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Caracterização de personagem

GRUPOS SENTIMENTO Grupo 1 Allyssa, Laura e Pedro Tristeza

3.2.4 Caracterização de personagem

Para a quinta aula, tivemos como proposição adentrar mais sobre a maquiagem na caracterização do personagem, mostrando alguns elementos que são importantes em seu processo. Dessa forma, a aula dividiu-se em abordagem teórica e prática, levando em consideração os aspectos de criação do personagem. Tivemos os seguintes objetivos para direcionarmos as nossas práticas:

1. Perceber algumas características e elementos que interferem na caracterização visual do personagem;

2. Compor visualmente um personagem por meio da criação de desenho da maquiagem, através de desenho, pensando nas suas características;

3. Conectar os elementos da teoria com a prática na criação da maquiagem. Durante o primeiro momento, além da adição teórica, relembramos alguns conceitos mencionados nas aulas anteriores. Para o segundo momento, os discentes dividiram-se em grupos de três componentes para desenvolver a criação final do projeto. Na ocasião, os discentes teriam que criar uma maquiagem pensando nas características de um personagem.

Introduzimos a parte teórica a partir das ideias de Renata Pallottini (1986), no que se refere aos elementos que interferem na construção do personagem. O conjunto de elementos visuais é a primeira informação que o público pode ter sobre o personagem. Portanto, é o primeiro meio de identificá-lo, seja pelo seu corpo, sua aparência, seu figurino, sua maquiagem, seus adereços ou demais elementos presente na cena.

Vale lembrar que um dos primeiros elementos que pode ser considerado importante para compreender o personagem é o texto evidenciado pelo autor. Pallottini menciona que a caracterização é um conjunto de traços organizados que visam a pôr de pé um esquema de ser humano. O autor saberá o que interessa mostrar e, dependendo da época, estilo de apresentação, resultará em uma espécie de caracterização (PALLOTTINI, 1986, p.67).

O texto criado pelo autor traz um conjunto de informações sobre o personagem que devem ser interpretados para a caracterização do ator, que indica o ano e o estilo, como colocado na fala acima. Além desses apontamentos, também podemos mencionar outros elementos que são considerados de extrema importância para a construção do personagem, momento que, como nos lembra Pallottini (2986, p.74), caracteri a-se também pela máscara, traje, uniforme, penteado, chapéu, e demais elementos visuais, com seus signos, e sinais a serem decifrados .

Nesse sentido, de acordo com as características do personagem, podemos perceber alguns elementos que podem interferir na aparência do ator, de forma que a mudança na sua fisionomia venha a ajudar na caracterização visual do personagem. Levando em consideração as observações de Renata Pallottini que foram introduzidas por Mona Magalhães (2009), como também as ideias de Richard Corson (1975), no que se refere à caracterização do personagem, criamos um quadro de caracterização para mostrar aos discentes sobre esses elementos e as interferências que podem ser percebidas, além de algumas possibilidades de mudança para caracterizar melhor o personagem. Assim, temos o quadro abaixo:

ELEMENTO INTERFERÊNCIA - POSSÍVEL MUDANÇA

Genética Tipo de cabelo, tamanho do nariz, cor do cabelo, etnia, cor da pele, sexo.

Ambiente Cor da pele, textura da pele, condições climáticas, exposição ao sol, lugar em que o personagem vive, condições físicas de trabalho.

Saúde Sugestão física de doença, mudança na cor da pele, dos olhos e dos cabelos.

Estilo Estilo da peça (realista, de rua, ou outra estética), estilo de acordo com o ano em que se passa a história - tipo de barba e cabelo.

Personalidade Aparência do personagem - rígido, flexível, firme, decidido, alegre, sociável, triste.

Pontos de mudança Rosto - linhas retas ou curvas, para cima ou para baixo, proporções do rosto; sobrancelha - menos inclinadas, mais inclinadas, inclinadas na direção oposta, curvadas, encurtadas, aumentadas, clareadas, afinadas, engrossadas ou parecer desgrenhada;

olhos e boca.

