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Os sujeitos que constituem a pesquisa são professores de escolas da Educação Básica da rede pública estadual e municipal de dois municípios do Vale do Rio Pardo, situado no estado do Rio Grande do Sul. O Vale do Rio Pardo é composto por quinze municípios, sendo os docentes participantes da pesquisa atuantes em três dessas cidades. Outros critérios adotados para a realização da pesquisa de campo foram que os professores estivessem trabalhando, cada um, na mesma escola há pelo menos seis meses, com idade acima de 18 anos, em que se mesclassem homens e mulheres, sendo estas a maioria, a fim de representar a categoria docente. A escolha do tempo de atuação se deve ao fato de considerarmos ser este o tempo estimado para que o sujeito possa se adaptar a um novo local de trabalho, apresentando-se já inteirado às condições e organização do trabalho, bem como integrado à equipe.

Não determinamos um tempo maior de atuação na área como um todo, justamente para que pudéssemos não apenas entender o ponto de vista de um professor com muita experiência na profissão, mas também compreender a perspectiva de novos professores sobre a atual condição da educação, bem como a organização do trabalho. Ainda assim, almejamos contar com a participação de docentes com maior tempo de experiência em escolas, para compreender como foram elaborando suas estratégias de enfrentamento ao sofrimento ao longo dos anos.

Segundo Triviños (1987), a pesquisa qualitativa pode selecionar a amostra de modo aleatório, que foi o caso de nossa pesquisa, em que a participação dos docentes tanto no grupo como nas entrevistas ocorreu através de amostra por conveniência, seguindo apenas as especificações mencionadas anteriormente. Além das determinações de idade, gênero e tempo de atuação nas escolas, acrescentamos que contamos com a participação de professores que lecionam em diferentes níveis de ensino (educação infantil, ensino fundamental e médio), o que permitiu abranger todos os contextos presentes na organização do trabalho, além de pertencerem a diferentes escolas (em sua maioria), visto que não tivemos o objetivo de vincular a pesquisa a uma única instituição.

Vale ressaltar que as entrevistas foram realizadas conforme disponibilidade dos participantes, no local adequado para cada sujeito, respeitando a questão do sigilo e privacidade. De mesmo modo, os encontros do grupo focal ocorreram em local de fácil acesso aos participantes, sendo as datas agendadas de modo que todos pudessem estar presentes. Destacamos que quando formos nos referir às falas enunciadas pelos entrevistados serão utilizadas identificações fictícias, a fim de preservar suas identidades e mantê-las no

anonimato. Assim, alguns nomes foram escolhidos pelos próprios docentes e outros pelos pesquisadores, sendo apontados entre parênteses após as falas citadas, e o que foi referido durante os encontros do grupo estará descrito como “grupo” após a identificação fictícia dos participantes.

A partir dos critérios e objetivos da coleta de informações, acima descritos, podemos introduzir algumas caracterizações acerca dos entrevistados, conforme representação no quadro a seguir.

Quadro 2 – Caracterização dos Participantes

Identificação Gênero Idade Estado Civil Filhos Escolaridade/

Formação Tempo em que trabalha na mesma escola Carga horária semanal

Mariana Feminino 50 anos Casada 1 16 anos Pedagogia Supervisão Escolar/ Pós-graduação lato sensu 4 anos 44h

Enajer Feminino 57 anos

Divorciada/ União Estável 1 31 anos Matemática/ Pós-graduação lato sensu 4 anos 40h

Luísa Feminino 59 anos Solteira

1 (adotivo) 9 anos Pedagogia Orientação/ Pós-graduação lato sensu e stricto sensu 22 anos 22h

Letícia Feminino 42 anos Separada 1 21 anos Pedagogia Normal Superior/ Pós-graduação lato sensu 14 anos 22h

Cristal Feminino 42 anos Divorciada 0

Pedagogia Educação Infantil/ Pós-Graduação lato sensu 17 anos 40h

Amanda Feminino 42 anos Casada 1 18 anos

Biologia/Pós-graduação lato

sensu

8 anos 40h

Carlos Masculino 60 anos Casado

2 28 e 30 anos História/Pós-graduação lato sensu 15 anos 20h

João Masculino 26 anos Solteiro 0

Pedagogia/Pós-graduação lato

sensu

Paula Feminino 40 anos Casada 3 5, 8 e 16 anos Pedagogia/Pós-graduação lato sensu 5 anos 40h

Júlia Feminino 25 anos Separada 1 5 anos

Pedagogia/Pós-graduação lato

sensu

1 ano 40h Fonte: Elaborado pela autora a partir das informações obtidas na pesquisa de campo (2020).

Considerando os dez docentes participantes da pesquisa, observamos que oito são mulheres e dois são homens, sendo a média de idade 44,3 anos, em que as mesmas variaram de 25 a 60 anos. Apesar de não constar na tabela acima, é importante mencionar que quatro docentes atuam na rede municipal de ensino e seis em escolas estaduais, sendo cinco concursados e cinco contratados, dos quais quatro são concursados pelo Estado e um pelo município e dois são contratados pelo Estado e três pelo município.

Dentre a formação profissional dos professores destaca-se o curso de pedagogia, realizado por sete dos dez docentes entrevistados. Os outros três docentes possuem formação em Matemática, Biologia e História. Todos os docentes possuem pós-graduação lato sensu, inclusive alguns têm mais de uma especialização, e uma docente também conta com a formação em pós-graduação stricto sensu. Em relação ao tempo de atuação na escola atual encontramos tanto professores que estão há um ano no mesmo local, quanto outros que já estão há vinte e dois anos, resultando em uma média de 9,1 anos.

Constatamos que sete destes docentes possuem carga horária de trabalho composta por 40 a 44 horas semanais, enquanto três docentes realizam 20 a 22 horas por semana. Em relação ao primeiro grupo, quatro entrevistados distribuem as 40/44 horas de trabalho entre duas escolas, na medida em que os outros três professores executam essa carga horária em uma mesma escola. Ressaltamos que os docentes que enunciaram exercer, atualmente, uma carga horária de 20/22 horas semanais já tiveram uma jornada de trabalho maior em outros momentos de sua vida, variando de 40 a 60 horas. Estes docentes estão com carga horária reduzida por opção pessoal, relacionadas direta ou indiretamente ao trabalho.

Uma docente referiu “abrir mão” de 20 horas de trabalho para conciliar melhor trabalho e vida familiar com a chegada de seu filho adotivo. Outro professor reduziu a carga horária, devido à sobrecarga de trabalho e também porque vem se dedicando ao seu empreendimento particular, que lhe propicia um retorno financeiro mais favorável do que o Estado tem lhe possibilitado, admitindo que só não exonera o restante das horas em razão do IPE-Saúde (Instituto de Previdência do Estado), convênio do qual tem direito por ser servidor público. Já outra docente refere ter optado pela redução da carga horária como medida de cuidado com

sua saúde mental, afirmando que as 40 horas semanais de trabalho que realizava, aliadas à sobrecarga e estresse, estavam levando-a ao adoecimento físico e psíquico.

Ademais, a maior parte dos docentes participantes da pesquisa atuam em diferentes escolas e alguns em municípios distintos, o que resultou na visão de diversas realidades em relação ao trabalho docente. Há docentes que atuam na área urbana e/ou rural, sendo que três atuam na educação infantil (um destes também leciona para os anos iniciais), quatro dedicam-se aos anos iniciais do ensino fundamental, dois aos anos finais e três ministram aulas ao ensino médio (nestes estão inclusos os referidos docentes que atuam nos anos finais do ensino fundamental).