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3. Caracterização da Pesquisa: Seus Espaços e Seus Sujeitos

3.2 Caracterização das Instituições

Como a pesquisa visa mostrar a prática de institucionalização a partir da apreensão dos adolescentes que as vivenciaram, nesse tópico far-se-á a caracterização da unidade de acolhimento, lócus da pesquisa, e da unidade privação de liberdade, l focos do presente trabalho, para compreensão mais nítida do contexto no qual os entrevistados estavam/estão inseridos.

3.2.1 Casa de Acolhida Masculina (CAM)13

A Casa de Acolhida Masculina (CAM) é unidade de acolhimento institucional da Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDES) da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP). A SEDES é um órgão da administração pública direta que tem a função de implementar a Política da Assistência Social no âmbito do município, bem como as políticas de Trabalho, Renda e

13 As informações relacionadas à Casa de Acolhida tem por base o documento: Programa de

Acolhida e Retaguarda para Crianças e Adolescentes de Risco e Rua, da Secretaria do Desenvolvimento Social (2006); como também a vivência da pesquisadora como assistente social da Casa, e em entrevistas realizadas com coordenadores e educadores no ano de 2012.

94 Economia Solidária e a Promoção da Cidadania, Participação Popular e Controle Social.

E tem por missão implementar políticas públicas para a população em situação de exclusão social, por meio de ações e programas baseados nos princípios fundamentais dos Direitos Humanos, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e consolidação da autonomia, fortalecendo a democratização do Estado para as transformações sociais.

Assim, no que se refere à Casa de Acolhida Masculina (CAM),em consonância com PNAS (2004) e o SUAS(2005), ela está no âmbito da Proteção Social Especial, sendo um programa executado pela Coordenação de Alta Complexidade da SEDES.

A princípio, em 2005, esta Casa se denominava de Casa de Acolhida Mista, por atender adolescentes de 13 a 18 anos do sexo feminino e masculino, em situação de rua. Contudo, a vivência na Casa era bastante conflituosa, e a infraestrutura não mais comportava tantos adolescentes, sendo necessário um reordenamento.

Desse modo, em 2008, a Casa de Acolhida Mista se desmembra em duas unidades de acolhimento, agora Casa de Acolhida Masculina, e Casa de Acolhida Feminina, para crianças e adolescentes de 07 a 18 anos incompletos, que tenham vivência de rua, uso de drogas e ameaça de morte.

As Casas de Acolhida se localizam no Centro de João Pessoa, bem próxima uma da outra, e em área residencial, como determina as Orientações Técnicas para Serviços de Acolhimento. Tem espaço físico para até 12 acolhidos, mas dificilmente atinge essa quantidade, pois há alta rotatividade, sobretudo, dos adolescentes devido ao uso de drogas, fazendo com que evadam da unidade para ter acesso a estas substâncias.

A Casa de Acolhida Masculina realiza atendimento em parceria com o Centro de Formação Cidadã Margarida Pereira da Silva (CFCMPS), onde os adolescentes frequentam três vezes na semana. O CFCMPS também compõe o quadro de instituições da Coordenação da Alta Complexidade da SEDES, e tem por objetivo realizar atividades pedagógicas fundamentadas nas artes plásticas, cênicas; ao esporte, lazer, cultura e música.

Outras atividades desenvolvidas pela CAM são: a matrícula dos adolescentes em escola de ensino regular ou de jovens e adultos, levando-se

95 em consideração as evasões de cada um e o período de chegada à unidade; encaminhamentos médicos, odontológicos, psicológicos; cursos profissionalizantes; aulas de esporte, informática; atividades de fortalecimentos de vínculos familiares e comunitários, a exemplo da reintegração gradativa que permite os adolescentes passarem os finais de semana na casa da sua família, quando possível.

3.2.2 Centro Educacional do Adolescente (CEA)14

O Centro Educacional do Adolescente (CEA) é uma instituição de atendimento de adolescentes, do sexo masculino, para o cumprimento da medida socioeducativa de privação de liberdade, onde ficam internos por terem cometido algum ato infracional grave.

É um órgão da Fundação de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente ―Alice de Almeida‖ (Fundac), ligada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano da Paraíba; e está localizado em João Pessoa – PB. O CEA foi fundado em 1970, na vigência do Código de Menores, com a nomenclatura de ―Casa de Recuperação do Menor‖, em consonância com as formas de atendimento da época, com caráter repressivo, higienista, disciplinador, que encarava a criança e o adolescente das classes menos favorecidas como ―menor‖, ―delinquente‖, ―disfuncional‖. ―Prendia-se‖ com o discurso de proteger, quando na verdade a preocupação era com a ordem social. Assim, confinavam-se crianças e adolescentes em grandes instituições localizadas em terrenos isolados.

É a partir da promulgação Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, que o Centro Educacional do Adolescente (CEA) assume este nome, que se mantém até os dias de hoje, e passa a atender apenas adolescentes.

A capacidade atual do Centro é para 62 internos, entre os da provisória e os sentenciados, porém tem atendido de 180 a 210 adolescentes,

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As informações a respeito do CEA estão baseadas: no Relatório da Visita ao Centro Educacional do Adolescente, por parte do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos do Homem e do Cidadão da Paraíba (CEDDHC), em outubro de 2011; no texto Um Estudo de Caso Sobre os Adolescentes Autores de Ato Infracional Internos no CEA-PB (SOUZA, 2010); e entrevista realizada com um assistente social da unidade, em agosto/2013.

96 dependendo da variação de entradas e saídas de cada semana, ocorrendo superlotação. As condições de infraestrutura são precárias, sobretudo para os adolescentes que estão na provisória, pois ficam em média oito adolescentes por dormitórios (celas), quando a capacidade seria de apenas dois, então faltam camas e colchões, sendo necessário que durmam no chão; e façam suas necessidades físicas em um buraco no chão, pois não possui banheiro, com demonstra a Figura 01:

Figura 01: Banheiro Coletivo no CEA, 2011

.

Fonte: Relatório de Visita do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos do Homem e

do Cidadão da Paraíba (CEDDHC).

As atividades pedagógicas se resumem a escola, que ocorre dentro da própria instituição para aqueles sentenciados. Tem ainda o banho de sol com jogo de futebol e visita dos familiares duas vezes na semana. O atendimento com a equipe técnica ocorre no máximo duas vezes ao mês e também para os adolescentes sentenciados, enquanto os da provisória no geral apenas recebem o primeiro atendimento quando chegam à instituição, sendo difícil a continuação devido ao pouco número de profissionais e ao período de no máximo 45 dias que deveriam permanecer na unidade (em alguns casos esse período extrapola).

97 Entretanto, próximo a área do Centro Educacional do Adolescente, o governo do estado da Paraíba vem realizando a construção de um novo prédio para o Centro, onde se planeja colocar os adolescentes sentenciados, e os da provisória ficariam com a construção antiga, ampliando o espaço e a capacidade, o que possibilitaria um melhor atendimento e realização de outras atividades, que hoje não são desenvolvidas devido ao pequeno espaço. Nesse sentido, de melhoria do atendimento, no mês de setembro/2013 a Fundac abriu edital de seleção simplificada para a contração de vinte e um profissionais, dentre eles assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, advogados, médicos, odontólogo, assistentes de saúde bucal, motoristas e auxiliares administrativo.