam e decidam quais

comunidade cheia de expectativas” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO23, 2006).

O nome da instituição é fruto também da mobilização da comunidade que queria homenagear um religioso espanhol do século XVI que defendia e lutava por uma educação para todos. Ele foi o criador da primeira Escola Pública e gratuita da Era Moderna (REGIMENTO ESCOLAR24, 2011).

A rua da escola era bastante íngreme, o que dificultava o acesso à mesma. O terreno que a escola ocupava era muito acidentado, com cinco níveis de construção:

a) no primeiro nível, no plano abaixo da rua, estavam as salas da educação infantil. Na parte externa, um espaço em que foram afixados brinquedos de playground: escorregador, carrossel, balanço e uma casinha de boneca (com sala e cozinha). Ao lado das salas estavam os banheiros dos alunos e das alunas, sendo que um banheiro masculino foi adaptado para os alunos com limitações motoras que fazem uso de cadeira de rodas;

b) no segundo nível, no plano da rua, ficava a maior parte da área construída, com as salas do Ensino Fundamental, sala de atendimento pedagógico, cantina, despensa, depósito de merenda, banheiros dos(as) alunos(as) do Ensino Fundamental, um pátio (com uma parte coberta) e áreas de circulação;

c) no terceiro nível, acima do plano da rua, estavam mais salas de aula do Ensino Fundamental, secretaria, sala da coordenação, diretoria, sala dos professores, banheiros dos(as) professores(as), sala multiuso que funcionava como brinquedoteca e um laboratório de Ciências, que funcionava também como sala de Artes;

d) no quarto nível, estavam a biblioteca, a sala de informática e um pequeno auditório que funcionava também como sala de audiovisual e espaço para reuniões pedagógicas e administrativas;

e) no quinto e último nível, tinha uma quadra de esportes.

Ao todo, a escola contava com 16 salas de aula dispostas em um bloco específico de três andares, em que o acesso se dava por rampas. No outro bloco construído, o acesso era por

23 Documento interno da escola investigada disponibilizado para consulta. 24 Documento interno da escola investigada disponibilizado para consulta.

escadas ou rampas. A acessibilidade foi considerada na construção dos prédios e existiam acessos, por rampas, a todas as dependências da escola. Isto facilitava a locomoção dos(as) alunos(as) com deficiência física que usavam cadeiras de rodas. No total, a escola tinha, no período observado, quatro alunos cadeirantes.

Em relação ao quadro de funcionários(as), a instituição apresentava, no ano de 2011, um total de 47 professoras, uma diretora, uma vice-diretora, quatro auxiliares de biblioteca, uma secretária, quatro auxiliares de secretaria, três coordenadoras no turno da manhã e mais três no turno da tarde (sendo por turno, uma para a educação infantil, uma para o 1º Ciclo e uma para o 2º Ciclo), quatro cantineiras, seis auxiliares de serviço e dois porteiros. A instituição também contava com a presença de um guarda municipal.

Alguns projetos eram desenvolvidos na escola visando o desenvolvimento dos(as) alunos(as). Dentre eles pode-se destacar o Programa Escola Integrada, já citado anteriormente, que amplia a carga horária diária dos(as) alunos(as) para nove horas e é restrito aos discentes do ensino fundamental. No ano de 2011, do total de 570 estudantes do ensino fundamental, aproximadamente 220 foram atendidos(as) em tempo integral.

De acordo com a diretora da escola, o número de alunos(as) atendidos(as) pelo Programa não é expressivo, mas a instituição não tem possibilidades de atender um número maior devido a falta de espaço físico. “Não há como atender mais, não cabe. Lá na igreja, no espaço que a

gente utiliza, caberiam no máximo mais 20. Mas também não tem muita demanda não”

(Entrevista com a Diretora, no dia 05/12/2011)

Em parceria com o governo federal, a prefeitura de Belo Horizonte desenvolve o Programa Saúde na Escola (PSE) que visa à integração e articulação permanente da educação e da saúde, com o objetivo de contribuir com a formação integral dos(as) estudantes ao desenvolver ações de prevenção e atenção à saúde. Assim, a escola, com a autorização da família, encaminha os(as) alunos(as) para avaliações do seu estado de saúde: avaliações oftalmológicas e auditivas, saúde bucal, estado nutricional, imunização e crescimento. A escola contrata um agente do PSE que é responsável por organizar a agenda com os postos de saúde do entorno, comunicar aos pais e providenciar o transporte devido à distância de algumas unidades de saúde.

Agora, a condição para o menino ser atendido é o pai autorizar. Tem uma autorização e alguns não autorizam. No final do documento tem de autorizar e mandar o xerox do cartão de vacina. Outro objetivo: atualizar as vacinas e tem um outro também que é a avaliação oftalmológica. Esse aí, o agente é preparado. Ele faz aquele exame da acuidade visual, aquele mais básico, aquele do cartazinho. Aí, aquelas crianças que detectam algum problema são encaminhados para uma consulta oftalmológica. E lá vê se realmente é um problema de vista ou não e encaminha pro óculos. E a prefeitura dá os óculos (Entrevista com a Diretora, no dia 05/12/2011). Outra parceria com o governo federal, por meio do Ministério da Educação (MEC), possibilita o desenvolvimento do Programa Escola Aberta. O MEC transfere recursos para que as escolas sejam abertas à comunidade aos sábados e domingos, com o objetivo de ampliar os espaços de convivência escola-comunidade, com atividades de qualificação profissional que podem vir a ser uma fonte de geração de renda. Na escola investigada, o programa funcionava aos sábados de meio-dia às 18 horas e no domingo de 8 às 14 horas. De acordo com a diretora, tinha oficinas, lazer, esporte e essas atividades eram desenvolvidas por pessoas, às vezes da própria comunidade, contratadas para esse fim. Considerando que a escola atendia estudantes do bairro em que estava localizada, mas também estudantes de outros bairros, a adesão ao programa não era expressiva.

Em relação ao apoio pedagógico oferecido aos alunos(as) tinha o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) que atendia os(as) estudantes com baixo rendimento em Matemática e Língua Portuguesa. A escola tinha professoras a mais em seu quadro de pessoal para desenvolver esse trabalho.

Já tem dois anos que funciona assim: vai ter uma pessoa a mais no seu quadro, ou duas. Nós funcionamos já há dois anos com duas pessoas a mais. E essas pessoas, a gente destina as horas delas para esse reforço. Mas elas têm toda uma formação que é dada pela secretaria de educação. O material que elas trabalham é um material diferenciado que já vem pronto. Elas vão para as reuniões, são preparadas, discutem, recebem o material. Esse material é discutido. Elas têm uma liberdade em cima dele, mas ele já vem mais ou menos pronto. Com atividades, com temas e aí elas aplicam e vão monitorando. A aprendizagem é monitorada. Daqueles alunos que apresentaram baixo rendimento nas avaliações externas e nas internas também (Entrevista com a Diretora, no dia 05/12/2011).

Vejamos, a seguir, como vem acontecendo a efetivação da política municipal na realidade da escola, foco de nossa investigação acadêmica, por meio do conhecimento dos documentos que devem trazer o retrato da escola: o Projeto Político Pedagógico (PPP) e o Regimento Escolar.