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A intervenção do assistente social nas situações envolvendo alienação parental

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DCSJ – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

ISETE CASAROTTO BOARO

A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS SITUAÇÕES ENVOLVENDO ALIENAÇÃO PARENTAL

IJUÍ, RS 2013

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ISETE CASAROTTO BOARO

A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS SITUAÇÕES ENVOLVENDO ALIENAÇÃO PARENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Serviço Social promovido pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito para a obtenção do título Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profa. Me. Marisa Camargo

Ijuí, RS 2013

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ISETE CASAROTTO BOARO

A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS SITUAÇÕES ENVOLVENDO ALIENAÇÃO PARENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Serviço Social apresentado para obtenção do título de

Bacharel em Serviço Social

COMISSÃO EXAMINADORA:

_________________________________________ Profa. Me. Marisa Camargo (Orientadora)

UNIJUÍ

_________________________________________ Prof. Dr. Walter Frantz

UNIJUÍ

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“Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim? Como posso dialogar, se me admito como um homem diferente, virtuoso por herança, diante dos outros, meros “istos”, em que não reconheço outros eu? [...] A auto-suficiência é incompatível com o diálogo. Os homens que não tem humildade ou a perdem, não podem aproximar-se do povo. Não podem ser seus companheiros de pronúncia do mundo. Se alguém não é capaz de sentir-se e saber-se tão homem quanto os outros, é que lhe falta ainda muito que caminhar, para chegar ao lugar de encontro com eles. Neste lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que, em comunhão, buscam saber mais.”

Paulo Freire

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Dedico este trabalho a minha mãe, fonte de amor, paz e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Aos amores da minha vida: meu marido João e meus filhos Vinicius e Guilherme, pelo carinho e incentivo e por tudo que representam para mim.

À minha orientadora, professora Marisa Camargo, pela transmissão de seus conhecimentos e por me fazer acreditar que sempre podemos fazer melhor;

À Professora Lislei T. Preuss, pelos seus ensinamentos e por nos ter incentivado a enfrentar de forma corajosa as situações mais adversas;

Às amigas e colegas que, de uma forma ou outra, contribuíram para a minha formação, e pela parceria nesta trajetória;

Às secretárias, Raquel e a Daiane, pelas orientações e atenção que sempre gentilmente nos dispensaram;

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RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) trata sobre o Serviço Social e alienação parental, tendo como objetivo identificar a intervenção do Assistente Social nas situações envolvendo alienação parental. Para tanto, fez-se uma pesquisa bibliográfica e documental, com abordagem e descrição qualitativa, fundamentada na Teoria Social Crítica e no Método Dialético Crítico, bem como nas categorias do método historicidade, totalidade e contradição. Como instrumento de pesquisa, utilizou-se o diário de campo de própria autoria, a partir da experiência dos Estágios Supervisionados em Serviço Social I, II e III, realizados no Núcleo Assistencial de Práticas Jurídicas (NAPJ) do Escritório Modelo de Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande Do Sul (UNIJUÍ), campus de Ijuí/RS, no período de março de 2010 a junho de 2011. Para tanto, buscou-se identificar os fatores que influenciam a ocorrência de alienação parental, através de um resgate histórico sobre as transformações na organização familiar. Discorre-se sobre a experiência de estágio, onde teve-se o primeiro contato com as demandas relacionadas à família, e aborda-se sobre as demandas atendidas com relação aos conflitos familiares, especificamente as relacionadas às situações de alienação parental. Além disso, trata-se sobre o instrumental utilizado pelo Assistente Social neste tipo de situação e faz-se um relato das reflexões sobre a forma e importância da participação dos profissionais nas intervenções envolvendo a alienação parental. Tais situações constituem uma demanda com a qual o Assistente Social pode e deve envolver-se, devendo, para tal, associar-se a equipes multidisciplinares, valer-se do instrumental adequado e apoiar-se na instrumentalidade.

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ABSTRACT

This paper is about the social work and parental alienation, aiming to identify the intervention of the social worker in situations involving parental alienation. To do so, it was made a bibliographical and documentary research, with qualitative approach and description, based on Critical Social Theory and the Critical Dialectic Method, as well as the categories of the method (historicity, totality and contradiction). A field diary from the experience of the Supervised Internships in Social Work I, II and III, conducted at the Núcleo Assistencial de Práticas Jurídicas (NAPJ) of the Escritório Modelo de Direito of the Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande Do Sul (UNIJUÍ), from March 2010 to June 2011, was used as a research tool. Therefore, we sought to identify the factors that influence the occurrence of parental alienation, through a historical review on the changes in family organization. It is reported about the internship experience, where was obtained the first contact with the demands related to the family, and is approached about the demands related to the family conflicts, specifically those related to parental alienation situations. Furthermore, it is performed an approach about the instruments used by the social worker in this type of situation and it is made a report of the reflections on the way and importance of the participation of these professionals in interventions involving parental alienation. Such situations constitute a demand that the social worker can and should be involved, requiring, for that, join multidisciplinary teams, make use of the appropriate instruments and rely on instrumentality.

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LISTA DE SIGLAS

APASE – Associação de Pais Separados CFESS – Conselho Federal de Serviço Social CNJ – Conselho Nacional de Justiça

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente NAPJ – Núcleo Assistencial de Práticas Jurídicas

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

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SUMÁRIO

Página

INTRODUÇÃO ... 11

1 PERCURSO METODOLÓGICO ... 13

2 ALIENAÇÃO PARENTAL: ORIGEM E CONSEQUÊNCIAS ... 17

2.1 A família e a alienação parental ... 17

2.2 Conjugalidade e parentalidade ... 21

2.3 Alienação parental e consequências ... 25

3 A EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL NO ESPAÇO SÓCIO-JURÍDICO DO ESCRITÓRIO MODELO DE DIREITO EM IJUÍ/RS: O DESVENDAMENTO DAS DEMANDAS ENVOLVENDO A ALIENAÇÃO PARENTAL ... 29

3.1 Caracterização do estágio ... 29

3.2 Experiências e demandas atendidas ... 33

4 O INSTRUMENTAL UTILIZADO PELO ASSISTENTE SOCIAL NO DESVENDAMENTO DAS DEMANDAS ENVOLVENDO ALIENAÇÃO PARENTAL ... 40

4.1 Instrumentalidade: condição subjetiva para a materialização do trabalho do Assistente Social ... 40

4.2 O uso do instrumental no desvendamento das demandas envolvendo a alienação parental ... 43

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 50

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INTRODUÇÃO

Muito se tem discutido sobre conflitos familiares e o papel que a família desempenha na formação dos filhos e, consequentemente, como isso repercute na sociedade. Nas questões relativas à separação conjugal e à guarda de filhos, frequentemente, os mesmos tornam-se meio de expressão do desprezo, mágoa e rejeição entre os ex-cônjuges, emergindo, a partir disso, situações de alienação parental. A alienação parental é responsável pela separação física e/ou emocional entre um dos genitores e seu filho. Esta prática afeta não somente o grupo familiar, mas a comunidade como um todo, sendo capaz de criar um círculo vicioso, pois a restrição do convívio familiar saudável, capaz de fornecer um ambiente de amor, segurança e compreensão, em que os filhos possam desenvolver a sua capacidade emocional e social, gera o risco de formar adultos despreparados para o exercício conjugal e parental, como também para a vida em sociedade.

