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Neste capítulo pontos de destaque da Resolução nº 227/2016 do CNJ (CNJ, 2016), que regulamentou o teletrabalho no âmbito do Poder Judiciário, são apresentados com o objetivo de compreender a norma geral e as diretrizes orientadoras para os tribunais brasileiros.

A referida Resolução não obriga os tribunais brasileiros a adotarem programas de teletrabalho, sendo que cada órgão pode editar regulamentações próprias sobre o tema, em virtude de suas peculiaridades e características de gestão. Entretanto, as regulamentações de cada tribunal não podem contrariar os dispositivos previstos na Resolução nº 227/2016, devendo estar em consonância com o regramento e as diretrizes do CNJ.

Partindo-se para a exposição dos pontos principais, vale identificar as categorias estabelecidas pela referida Resolução, definidas da seguinte forma: a) motivação para adoção de programas de teletrabalho no judiciário; b) caracterização do teletrabalho; c) condições para realização do teletrabalho; d) acompanhamento e capacitação.

O primeiro aspecto apresentado pela Resolução tratou da motivação para adoção do teletrabalho na justiça brasileira. Além dos fatores identificados no capítulo anterior, mencionam-se as experiências bem-sucedidas em outros tribunais brasileiros (TRF 4, TST e CSJT), antes mesmo da edição da Resolução. No intuito de apresentar as vantagens para servidores, tribunais e sociedade, os artigos 1º ao 3º estabeleceram os objetivos a serem alcançados.

Para os servidores, considerou-se a possibilidade de promover com o teletrabalho um mecanismo para atraí-los, motivá-los e comprometê-los com os objetivos da instituição, economizar tempo e reduzir custo de deslocamento até o local de trabalho, ampliar a possibilidade de trabalho aos servidores com dificuldade de locomoção, aumentar a qualidade de vida e respeitar as diversidades.

Quanto aos tribunais, podem-se destacar os seguintes objetivos: aumentar a produtividade e a qualidade de trabalho dos servidores, promover a cultura orientada a resultados, estimular o desenvolvimento de talentos, o trabalho criativo e a inovação e considerar a multiplicidade das tarefas, dos contextos de produção e das condições de trabalho para a concepção e o implemento de formas de avaliação e alocação de recursos (CNJ, 2016).

Por fim, para a sociedade, justificou-se o intuito de contribuir para a melhoria de programas socioambientais, com a diminuição de poluentes e a redução no consumo de água, esgoto, energia elétrica, papel e outros bens e serviços disponibilizados nos órgãos do Poder Judiciário, além de estimular o foco no incremento da eficiência e da efetividade dos serviços prestados à sociedade (CNJ, 2016).

O segundo ponto referiu-se à caracterização do teletrabalho, sendo, de acordo com os artigos 1º e 2º, ―o trabalho realizado de forma remota, com a utilização de recursos tecnológicos e fora das dependências dos órgãos do poder judiciário‖ (CNJ, 2016). O artigo 4º ressalvou que a realização do teletrabalho é facultativa, segundo critérios estabelecidos pelos tribunais e gestores das unidades, restringindo a adoção do programa apenas a atividades passíveis de mensuração objetiva de desempenho. Dessa forma, deixou claro que o teletrabalho não se constitui direito ou dever do servidor.

As condições para a realização do teletrabalho aparecem como o terceiro ponto apresentado. A parte introdutória do artigo 5º (CNJ, 2016) foi taxativa quanto à vedação de participação de servidores que: estejam cumprindo estágio probatório pelo período de 36 meses, conforme prevê a Constituição Federal (BRASIL, 1988); ocupem cargo de direção ou chefia ou que tenham servidores subordinados; apresentem contraindicações por motivo de saúde, constatadas em perícia médica; tenham sofrido penalidade disciplinar nos dois anos

anteriores à indicação. Outra vedação refere-se à impossibilidade de realização do teletrabalho fora do país, exceto se o servidor ausentar-se para acompanhar cônjuge, caso em que será permitido o ingresso no programa.

