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4. A Institucionalização e o Direito à Convivência Familiar e Comunitária pelo Olhar

4.3. O Direito à Convivência Familiar e Comunitária em Contextos de

4.3.1 O Direito à Convivência Familiar para os Adolescentes em Situação

Considerando a fragilidade das famílias dos adolescentes entrevistados em exercer a proteção de seus membros, o processo de efetivação do direito à convivência familiar durante a institucionalização enfrenta enormes desafios.

Em relação à promoção do direito à convivência familiar, a partir da perspectiva dos adolescentes, a maioria considera que a Casa de Acolhida

156 vem cumprindo as normativas vigentes, enquanto o Centro Educacional do Adolescente nem tanto, como demonstrado nos gráficos a seguir:

Gráfico 01 - Promoção da Convivência Familiar Pela Casa de Acolhida Masculina.

João Pessoa-PB, 2012 – 2013.

Fonte Primária

Gráfico 02 - Promoção da Convivência Familiar Pelo Centro Educacional do

Adolescente. João Pessoa-PB, 2012 – 2013.

Fonte Primária

Com base nos gráficos, observar-se que cinco adolescentes consideram que o direito à convivência familiar vem sendo garantido na Casa de Acolhida Masculina, enquanto que apenas um acredita ter esse direito efetivado no Centro Educacional do Adolescente. Assim, um acredita ter esse direito garantido em parte e um que diz ser negado na unidade de acolhimento (CAM), ao passo que em relação à unidade de privação de liberdade (CEA), dois

72% 14%

14%

Sim Não Parcialmente

14%

57% 29%

157 adolescentes expressam que tal direito é garantido em parte, e quatro que afirmam que a instituição não tem promovido tal convívio.

Desse modo, os entrevistados explicaram os motivos por considerarem que na Casa de Acolhida se promove mais o convívio familiar que no Centro Educacional do Adolescente:

-CAM: Sim. Porque ajuda a ter contato, sempre que peço ligam para minha mãe, e o povo aqui gosta ―deu‖. (Pablo, 16 anos) -CAM: Assim, depois que eu saí de casa só vim ver minha família agora, já fazia 4 anos que não via. A CAM primeiramente descobriu aonde minha família tava, aí a gente tá se reaproximando. Aí minha avó veio me visitar, meu pai. Eu vou passar o fim de semana na casa dela. (Thiago, 16 anos) -CEA: Não. Tanto é que não tive contato nenhum com minha família. (Rafael, 18 anos incompletos)

-CEA: Só pelas visitas mesmo. (Fernando, 17 anos)

-CEA: Ajuda não a ter contato. Porque eles não deixam o povo visitar a gente direito. Nunca deixaram minha mulher me visitar. (Rodrigues, 16 anos)

Nas falas dos adolescentes, é possível apreender que as principais ações voltadas para o fortalecimento do vínculo familiar na Casa de Acolhida Masculina é o contato telefônico, visitas de familiares a instituição sempre que desejarem, busca ativa de familiares que os adolescentes não tinham mais contanto, permissão para passar os finais de semana em casa, como forma de desligamento gradativo.

Apesar da CAM ter encontrado familiares de adolescentes que a muito tempo não tinha mais nenhum contato, no caso do entrevistado Júnior (15 anos), que saiu do Rio de Janeiro - RJ sozinho para tentar encontrar seu pai na cidade de João Pessoa – PB, a Casa Masculina não conseguiu localizá-lo, pois a última informação que o adolescentes tinha do genitor é que este estava em uma prisão da cidade. Porém, após a procura em presídios locais o mesmo não foi encontrado e o adolescente ainda anseia por encontrá-lo.

Quanto ao Centro Educacional do Adolescente, o contato com a família ocorre basicamente através das visitas de familiares a unidade, permitindo-se

158 no máximo duas na semana, e raramente contato telefônico. Não havendo maiores ações para o fortalecimento deste vínculo que é garantido em lei.

Por conseguinte, os entrevistados revelaram de quem mais sentiam falta durante o período de institucionalizam. A figura do (a) irmão (ã) é a mais destacada, em quatro falas; seguida da mãe, três falas; companheira, duas falas; pai, avó e filhos cada um destes evidenciados uma vez, como demonstra a Quadro 05:

Quadro 05 – Pessoas Que Os Adolescentes Sentiam Falta No Período De Institucionalização. João Pessoa-PB, 2012 – 2013.

Pessoas de Quem Sentem Falta Qtd. Irmãos Mãe Companheira Pai Avó Filhos Outros 4 3 2 2 1 1 1

* Respostas de Múltiplas Escolhas Fonte Primária

Em relação à visita das companheiras dos adolescentes à instituição, nem sempre é liberada no CEA, como aconteceu no caso do adolescente Rodrigues, 16 anos; porém para o adolescente Fernando, 17 anos, foi liberada apenas uma vez na semana. Na CAM, a visita é liberada, uma vez que obedeça os parâmetros da unidade, a exemplo de se for menor de idade que visita seja acompanhada do responsável da adolescente.

Um adolescente também se refere à falta que sentia, no período de acolhimento, de uma ex-coordenadora da Casa Masculina, que havia passado em um concurso pra outro estado e precisou se afastar da unidade. Como fica claro no relato a seguir:

- De I.F, depois que ela deixou a CAM. Fora ela de mais ninguém. [...] não ligo muito para essas coisas não, para mim tanto faz, receber visita ou não. (Rafael, 18 anos incompletos)

159 É importante destacar, que o adolescente, tem passado os finais de semana na casa da sua família. Esta situação tem ocorrido porque a referida coordenadora, junto com a equipe técnica, fez todo um trabalho com a mãe do adolescente. Anteriormente a genitora não queria saber do filho, não o visitava na Casa de Acolhida Masculina e nunca foi vê-lo na unidade de privação de liberdade, sendo bastante relutante a qualquer pessoa que falasse sobre ele, pois se sentia bastante magoada com o filho, e considerava que havia feito todo o possível para ajudá-lo.

Assim, após várias conversas e tentativas de aproximação, a genitora começou a manter contato telefônico com o adolescente e depois veio a permitir que passasse os finais de semana em sua residência, fortalecendo o vínculo entre eles, dando-o uma nova oportunidade de provar que realmente mudou de atitudes.

O Plano de Convivência Familiar e Comunitária (PCFC), 2006, estabelece, para as unidades de acolhimento institucional e as de privação de liberdade, a promoção do direito à convivência familiar e comunitária, com o desenvolvimento de ações que visem à garantia deste direito.

[...] todas as entidades que oferecem Acolhimento Institucional [...] devem [...] promover a preservação do vínculo e do contato da criança e do adolescente com a sua família de origem, salvo determinação judicial em contrário. (PCFC, p.41)

Do ponto de vista do direito à convivência familiar e comunitária, as medidas socioeducativas restritivas da liberdade impõem, obviamente, limites à convivência cotidiana dos adolescentes com suas famílias e comunidades, o que não significa excluir a família do processo pedagógico empreendido pelos adolescentes. (PCFC, p.57)

Todavia, a partir das falas dos adolescentes entrevistados, ver- se que a efetivação do direito a convivência família somente ocorrerá a partir de uma atuação incisiva por parte do Estado sobre as famílias na forma de uma proteção integral, com cobertura para todos os seus membros.

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4.3.2. O Direito à Convivência Comunitária para os Adolescentes em