Os atendimentos realizados no decorrer dos estágios supervisionados em Serviço Social, nos quais pôde-se constatar que pais, em muitas situações, exerciam a prática da alienação parental, associados à atualidade e relevância social e acadêmica do tema, motivaram a realização desta pesquisa. Para tanto, o presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Serviço Social está estruturado em quatro (4) capítulos.

No primeiro capítulo contextualiza-se sobre o percurso metodológico utilizada para desenvolver este trabalho. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental de cunho qualitativo. O estudo se fundamenta na Teoria Social Crítica e no Método Dialético Crítico, inspirado em Marx, mediadas pelas categorias temáticas: historicidade, totalidade e contradição. O tema escolhido para a realização deste trabalho foi: “Serviço Social e alienação parental”, e o problema da pesquisa foi assim descrito: “Como se desenvolve a intervenção do Assistente Social nas situações envolvendo a alienação parental?” Abordam-se ainda as questões norteadoras, objetivo geral, objetivos específicos e categorias do método.

No segundo capítulo, realiza-se o resgate histórico sobre a família, as transformações, e como estas influenciam até os dias atuais, no que diz respeito aos papeis atribuídos com relação à maternidade e paternidade. Analisa-se a questão da conjugalidade e parentalidade e como os genitores reagem no momento da

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dissolução conjugal. Embora, em muitos casos de dissolução conjugal, situações de alienação parental estiveram presentes, somente a partir da promulgação da Lei 12 318/2010, que discorre sobre a alienação parental, é que o assunto passou a ter mais atenção por parte do Judiciário, dos Assistentes Sociais, Psicólogos e Psiquiatras. Também, trata-se sobre as situações de alienação parental, como ocorrem e suas consequências na vida das crianças e dos adolescentes.

No terceiro capítulo, discorre-se sobre a experiência, como estagiária, no Núcleo Assistencial de Práticas Jurídicas (NAPJ) do Escritório Modelo de Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande Do Sul (UNIJUÍ), campus de Ijuí/RS, no período de março de 2010 a junho de 2011. Nesse contexto, teve-se o primeiro contato com as demandas relacionadas à família e como a questão social, em suas várias expressões, é vivida pelos sujeitos. Também, aborda-se sobre as demandas atendidas com relação aos conflitos familiares, especificamente as relacionadas às situações de alienação parental, caracterizadas de acordo com a legislação.

No quarto e último capítulo, contextualiza-se sobre a instrumentalidade, a reflexão em torno da importância da formação e capacidade que o profissional Assistente Social adquire para realizar seu trabalho com qualidade. Essa capacidade é que habilita o profissional ao uso do instrumental, capacidade de investigação, intervenção e resolução das demandas. Além da instrumentalidade, trata-se também do instrumental utilizado nas situações de alienação parental, nos atendimentos realizados durante os Estágios Supervisionados em Serviço Social I, II e III, junto ao NAPJ.

Por fim, tem-se uma síntese sobre o tema que subsidiou a construção deste Trabalho de Conclusão de Curso, como também o relato das reflexões sobre a forma e importância da participação do Assistente Social nas intervenções envolvendo a alienação parental.

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1 PERCURSO METODOLÓGICO

A pesquisa na área social trata de seres humanos que fazem parte de uma sociedade, em um determinado espaço e história, que influencia na sua formação e configuração. A realidade social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordante. A realidade é mais rica que qualquer teoria, pensamento ou discurso que se possa elaborar sobre ela (MINAYO, 2002).

Para fazer a aproximação da vida dos seres humanos em sociedade com a pesquisa, as Ciências Sociais possuem teorias e procedimentos, os quais tratam da metodologia. A metodologia é o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade (MINAYO, 2002).

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Serviço Social baseia-se numa pesquisa bibliográfica e documental, com abordagem e descrição qualitativa. A bibliografia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa contempla referências na área do Serviço Social, Sociologia, Psicologia e Direito complementadas pela legislação específica sobre a alienação parental. A pesquisa bibliográfica procura explicar e discutir um tema ou um problema baseando-se em livros, revistas, periódicos, etc. De acordo com Martins e Lintz (2000), este tipo de pesquisa busca tomar conhecimento e fazer a análise das contribuições científicas sobre determinado tema.

A pesquisa documental parte da experiência dos Estágios Supervisionados em Serviço Social I, II, III realizados no Núcleo Assistencial de Práticas Jurídicas (NAPJ) do Escritório Modelo de Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), campus de Ijuí/RS, no período de março de 2010 a julho de 2011. Como instrumento de pesquisa utilizou-se o diário de campo de própria autoria, para embasar a descrição de possíveis situações envolvendo alienação parental observadas no estágio, mediadas pelas categorias temáticas e interpretações descritas na Lei 12.318/2010.

O diário de campo consiste em um instrumento de anotações, como forma de registrar, caracterizar demandas, fenômenos sociais, comentários, dúvidas e reflexões acerca do trabalho do Assistente Social. A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença entre as duas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza das contribuições

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de diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa (GIL, 2002).

A abordagem qualitativa enfatiza a natureza dos significados, valores, crenças, motivações, com um nível de realidade que não pode ser quantificados. Nesse sentido, penetra no universo dos sentidos das ações e das relações humanas, que não pode ser medido, equacionado. Tem como ponto de partida o fundamento de que há uma relação entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, uma relação entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito (CHIZZOTTI, 2003).

O estudo se fundamenta na Teoria Social Crítica e no Método Dialético Crítico, inspirado em Marx, bem como nas categorias do método: historicidade, totalidade e contradição. A dialética engloba orientações filosóficas que afirmam a relação entre o sujeito e o objeto, num processo de conhecimento. O sujeito precisa ultrapassar as aparências para alcançar a essência dos fenômenos, para captá-los e desvendar o sentido oculto das impressões imediatas. Minayo (2002) se refere à dialética como aquela que busca encontrar na parte a compreensão e como se dá a relação com o todo, o interior e o exterior que constitui os fenômenos. Reconhece o sujeito como unidade em processo, movimento e devir, bem como a importância do contexto social como elemento determinante da história de vida dos sujeitos.

A historicidade é uma categoria ontológica do ser social, portanto é parte da própria vida do homem. A história é a substância da sociedade. O movimento constante da história determinada pelas transformações sociais significa que os fenômenos não são estáticos, estão em constante desenvolvimento e, só podem ser apreendidos a partir do desenvolvimento deste desenvolvimento, por cortes históricos. A historicidade envolve a processualidade dos fatos, sua provisoriedade e o seu movimento constante de superação (TÜRCK, 2012).

É na contradição que se apresentam os espaços de resistência em que o Assistente Social irá executar o seu trabalho. A realidade só é superada na medida em que se ingressa na contradição. A dialética valoriza a contradição dinâmica do fato que está sendo observado e a atividade criadora do sujeito que observa as oposições contraditórias entre o todo e a parte os vínculos do saber e do agir com a vida social dos homens (CHIZZOTTI, 2003).

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Além da historicidade e da contradição da dinâmica real, outra categoria para entender a dialética é a totalidade. Vale lembrar, conforme Türck (2012), que a totalidade vai articular o dia a dia do sujeito singular, os processos sociais que emergem da relação capital e trabalho, assentados em uma sociedade capitalista de cunho periférico. Nenhum pensamento ou fenômeno pode ser compreendido isoladamente, fora daquilo que os rodeia, pois pertence a um todo dialético e como tal faz parte de uma estrutura. Portanto, para conhecer o real na sua totalidade, é indispensável conhecer a historicidade e as contradições que constituem o ser e sua realidade.

