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Para a realização teórico-prática do estudo a que nos propomos utilizamos a pesquisa qualitativa, tendo como base alguns preceitos descritos por Triviños (1987) acerca da sua elaboração em educação. O autor descreve que mais notadamente a partir da década de 1970 começou a haver maior interesse pelos aspectos qualitativos da educação em países da América Latina. Não que isso já não existisse, mas costumava restringir-se a compreensões espontâneas que ocorriam no decorrer da pesquisa, não havendo posicionamentos teóricos definidos. O que predominava era a pesquisa quantitativa, a qual acabava por assumir “uma dimensão positivista da explicação dos fenômenos sociais” (TRIVIÑOS, 1987, p. 116).

A partir dos avanços em relação à pesquisa, frente ao confronto de diferentes perspectivas, ampliou-se o modo de fazê-la, em que os pesquisadores buscaram ir além de dados apenas estatísticos, querendo compreender também aspectos qualitativos no problema formulado. Assim, não se restringiram a aplicar os mesmos princípios utilizados nas ciências

naturais para as ciências humanas. Consequentemente, passaram a coexistir dois enfoques de pesquisa qualitativa: um baseado na fenomenologia e outro no marxismo. É esse último que nos interessa, devido seu caráter crítico-participativo e com visão histórico-estrutural (TRIVIÑOS, 1987).

A pesquisa qualitativa caracteriza-se pela busca de compreensão, descrição e explicação de um dado fenômeno, sendo diversificada e flexível (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSNAJDER, 1999; SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009). Busca apreender uma realidade social e, em sua concepção crítico-participativa, almeja conhecer essa realidade para poder transformá-la em processos contextuais, dinâmicos e complexos. Sendo assim, ela vai além da vivência, já que também é refletida e consciente, sendo, portanto, uma experiência cuja finalidade é a prática social (TRIVIÑOS, 1987). Este tipo de pesquisa não se interessa por quantificar resultados, mas visa aprofundar o entendimento sobre uma organização ou um grupo social, como é o caso da categoria profissional docente, público-alvo dessa pesquisa (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009).

Desse modo, compreendemos que não é possível assumirmos uma postura neutra enquanto pesquisadores, visto que já iniciamos a pesquisa com alguns pressupostos e nortes conforme nosso ponto de vista, o qual também permeará a nossa relação com o campo de pesquisa, na coleta de dados, quando estivermos em contato com os sujeitos. Por mais que buscássemos uma suposta neutralidade, seria muito difícil alcançá-la plenamente, visto que nossas impressões e embasamentos teóricos apareceriam, de alguma forma, durante a trajetória e na análise e interpretação das informações (TRIVIÑOS, 1987; LOWY, 2002).

Por isso, afirmamos que não há como sermos neutros na pesquisa qualitativa, assim como partimos de uma perspectiva crítica emancipadora de que o conhecimento é construído com os sujeitos, ou seja, na relação estabelecida entre pesquisador e pesquisado. Isso significa que não objetivamos apenas retirar informações dos participantes nem entendemos sermos nós os únicos detentores do conhecimento, mas acreditamos que a pesquisa ocorre a partir de um processo dinâmico, em que tanto pesquisador quanto pesquisados constroem novos conhecimentos juntos, por meio de trocas de informações e de experiências (TRIVIÑOS, 1987).

Assim sendo, a presente pesquisa está contemplada por uma fundamentação teórica, elaborada por meio da busca de aparato teórico referente ao tema pesquisado, visto a necessidade de um conhecimento prévio daquilo que almejávamos analisar no campo de pesquisa. Esta revisão seguiu sendo feita durante a realização da mesma, tendo sido

importante para associar a teoria e a prática, permitindo a posterior elaboração da análise das informações.

O levantamento bibliográfico pode ocorrer por meio de revistas, livros, materiais eletrônicos, enfim, através de diferentes materiais científicos que proporcionem um entendimento acerca do tema em questão. Seu objetivo é encontrar o máximo de informações possíveis acerca das produções já existentes na área (CERVO; BERVIAN, 2002). Conforme Triviños (1987) esta revisão permite a contextualização para o problema, bem como serve para nos indicar o que já há na literatura, contribuindo para a construção do referencial teórico da pesquisa.

