2. A Proteção a Crianças e Adolescentes Pós Constituição de 1988:
2.2 A Institucionalização de Criança e Adolescente a partir do Eca: Desafio à
2.2.1 Outras Normativas Sobre a Institucionalização e o Direito à
Dentre os demais documentos, para além do ECA e sua complementação 12.010/2009 já referenciados acima, três possuem especial destaque por estarem diretamente relacionados à temática de institucionalização, são eles: Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária
60 (2006); SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (2006) e sua regulamentação pela Lei Nº12.594/2012; e Orientações Técnicas para os Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (2009).
Em 2002, diante do cenário de mudanças na legislação e de paradigmas foi realizado no Brasil um Colóquio Técnico sobre Rede Nacional de Abrigos7,
que contou com a participação de entidades governamentais e não- governamentais dos diferentes estados.
No evento foram identificadas ações a serem priorizadas, entre elas: a realização de um levantamento nacional de crianças e adolescentes em acolhimento institucional, e a elaboração de um plano de ação para o reordenamento dos serviços e do atendimento.
Em continuação a esse processo foi criado um Comitê Nacional para o Reordenamento dos Abrigos, que tinha por objetivo estimular mudanças nas políticas e práticas de atendimento, para a efetivação do que preconiza o ECA a respeito do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária.
Então, com vistas a uma política de promoção, proteção e defesa do direito da criança e do adolescente à convivência familiar e comunitária, em 2006 a Presidência da República, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), o Conselho Nacional da Assistência Social (CNAS), e com apoio do UNICEF, lançam o
Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PCFC), produto
histórico da elaboração de inúmeros atores sociais comprometidos com os direitos das crianças e adolescentes brasileiros.
É também em 2006 que ocorre concomitantemente um debate internacional promovido pelo Comitê dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre a necessidade de aprimorar os meios de proteção integral dos direitos da criança privada dos cuidados parentais.
Assim, o Plano considera constituir-se em um marco para as políticas públicas, ao romper com a cultura da institucionalização de crianças e
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61 adolescentes e por fortalecer o paradigma da proteção integral e preservação dos vínculos familiares e comunitários.
Portanto, espera contribuir na construção de um novo modelo conceitual que orientará, sobretudo, a formulação das políticas para que cada vez mais crianças e adolescentes tenham seus direitos assegurados e encontrem na família os elementos necessários para seu pleno desenvolvimento, pois considera a família e comunidade um espaço privilegiado para o desenvolver sadio de crianças e adolescentes.
Logo, as estratégias, objetivos e diretrizes colocadas no PCFC, tem como base fundante o direito à convivência familiar e comunitária, sendo imprescindível a interação de todas as políticas sociais para garantia desse direito. Nesse sentido, o Plano tem como diretrizes:
Com base nessas diretrizes as ações são dividas em quatro eixos de atuação para que a nível federal, estadual e municipal, os governos possam organizar suas atividades, são eixos: I. Análise da Situação e Sistemas da Informação; II. Atendimento; III. Marcos Normativos e Regulatórios; IV.
1 •Centralidade da família nas políticas públicas
2 •Primazia da responsabilidade do Estado no fomento de políticas integradas de apoio à família
3
•Reconhecimento das competências da família na sua organização interna e na superação de suas dificuldades
4
•Respeito à diversidade étnico-cultural, à identidade e orientação sexuais, à equidade de gênero e às particularidades das condições físicas, sensoriais e mentais
5
•Fortalecimento da autonomia da criança, do adolescente e do jovem adulto na elaboração do seu projeto de vida
6
•Garantia dos princípios de excepcionalidade e provisoriedade dos Programas de Famílias Acolhedoras e de Acolhimento Institucional de crianças e de adolescentes
7 •Reordenamento dos programas de Acolhimento Institucional 8 •Adoção centrada no interesse da criança e do adolescente 9 •Controle social das políticas públicas
62 Mobilização, Articulação e Participação. Para tanto, é da competência de cada ente governamental (estadual e municipal) a criação de um Plano a luz desse documento nacional.
Contudo, é interessante destacar que, o Plano embora fale da importância desse direito para todas as crianças e adolescentes, seu foco é mais voltado para àqueles sob medida protetiva de acolhimento institucional, e muito pouco menciona a respeito do adolescente que cometer ato infracional e está cumprindo medida socioeducativa de privação de liberdade.
No entanto, com exclusividade para os adolescentes em conflito com a lei, no mesmo ano de 2006, foi lançado o SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), que norteia a execução das medidas socioeducativas.