Delimitado o objeto de pesquisa, surge a necessidade de definição das formas de investigá-lo. A escolha do tema a ser pesquisado pode nascer de reflexões, de problemas reconhecidos, de uma atividade profissional ou de outras fontes de informações. A escolha do tema, “Serviço Social e alienação parental” deu-se a partir da experiência vivida no campo de estágio, o qual se caracterizava como um campo sócio jurídico, integrado por profissionais e estagiários das áreas de Direito e Serviço Social.

Para responder ao problema de pesquisa “Como se desenvolve a intervenção do Assistente Social nas situações envolvendo alienação parental?”, foram construídas três (3) questões norteadoras, que se apresentam da seguinte forma:

1- Que fatores influenciam a ocorrência de alienação parental?

2- Quais as demandas apresentadas para o assistente social nas situações envolvendo alienação parental?

3- Qual o instrumental utilizado pelo assistente social nas situações envolvendo alienação parental?

O objetivo geral da pesquisa foi o de identificar a intervenção do Assistente Social nas situações envolvendo alienação parental. Para atingir o objetivo geral e responder às questões norteadoras, foram construídos os seguintes objetivos específicos:

1- Identificar os fatores que influenciam a ocorrência de situações de alienação parental.

2- Desvendar as demandas apresentadas para o assistente social nas situações envolvendo alienação parental.

3- Evidenciar o instrumental utilizado pelo assistente social nas situações envolvendo alienação parental.

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A partir da etapa exploratória da pesquisa, foram elencadas as categorias temáticas: alienação parental, família, demandas e intervenção. Trabalhar com categorias significa agrupar elementos, ideias ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso (MINAYO, 2002). Para cada categoria temática construiu-se a síntese a seguir:

- Alienação parental: campanha de desqualificação, produzida ou induzida por um dos genitores ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob sua responsabilidade;

- Família: grupo social, fundado nos laços de afetividade;

- Demandas: diversas expressões da questão social que chegam nos

espaços sócio-ocupacionais sob a forma de motivo e/ou razão da busca pelo atendimento;

- Intervenção: movimento necessário para a transformação de uma

realidade, meios ou instrumental.

No Quadro 1, abaixo, encontra-se o quadro metodológico orientador da pesquisa de Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de Serviço Social.

TEMA DELIMITAÇÃO DO

TEMA

CATEGORIAS TEMÁTICAS

Serviço Social e alienação parental

A intervenção do assistente social nas situações envolvendo a alienação parental 1- Alienação parental 2- Família 3- Demanda 4- Intervenção PROBLEMA DE PESQUISA OBJETIVO GERAL Como se desenvolve a intervenção do

Assistente Social nas situações envolvendo alienação parental?

Destacar a intervenção do Assistente Social nas situações envolvendo alienação parental

QUESTÕES NORTEADORAS OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1- Que fatores influenciam a ocorrência

de alienação parental?

1- Identificar os fatores que influenciam a ocorrência de alienação parental

2- Quais são as demandas apresentadas para o assistente social nas situações envolvendo alienação parental?

2- Desvendar as demandas apresentadas para o assistente social nas situações de alienação parental

3- Qual o instrumental utilizado pelo assistente social nas situações envolvendo alienação parental?

3- Evidenciar o instrumental utilizado pelo assistente social nas situações de alienação parental

QUADRO 1. Quadro metodológico da pesquisa de TCC. Fonte: A Autora (2013)

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2 ALIENAÇÃO PARENTAL: ORIGEM E CONSEQUÊNCIAS

Neste capítulo aborda-se o tema família, apresentando-se concepções, definições e mudanças ocorridas ao longo da história. As transformações, decorrentes de vários fatores para os quais será dada visibilidade a seguir, também geraram consequências na vida dos membros do grupo familiar, que muitas vezes vêm acompanhadas de conflitos familiares e da falta de acordo em relação aos filhos, desencadeando a alienação parental.

2.1 A família e a alienação parental

Para dar visibilidade e entender o tema de pesquisa, primeiramente, torna-se necessário falar sobre a família e suas transformações contemporâneas, pois é em decorrência da separação conjugal que as situações de alienação parental ocorrem. Historicamente, as famílias vêm sofrendo transformações, estimuladas pelas mudanças culturais, sociais, políticas e, até mesmo, econômicas. Estas transformações atingem a todos os membros da família. A concepção de família hoje não tem mais o mesmo grau de imbricamento de outrora no que se refere às suas finalidades, composição e papel de pais e mães. Segundo Simões (2009, p.185), a família de hoje constitui:

[...] A instância básica, na qual o sentimento de pertencimento e identidade social é desenvolvido e mantido e, também, são transmitidos os valores e condutas pessoais. Apresenta certa pluralidade de relações interpessoais e diversidades culturais, que devem ser reconhecidas e respeitadas, em uma rede de vínculos comunitários, segundo o grupo social em que está inserida.

A família é a essência natural e fundamental para a formação da sociedade, pois, conforme a citação acima, é a partir dela que se dá a formação da personalidade e dos princípios norteadores de seus membros, mesmo apresentando multiplicidades de condutas decorrentes do núcleo familiar em que estão inseridos.

Desde o seu surgimento, a família desempenha uma função na forma de organização da sociedade. A história mostra que o casamento e, consequentemente, a família, até meados do século XIX não alimentava a conotação afetiva. As relações familiares é que organizavam as relações de

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produção, distribuídas segundo o grau de parentesco, idade e sexo. Além disso, na família assentava-se a submissão religiosa e a transmissão da herança cultural. A figura paterna exercia o papel central na família, o homem era remetido ao mundo do trabalho, político e social, num modelo de relações patriarcais, com a função de ser pai, provedor e chefe da família. Ainda nos dias atuais a sociedade carrega essa herança cultural, a da família patriarcal, embora difira das anteriores no que diz respeito às finalidades, composição e papel de pais e mães.

A história da forma de organização familiar no Brasil manteve um determinado tipo de arranjo familiar: a família patriarcal. As mesmas se instalaram nas regiões agrárias de produção e mantinham-se ligadas de preferência entre parentes, com o intuito de assegurar a indivisibilidade do poder. Eram as relações de parentesco que organizavam as relações de trabalho. Conforme Simões (2009, p.186):

Embora as primeiras manufaturas fossem familiares, em geral, a organização fabril, adotou, aos poucos, relações impessoais, excluindo delas qualquer vinculo familiar. As relações de parentesco ficaram à margem das relações de produção, a partir da linha fordiana de trabalho; embora, no Brasil, sob condições peculiares do patrimonialismo, tenha permanecido forte influência do nepotismo.

A transformação dessa organização familiar se deu com o advento da industrialização e a ruína das grandes propriedades rurais, e a passagem da economia agrária para a economia industrial atingiu a forma de organização familiar. Assim, a família deixou de ser uma unidade de produção onde o homem é que mantinha a autoridade de chefe, de modo que este passa a ser trabalhador nas fábricas e, a mulher, ingressa no mercado de trabalho.