Idade Idade aparente, atribuições físicas da juventude (pele macia, tonalidade do rosto, boca delicadamente curva, sobrancelhas suaves, cabelo, mas também pode depender dos elementos da genética, estilo, personalidade e saúde), meia idade e velhice (mudança na cor do cabelo, músculos flácidos, queda de cabelo, aumento na angulação dos lábios, bochechas e sobrancelhas; dependendo do ambiente e natureza do personagem).

Perceber as características do personagem é de extrema importância para o trabalho do maquiador, pois assim ele terá um entendimento total do personagem para sua criação. É necessário também que o maquiador esteja articulado com os demais elementos de criação cênica, como a iluminação, o cenário e o figurino, pois o desenvolvimento da maquiagem vai se relacionar com toda a concepção visual do espetáculo. Nesse sentido, o trabalho do maquiador depende primeiramente do autor, do encenador, do iluminador, do figurinista, do cenógrafo, como também do ator, aquele que dará vida à sua criação na cena. Destarte, podemos destacar a importância da coletividade no teatro para que a criação cênica aconteça. Com base no quadro, foi possível mostrar aos discentes alguns elementos que podem interferir na criação da maquiagem para a caracterização do personagem. Essa explicação inicial foi importante para que os discentes pudessem perceber esses elementos, para então aplicá-los na prática da maquiagem, relacionando aos conhecimentos construídos nas aulas anteriores.

Projeto de maquiagem

Os discentes foram divididos em grupos, onde cada um recebeu uma proposta de criação para a caracterização de um personagem. Assim, cada grupo deveria criar o projeto contendo a maquiagem do personagem pensando nas características gerais do quadro de caracterização.

Para a elaboração do projeto de maquiagem, além de levarem em consideração o quadro de caracterização, pensando nas características dos personagens, os discentes também utilizaram a planilha de maquiagem de Richard Corson (1975). Levando em consideração o tempo para a elaboração da prática, direcionamos as propostas de personagens, pensando em

modelos sociais que estivessem mais próximos de sua realidade. Dessa forma, os grupos foram divididos da seguinte forma:

GRUPOS PROPOSTAS

Grupo 1 Allyssa, Laura e Pedro Mendigo Triste Grupo 2 Jamily, Maria Joana e Nayara Velha mal-humorada Grupo 3 Carla, Gabriela e Maria Clara Mulher do campo feliz

Cada grupo deveria criar o esboço da maquiagem tendo como base os personagens sugeridos, onde um deveria ser maquiado pelos demais colegas. Assim, seguindo as ideias de Richard Corson (1975), os grupos elaboraram os esboços para a concepção da maquiagem, sendo primeiro o desenho do personagem, destacando os seus aspectos visuais, e, em seguida, o desenho da maquiagem, tendo como base a adaptação para o ator.

Pensando primeiramente no desenho do personagem, utilizamos uma versão adaptada da planilha de Corson para a criação do personagem dos grupos, como podemos ver em anexo. Assim, os discentes elaboraram os esboços com base nela, como mostram as imagens abaixo.

O primeiro grupo tinha como personagem um mendigo triste, o qual teve como destaque a pele escurecida e com aspecto de suja, cuja escolha o grupo justificou pelo elemento ambiente, tendo como causa a exposição ao sol. Os outros destaques do rosto foram as linhas de expressões acentuadas na testa e laterais da boca, assim como os lábios acentuados para baixo.

Figura 25 - Planilha de maquiagem grupo 1

Para o segundo grupo foi sugerido como personagem uma velha mal-humorada, para a qual os discentes destacaram as linhas de expressões do rosto, como também os traços dos lábios para baixo e as sobrancelhas levemente retas.

Figura 26 - Planilha de maquiagem grupo 2

O terceiro grupo teve como proposta uma mulher do campo feliz e, para a caracterização e concepção da maquiagem, destacaram a pele mais escura, além de realçar as maçãs do rosto para evidenciar a aparência da personagem. Além do mais, para o desenho, deram ênfase aos traços da boca para cima, para dar a ideia de feliz.

Figura 27 - Planilha de maquiagem grupo 3

Após os discentes elaborarem o esboço do desenho do personagem, seguimos para a adaptação, levando em consideração o rosto do ator/atriz. Assim, utilizamos uma fotografia do rosto do ator/atriz para criar a maquiagem, que deveria ser desenhada em uma folha de papel vegetal sobre a fotografia, tendo como base o personagem criado. Dessa forma, conseguimos adaptar a maquiagem do personagem ao rosto do ator, como mostram as imagens abaixo.

