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3 A EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL NO

3.1 Caracterização do estágio

O Serviço Social foi inserido no NAPJ no primeiro semestre de 2009, com o objetivo de oferecer aos acadêmicos do curso um campo de prática profissional do Serviço Social na área sócio jurídica, habilitando-os para a intervenção e acompanhamento das situações sociais relacionadas com a justiça, ampliando o acesso aos direitos sociais, individuais e às condições de cidadania. Na grade curricular do curso de Serviço Social, os estágios supervisionados inserem-se como articulação teórico-prática.

O estágio é caracterizado, nas diretrizes curriculares, como atividade curricular obrigatória, que se configura a partir da inserção do aluno no

espaço sócio-ocupacional, tendo em vista a sua capacitação para o trabalho profissional (IAMAMOTO, 2006, p. 283).

No NAPJ, o Serviço Social inseria-se a partir do Projeto de Extensão “O Serviço Social e o Atendimento Sócio-jurídico”, tendo em vista proporcionar o acompanhamento e atendimento aos segmentos sociais vulnerabilizados e excluídos do acesso aos seus direitos individuais e sociais de forma gratuita, obedecendo aos critérios de que a renda familiar não ultrapassasse dois salários mínimos ou a posse de no máximo dez hectares de terra. Nessa perspectiva, possibilitava ao estagiário de Serviço Social a oportunidade de conviver com o trabalho do assistente social no campo sócio jurídico, através da proposta de extensão universitária e inserção comunitária, uma atividade com vistas à garantia de direitos e socialização de informações aos sujeitos atendidos. O termo campo ou sistema sócio jurídico é utilizado:

[...] Enquanto o conjunto de áreas de atuação em que as ações do Serviço Social se articulam a ações jurídicas, como o sistema judiciário, os sistemas penitenciários e prisional, o sistema de segurança, o ministério público, os sistemas de proteção e acolhimento e as organizações que executam medidas sócio-educativas, conforme previstas no Estatuto da Criança e Adolescente, dentre outros (FÁVERO, 2003, p. 02).

Assim, o Curso de Graduação em Serviço Social da UNIJUÍ, utiliza-se do referido campo de estágio para o ensino e a prática profissional para os estagiários de Serviço Social. Pode-se dizer, também, que o estágio, como campo de formação, permite que o estagiário exercite o trabalho profissional e aprenda como se da a interação entre a teoria e a prática. Conforme o Regimento de Estágio Supervisionado em Serviço Social da Unijuí, em seu Art. 2º, o mesmo tem como objetivo “constituir o estágio supervisionado um momento privilegiado de inserção do acadêmico no espaço sócio-ocupacional, visando à capacitação para o exercício profissional” (DCS - Departamento de Ciências Sociais). O estágio supervisionado aponta também algumas características de como o processo ensino-aprendizagem se efetiva, tais como responsabilidade, consciência, compromisso, postura ética, senso crítico e propositor e demais atitudes e habilidades esperadas na formação profissional.

O estágio se constitui num instrumento fundamental na formação da análise crítica e da capacidade interventiva, propositiva e investigativa do(a)

estudante, que precisa apreender os elementos concretos que constituem a realidade social capitalista e suas contradições, de modo a intervir, posteriormente como profissional, nas diferentes expressões da questão social, que vem se agravando diante do movimento mais recente de colapso mundial da economia, em sua fase financeira, e de desregulamentação do trabalho e dos direitos sociais.

Nesse campo de estágio foi possível observar diversas formas de manifestação da questão social. Sabe-se que a questão social não é um fenômeno recente, mas, sim, citado em outros momentos históricos, com maior visibilidade após a expansão e consolidação da revolução industrial e a firmação do capitalismo. Segundo Iamamoto, (2001, p.16-17), a questão social diz respeito:

[...] Ao conjunto das expressões das desigualdades engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à apropriação provada da própria atividade humana – o trabalho- das condições necessárias a sua realização, assim como de seus frutos. É indissociável da emergência do “trabalho livre”, que depende da venda da sua força de trabalho com meio de satisfação de suas necessidades vitais. A questão social expressa, portanto, disparidades econômicas, politicas e culturais das classes sociais, mediatizadas por relações de gênero, características étnico- raciais e formações regionais, colocando em causa as relações entre amplos segmentos da sociedade civil e o poder estatal. Envolve simultaneamente uma luta aberta e surda pela cidadania. Esse processo é denso de conformismos e rebeldias, forjados na as desigualdades sociais, expressando a consciência e a luta pelo reconhecimento dos direitos sociais e políticos de todos os indivíduos sociais.