Por muito tempo o casamento não tinha o fim do prazer, estando longe da conotação afetiva. O casamento tinha como efeito a união de dois seres, com o objetivo de manter unido o seu patrimônio em prol da unidade religioso-familiar. A transformação da organização familiar, bem como o conceito de família e o papel da mulher dentro do matrimônio modificaram-se e causaram profundos efeitos no meio familiar, sendo que, inclusive algumas responsabilidades que eram exclusivamente dos pais, passaram a ser exercidas por instituições. Venosa (2006) observa que, atualmente, a escola e outras instituições de educação, esporte e recreação preenchem atividades dos filhos que originalmente eram de responsabilidade dos pais. Os ofícios não mais são transmitidos de pai para filho dentro dos lares e das

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corporações. A educação cabe ao Estado ou a instituições por ele supervisionadas. Com isso, transfiguram-se as relações entre pais e filhos e entre os próprios pais, que não mais comungam das decisões no rumo da educação e formação de seus filhos.

As transformações verificadas na organização familiar, onde a tradicional família nuclear, composta de um casal legalmente unido, com filhos, e em que o homem assumia o encargo de provisão e a mulher as tarefas do lar, encontra-se em extinção. Na década de 1970, em toda civilização ocidental, a família começa a ser conduzida por um dos membros: o pai ou a mãe. As famílias, a partir dos anos 1990, tornaram-se mais efêmeras e heterogêneas, assumiram uma variedade de formas e arranjos, e exigiram revolucionárias mudanças conceituais e jurídicas (PEREIRA, 2004). O matrimônio já não representa mais sinônimo de unidade familiar, a nova família estrutura-se independentemente das núpcias. Novos casamentos dos cônjuges separados formam novas famílias, que resultam em novos arranjos, ajustamentos e possibilidades.

Com o desaparecimento da família patriarcal, na sua forma tradicional, cujas funções eram pró-criativas, econômicas, religiosas e políticas, a família passou a ser representada por um grupo social fundado nos laços de afetividade. Com o aumento de tolerância da sociedade diante de uniões informais, filhos nascidos fora do casamento, relativa aceitação do divórcio e a maior flexibilidade dos papéis dos membros da família, novas referências passaram a influenciar na institucionalização das relações familiares (SIMÕES, 2009).

Porém, apesar das mudanças, pois a própria realidade social não é estática, mas, em constante transformação, de acordo com o momento histórico, a família continua exercendo um papel relevante na sociedade. Simões (2009, p.185) afirma que a família:

É o núcleo social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social, constituindo-se no locus preferencial de sustento, guarda e educação das crianças e adolescentes, proteção de idosos e pessoas com deficiência. O direito a convivência familiar, por isso, supera o mero rendimento de renda per capita, para se fixar no âmbito do núcleo afetivo, não somente por laços consanguíneos, mas também de aliança ou afinidade, em torno de relações de geração e de gênero.

Em concordância com os conceitos referenciados, segundo Maciel (2009), a família não é somente uma instituição decorrente do casamento, tampouco se limita

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à função econômica, política ou religiosa. (Re)significando a família, pode-se dizer que a mesma constitui-se em ambiente propicio de desenvolvimento da personalidade e da promoção da dignidade de seus membros. De acordo com Sierra (2011, p. 89):

A família é mais do que o casamento, pois mesmo com o divórcio, a referência de familiar se mantém pela responsabilidade dos pais com os filhos. A perspectiva do amor, da solidariedade entre homem e mulher, entre pais e filhos, a preocupação com o outro, o vínculo afetivo, o investimento em educação dos filhos, o apoio na velhice, às afinidades conjugais, a sexualidade, a intimidade são valores que remetem aos deveres familiares e que não estão apagados nem foram esquecidos.

No contexto atual, a família funda-se sobre os pilares da responsabilidade e da afetividade. A tônica reside no indivíduo e não mais nos bens ou nas coisas que guarnecem a relação familiar. Conforme Guazzelli (2007, p.43), “a família-instituição foi substituída pela família-instrumento, ou seja, ela existe e contribui tanto para o desenvolvimento da personalidade de seus integrantes como para o crescimento e formação da própria sociedade, justificando, com isso, a sua proteção pelo Estado”.

A família assume diversas formas, tais como: a união formada por casamento; a união estável entre homem e mulher; a comunidade de qualquer dos genitores com seus dependentes; as famílias reconstituídas; e a união homo afetiva1. Portanto, falar em família implica referenciar as mudanças e os padrões diversos de relacionamentos, tornando-se difícil definir o que as delimita. Nesse sentido, Sarti (2007, p.25) postula que:

Embora a família continue sendo objeto de profundas idealizações, a realidade das mudanças em curso abalam de tal maneira o modelo idealizado que se torna difícil sustentar a ideia de um modelo “adequado”. Não se sabe mais, de antemão, o que é adequado ou inadequado relativamente à família. No que se refere às relações conjugais, quem são os parceiros? Que família criam? Como delimitar a família se as relações entre pais e filhos cada vez menos se resumem ao núcleo conjugal? Como se dão as relações entre irmãos, filhos de casamentos, divórcios, recasamentos de casais em situações tão diferenciadas? Enfim, a família contemporânea comporta uma enorme elasticidade.

1 “O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que determina aos cartórios de todo

o país que convertam a união estável homo afetiva em casamento civil. A proposta partiu do próprio presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, e foi aprovada por maioria de votos dos conselheiros” (CNJ, 2013).

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A unidade familiar comporta novos conceitos. Observa-se que, em poucas décadas, o que se tinha como definição de família modificou-se. Modernamente, outra modalidade de família apresenta-se alvo de constantes estudos e pesquisas, pelo fato de representar um grande número estatístico no Brasil: as famílias recompostas. Define-se como família recomposta ou reconstituída aquela estrutura familiar originada do casamento ou da união estável de um casal, na qual um ou ambos de seus membros tem filho ou filhos de um vínculo anterior (MACIEL, 2009).

Diante de tantas mudanças é necessário um olhar atento, pois o impacto da dissolução familiar atinge diretamente os filhos. É preciso que os pais se responsabilizem, em quaisquer circunstâncias, pelas crianças ou pelos adolescentes que sofrem as consequências da ruptura conjugal. Conforme discutido por Brito (2011), a sociedade clama por normatização de todas as situações que degradam ou, de alguma forma, enfraquecem os direitos dos indivíduos, incluindo crianças e adolescentes.

2.2 Conjugalidade e parentalidade

Como consequência da dissolução conjugal, quando esta é sentida por um dos cônjuges, o mesmo, de forma egoísta, inicia um movimento para atingir seu ex- parceiro(a), utilizando-se de seu principal instrumento, que são seus próprios filhos, o que caracteriza alienação parental. Fato que se verifica na afirmação de Simão (2007, p.17):

[...] Se os genitores não se conformarem com a separação em si ou mesmo confundam os meandros da conjugalidade com a parentalidade, certamente haverá consequências nefastas aos filhos. [...] Poderá acontecer de um dos genitores fomentar o distanciamento dos filhos do outro parente configurando a alienação parental.