No que tange à pesquisa de campo, realizamos um grupo focal composto por quatro encontros e que contou com a participação efetiva de três docentes, todos servidores do sistema público de educação, sendo todos atuantes da rede estadual. A intenção de constituir um grupo com um número delimitado de participantes relaciona-se à possibilidade de participação de todos os integrantes durante os encontros, bem como do aprofundamento das questões. Além disso, sabemos da dificuldade que há em constituir grupos para pesquisa empírica com professores, devido à carga horária exaustiva dos mesmos e a dificuldade de conseguir reuni-los fora do horário de trabalho. O grupo focal caracteriza-se por ser uma ferramenta de pesquisa bastante maleável, podendo ser utilizado em diferentes contextos. Na pesquisa qualitativa, o grupo focal atua como instrumento de discussão em grupo, sendo necessária grande atenção, por parte do pesquisador, aos conteúdos que vão sendo apresentados e compartilhados pelo grupo (BARBOUR, 2009).

Cabe a ele também o papel de mediar o diálogo, quando necessário, cuidando para que haja interação entre os participantes e não apenas com o pesquisador, retornando ao foco inicial caso a temática se disperse demasiadamente (GATTI, 2005; BARBOUR, 2009). Isso significa que é necessária a livre comunicação entre o coletivo, sem que os objetivos de trabalho do grupo sejam desviados. Por isso a relevância de termos questões norteadoras sob as quais os participantes possam discorrer e que facilitem as trocas, mantendo o cuidado para não fechar as questões e para não induzir respostas (GATTI, 2005). A autora acrescenta que “há interesse não somente no que as pessoas pensam e expressam, mas também em como elas pensam e porque pensam o que pensam” (GATTI, 2005, p. 9).

O objetivo do grupo focal é introduzir e problematizar a temática de pesquisa ao grupo, em que os participantes tenham proximidade com a questão em foco, podendo contribuir através de sua experiência cotidiana (GATTI, 2005). É o caso dos professores que participaram da pesquisa, os quais apresentam experiências em comum, vivenciadas no

contexto de trabalho, assim como apresentam particularidades referentes às especificidades de cada escola e do modo como cada um lida com os desafios da profissão.

Gatti (2005) explica, a partir de Kitzinger (1994), que o grupo é considerado focal pelo fato de estar focalizado em determinadas temáticas e em algum tipo de atividade coletiva, que pode envolver o debate de questões particulares a partir de questões norteadoras ou por meio de algum filme ou texto específico. Assim, é possível captar conceitos, crenças, atitudes, emoções, experiências e reações por meio das trocas que vão sendo estabelecidas, permitindo a apreensão de diferentes pontos de vista e processos emocionais, assim como a compreensão de ideias partilhadas pelos integrantes do grupo (GATTI, 2005). Segundo a autora,

O trabalho com grupos focais permite compreender processos de construção da realidade por determinados grupos sociais, compreender práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos, comportamentos e atitudes, constituindo-se uma técnica importante para o conhecimento das representações, percepções, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questão por pessoas que partilham alguns traços em comum, relevantes para o estudo do problema visado (GATTI, 2005, p. 11).

Acreditamos que realizar encontros de grupo seja um meio de propiciar, de alguma forma, a união do coletivo, além de crermos que há grande potencial nos grupos, o que de fato se mostrou positivo. Nestes há a possibilidade de os participantes trocarem experiências, identificarem-se com situações de trabalho trazidas pelos colegas e tomarem consciência de sua condição enquanto categoria.

Além do grupo focal, também foram realizadas nove entrevistas individuais semiestruturadas, sendo duas destas com participantes do grupo focal a fim de aprofundar questões abordadas nos encontros9. As entrevistas permitem que o pesquisador formule perguntas que considere importantes, mas abre espaço para que o participante possa complementar a entrevista, trazendo elementos que julgue relevantes para a pesquisa (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSNAJDER, 1999). Segundo Vinuto (2014, p. 214), as entrevistas servem como “uma via de acesso privilegiado aos significados dados pelos atores às suas ações”, contribuindo demasiadamente para os resultados da pesquisa. Sendo assim, tanto o grupo focal como as entrevistas individuais tiveram, ambos, grande relevância para a obtenção das informações para a pesquisa.

9 Destacamos que o número total de participantes da pesquisa foi de dez docentes, visto que foram feitas nove entrevistas individuais mais o grupo focal com três professores. Contudo, dois participantes do grupo também realizaram as entrevistas individuais e, por isso, estão contabilizados entre as nove entrevistas. Assim, finalizamos a pesquisa com o total de dez participantes.