Figura 28 - Desenho na fotografia - personagem 1

Figura 30 - Desenho na fotografia - personagem 3

Desse modo, cada grupo desenvolveu sua criação da maquiagem de forma que pudessem integrar todos os conteúdos discutidos nos encontros anteriores. Cada criação teve como base as características do personagem para elaborar de que forma seria a sua aparência, tal qual o que deveria destacar-se. Assim, foi-se pensado nos pontos que deveriam modificar (como o cabelo, a sobrancelha, os olhos, os lábios, as linhas do rosto...) para darem a ênfase desejada em cada personagem.

Criação da maquiagem

Para o nosso último encontro, tivemos como proposição a elaboração prática da maquiagem, onde os grupos deveriam aplicar a maquiagem para a criação visual do personagem. Nesse momento, tivemos como direcionamento a aula prática de maquiagem, com base nos seguintes objetivos:

1. Desenvolver e aplicar a maquiagem pensando no personagem criado; 2. Perceber de forma prática como pode ser feita uma maquiagem para a

Dessa forma, os grupos reuniram-se para elaborarem a aplicação prática da maquiagem. Nesse dia, foi pedido que os discentes levassem os materiais de maquiagem que tivessem em casa para que realizássemos a prática. Tivemos como espaço de trabalho uma sala de aula que estava livre para esse dia, o que foi de extrema importância para o desenvolvimento do trabalho final.

Uma das maiores dificuldades que todos os grupos apresentaram foi em saber quais materiais deveriam utilizar para destacar o efeito que gostariam na maquiagem, mas, ao longo do processo, receberam direcionamentos, resultando nos trabalhos a seguir. Mesmo com a limitação de material, podemos analisar que os grupos conseguiram destacar os pontos que mencionaram no esboço da maquiagem. Por outro lado, percebe-se que a falta de alguns materiais, como o cabelo para a barba do mendigo por exemplo, impossibilitou que as maquiagens tivessem um acabamento mais elaborado.

Figura 32 - Maquiagem personagem velha

Após os grupos finalizarem as suas criações, analisamos as dificuldades levantadas por eles no desenvolvimento da prática de maquiagem. Percebemos que, além da limitação do material, o grupo 2, por exemplo, mencionou da dificuldade em criar uma maquiagem envelhecida para o rosto da atriz. Por outro lado, o grupo 1 destacou que foi de extrema importância a criação da prática do desenho antes de aplicar a maquiagem, pois assim o grupo conseguiu visualizar melhor o que seria trabalhado.

Vale mencionar também que, ao questionar sobre o que os discentes compreenderam e a relação da aparência com o processo de caracterização do personagem, a estudante Allyssa apontou que para ela foi interessante perceber como a nossa aparência pode influenciar no meio social, assim como a aparência do ator é importante para o espetáculo no teatro. Laura complementou ao lembrar que a maquiagem é um elemento muito importante e foi interessante perceber como é o seu processo para a criação do personagem, percebendo suas características. Assim, mesmo com as dificuldades apresentadas, percebemos que o resultado foi bastante satisfatório, durante o qual pudemos compartilhar ideias, conceitos e, por fim, proporcionar aos discentes outras possibilidades do universo artístico através do ensino de maquiagem.

Destaco também que a metodologia de grupos para o desenvolvimento das aulas práticas de maquiagem foi de extrema importância, pois sabemos que cada aluno tem suas habilidades, desafios e dificuldades. Alguns discentes tiveram mais facilidades em desenvolver as práticas da maquiagem, já outros tiveram muitas dificuldades. Contudo, ao longo das aulas, todos se ajudaram. Além disso, estive ao lado guiando-os da melhor forma possível dentro das nossas limitações.

O aprendizado construído, o senso de coletividade e a sensibilidade para conhecimentos da aparência e a sua relação no meio social como também na criação cênica foram de grande importância. Tenho a certeza de que as experiências partilhadas farão grande diferença na vida de cada um que participou desse momento. Não apenas deles.