É importante clarear a diferenciação entre conjugalidade e parentalidade. Todavia esta é uma questão de difícil resolução, pois diferentes aspectos encontram-se entrelaçados. Conforme explica Fedullo (2001), no atendimento a famílias que vivenciam conflitos referentes ao divórcio, a diferença entre o que se chama de “casal conjugal” e “casal parental” manifesta-se como um dos aspectos mais complicados em meio ao divórcio. A história pessoal de cada componente do ex-casal e questões emocionais, são reatualizadas nesse momento, diante do

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fracasso e da frustração de uma união que se desfaz. Assim, cabe esclarecer o uso de expressões “casal conjugal” e “casal parental”. O entendimento é o de que “casal parental” não se desfaz mesmo após o término do “casal conjugal”.

Por outro lado deve-se considerar, também, que com a ruptura do casamento, a conjugalidade não se desfaz imediatamente, uma vez que faz parte da individualidade dos ex-parceiros. O vínculo entre os mesmos não se desfaz ou é anulado, mas é transformado, modificado, passando a assumir outro sentido (SOUZA, 2010), dando uma ideia de passagem de uma etapa para outra. Dessa forma, a modificação de uma etapa do ciclo vital do indivíduo ou grupo familiar consiste em uma passagem, e não em uma ruptura. No entanto, em muitos casos, a separação é sentida como uma ruptura, de modo que o ciclo vital fica atingido e as fronteiras entre pais e filhos ficam seriamente perturbadas.

Sob a justificativa de manter a ordem social, tanto a Igreja como o Estado consagraram a união entre um homem e uma mulher como uma união indissolúvel, sendo o homem o único elemento identificador do núcleo familiar (SOUZA, 2011). A mulher mantinha a função de cuidar dos filhos e conduzir os afazeres da casa. Nesse sentido, considerava-se sempre a mulher/mãe como a pessoa indicada para ficar com a guarda dos filhos, e o homem/pai continuava com o provento do sustento da família.

No entanto, os homens não sustentam mais sozinhos as suas famílias. As mulheres têm ocupado posições muitas vezes até superiores às dos maridos, e os mesmos, após a separação conjugal, desejam continuar participando da educação e da vida dos seus filhos. Muito se tem discutido sobre a nova paternidade, que está vinculada a uma série de transformações ocorridas nos últimos tempos, tanto nas relações de gênero, quanto no âmbito socioeconômico e legal. A discussão sobre os papeis de pai e de mãe foi sendo construída ao longo da história, conforme reitera Souza (2010, p. 61):

Discursos que são construídos historicamente preexistem ao individuo e serão por ele assimilado, reproduzidos, reconfigurados ou ressignificados como parte de uma cultura. Ao mesmo tempo, acrescenta-se, as mudanças nos papéis não podem ser pensadas de forma estanque, circunscrita; elas são dinâmicas, se influenciam mutuamente atravessam o tempo. Haja vista a ideia da existência de um instinto materno. Embora estudos já tenham demonstrado que não há natureza biológica que determine a mulher como sendo a mais apta para cuidar e proteger a prole do que o homem, a defesa do instinto materno possui ainda bastante força, o que pode ser facilmente verificado no contexto social.

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Assim, ser mãe está de tal modo implícito na identidade da mulher que, frequentemente se confundem as características maternas e femininas. Apesar de tantas mudanças, a identidade feminina não foi substancialmente alterada, mas sim ampliada para dar conta de seu papel de mulher e mãe. É nesse sentido que deve-se considerar o comportamento de pais e mães sobre o término de relacionamentos amorosos, e de como os mesmos vão se relacionar entre si e com seus filhos.

Em estudos realizados por Féres-Carneiro (2003) sobre a separação conjugal, constatou-se que, enquanto os homens enfatizam mais os sentimentos de frustração e fracasso, as mulheres ressaltam a vivência da mágoa e da solidão. Para os homens, o casamento refere-se, sobretudo, à “constituição de uma família”, enquanto para as mulheres, o casamento é a realização de uma “relação amorosa”. Essa diferença pode estar relacionada ao que representa para cada gênero o matrimônio.

Esses comportamentos geram na mãe/pai sentimentos de abandono, de rejeição, traição e de frustração, desencadeando o sentimento de vingança, desmoralização e destruição da imagem do ex-cônjuge. Os filhos, nesse processo, são utilizados como meio de agressividade e rejeição, direcionado ao pai ou a mãe sem qualquer justificativa.

As pessoas saem de uma relação e confundem a relação do casal que acabou com a relação com os filhos. Durante um bom tempo a separação leva a um colapso a capacidade de o adulto ser pai ou mãe. Envolvidos com a recuperação de suas próprias vidas, preocupados com os seus problemas, os pais tornam-se “cegos” para as necessidades de seus filhos. Em alguns casos, os mesmos dividem a responsabilidade pela organização da casa e os cuidados com os irmãos (SOUZA, 2011).

Nas sociedades contemporâneas, são frequentemente comuns falas sobre a existência do instinto materno, o que tornaria a mulher essencial para o cuidado dos filhos. Tais discursos repercutem sobre o exercício dos papeis e das relações parentais, fragilizando a imagem do pai. De acordo com Hurstel (1996), instituições de atendimento a crianças, como hospitais, escolas e creches privilegiam a figura materna, na ideia de que a mãe é que exerce melhor o papel de cuidadora. Isso também se associa à ideia de que o cuidado adequado de uma criança está vinculado a características inatas das mulheres, dando-se preferência às mães para cuidados com os filhos, e atribuindo aos pais um papel secundário.

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Diante disso, percebe-se uma desvantagem dos homens no que tange aos cuidados dos filhos, se comparados com as mulheres. Além de não serem vistos como portadores de instinto paterno, não lhes é permitido aprender ser pai, pois eles não são socializados para isso. De acordo com Souza (2011), na construção social das identidades de gênero, homens e mulheres recebem orientações distintas. Os homens para serem os provedores, enquanto as mulheres são ensinadas a cuidar dos outros e do lar.

Atualmente, tem-se discutido sobre a nova paternidade, no que se refere aos homens que se envolvem com os cuidado dos filhos e tem com estes uma maior proximidade e afetividade. Para muitas mulheres, essa nova situação representa uma ameaça à manutenção do primado materno. Pereira (2003) argumenta que muitas mulheres sentem sua evidência materna como um poder que não querem dividir, mesmo que seja à custa de seu colapso físico e psíquico. Também é esse sentimento que faz com que as mulheres, em muitas situações de separação, se tornem as alienadoras, e sintam-se “donas dos filhos”. De acordo com Gerbase et al. (2012, p. 9)

Pesquisas apontam as mães como as maiores alienadoras, uma vez que grande parte dos julgamentos ainda as define como detentoras da guarda dos filhos. Mas erra quem pensa que o ex-parceiro - o genitor - não possa ser o algoz.

É preciso levar em conta que a tradição patriarcal, reforçada pela formação católica, contribuiu muito para a estruturação e definição dos papéis sociais de homens e mulheres, além do modo como os indivíduos vivenciam as expectativas sociais ou os papéis que lhe foram atribuídos. Atualmente, pauta-se a igualdade de direitos dos pais em relação a seus filhos.

As mudanças apontadas não estão desvinculadas das transformações, tanto em relação ao gênero, quanto ao âmbito socioeconômico, legal e cultural. O modo como os indivíduos vivenciam as expectativas sociais ou os papéis que lhe são incumbidos ou, até mesmo, as transformações ocorridas na sociedade em relação ao papel de pai e mãe, repercutem no comportamento dos mesmos no momento da dissolução matrimonial, desencadeando, frequentemente, situações de alienação parental.

