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4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

2.6 Quarta Fase – Estudo de Casos Múltiplos

2.6.2 O Caso de ESE3

2.6.2.1 Caracterização de ESE3

As informações que seguem, adaptadas para garantir o anonimato, foram obtidas no endereço eletrônico de ESE3 e apresentam um pouco da história da ICT.

ESE3 foi oficialmente fundada no fim da década de 60. Mesmo em contexto universitário recente, em que a universidade brasileira mais antiga tem pouco mais de sete décadas, ESE3 pode ser considerada uma instituição jovem que já conquistou forte tradição no ensino, na pesquisa e nas relações com a sociedade.

O projeto de instalação de ESE3 veio responder à crescente demanda por pessoal qualificado. Mas ESE3 escapou à tradição brasileira da criação de universidade pela simples acumulação de cursos e unidades. Ao contrário da maioria das instituições, foi criada a partir de uma ideia que englobava o seu conjunto atual. Basta dizer que, antes mesmo de instalada, já havia atraído para seus quadros mais de 200 professores estrangeiros de diferentes áreas do conhecimento e cerca de 180 vindos das melhores universidades brasileiras.

ESE3 tem três campi e 24 unidades de ensino e pesquisa. Possui um vasto complexo de saúde (com duas grandes unidades hospitalares), além de 23 núcleos e centros interdisciplinares, 2 colégios técnicos e uma série de unidades de apoio num universo onde convivem cerca de 50 mil pessoas e se desenvolvem milhares de projetos de pesquisa.

ESE3 tem graduação forte com um grande leque de cursos nas áreas de Ciências Exatas, Tecnológicas e Biomédicas, Humanidades e Artes. Por outro lado, é a universidade brasileira com maior índice de alunos na pós-graduação – 48% do corpo discente – e responde por aproximadamente 12% da totalidade de teses de mestrado e doutorado em desenvolvimento no país.

A qualidade da formação oferecida por ESE3 tem tudo a ver com a relação que historicamente mantém entre ensino e pesquisa. Tem a ver também com o fato de que 86% de seus professores atuam em regime de dedicação exclusiva e 97% têm titulação mínima de doutor.

Isso faz com que os docentes que ministram as aulas sejam os mesmos que, nos laboratórios, desenvolvem as pesquisas que tornaram a ESE3 conhecida e respeitada. E permite que o conhecimento gerado das pesquisas seja repassado aos alunos, muitos dos quais delas participam, como é o caso dos estudantes de pós-graduação, havendo grande número de

bolsas de iniciação científica para os alunos de graduação ou das atividades extracurriculares propiciadas pelas empresas juniores existentes em praticamente todas as unidades.

Levantamento por amostragem realizado recentemente mostrou que dos aproximadamente 40 mil ex-alunos de graduação da ESE3 88,2% estavam empregados e que 48,3% ocupavam cargos de direção em empresas ou instituições públicas, 9,3% davam continuidade aos estudos em nível de pós-graduação, 2,5% estavam desempregados e 1,8% estavam aposentados.

Ao dar ênfase à investigação científica, ESE3 partia do princípio de que a pesquisa, servindo prioritariamente à qualidade do ensino, podia ser também uma atividade econômica. Daí a naturalidade de suas relações com a indústria, o fácil diálogo com as agências de fomento e a rápida inserção no processo produtivo.

A inserção começou na década de 70, com o desenvolvimento de pesquisas de alta aplicabilidade social, muitas das quais logo difundidas e incorporadas à rotina da população. Exemplos: a digitalização da telefonia, o desenvolvimento da fibra óptica e suas aplicações nas comunicações e na medicina, os vários tipos de lasers existentes no Brasil e os diversos programas de controle biológico de pragas agrícolas.

Deve-se acrescentar a essas e às centenas de outras pesquisas em andamento número notável de estudos e projetos no campo das Ciências Sociais e Políticas, da Economia, da Educação, da História, das Letras e das Artes. A maioria dessas pesquisas não somente está voltada para o exame da realidade brasileira como, muitas vezes, se tem convertido em benefício social imediato. No conjunto, elas representam em torno de 15% da pesquisa universitária brasileira.

Atuando como autêntica “usina de pesquisas” e como um centro de formação de profissionais de alta qualificação, ESE3 atraiu um polo de indústrias de alta tecnologia, quando não gerou ela própria empresas em nichos tecnológicos, por iniciativa de ex-alunos ou professores. A existência desse polo, aliada à continuidade do esforço da ESE3, tem produzido grandes e benéficas alterações no perfil econômico da região de atuação.

A tradição da ESE3 na pesquisa científica e no desenvolvimento de tecnologias deu- lhe a condição de universidade brasileira que mais vínculos mantém com os setores de produção de bens e serviços. A instituição mantém várias centenas de contratos para repasse de tecnologia ou prestação de serviços tecnológicos a indústrias da região de atuação.

Para facilitar a interação, ESE3 conta, desde 2003, com uma Agência de Inovação, serviço que é a porta de entrada para os empresários que querem modernizar processos

industriais, atualizar recursos humanos ou incorporar às linhas de produção os frutos da pesquisa da universidade.

Nas últimas décadas, o papel de ESE3 como instituição geradora de conhecimento científico e formadora de mão de obra qualificada atraiu para o entorno um complexo de centros de pesquisa vinculados ao Governo Federal ou Estadual, além de um importante parque empresarial nas áreas de telecomunicações, de tecnologia da informação e de biotecnologia. Muitas dessas empresas nasceram da própria ESE3 e da capacidade empreendedora de ex-alunos e professores. São as “filhas de ESE3”, quase todas atuando nas áreas de tecnologia de ponta.

Além disso, ESE3 tem se caracterizado por manter fortes ligações com a sociedade através de suas atividades de extensão e, em particular, de sua vasta área de saúde. Quatro grandes unidades hospitalares fazem de ESE3 o maior centro de atendimento médico e hospitalar da região de atuação.

Este breve relato apresenta a importância da ICT no contexto nacional, em especial a ênfase na pesquisa e no processo de transferência de tecnologia, motivo pelo qual foi selecionada para participar desta fase da pesquisa. A seguir, são apresentadas características do processo de transferência de tecnologia obtidas por meio de entrevista com representante desta ICT.