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Sem a pretensão de esgotar as diversas peculiaridades locais que compõem a estrutura judiciária brasileira, em virtude das variadas leis de organização estaduais e federais, o presente capítulo pretende explanar de forma genérica a organização do poder judiciário brasileiro.

Os órgãos que compõem a estrutura judiciária são regulados pela Constituição Federal da República (BRASIL, 1988) nos seus artigos 92 a 126. No patamar superior das instituições está o Supremo Tribunal Federal (STF), com a função principal de zelar pelo cumprimento máximo das leis do país, sendo considerado o guardião da Constituição. Abaixo dele está o Superior Tribunal de Justiça (STJ), órgão responsável por fazer uma interpretação uniforme da legislação federal.

Na composição da justiça brasileira, há órgãos que funcionam no âmbito da União e dos Estados, incluindo o Distrito Federal. Na esfera da União, o Poder Judiciário está estruturado com as seguintes unidades: a Justiça Federal (justiça comum), que inclui os juizados especiais federais, e a justiça especializada, que tem em sua composição as justiças do Trabalho, Eleitoral e Militar. Nos âmbitos da justiça estadual, a organização inclui os juizados especiais cíveis e criminais, de competência de cada um dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, onde se localiza a capital do país. Tanto na União quanto nos estados,

esses juizados são competentes para julgar causas de menor potencial ofensivo e de pequeno valor econômico (CNJ, 2018).

Em regras gerais, os processos se originam na primeira instância, podendo ser levados, por meio de recursos, para a segunda instância, para o STJ (ou demais tribunais superiores) e até para o STF, sendo este o órgão responsável pela palavra final em disputas judiciais no país, em matérias de natureza constitucional. Todavia, há ações que podem se originar na segunda instância e até nas cortes superiores, a exemplo dos processos criminais contra autoridades com prerrogativa de foro (presidente da República, ministros de Estado, senadores, deputados federais, entre outras), quando processados por infrações penais comuns, estando sujeitos a julgamento pelo STF (CNJ, 2018).

A Justiça Federal é composta por juízes federais, que atuam na primeira instância e nos tribunais regionais federais (segunda instância). Cabe a ela julgar, por exemplo, os crimes políticos e infrações penais praticadas contra bens, serviços ou interesses da União, incluindo entidades autárquicas e empresas públicas. Além disso, processos que envolvam Estado estrangeiro ou organismo internacional contra município ou pessoa domiciliada ou residente no Brasil, em causas originadas de tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional e ações que envolvam direito de povos indígenas. Nos casos de grave violação de direitos humanos, ela também pode ter tal competência. Em âmbito federal, também há os tribunais de matérias específicas, assim como já mencionados os casos das justiças especializadas (Trabalho, Eleitoral e Militar).

A composição das justiças estaduais é feita pelos juízes de Direito (que atuam na primeira instância) e pelos chamados desembargadores, que atuam nos tribunais de justiça (segunda instância), além dos juizados especiais cíveis e criminais. A essa justiça competem as causas que não estejam sujeitas à competência de outro órgão jurisdicional (Justiça Federal comum, do Trabalho, Eleitoral e Militar). É na Justiça Estadual que está o maior volume de litígios no Brasil. Os tribunais objetos do presente estudo compõem essas categorias da justiça (TJAM e TJSC).

Por último, vale destacar que o CNJ, apesar de integrar o Poder Judiciário, não exerce função jurisdicional.

FIGURA 1 – Organograma do Poder Judiciário brasileiro.

FIGURA 1 – Organograma do Poder Judiciário brasileiro.

Fonte: CNJ (2018).

Além da previsão da Constituição Federal, há a Lei Complementar nº 35, de 1979 (BRASIL, 1979), também conhecida como Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LOMAN), que estabelece a organização do Poder Judiciário brasileiro, a forma de funcionamento, as estruturas hierárquicas e administrativas, bem como descreve garantias, prerrogativas, vencimentos e vantagens, direitos, deveres e penalidades cabíveis aos magistrados.

Quanto ao funcionamento interno das unidades dos órgãos da justiça, surgem conceitos como fórum, varas e comarcas. Fórum refere-se ao espaço físico onde funcionam as varas de justiça. Estas, por sua vez, são os locais que correspondem à lotação de um juiz, onde o magistrado realiza suas atividades. Por último, as comarcas são os territórios em que o juiz de primeiro grau irá exercer sua jurisdição e pode abranger um ou mais municípios, dependendo do número de habitantes e de eleitores, do movimento forense e da extensão territorial dos municípios do estado, entre outros aspectos. Cada comarca, portanto, pode contar com vários juízes ou apenas um, que terá, no caso, todas as competências destinadas ao órgão de primeiro grau (CNJ, 2018).

De acordo com essas perspectivas, os magistrados assumem também o papel de gestores das varas de justiça, uma vez que, por serem estas de domínio do juiz, serão de sua

responsabilidade a organização e a tramitação cotidiana dos processos e procedimentos a elas inerentes. De forma muito peculiar, quando comparadas a outras organizações, essas características dão aos magistrados poderes de dotarem seus gabinetes com os servidores de apoio, direção e assessoramento para a condução das tarefas, resultando em uma característica distinta quando comparado a outros tipos de organizações. Mesmo fenômeno acontece em gabinetes de segunda instância, a exemplo dos tribunais, onde os dirigentes, que são também juízes (desembargadores), assumem papéis não apenas de julgar, mas de gestores, quando, por exemplo, assumem a presidência ou outro cargo diretivo em um determinado tribunal.

Embora os magistrados sejam os responsáveis pelas varas e comarcas, compreendendo o que está previsto na LOMAN como o princípio da identidade física do juiz (BRASIL, 1979), a coordenação e a operacionalização das atividades de secretaria de varas ou gabinetes, chamadas de gestão cartorária (BEZERRA, 2004), são delegadas a servidores que exercem papel de diretores, assessores ou técnicos, de acordo com as áreas específicas.

São esses profissionais que executam as atividades de rotina administrativa dos órgãos do Poder Judiciário, produzem despachos, elaboram minutas de sentenças e executam atos de mero expediente, como emissão de certidões, movimentação processual, digitalização, publicação, entre outros, fazendo movimentar a máquina da justiça. É nesse contexto profissional que a engrenagem do teletrabalho se desenvolve, através de muitos desses servidores, que atuam em regime de trabalho realizado em suas casas.

Em regra são formados por auxiliares judiciários (nível fundamental), assistentes judiciários ou técnicos judiciários (nível médio) e analistas judiciários (nível superior), bem como conta com assessores jurídicos e diretores de secretaria (que exercem a chefia da unidade, direcionando e coordenando atividades tanto jurídicas quanto administrativas da vara ou comarca), sendo estes dois últimos ocupados por profissionais com formação em Direito. Por analogia, na justiça de segunda instância, onde estão os desembargadores, as funções de diretor de secretaria são exercidas pelo chefe de gabinete.

Fora das varas de justiça e gabinetes, há ainda na estrutura dos tribunais uma infinidade de setores que executam tarefas de apoio administrativo e suporte às atividades judiciais, como setor de compras, orçamento e finanças, licitação, gestão de pessoas, contratos, entre outros, subordinados às presidências dos órgãos, podendo também haver servidores que atuem em regime de teletrabalho.