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2.3 Alienação parental e consequências

Pais e mães que forjam situações com o objetivo de afastar o filho do ex-parceiro ou ex-parceira sempre existiram. Porém, atualmente, existe uma denominação para essa prática: alienação parental. Discute-se sobre este tema como se origina, de que forma ocorre, suas consequências e como é tratada esta situação pelos profissionais do Serviço Social, Psicologia, Psiquiatria e Direito. Dias (2011, p.462-463) observa:

Muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, se um dos cônjuges não consegue elaborar adequadamente o luto da separação e do sentimento de rejeição, de traição, surge um desejo de vingança. É desencadeado um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro. O filho é utilizado como instrumento de agressividade – é induzido a odiar o outro genitor. Trata-se de uma verdadeira campanha de desmoralização. A criança é induzida a afastar-se de quem ama e de quem também a ama. Isso gera contradição de sentimentos e destruição do vínculo entre ambos. Restando órfão do genitor alienado, acaba se identificando com o genitor patológico, passando a aceitar como verdadeiro tudo o que lhe é informado.

Nesse jogo de manipulação, todas as armas são utilizadas, e o filho é convencido da existência de determinados fatos, e a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente acontecido. É importante salientar que a alienação parental pode ocorrer ainda quando o casal vive no mesmo lar. A criança e o adolescente, fragilizados pela separação dos pais, tendem a confiar e acreditar naquele com quem convivem. O filho é utilizado como meio de agressividade, sendo de uma campanha de desmoralização. O medo de desagradar a quem está de posse de sua guarda faz com que rejeite o outro e afaste-se de quem ama e quem também o ama (Dias, 2011). Para conter o sentimento de perda, a criança ou o adolescente procura contornar a situação dizendo que “não gosta”, “não quer ver”.

É consenso de que a separação e guarda dos filhos, com frequência torna-se um processo doloroso que passa a envolver todo o contexto familiar. Souza (2010) indica que a dissolução do matrimônio revela-se um fenômeno complexo, em que diferentes questões encontram-se entrelaçadas.

Durante a realização da revisão bibliográfica, verificaram-se várias definições acerca da alienação parental. Porém, considera-se a importância de ressaltar a Lei nº 12.318/10 de 26 de agosto de 2010, que define a alienação parental:

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Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Os conflitos que surgem, principalmente no contexto de disputas de guarda dos filhos, em muitas situações poderão causar prejuízos na formação da personalidade das crianças e dos adolescentes. Com isso, acabam retirando a alegria da infância e a liberdade da adolescência. Gerbase et al. (2012, p. 12), fazendo menção à alienação parental, citam consequências desta:

O processo de Alienação Parental gera um profundo sentimento de desamparo, gerando na criança ou adolescente cujo grito de socorro que não é ouvido, uma vez que não é reconhecido como sujeito. Este grito acaba por se transformar em sintoma, que poderá ser expresso tanto no corpo, por um processo de somatização, quanto por um comportamento antissocial. [...] Sem tratamento adequado, pode produzir sequelas capazes de perdurar para o resto da vida, pois implica comportamentos abusivos contra a criança. Instaura vínculos patológicos, promove vivências contraditórias da relação entre pai e mãe, cria imagens distorcidas da figura dos dois, gerando um olhar destruidor e maligno sobre as relações amorosas em geral. Esses conflitos podem aparecer na criança sob a forma de ansiedade, medo, insegurança, isolamento, tristeza, depressão, hostilidade, desorganização mental, dificuldade escolar, baixa tolerância à frustração, irritabilidade, enurese (descontrole urinário), transtorno de identidade ou de imagem, sentimento de desespero, culpa, dupla personalidade, inclinação ao álcool e às drogas; em casos mais extremos, a ideias ou comportamentos suicidas.

Além dos aspectos e comportamentos citados, Sousa (2010) ressalta que, quando adultos, essas crianças e adolescentes reproduzirão o mesmo comportamento manipulador do genitor alienador nas suas relações, ou terão dificuldade de relacionamento e adaptação. O mesmo autor ainda faz uso de afirmações de alguns autores que abordam sobre o assunto:

Como decorrência, a criança passa a revelar sintomas diversos: ora apresenta-se como portadora de doenças psicossomáticas, ora mostra-se ansiosa, deprimida, nervosa e, principalmente, agressiva. (...) a depressão crônica, transtorno de identidade, comportamento hostil, desorganização mental e, às vezes, o suicídio. (...) a tendência ao alcoolismo e ao uso de drogas também é apontada como consequência da síndrome (FONSECA, 2007, p.10 apud SOUSA, 2010, p. 167).

Conforme expõe a autora, o afastamento dos filhos de um dos seus genitores, praticado de forma egoísta pelo pai ou mãe, poderão produzir efeitos graves e

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profundos na vida da criança ou adolescente. Isso é reafirmado por Trindade (2007, p. 104) apud Sousa (2010, p. 167), quando diz:

Esses conflitos podem aparecer na criança sob forma de ansiedade, medo e insegurança, isolamento, tristeza e depressão, comportamento hostil, falta de organização, dificuldades escolares, baixa tolerância a frustração, irritabilidade, enurese, transtorno de identidade ou imagem, sentimento de desespero, culpa dupla personalidade, inclinação ao álcool e às drogas, em casos mais extremos. Ideias e comportamentos suicidas.

A autora ainda faz menção às consequências da alienação parental, a exemplo da reprodução do comportamento vivenciado quando adulto e a possível dificuldade de relacionamento e adaptação:

Uma outra consequência da síndrome pode ser a repetição de padrão do comportamento aprendido. Na medida em que um dos pais é colocado como completamente mau, em contraste com o que detém a guarda, que se coloca completamente bom, a criança, além de ficar com uma visão maniqueísta da vida, fica privada de um dos pais como modelo identificatório (FÉRES-CARNEIRO, 2007, p. 76 apud SOUSA, 2010, p. 167).

Apesar de autores nacionais mencionarem algumas consequências nas crianças e adolescentes que vivenciaram a alienação parental, os mesmos não apresentam estudo científico sobre o assunto, o que poderia reforçar suas declarações (SOUSA, 2010). No Brasil, esse assunto passou a ser tratado, e divulgado, principalmente, pelas Associações de Pais Separados (Apase), que realizam divulgações em sites, livros, artigos, cartilhas bem como em eventos sobre o tema.

Diante do exposto, cabe assinalar que medidas devem ser tomadas visando proteger as crianças e adolescentes. Dificultar a convivência familiar ou, até mesmo, as relações de afeto entre um dos genitores e seus filhos, fere o direito das crianças e adolescentes, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no seu Art. 3º.

Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que se trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhe facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condição de liberdade e de dignidade (RIEZO, 2012, p.23).

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É dever da família proporcionar a garantia do desenvolvimento saudável da saúde emocional e física de seus filhos e a formação de sua personalidade. Muitos pais ou mães pecam quando, após o rompimento do vínculo conjugal, um dos genitores assume sozinho essa função, excluindo o outro do acompanhamento da vida dos filhos ou, até mesmo, levantando falsas acusações a respeito do outro cônjuge. Frente à determinação de fazer valer o interesse e a proteção das crianças e adolescentes e o que é o melhor para as mesmas, torna-se imprescindível averiguar e responsabilizar o genitor que, de uma forma ou outra, estaria fazendo uso desta prática.