Iamamoto (2001) ainda afirma que a questão social é a expressão das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social cada vez mais coletiva, o trabalho vastamente social enquanto a apropriação dos seus resultados mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. No sentido de contribuir para a redução das desigualdades e aumento das resistências sociais, na perspectiva da democratização, autonomia dos sujeitos, fortalecimento e garantia de direitos sociais, o profissional deve conhecer a realidade social, as características, o modo e a condição de vida dos sujeitos: históricos, sociais, econômicos e culturais, bem como suas necessidades, desejos, níveis de consciência e organização. É nesse espaço que se dá o trabalho do Assistente Social, apreender como a questão social em suas variadas expressões é vivida pelos sujeitos em suas vidas cotidianas (IAMAMOTO, 2006).

Para dar conta dessa dinâmica, demanda-se do Assistente Social o domínio de conhecimentos acerca de processos sociais, estratégias, técnicas e instrumentos,

das teorias gerais explicativas da realidade, conhecimento sobre o Estado e as políticas sociais e a postura profissional ética, dentre outros. Essa aproximação à realidade social e profissional oportuniza ao estagiário, a capacitação para o exercício profissional em Serviço Social, através do contato e observação do trabalho do Assistente Social e de estudos teóricos e empíricos sobre a questão social e as suas manifestações específicas na realidade.

No processo de ensino-aprendizagem podem ser desenvolvidas e qualificadas as dimensões que constituem o projeto ético-político profissional. A dimensão teórico-metodológica como o caminho necessário para a construção de alternativas no exercício profissional, referindo-se aos recursos fundamentais que o Assistente Social faz uso para exercer seu trabalho (IAMAMOTO, 2006). A dimensão técnico-operativa, como exigência para a inserção qualificada do Assistente Social. E a dimensão ético-política, que diz respeito ao engajamento político nos movimentos organizados da sociedade ou representações de categorias. A apropriação dessas dimensões pelos profissionais é essencial para fundamentar e direcionar as ações dos assistentes sociais para uma prática profissional qualificada no mercado de trabalho (IAMAMOTO, 2006).

Como estagiária de Serviço Social do NAPJ, identifiquei a importância de interpretar as demandas que os usuários traziam quando recorriam ao espaço sócio jurídico. Não é no primeiro contato que se consegue desvendar as expressões da questão social, sendo necessário ampliar a visão e compreender o sujeito na sua totalidade, isto é, no contexto familiar, econômico, cultural e social nos quais está inserido.

Um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no presente é desenvolver a sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir das demandas no cotidiano. Enfim, ser um propositivo e não só executivo (IAMAMOTO, 2006, p. 20).

Para responder às expectativas postas ao Assistente Social na atualidade, exige-se uma ruptura com a atividade burocrática, que reduz o trabalho do Assistente Social a mero emprego, ao cumprimento de atividades preestabelecidas. Requer ir além das rotinas institucionais, apreender o movimento da realidade para detectar as possibilidades que estão presentes, passíveis de serem estimuladas pelo profissional (IAMAMOTO, 2006).

No campo de estágio oportunizou-se desenvolver a capacidade criativa, investigativa e propositiva, supervisionados pelo Assistente Social responsável, que respondeu pela supervisão de estágio em suas ações no campo de trabalho conforme a Legislação Profissional, de acordo com o Código de Ética do/a Assistente Social, que indica o rumo ético-político, os caminhos a serem trilhados, a partir de compromissos fundamentais acordados e assumidos coletivamente pela categoria (IAMAMOTO, 2006).

Todos os conhecimentos teóricos adquiridos durante o período de formação acadêmica se caracterizam como meios de trabalho dos assistentes sociais e permitem o norteamento do trabalho, de acordo com os objetivos ético-políticos assumidos pelo Serviço Social. De acordo com Iamamoto (2006), conhecer a realidade é conhecer o próprio objeto de trabalho, com o qual se pretende impulsionar um processo de mudanças.

A questão social em suas múltiplas expressões constitui o objeto ou matéria prima do trabalho do assistente social aqui considerado. Dar conta das particularidades que envolvem as múltiplas expressões da questão social, o que as produzem e as reproduzem e como os sujeitos as vivenciam em suas relações, é sobre o que incide a intervenção ou o trabalho do Assistente Social.

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