O SINASE, em alinhamento às demais legislações, privilegia o direito à convivência familiar e comunitária, por isso prioriza as medidas em meio aberto (prestação de serviço à comunidade e liberdade assistida) em detrimento das restritivas de liberdade (semiliberdade e internação em estabelecimento educacional), com vistas a reverter a corrente e massificada prática de internação enraizada no Brasil, uma vez que a própria história mostra que a elevação do rigor das medidas não tem melhorado substancialmente a inclusão social dos egressos do sistema socioeducativo.
Por decorrência, corrobora a necessidade da ―municipalização dos programas de meio aberto, mediante a articulação de políticas intersetoriais em nível local, e a constituição de redes de apoio nas comunidades, por outro lado, a regionalização dos programas de privação de liberdade a fim de garantir o direito à convivência familiar e comunitária dos adolescentes internos, bem como as especificidades culturais‖ (SINASE, p.14, 2006).
Como o PCFC, o SINASE também articula os três níveis de governo para o desenvolvimento dos programas de atendimento ao adolescente em conflito com a lei, e corresponsabiliza a família, comunidade e Estado para a proteção integral. Para isso, se fundamenta em dezesseis princípios norteadores de suas ações.
Os princípios colocados pelo SINASE (2006), são reforçados em 2012, com a promulgação da Lei Nº12.594/2012, conhecida como a Lei do SINASE,
63 por instituir o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e regulamentar as medidas socioeducativas, com força de lei.
Nesse sentido, a partir do ECA e da CF-88, considerando o adolescente como sujeito de direitos, a Lei do SINASE, Nº 12.594/2012, Art. 35, rege os princípios que a execução das medidas socioeducativas deve conter.
Como princípios das medidas socioeducativa tem-se: legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido ao adulto; excepcionalidade, em relação à intervenção judicial e da imposição de medidas, aplicando-as aos adolescentes quando realmente necessário; prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre que possível, atendam às necessidades das vítimas; proporcionalidade, em relação à ofensa cometida; brevidade, da medida em resposta ao ato cometido, ou seja, o que limita a medida é a sua necessidade, não podendo o adolescente cumpri-la por período ilimitado; individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias pessoais do adolescente, isto é, respeitar a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento; mínima
intervenção, restrita ao necessário para a realização dos objetivos da
medida; não discriminação, em razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social, orientação religiosa, política ou sexual, ou associação ou pertencimento a qualquer minoria ou status; e fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários no processo socioeducativo.
Tem-se então, com o SINASE (2006) e a Lei Nº12.594/2012 parâmetros para ação e gestão pedagógicas que as unidades e/ou programas de atendimento que executam a internação provisória e as medidas socioeducativas devem seguir.
E também o direcionamento para que as unidades e/ou programas proporcionem ao adolescente ―o acesso a direitos e às oportunidades de superação de sua situação de exclusão, de ressignificação de valores, bem como o acesso à formação de valores para a participação na vida social‖ (SINASE,p.46, 2006).
No âmbito da medida protetiva de acolhimento (institucional ou familiar), em 2009, é lançando pela Presidência da República, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), e o Conselho Nacional da
64 Assistência Social (CNAS), as Orientações Técnicas para os Serviços de
Acolhimento para Crianças e Adolescente. Esse documento é uma das
ações prevista pelo Plano de Convivência Familiar e Comunitária (2006), e se caracteriza com uma regulamentação para organização e oferta dos serviços de acolhimento, estabelecendo parâmetros de funcionamento.
Como as demais normativas, as Orientações Técnicas também se baseiam no direito à convivência familiar e comunitária, e possui princípios que orienta a execução desses serviços, se assemelhando ao PCFC e SINASE. São eles:
As Orientações Técnicas, a partir da Proteção Social Especial de Alta Complexidade, elenca e define as instituições de acolhimento em: Abrigo Institucional, Casa-Lar, Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora, República. Assim, determina o público alvo, aspectos físicos, recursos humanos, infraestrutura e espaços mínimos para o funcionamento.
Nesse sentido, o documento das Orientações Técnicas visa padronizar os serviços de acolhimento a nível nacional, salvaguardando as características específicas de cada região, para o cumprimento das determinações impostas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, sobretudo no que tange a garantia do direito à convivência familiar e comunitária.
1 • Excepcionalidade do afastamento do convívio familiar 2 • Provisoriedade do afastamento do convívio familiar
3 • Preservação e fortalecimento dos vínculos familiarese comunitários 4 • Garantia de acesso e respeito à diversidade e não-discriminação 5 • Oferta de atendimento personalizado e individualizado
6 • Garantia de liberdade de crença e religião
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2.3 INSTITUCIONALIZAÇÃO COMO MEDIDA PROTETIVA E MEDIDA