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A reforma gerencial do Estado brasileiro, iniciada no ano de 1995, no extinto Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), inaugurou um período de mudanças na forma de administrar as organizações públicas no Brasil, como resposta ao crescimento das funções econômicas e sociais do Estado e ao impacto do desenvolvimento

tecnológico e efeitos da forte globalização pela qual o mundo vinha passando (BRESSER- PEREIRA, 2009). Tinha como valores e objetivos direcionadores a busca pela maior eficiência da administração pública, através da desburocratização, redução de custos e aumento da qualidade dos serviços públicos, por meio da mudança na cultura das organizações e na mentalidade dos gestores públicos.

A reforma visava à descentralização de uma estrutura organizacional ultrapassada, incorporando novos formatos organizacionais, como as agências executivas e regulatórias e as organizações sociais, administração das instituições pelo modelo de gestão por resultados e por excelência, em substituição parcial dos regulamentos rígidos, de supervisão e controle, que caracterizam a administração burocrática e, por último, uma dimensão cultural, em que se buscava a mudança de mentalidade dos gestores para um pensar a coisa pública com maior objetividade e profissionalismo (BRESSER-PEREIRA, 2009).

A inserção do princípio da eficiência (artigo 37) na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1998) foi ao encontro dos objetivos da reforma, no sentido de orientar as instituições públicas brasileiras a estabelecerem padrões de desempenho que visassem a resultados institucionais mais satisfatórios, usando os recursos públicos com melhor qualidade, na expectativa de se aumentar a vitalidade das instituições governamentais (CUNHA, 2010).

Nesse cenário de buscas por melhores resultados institucionais, otimização na utilização dos recursos e uso crescente das TICs é que as organizações públicas incorporam novas ferramentas de gestão. Como uma dessas opções, no início do século XXI, insere-se o teletrabalho, conforme menciona DI FELÍCIO:

O teletrabalho surge no contexto de novas formas de trabalho sugeridas nas metamorfoses do toyotismo e da globalização neoliberal, culminando com a crescente produção de tecnologias que possibilitaram cada vez mais a sua inserção no contexto mundial atual e, inclusive, dentro da administração pública (2014, p. 12)

Sendo as organizações privadas, em âmbito mundial, inclusive no Brasil, as primeiras a adotarem a modalidade de teletrabalho (MELLO, 1999), a pioneira no setor público brasileiro foi a SERPRO (GOULART, 2009). Trata-se de instituição de processamento de dados do governo federal, consolidando-se em 2005 como um marco inicial e modelo referencial para outras implantações em programas de teletrabalho. A partir disso, outras organizações públicas no Brasil, como o Tribunal de Contas da União (TCU), em 2009, Receita Federal do Brasil (2010), Advocacia Geral da União (2011) e o Tribunal

Superior do Trabalho (TST), em 2012, sentiram-se encorajadas a adotar o modelo, ainda que em um processo considerado lento e gradual de crescimento nos dias atuais.

A tímida expansão do teletrabalho no serviço público pode ter como explicação a resistência às mudanças pela insegurança e despreparo da administração em gerir pessoas nesse novo modelo (FILARDI e CASTRO, 2017). Além disso, o tema do teletrabalho ainda causa controversas, principalmente por representar uma quebra de paradigmas e uma necessidade de revisão nos modelos mentais e culturais a respeito do modo de trabalhar (GOULART, 2009; SILVA, 2015).

Tais concepções demonstram ser mais agudas em relação ao serviço público, considerando elevados graus de resistência e preconceitos. Reforçam essas ideias, por parte dos dirigentes, quanto aos recorrentes receios de que seus subordinados possam ficar em casa e lá não trabalharem (SILVA, 2015). Complementa a autora:

Embora sejam reconhecidas as vantagens dessa modalidade de trabalho, quando bem administrado, em termos de aumento da produtividade do servidor e de redução dos custos, é perceptível que há uma grande resistência das instituições públicas no Brasil, bem como dos próprios servidores públicos em relação a esse modelo. (SILVA, 2015, p.8)

Observam-se iniciativas para implantação de programas de teletrabalho em maior número, a partir de 2011 (SILVA, 2015), nos entes da federação em âmbitos municipal, estadual e federal, em órgãos do Poder Executivo, como Prefeituras de São Paulo e Vitória, no Espírito Santo, Governo de São Paulo, Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, Advocacia Geral da União e Controladoria Geral da União; em empresas públicas, como o Banco do Brasil; em órgãos de funções essenciais à justiça, como Ministério Público Federal, Conselho Nacional do Ministério Público; em tribunais de contas estaduais, a exemplo dos Tribunais de Contas de São Paulo e Espírito Santo (SILVA, 2015; SARDETO, 2016; FILARDI e CASTRO, 2017; MELLO, 2017) .

Em relação à justiça, os primeiros órgãos que regulamentaram e adotaram programas de teletrabalho foram o Tribunal Superior do Trabalho (TST), o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF 4), com sede no Rio Grande do Sul, e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT). Esses respectivos tribunais serviram como fontes, através de experiências iniciais, para o estabelecimento dos parâmetros, políticas e definição do marco regulatório elaborado pelo CNJ em junho de 2016. Com a edição da Resolução nº 227, de 15 de junho de 2016 (CNJ, 2016), ficou regulamentado o teletrabalho, no âmbito do judiciário nacional, permitindo, a partir de então, a adoção de programas pelos tribunais brasileiros.

O preâmbulo da Resolução elencou os seguintes fatores que motivaram sua edição:

a) o aprimoramento da gestão de pessoas, como política de valorização e motivação de pessoal, no sentido de buscar a melhoria do clima organizacional e da qualidade de vida dos servidores, b) os avanços tecnológicos, notadamente a partir da implantação do processo eletrônico, possibilitando o trabalho remoto e à distância, e c) a existência da Lei nº 12.551/2011, que equiparou os efeitos jurídicos da subordinação exercida por meios telemáticos e informatizados à exercida por meios pessoais e diretos (CNJ, 2016, p. 1).

Após a edição da Resolução nº 227/2016-CNJ, vários tribunais brasileiros passaram a adotar programas de teletrabalho, espelhando-se em relatos empíricos e experiências adquiridas pelos tribunais pioneiros e em virtude da segurança jurídica proporcionada pela edição da resolução pelo órgão de fiscalização do judiciário (CNJ), ampliando o rol de órgãos adeptos à nova modalidade de trabalho e sistemática de gestão.

Até o fechamento desta pesquisa, dos 90 tribunais brasileiros, 32 regulamentaram e iniciaram programas de teletrabalho, incluindo os tribunais superiores, federais e estaduais, envolvendo as cortes trabalhistas, eleitorais e militares, demonstrando ainda a possibilidade de expansão do modelo na maior parte dos órgãos da justiça.