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Instrumentalidade: condição subjetiva para a materialização do trabalho do

4 O INSTRUMENTAL UTILIZADO PELO ASSISTENTE SOCIAL NO

4.1 Instrumentalidade: condição subjetiva para a materialização do trabalho do

Para Iamamoto (2006), um dos grandes desafios do Assistente Social é articular a profissão e a realidade, pois entende-se que o Serviço Social não atua apenas sobre a realidade, mas atua na realidade. O desafio é entender a gênese da questão social, os processos e fenômenos sociais com os quais o Assistente Social se defronta. Além disso, o Assistente Social precisa estar preparado para propor, negociar sua inserção nos diferentes espaços de trabalho, diante das demandas que se apresentam e dele exigem uma conduta que deve ir além do exercício profissional em si. Assim sendo, o exercício da profissão do Assistente Social exige uma ruptura com a atividade burocrática e rotineira.

É uma ação de um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com instituições os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais. Requer, pois, ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e possibilidades nela presentes passiveis de serem impulsionadas pelo profissional (IAMAMOTO, 2006, p.21).

É necessário ir além das rotinas institucionais, desenvolver a capacidade de inovar, propor alternativas, resultantes da apreensão dos desafios, contradições e possibilidades que fazem parte da dinâmica da vida social. Apesar der ser uma profissão liberal, o Assistente Social, para poder atuar, depende da venda de sua

força de trabalho. Para Iamamoto (2006), o Assistente Social não detém todos os meios para a efetivação de seu trabalho, sejam financeiros, técnicos e/ou humanos, pois, para um exercício profissional autônomo, depende de instituições que demandam ou requisitam e organizam o seu trabalho.

A conjuntura estabelece limites e possibilidades nas ações dos sujeitos, porém, o conjunto de conhecimento que faz parte da formação profissional é condição para se romper com a visão restritiva, que impede de vislumbrar possibilidades. O embasamento teórico torna-se determinante para o norteamento do trabalho, pois sem ele o trabalhador especializado não consegue realizar sua atividade. Iamamoto (2006) aponta três dimensões, que devem ser de domínio do Assistente Social, como pilares para o exercício profissional: a competência teórico- metodológica, a competência ético-política e a competência técnico-operativa.

Na primeira dimensão, a competência teórico-metodológica, o profissional deve conhecer a realidade social, cultural, econômica e política com a qual trabalha. Requer o acompanhamento da dinâmica dos processos sociais. Porém, o domínio de uma perspectiva teórico-metodológica deslocada da realidade, do engajamento político, ou ainda, de uma base técnico-operativa, por si só, não é suficiente para imprimir novos caminhos ao trabalho profissional (IAMAMOTO, 2006).

De maneira semelhante, a competência ético-politica, se desvinculada de uma sólida fundamentação teórico-metodológica, revela-se inócua para interpretar as determinações dos processos sociais (IAMAMOTO, 2006). Assim, torna-se fundamental que o profissional tenha um posicionamento político frente às questões que brotam na realidade social, para ter clareza de qual é a direção social do seu trabalho. As demandas que se apresentam ao Serviço Social requerem o engajamento político, vinculado às bases teórico-metodológicas e ao instrumental técnico-operativo.

Com relação à competência técnico-operativa, conforme Iamamoto (2006), se considerada isoladamente é insuficiente para proporcionar uma atuação crítica e eficaz. A desarticulação entre os fundamentos teórico-metodológicos e ético- políticos poderá resultar em mero tecnicismo. O profissional deve conhecer e se apropriar de um conjunto de técnicas e instrumentos para que possa desenvolver as ações profissionais junto à população usuária e às instituições contratantes.

Portanto, os profissionais devem articular as três dimensões, pois estas se complementam. As dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-

operativa não podem ser apreendidas ou desenvolvidas separadamente, caso contrário, cai-se nas armadilhas da fragmentação e despolitização, tão presentes no passado histórico do Serviço Social (CARVALHO E IAMAMOTO, 2005).

Aliadas, as três dimensões do exercício profissional, são recursos essenciais que o Assistente Social recorre para decifrar a realidade e conduzir as suas ações. Também, ao analisar e interpretar a realidade dos sujeitos, da qual também somos parte, estabelece o processo interventivo à medida que as informações atualizadas sobre o cotidiano de grupos sociais, famílias ou nas demandas individuais, fornecem bases para produzir propostas de mudanças ou transformações da realidade.

O Assistente Social ocupa um lugar privilegiado no mercado de trabalho: na medida em que ele atua diretamente no cotidiano das classes e grupos sociais menos favorecidos, ele tem a real possibilidade de produzir um conhecimento sobre essa mesma realidade. E esse conhecimento é, sem dúvida, o seu principal instrumento de trabalho, pois lhe permite ter a real dimensão das diversas possibilidades de intervenção profissional (SOUZA, 2008, p. 122).

As demandas do cotidiano não devem ser consideradas isoladamente, como se apresentam. É necessário que o Assistente Social desvende a realidade social, pois nem sempre o que se apresenta realmente é. Para Souza (2008), o Assistente Social deve desenvolver um conhecimento teórico aprofundado sobre as relações sociais numa determinada sociedade (universalidade), como ela se organiza naquele momento histórico para superar o que o senso comum prega, e que, em muitas vezes mascaram as reais causas e determinações de fenômenos sociais. As relações entre a universalidade e a singularidade torna possível apreender as particularidades de uma determinada situação.

Operacionalizar as ações implica aproximar o conhecimento dos processos sociais e dos processos particulares, da essência e da aparência trazidas nas demandas. É a partir destas, sejam elas particulares ou coletivas, que o profissional Assistente Social formula os objetivos e define as técnicas e os instrumentos necessários para alcançá-los.

Conforme mencionado, antes de se falar do instrumental utilizado pelo Assistente Social, torna-se necessário refletir acerca da instrumentalidade, que num primeiro momento parece referir-se ao uso de todo o aparato de técnicas e instrumentos para a efetivação das ações dos profissionais. De acordo com Guerra (2000), o termo instrumentalidade possibilita entender que o sufixo “idade” tem a ver

com a capacidade, qualidade ou propriedade de algo. Assim, a instrumentalidade do Serviço Social é a capacidade que a profissão vai construindo e reconstruindo no seu processo sócio-histórico, resultado do confronto entre teleologia e causalidade.

Pode-se dizer que a instrumentalidade, no Serviço Social, é a capacidade do profissional de transformar o instrumental de trabalho, em resposta às demandas apresentadas, com objetivo de intervir, modificar e adaptá-los de acordo com as necessidades e as mudanças desejadas. Segundo Guerra (2000, p.2):

Foi dito que a instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano. Ao alterarem o cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que demandam a sua intervenção, modificando as condições, os meios e os instrumentos existentes, e os convertendo em condições, meios e instrumentos para o alcance dos objetivos profissionais, os assistentes sociais estão dando instrumentalidade às suas ações. Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adequam às condições existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. Deste modo, a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho social quanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho. Como em qualquer outro trabalho, em que o homem, para atender as suas necessidades, planeja e projeta as suas ações de acordo com os seus objetivos, também o Assistente Social, para concretizar os seus objetivos e atingir o fim proposto, deve desenvolver a capacidade criativa e desempenhar suas atribuições privativas e competências. Para desvendar as demandas relacionadas aos conflitos familiares, especificamente nas situações que envolvem a alienação parental, o profissional recorre ao instrumental através do qual pode, efetivamente, objetivar suas finalidades em resultados profissionais propriamente ditos (GUERRA, 2000).

4.2 O uso do instrumental no desvendamento das demandas envolvendo a

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