A tarefa de reconhecer que se está diante de uma situação de alienação parental, mesmo considerando os aspectos citados anteriormente, em muitos casos torna-se difícil. Para isso, é imprescindível a participação de uma equipe interdisciplinar com Assistentes Sociais, Psicólogos, Psiquiatras e Assistentes Sociais que poderão apontar sentimentos e ações típicos de alienação parental.

Torna-se necessário, também, reportar a distinção entre alienação parental e a síndrome da alienação parental, para que os profissionais de diferentes áreas atuem de forma qualificada e competente sobre o problema. A alienação parental diz respeito à desconstituição da figura parental de um dos genitores ante a criança. A síndrome diz respeito aos efeitos emocionais, às condutas comportamentais e às sequelas deixadas pela alienação parental. De acordo com Fonsceca (2007, p.7).

[...] Enquanto a síndrome refere-se à conduta do filho que se recusa terminantemente e obstinadamente a ter contato com um dos progenitores e que já sofre as mazelas oriundas daquele rompimento, a alienação parental relaciona-se com o processo desencadeado pelo progenitor que intenta arredar o outro genitor da vida do filho.

Diante da dificuldade de identificação da existência ou não de situação envolvendo alienação parental, é preciso cautela redobrada dos profissionais, pois o erro no diagnóstico realizado pelos profissionais da Psicologia ou pela intervenção do profissional Assistente Social poderá corroborar ainda mais com o sofrimento das crianças e dos adolescentes.

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3 A EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL NO ESPAÇO SÓCIO-JURÍDICO DO ESCRITÓRIO MODELO DE DIREITO EM IJUÍ/RS: O DESVENDAMENTO DAS DEMANDAS ENVOLVENDO A ALIENAÇÃO PARENTAL

No presente capítulo trata-se sobre a experiência dos Estágios Supervisionados em Serviço Social I, II e III, realizados no Núcleo Assistencial de Práticas Jurídicas (NAPJ) do Escritório Modelo de Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande Do Sul (UNIJUÍ), campus de Ijuí/RS, no período de março de 2010 a junho de 2011. Nesse espaço, oportunizou-se a observação e a participação em situações relacionadas com o trabalho do Assistente Social, desde a identificação das demandas até os encaminhamentos. Em tal experiência, mesmo que não se tenha atendido casos definidos a priori como de alienação parental – pois como é sabido, esta, na maioria das vezes, se apresenta de forma oculta – foi de suma importância para a compreensão do tema, cuja manifestação pode, em certos casos, ser percebida a partir de outras demandas ou expressões da questão social que levam à procura do Serviço Social. Por isso, a descrição da experiência de estágio se propõe a ir além do simples relato das demandas, estabelecendo uma interpretação ampliada destas, considerando inclusive, a existência de situações de alienação parental e as possibilidades de intervenção do assistente social.

3.1 Caracterização do estágio

O Serviço Social foi inserido no NAPJ no primeiro semestre de 2009, com o objetivo de oferecer aos acadêmicos do curso um campo de prática profissional do Serviço Social na área sócio jurídica, habilitando-os para a intervenção e acompanhamento das situações sociais relacionadas com a justiça, ampliando o acesso aos direitos sociais, individuais e às condições de cidadania. Na grade curricular do curso de Serviço Social, os estágios supervisionados inserem-se como articulação teórico-prática.

O estágio é caracterizado, nas diretrizes curriculares, como atividade curricular obrigatória, que se configura a partir da inserção do aluno no

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espaço sócio-ocupacional, tendo em vista a sua capacitação para o trabalho profissional (IAMAMOTO, 2006, p. 283).

No NAPJ, o Serviço Social inseria-se a partir do Projeto de Extensão “O Serviço Social e o Atendimento Sócio-jurídico”, tendo em vista proporcionar o acompanhamento e atendimento aos segmentos sociais vulnerabilizados e excluídos do acesso aos seus direitos individuais e sociais de forma gratuita, obedecendo aos critérios de que a renda familiar não ultrapassasse dois salários mínimos ou a posse de no máximo dez hectares de terra. Nessa perspectiva, possibilitava ao estagiário de Serviço Social a oportunidade de conviver com o trabalho do assistente social no campo sócio jurídico, através da proposta de extensão universitária e inserção comunitária, uma atividade com vistas à garantia de direitos e socialização de informações aos sujeitos atendidos. O termo campo ou sistema sócio jurídico é utilizado:

[...] Enquanto o conjunto de áreas de atuação em que as ações do Serviço Social se articulam a ações jurídicas, como o sistema judiciário, os sistemas penitenciários e prisional, o sistema de segurança, o ministério público, os sistemas de proteção e acolhimento e as organizações que executam medidas sócio-educativas, conforme previstas no Estatuto da Criança e Adolescente, dentre outros (FÁVERO, 2003, p. 02).

Assim, o Curso de Graduação em Serviço Social da UNIJUÍ, utiliza-se do referido campo de estágio para o ensino e a prática profissional para os estagiários de Serviço Social. Pode-se dizer, também, que o estágio, como campo de formação, permite que o estagiário exercite o trabalho profissional e aprenda como se da a interação entre a teoria e a prática. Conforme o Regimento de Estágio Supervisionado em Serviço Social da Unijuí, em seu Art. 2º, o mesmo tem como objetivo “constituir o estágio supervisionado um momento privilegiado de inserção do acadêmico no espaço sócio-ocupacional, visando à capacitação para o exercício profissional” (DCS - Departamento de Ciências Sociais). O estágio supervisionado aponta também algumas características de como o processo ensino-aprendizagem se efetiva, tais como responsabilidade, consciência, compromisso, postura ética, senso crítico e propositor e demais atitudes e habilidades esperadas na formação profissional.

O estágio se constitui num instrumento fundamental na formação da análise crítica e da capacidade interventiva, propositiva e investigativa do(a)

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estudante, que precisa apreender os elementos concretos que constituem a realidade social capitalista e suas contradições, de modo a intervir, posteriormente como profissional, nas diferentes expressões da questão social, que vem se agravando diante do movimento mais recente de colapso mundial da economia, em sua fase financeira, e de desregulamentação do trabalho e dos direitos sociais.

Nesse campo de estágio foi possível observar diversas formas de manifestação da questão social. Sabe-se que a questão social não é um fenômeno recente, mas, sim, citado em outros momentos históricos, com maior visibilidade após a expansão e consolidação da revolução industrial e a firmação do capitalismo. Segundo Iamamoto, (2001, p.16-17), a questão social diz respeito:

[...] Ao conjunto das expressões das desigualdades engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à apropriação provada da própria atividade humana – o trabalho- das condições necessárias a sua realização, assim como de seus frutos. É indissociável da emergência do “trabalho livre”, que depende da venda da sua força de trabalho com meio de satisfação de suas necessidades vitais. A questão social expressa, portanto, disparidades econômicas, politicas e culturais das classes sociais, mediatizadas por relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa as relações entre amplos segmentos da sociedade civil e o poder estatal. Envolve simultaneamente uma luta aberta e surda pela cidadania. Esse processo é denso de conformismos e rebeldias, forjados na as desigualdades sociais, expressando a consciência e a luta pelo reconhecimento dos direitos sociais e políticos de todos os indivíduos sociais.