Outra condição diz respeito ao limite de 30%, por unidade, da quantidade de servidores lotados que podem ingressar em teletrabalho, podendo excepcionalmente a majoração para 50%, a critério da presidência do órgão (CNJ, 2016). Em casos de vários servidores demonstrarem interesse em ingressar no programa, a Resolução estabelece o critério de desempate, tendo como preferência: servidores com deficiência (PcDs), que tenham filhos, cônjuge ou dependentes com deficiência, gestantes e lactantes ou servidores que estejam gozando de licença para acompanhamento de cônjuge. Pode, ainda, haver revezamento entre servidores que queiram participar do programa, devendo observar a capacidade plena de funcionamento dos setores em que haja atendimento ao público externo e interno.

A Resolução prevê ainda que se priorizem os servidores que desenvolvam atividades de maior esforço individual e menor interação com outros servidores, como elaboração de minutas de decisões, de pareceres e de relatórios, devendo as unidades de gestão de pessoas auxiliarem na seleção e avaliação de interessados cujos perfis se ajustem à realização do teletrabalho (CNJ, 2016).

No que tange à vontade de participação nos programas, tanto o pedido de ingresso quanto o de retorno ao trabalho de forma presencial é de livre iniciativa do servidor, não sendo permitida a interferência da instituição nesse aspecto, exceto quando o teletrabalhador não cumprir suas obrigações.

Quanto às metas de desempenho, a Resolução estabelece que elas serão superiores às metas de desempenho dos servidores com mesma atividade nas dependências do órgão, devendo o planejamento das mesmas, sempre que possível, ser feito de comum acordo entre o teletrabalhador e seu gestor, antes do início do programa, e acompanhado de forma diária, semanal e/ou mensal. No planejamento de desenvolvimento do programa devem constar as tarefas, as metas e a periodicidade com que o servidor em regime de teletrabalho deve comparecer ao local de trabalho para o exercício regular de suas atividades, assim como o cronograma de reuniões com a chefia imediata para avaliação de desempenho, eventual revisão e ajustes de metas (CNJ, 2016).

Outro ponto importante refere-se ao alcance da meta de desempenho estipulada ao servidor em regime de teletrabalho, a qual equivale ao cumprimento da respectiva jornada de trabalho de cada tribunal, não cabendo pagamento de jornada extraordinária para

cumprimento da meta acordada, podendo, nos casos de não cumprimento pelo servidor, haver compensação a ser definida pelo órgão ou pelo gestor do teletrabalhador (CNJ, 2016).

Além do cumprimento das metas, o artigo 9º da Resolução (CNJ, 2016) estabelece outros deveres dos servidores em teletrabalho: atender às convocações para comparecimento às dependências do órgão, sempre que houver necessidade da unidade ou interesse da administração; manter telefones de contato permanentemente atualizados e ativos nos dias úteis; consultar diariamente sua caixa de correio eletrônico institucional; reunir-se com chefia para acompanhamento dos resultados; retirar processos e demais documentos das dependências do órgão, quando necessário, somente mediante assinatura de termo de recebimento e responsabilidade, e devolvê-los íntegros ao término do trabalho ou quando solicitado pela chefia imediata ou gestor da unidade; manter atualizados os sistemas institucionais instalados nos equipamentos de trabalho.

Quanto à segurança das informações e do programa de teletrabalho, a Resolução (CNJ, 2016) previu a obrigatoriedade do sigilo dos dados acessados de forma remota, mediante observância das normas internas de segurança da informação e da comunicação, além da vedação quanto ao contato do servidor com partes ou advogados, para tratarem de assuntos relacionados a processos ou a atividades das unidades de trabalho àquele vinculadas.

Por último, a Resolução do teletrabalho (CNJ, 2016) definiu também que o servidor é responsável por providenciar e manter estruturas físicas e tecnológicas necessárias e adequadas à realização do teletrabalho, exceto quanto àquelas de natureza de sistemas e suportes tecnológicos, de responsabilidade dos setores de tecnologia da informação dos tribunais.