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2.3 Transferência de Tecnologia: Interação entre Universidade e Empresa

2.3.3 Fatores Influenciadores da Transferência de Tecnologia

Friedman e Silverman (2003) destacam que existem muitos fatores que podem influenciar os resultados da transferência de tecnologia universitária, como mudanças de políticas internas, práticas organizacionais e políticas públicas, fatores que podem aumentar o fluxo de tecnologia para o setor privado.

Geuna e Muscio (2009) consideram que o processo de transferência de tecnologia pode ser afetado por diferenças entre os países. O exemplo que citam é o Reino Unido, um

dos pioneiros no desenvolvimento de uma política que incentiva o processo, além de fazer esforço intensivo para a criação de incentivos para as universidades se engajarem em interações sistemáticas com as empresas e a sociedade. Por outro lado, certos países, como a Itália, só recentemente introduziram políticas desse tipo.

Geuna e Muscio (2009) defendem que a empresa, a universidade e as próprias características do pesquisador explicam a variedade de aspectos que podem facilitar a transferência de tecnologia. Em alguns casos, decisões estratégicas da universidade a levam à institucionalização das atividades de transferência de tecnologia. Em outros, a rede de contatos do pesquisador facilita o sucesso de cada interação e, por fim, características da empresa e sua disponibilidade para capturar os conhecimentos vindos da universidade são fatores determinantes.

Levy, Roux e Wolf (2009), analisando a questão na perspectiva das empresas, defendem que algumas características podem ser determinantes para o sucesso do processo de transferência de tecnologia, como tamanho, status (matriz ou subsidiária), setor de atuação, capacidade de inovação (medida pelo nível de gastos em P&D) e proximidade geográfica com a universidade.

Schartinger, Schibany e Gassler (2001), analisando o tema na perspectiva da universidade, após analisar 309 departamentos universitários na Áustria, destacam duas características que podem ser determinantes para o sucesso do processo de transferência de tecnologia da universidade: tamanho e características de pesquisa, como número de publicações internacionais por pesquisador e tipo de campo científico.

Link, Siegel e Maya (2005) destacam como principal facilitador do processo de transferência de tecnologia a definição clara da missão do NIT, que deve estar focada no licenciamento e na geração de rendimento por royalties, o que deve alavancar as atividades de transferência de tecnologia.

Alinhados a essa perspectiva, vários autores, como Siegel, Waldman e Link (2003), Schatiner, Schibany e Gassler (2001) e Maya (2008), concluem que são fatores cruciais os mecanismos de remuneração (licenciamento e pagamento de royalties) e as práticas da equipe dos NIT, acrescentando que as barreiras culturais existentes entre a empresa e a universidade podem dificultar o processo. Maya (2008) defende que o compromisso mútuo para obter os resultados esperados e o estabelecimento de canais e mecanismos de comunicação podem superar muitos dos empecilhos que surgem durante o processo de transferência de tecnologia.

Vários autores, como Cruz e Segatto (2009), Schartinger, Schibany e Gassler (2001) e Rapini e Righi (2006), defendem que a comunicação pode ser reconhecida como um dos

fatores que influenciam a busca de uma relação satisfatória entre a universidade e a empresa, embora reconheçam que ainda existem lacunas a serem preenchidas, como a dificuldade da empresa em se informar sobre o que está sendo pesquisado na universidade e as tecnologias disponíveis, bem como a possível aplicabilidade dessas tecnologias a seus produtos e ou processos.

Como os fatores são heterogêneos e podem influenciar de forma tanto positiva quanto negativa, o Quadro 11 sistematiza os que influenciam no processo de transferência de tecnologia identificados na literatura, na perspectiva da universidade.