Iamamoto (2001) ainda afirma que a questão social é a expressão das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social cada vez mais coletiva, o trabalho vastamente social enquanto a apropriação dos seus resultados mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. No sentido de contribuir para a redução das desigualdades e aumento das resistências sociais, na perspectiva da democratização, autonomia dos sujeitos, fortalecimento e garantia de direitos sociais, o profissional deve conhecer a realidade social, as características, o modo e a condição de vida dos sujeitos: históricos, sociais, econômicos e culturais, bem como suas necessidades, desejos, níveis de consciência e organização. É nesse espaço que se dá o trabalho do Assistente Social, apreender como a questão social em suas variadas expressões é vivida pelos sujeitos em suas vidas cotidianas (IAMAMOTO, 2006).

Para dar conta dessa dinâmica, demanda-se do Assistente Social o domínio de conhecimentos acerca de processos sociais, estratégias, técnicas e instrumentos,

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das teorias gerais explicativas da realidade, conhecimento sobre o Estado e as políticas sociais e a postura profissional ética, dentre outros. Essa aproximação à realidade social e profissional oportuniza ao estagiário, a capacitação para o exercício profissional em Serviço Social, através do contato e observação do trabalho do Assistente Social e de estudos teóricos e empíricos sobre a questão social e as suas manifestações específicas na realidade.

No processo de ensino-aprendizagem podem ser desenvolvidas e qualificadas as dimensões que constituem o projeto ético-político profissional. A dimensão teórico-metodológica como o caminho necessário para a construção de alternativas no exercício profissional, referindo-se aos recursos fundamentais que o Assistente Social faz uso para exercer seu trabalho (IAMAMOTO, 2006). A dimensão técnico-operativa, como exigência para a inserção qualificada do Assistente Social. E a dimensão ético-política, que diz respeito ao engajamento político nos movimentos organizados da sociedade ou representações de categorias. A apropriação dessas dimensões pelos profissionais é essencial para fundamentar e direcionar as ações dos assistentes sociais para uma prática profissional qualificada no mercado de trabalho (IAMAMOTO, 2006).

Como estagiária de Serviço Social do NAPJ, identifiquei a importância de interpretar as demandas que os usuários traziam quando recorriam ao espaço sócio jurídico. Não é no primeiro contato que se consegue desvendar as expressões da questão social, sendo necessário ampliar a visão e compreender o sujeito na sua totalidade, isto é, no contexto familiar, econômico, cultural e social nos quais está inserido.

Um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no presente é desenvolver a sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir das demandas no cotidiano. Enfim, ser um propositivo e não só executivo (IAMAMOTO, 2006, p. 20).

Para responder às expectativas postas ao Assistente Social na atualidade, exige-se uma ruptura com a atividade burocrática, que reduz o trabalho do Assistente Social a mero emprego, ao cumprimento de atividades preestabelecidas. Requer ir além das rotinas institucionais, apreender o movimento da realidade para detectar as possibilidades que estão presentes, passíveis de serem estimuladas pelo profissional (IAMAMOTO, 2006).

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No campo de estágio oportunizou-se desenvolver a capacidade criativa, investigativa e propositiva, supervisionados pelo Assistente Social responsável, que respondeu pela supervisão de estágio em suas ações no campo de trabalho conforme a Legislação Profissional, de acordo com o Código de Ética do/a Assistente Social, que indica o rumo ético-político, os caminhos a serem trilhados, a partir de compromissos fundamentais acordados e assumidos coletivamente pela categoria (IAMAMOTO, 2006).

Todos os conhecimentos teóricos adquiridos durante o período de formação acadêmica se caracterizam como meios de trabalho dos assistentes sociais e permitem o norteamento do trabalho, de acordo com os objetivos ético-políticos assumidos pelo Serviço Social. De acordo com Iamamoto (2006), conhecer a realidade é conhecer o próprio objeto de trabalho, com o qual se pretende impulsionar um processo de mudanças.

A questão social em suas múltiplas expressões constitui o objeto ou matéria prima do trabalho do assistente social aqui considerado. Dar conta das particularidades que envolvem as múltiplas expressões da questão social, o que as produzem e as reproduzem e como os sujeitos as vivenciam em suas relações, é sobre o que incide a intervenção ou o trabalho do Assistente Social.

3.2 Experiências e demandas atendidas

O Serviço Social atua frente às mais variadas demandas individuais e coletivas, que são manifestações da questão social que se apresentam nas formas mais diversas, tais como: o desemprego, a miséria, drogadição, problemas de saúde, vulnerabilidade econômica e social, habitação, conflitos familiares entre outros.

O Estágio Supervisionado em Serviço Social desenvolvido no NAPJ visa, através do atendimento aos segmentos sociais vulnerabilizados e/ou excluídos, o acesso aos seus direitos individuais e sociais. A exclusão social é reflexo de uma sociedade capitalista e globalizada, deixando as famílias empobrecidas em situação de desemprego, moradia precária e sem acesso aos bens e serviços. Os impactos destrutivos do sistema deixam marcas sobre a população depauperadas, o desemprego, a alimentação insuficiente, a ignorância, a moradia precária são alguns

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sinais dos limites da condição de vida dos excluídos e subalternizados da sociedade (YAZBEK, 2006).

Iniciou-se as atividades com o reconhecimento do espaço, os critérios para o atendimento, rotina de trabalho, perfil dos usuários para conhecer a realidade dos que procuravam o atendimento do Serviço Social, o que dá suporte para atuar de forma qualificada e construir alternativas às demandas dos usuários. A procura da assistência jurídica, do Estado, por parte de um sujeito e/ou família tem início com um conflito no seu meio familiar, que possuem direitos e deveres, mas que por muitas vezes assumem posições diferentes em face dos próprios interesses em jogo, não possibilitando a resolução do problema através do consenso (CHAUÍ, 2001).

O acesso à instituição consiste na busca de assistência jurídica por parte da população e em alguns casos, especificamente, do Serviço Social. Nesse sentido podem-se citar demandas relacionadas à ausência ou insuficiência de políticas públicas ligadas à saúde, educação, habitação, orientação sobre programas de auxílio, benefícios previdenciários, acolhimento de crianças e adolescentes, drogadição, etilismo, violência, vulnerabilidade econômica e social e conflitos familiares.

O profissional Assistente Social deve estar atento às demandas que se metamorfoseiam em consonância com as transformações sociais, econômicas e culturais em diferentes momentos históricos. Significa que novas expressões da questão social vão surgindo e os Assistentes Sociais têm condições de formular propostas de trabalho, através da pesquisa da realidade social sobre os sujeitos para enfrentá-las.

As demandas relacionadas a conflitos familiares eram frequentes nos atendimentos realizados pelo Serviço Social sendo que em grande parte destes percebia-se a existência de uma “nova demanda”, as situações envolvendo a alienação parental. Não se trata de um assunto novo, pois sempre esteve presente nas questões que envolvem a dissolução conjugal, guarda, ou até mesmo quando o casal permanece unido, porém em permanente conflito.

No Brasil, a questão da alienação parental tornou-se mais debatida com a promulgação da Lei n 12.318/2010, que discorre sobre o tema, levando profissionais Assistentes Sociais, do Judiciário, Psiquiatras, Psicólogos a ter um olhar mais atento ao tema. Baseando-se no que diz a Lei, durante os Estágios Supervisionados em

Referências

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