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A Amazônia brasileira é a área mais extensa do país e representa em torno de 45% do território, ou 52% se considerado a Amazônia Legal39, jurisdição político–administrativa formalizada pelo Governo Federal e administrada pela agência governamental de

39 Neste trabalho entende-se Amazônia como Amazônia Legal, que é uma definição administrativa do governo brasileiro para fins de planejamento econômico e de incentivos fiscais na região. Abrange uma área de aproximadamente 5,2 milhões de quilômetros quadrados (61% do território nacional) nos estados da região Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), parte do Centro-Oeste (Mato Grosso) e parte do Nordeste (a área no Maranhão situada a oeste do meridiano) (SÁ SILVA; MESQUITA, 2009). A parte que nos interessa da Amazônia Legal, para efeitos de pesquisa, é a região Nordeste onde se situa o estado do Maranhão.

67 desenvolvimento (Sudam, hoje ADA) nos anos 60 para efeito de incentivos fiscais. Isso acrescenta à Região Norte o estado de Mato Grosso e uma parte do Maranhão (MESQUITA, 2009).

O Maranhão, além de fazer parte da Amazônia Legal, caracteriza-se como um estado eminentemente agrário. O estado ocupa uma área de 331.983,293 km2, a oitava do país e a segunda do Nordeste em extensão, com 217 municípios e uma população estimada em 2009 de 6.367.138. Somente no ano de 1996 a população urbana ultrapassou em número à população rural: 2.711.557 (51,92%) contra 2.511.008 (48,08%). Até 1995, o estado do Maranhão era o único da Federação a possuir uma população rural (2.957.832) superior à urbana (1.972.471) (IBGE, 2010). De acordo com Pedrosa 2006, o IBGE considera como urbana apenas a população que mora no perímetro urbano dos municípios. Pode-se imaginar, a partir da realidade das cidades interioranas, que a estatística merece reparos, já que desconsidera um enorme número de pessoas, mesmo residindo nos perímetros urbanos, que sobrevive da atividade agrária.

A partir dos anos de 1980, o estado do Maranhão começa a apresentar índice negativo entre o número de emigrantes (505,8 mil pessoas) e imigrantes (456,2 mil pessoas) (MAY, 1990). Deixa de ser um local de atração de migrantes nordestinos a partir dos anos de 1980, que até então eram absorvidos pelos quadros rurais maranhenses, transitando para uma condição de fornecedor de migrantes da região Nordeste, juntamente com a Bahia (CARNEIRO; SOUSA; MARINHO, 2007). Considera-se que essa mudança está estreitamente ligada a um elemento central, que seria a distribuição da posse e propriedade da terra.

A introdução da terra no mercado imobiliário é relativamente recente. Apenas 10% da área total do Maranhão, em 1940, se encontravam nas mãos de particulares. A maior parte do território era de terra devoluta e compunha a frente de expansão. Do lado da ocupação consolidada, ainda estão os grupos étnicos provenientes da agricultura familiar tradicional (descendentes de índios, quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, etc.) (ANDRADE, 1998).

Outro aspecto interessante e importante da estrutura agrária maranhense, conforme Andrade (1998):

É a ocorrência [...]de terras de uso comum, que se registra tanto em áreas dos campos e lagos da Baixada Maranhense, no entorno do Golfão Maranhense, como em extensas áreas, ao Sul e a Leste do estado, com suas chapadas, flora e fauna e formações florestais características de cerrado. Essas terras de uso comum aparecem

68 denominadas [...] de terras de preto, terras de santo, terras de índio e, também, em alguns contextos, de terras da pobreza, terras de ausentes, terras da nação, terras nacionais, terras da marinha. Nessas situações, o fator étnico e a territorialidade são os dois elementos básicos que fundamentam a identidade desses grupos. (ANDRADE, 1998, p. 2). Na integração com o mercado nacional o Maranhão só se efetiva após 1964, primeiramente enquanto supridor de alimentos básicos (arroz) e pecuária bovina, posteriormente com o Grande Carajás como exportador de minério (ferro e alumínio), assistindo à diminuição da importância do setor primário na composição da sua riqueza (PAULA; MESQUITA, 2008).

O processo de transferência de terras públicas a grandes grupos econômicos foi possível a partir da chamada Lei Sarney, de 1969, que dispõe sobre as terras devolutas do Estado, tornando possível a chamada "ocupação racional da Pré-Amazônia Maranhense". Essa legislação, acompanhada de uma generosa política de incentivos fiscais e creditícios no mesmo período, resultou na destruição dos recursos florestais da Pré-Amazônia Maranhense por esses projetos agropecuários.

É sobre os pequenos agricultores, que vai se lançar uma crise em razão da implantação de projetos das grandes corporações como os plantios de soja e de eucalipto. Neste estado, o modelo de desenvolvimento privilegia grandes conglomerados econômicos em prejuízo da agricultura de base familiar. A crise, combinada com a conservação de altos preços para seus produtos, os pequenos produtores buscam resistir, mantendo suas terras. Isso gerou confrontos que muitas vezes resultaram em mortes, outros porém partem em busca de melhores condições de vida em outras regiões.

Outro fator bastante importante, mas não foco desta Tese, e que nos últimos anos têm caracterizado o Maranhão é o trabalho escravo40. Segundo Pinheiro (2009), dados do

Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) revelam que o Maranhão ainda lidera o primeiro lugar de trabalho escravo no Brasil. Os dados mostram que 40% dos trabalhadores escravizados no Brasil são maranhenses e o estado ainda lidera o ranking nacional de exportação de mão-de-obra escrava. O Maranhão também passou a utilizar da mão-de-obra escrava e aparece com 10% dos fazendeiros escravagistas no país na chamada "Lista Suja"41. A lista formulada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apresenta o nome de empregadores explorando mão-de-obra escrava em propriedades rurais (Pinheiro, 2009). Os

40 Em anexo dados do trabalho escravo no Brasil

69 trabalhadores foram resgatados em propriedades com atividade na pecuária, na cultura da soja e nas carvoarias, atividades que mais têm crescido com a expansão do agronegócio no país.

Conforme Carneiro (2009), um elemento central para a compreensão do deslocamento desses trabalhadores é a situação vivida por suas famílias no local de origem, que se caracteriza pelo falta de acesso à propriedade da terra. Desta forma, segundo o autor, pode-se afirmar que o fato do deslocamento para o trabalho escravo está ligado a concentração da propriedade da terra e da inexistência de alternativas de trabalho na área urbana nos locais de origem desses trabalhadores.