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4. A Institucionalização e o Direito à Convivência Familiar e Comunitária pelo Olhar

4.1 Contextos de Vulnerabilidade, Negação e Violação de Direitos de Crianças

4.1.2. O Uso de Drogas pelos Adolescentes

Em relação ao envolvimento dos adolescentes com as drogas, todos relataram já terem usado, embora, alguns afirmaram ter superado, ou estarem em processo de superação da dependência química. Citaram o consumo não apenas do álcool e tabaco, mas também de outras drogas, conforme os relatos abaixo:

- Sim. Maconha, cocaína, cola, thinner, cigarro. Usava sempre e intensamente. Mas, parei com a maioria. Hoje em dia só uso maconha, cigarro e álcool as vezes. (Rodrigues, 16 anos) - Sim. Crack, cocaína, maconha, ecstasy, álcool, cigarro e outras. Toda semana. Mas já parei. Não uso mais. (Rafael, 18 anos incompletos)

121 - Sim. Quase tudo, maconha, cocaína, thinner, ecstasy, álcool, e outras... Uso quase todo dia algumas dentro da CAM. (Júnior, 15 anos)

-Sim. Maconha, pó, aranha, rupinol, rivotril, diazepan, gardenal, lolo... quase tudo, menos crack e ox, mas esses daí só eu vendia. Beber eu bebo, mas não gosto muito não, eu tomava os remédios pra ficar loucão era com coca-cola mesmo. (Thiago, 16 anos)

É notório que, para muitos dos adolescentes, o uso das drogas começou a partir do contexto familiar e comunitário que estavam inseridos, onde os colegas da vizinhança e/ou escola passaram a incentivar o uso de substâncias psicoativas, o que para grande parte dos adolescentes aparece como pressão do grupo e condição para permanecer nele.

A droga aparece na adolescência muitas vezes como uma ponte que permite o estabelecimento de laços sociais, propiciando ao indivíduo o pertencimento a um determinado grupo de iguais, ao tempo que buscam novos ideais e novos vínculos, diferentes do seu grupo familiar de origem (Nery Filho e Torres, 2002 p.31)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), droga é qualquer substância não produzida pelo o organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, causando alterações em seu funcionamento. As drogas podem ser classificadas como depressoras, estimulantes e perturbadoras da atividade mental.

Para fins deste estudo, considera-se drogas, substâncias psicoativas, aquelas que alteram o humor e percepção da realidade, a exemplo de cocaína, crack, maconha, álcool, tabaco, thinner, cola, ox, e alguns medicamentos usados como alucinógenos. Referente aos efeitos do crack no corpo, tem-se:

Os efeitos do crack aparecem quase imediatamente depois de uma única dose. Esses efeitos incluem aceleração do coração, aumento da pressão arterial, agitação psicomotora, dilatação das pupilas, aumento de temperatura do corpo, sudorese, tremor muscular. A ação no cérebro provoca sensação de euforia, aumento da autoestima, indiferença à dor, [...]. Os usuários também podem apresentar tonteiras e ideias de perseguição. [...] As principais complicações neurológicas do

122 uso do crack são acidente vascular cerebral (derrame cerebral), dor de cabeça, tonteiras, inflamações dos vasos cerebrais, atrofia cerebral e convulsões. (CRUZ; RAMÔA; VARGENS. 2011, p.131-133)

Por mais que os adolescentes tentem por suas próprias forças superar a dependência dessas substâncias químicas, essa batalha se torna invencível se lutada sozinha. Necessita da articulação do Estado, sociedade civil e família, como preconiza a Política Nacional Sobre Drogas aprovada em 2005:

O Estado deve estimular, garantir e promover ações para que a sociedade (incluindo os usuários, dependentes, familiares e populações específicas), possa assumir com responsabilidade ética, o tratamento, a recuperação e a reinserção social, apoiada técnica e financeiramente, de forma descentralizada, pelos órgãos governamentais, nos níveis municipal, estadual e federal, pelas organizações nãogovernamentais e entidades privadas. (BRASIL. Política Nacional Sobre Drogas.2011. p.17)

De acordo com Silva e Micheli (2011), várias são as propostas de intervenção, como: diagnóstico, desintoxicação, uso de medicação, terapia individual ou em grupo, internações. Entretanto as autoras destacam que várias pesquisas realizadas indicam que a participação da família no tratamento do adolescente usuário de drogas colabora de forma positiva, trazendo melhores resultados, como também o envolvimento da comunidade nesse processo.

Contudo, nas unidades de institucionalização esse tratamento não está ao alcance dos adolescentes. No CEA, não existe uma política de atendimento para esse tipo de particularidade, o que contraria o SINASE (2006) que estabelece o oferecimento de grupos de promoção de saúde, inclusive referente ao uso de álcool e outras drogas, encaminhando e apoiando, sempre que necessário para o serviço básico de atenção à saúde.

Referente a esta temática, a Casa de Acolhida Masculina tem encaminhado os adolescentes para o CAPSi15, onde o adolescente frequenta

15 Os CAPSs (Centros de Atenção Psicossocial) são aparatos criados para promover a

Reforma Psiquiátrica no país a fim de substituir de forma gradual os antigos e grandes hospitais psiquiátricos. Contempla a territorialização e municipalização do atendimento e possui regime de atenção diária, com embasamento na lógica de redução de danos. Os CAPSs atendem pessoas com transtorno mental e usuários de drogas, e busca promover a inserção social, a partir de ações intersetoriais e interação com a sociedade, com vistas a tirar esse público do confinamento/isolamento, como era (é) a prática corrente no país.

123 alguns dias na semana e recebe atendimento individual e/ou em grupo, sendo acompanhado por médico psiquiatra, que prescreve medicamento quando necessário. Outro serviço acessado pela CAM em relação às drogas é o encaminhamento para o PASM (Pronto Atendimento em Saúde Mental), que atende em caráter de urgência e emergência, quando o adolescente entra em abstinência ou em surto por decorrência de transtorno mental.

O médico do PASM por vezes, quando considera como melhor medida, determina a internação dos adolescentes em hospital psiquiátrico. No município de João Pessoa – PB é o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira que faz esse tipo de atendimento, pois possui uma ala destinada a crianças e adolescentes. Todavia o serviço é precário, as condições do ambiente são insalubres, a forma de tratamento utilizada é por meio de contenção/isolamento e medicamentosa. Em contra partida, a Portaria 2.629/09 do Ministério da Saúde, prevê o aumento do recurso para hospitais gerais, para que crianças e adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas sejam encaminhados para estes serviços em caráter de curta duração (com prazo máximo de 20 dias).

Ademais, a CAM também solicita ao Ministério Público a inclusão de adolescentes em instituições específicas de tratamento para drogadição (clínicas terapêuticas), mas nem sempre a solicitação é atendida, e na maioria das vezes que se consegue tal encaminhamento, este não chega em tempo hábil, pois o adolescente em crise de abstinência acaba evadindo da unidade para fazer uso das substâncias, e nem sempre retorna, e quando o retorno acontece já não possuem mais o desejo de se tratar, ou precisa-se iniciar novo tramite burocrático junto ao Ministério Público, sendo poucos os que conseguem tal tratamento.