Quadro 11 – Fatores que Influenciam na TT (Universidade)

FATOR AUTORES

Políticas internas e práticas organizacionais Friedman e Silberman (2003); Segatto-Mendes e Mendes (2006); Fugino e Stal (2007); Cunha e Neves (2008); Santana e Porto (2009); Amadeie Torkomian (2009); Guarnica e Torkomian (2009) e Geuna e Muscio (2009)

Características e rede de contatos do pesquisador

Geuna e Muscio (2009)

Tamanho da universidade e características das pesquisas desenvolvidas

Schartinger, Schibany e Gassler (2001)

Número de publicações por pesquisador Schartinger, Schibany e Gassler (2001)

Clima empreendedor Rasmussen, Moen e Gulbrandsen (2006)

Missão clara do NIT Rasmussen, Moen e Gulbrandsen (2006);

Segatto-Mendes e Mendes (2006); Cunha e Neves (2008) e Amadeie Torkomian (2009)

Alto percentual de pagamento de royalties para os membros da faculdade

Rasmussen, Moen e Gulbrandsen (2006); Link, e Siegel (2005); Maya (2008); Siegel, Waldman e Link (2003)

Número de tecnologias licenciáveis Link e Siegel (2005)

Estabelecimento de canais de comunicação com as empresas

Cruz e Segatto (2009);Schatinger, Schibany e Gassler (2001);Rapini e Righi (2006)

Intensificação dos contatos informais Segatto-Mendes e Mendes (2006); Silva (2007)

Estruturas de apoio e mecanismos de gestão Fugino e Stal (2007); Santana e Porto (2009) e

Guarnica e Torkomian (2009); Amadeie

Torkomian (2009)

Pelo Quadro 11, constata-se que os fatores são diversos e estão relacionados não só com a universidade, por decisões de gestão, como a organização do NIT e as políticas internas e práticas organizacionais, mas também com os pesquisadores, por publicações, características e redes de contatos.

No Quadro 12, sistematizam-se os fatores que influenciam o processo de transferência de tecnologia identificados na literatura, porém na perspectiva da empresa.

Quadro 12 – Fatores que Influenciam na Transferência de Tecnologia (Empresa)

FATOR AUTORES

Disponibilidade da empresa em absorver conhecimentos vindos da universidade.

Geuna e Muscio (2009); Maya (2008)

Tamanho da empresa

Levy, Roux e Wolf (2009); Schartinger, Schibany e Gassler (2001)

Status (matriz ou subsidiária) Levy, Roux e Wolf (2009)

Setor de atuação Levy, Roux e Wolf (2009)

Capacidade inovativa (medida pelo nível de gasto de P&D)

Levy, Roux e Wolf (2009)

Proximidade geográfica com a universidade

Levy, Roux e Wolf (2009) e Botelho, Carrijo e Kamasaki (2007)

Realização de cursos de pós-graduação na universidade parceira

Segatto-Mendes e Mendes (2006); Silva (2007)

Setor específico na empresa para tratar atividades de transferência de tecnologia

Guarnica e Torkomian (2009)

Fonte: Adaptado de Soria (2011)

Entre os fatores apresentados, cumpre destacar que a capacidade inovativa é um indicador complexo, que pode ser mensurado através de um conjunto de fatores, e que a sugestão de utilizar o gasto com pesquisa e desenvolvimento como mecanismo para mensurá- la é uma forma simplificada, uma vez que existem na literatura metodologias mais elaboradas para essa finalidade, como é o caso da utilizada pela Pesquisa de Inovação-PINTEC realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE.

É importante destacar que na literatura foram encontrados fatores não relacionados diretamente com empresa ou universidade, mas com governo. Autores, como Segatto-Mendes e Mendes (2006); Cunha e Neves (2008) e Torkomian (2009), destacaram a importância da

disponibilidade de recursos através das agências de fomento. Friedman e Silberman (2003) destacam a importância das políticas públicas como fatores de influência no processo de transferência de tecnologia.

Embora os fatores apresentados nesta seção exerçam influência positiva ou negativa no processo, a literatura identifica alguns que, de forma recorrente, constituem barreiras para que a transferência de tecnologia se concretize, conforme mostra a seção seguinte.