Considerações finais

Ensinar talvez seja uma das tarefas mais difíceis a se cumprir pois mergulhamos em um mundo desconhecido, o qual seguimos em meio a erros e acertos, a falhas e conquistas. Essa experiência com o ensino da maquiagem foi, para mim, um momento desafiador no que se refere ao processo de construção de conhecimento, em que pude refletir sobre a minha prática docente ao ter como princípio o diálogo em sala de aula, pensando na autonomia e nas relações estabelecidas com o universo dos discentes.

Refletir sobre o ensino de maquiagem no contexto da educação básica é de extrema importância para o ensino de artes no Brasil. Não se pode deixar de considerar a dificuldade em se ter estudos dessa natureza ou que estejam relacionados ao ensino de tecnologia cênica com foco em discentes da rede municipal de ensino. Nesse sentido, o texto dissertativo se justifica pela relevância no âmbito das discussões acerca dos elementos visuais da cena, trazendo apontamentos significativos e entrelaçando o processo de criação da maquiagem ao processo educacional.

O percurso que me propus seguir partiu da metodologia de pesquisa-ação, na qual me coloco também como participante para as abordagens em sala de aula sobre o ensino de maquiagem artística. Tal apontamento metodológico se desenvolveu em concordância com os momentos pedagógicos, a qual nos permitiu refletir sobre a problemática a ser desenvolvida com os discentes para o desenvolvimento das práticas pedagógicas. Sendo assim, as reflexões abordadas ao longo do texto sobre a aparência no contexto das relações sociais nos levaram a provocar os discentes sobre os modelos sociais, a beleza, as percepções de si, assim como a maquiagem no âmbito da criação cênica.

Vale lembrar que desenvolver uma proposta do ensino da maquiagem artística para alunos do nível fundamental não foi uma tarefa fácil, pois, além dos desafios para encontrar referências sobre o próprio objeto de pesquisa, tivemos de lidar com as dificuldades do ambiente escolar. Materiais didáticos e de apoio para o ensino e aprendizagem sobre maquiagem é bastante escasso, já que a maioria das pesquisas versa sobre informações técnicas, tendo como foco o trabalho do ator. Podemos destacar também as limitações do espaço físico escolar, que dificultou a realização dos momentos em sala de aula, como também dos próprios recursos materiais e equipamentos de maquiagem, necessários para as abordagens práticas.

Nessa perspectiva, o desenvolvimento das práticas no ambiente escolar vem não só a contribuir com as pesquisas relacionadas aos conhecimentos de tecnologia cênica no âmbito dos elementos visuais e sonoros da cena, como também ampliar as possibilidades de repertório de que professores dispõem para o ensino de artes. Além disso, nota-se que o entendimento por parte da maioria dos discentes com relação ao fazer artístico está relacionado ao desenho e à pintura, e, nesse sentido o ensino de maquiagem vem expandir essas percepções, reconhecendo também o teatro como uma possibilidade.

Assim, observando as problemáticas e as possíveis aberturas que a pesquisa propõe, o presente texto dissertativo buscou desenvolver uma proposta metodológica para o ensino de maquiagem, tendo como princípio uma pedagogia autônoma, estruturando-se em uma perspectiva dialógica. Tivemos como direcionamento uma organização de ensino e conteúdo específico sistematizada por meio de uma abordagem problematizadora, visando à reflexão crítica dos discentes. Traçamos como objetivo geral problematizar aspectos do ensino de teatro a partir do conhecimento da maquiagem artística, abordando-o em sala de aula como experiência artística e pedagógica. Dessa forma, entendemos que as reflexões provocadas com a metodologia aqui proposta é apenas uma das muitas possibilidades existentes, mas, por outro lado, sabemos que contribuirá para novos estudos e avanços para as questões didáticas sobre ensino/aprendizagem na área de conhecimento.

Nosso ponto de partida para a proposta de ensino foi refletir sobre a aparência e o conjunto de signos que ela pode trazer em nosso meio social e para a cena teatral. Discutir sobre questões da aparência foi de extrema importância para a problematização dos conteúdos ao longo das aulas, possibilitando essa relação e o papel que a maquiagem desempenha dentro dos contextos social e cênico. Mesmo assim, observamos que essas problematizações poderiam ter sido mais aprofundadas ao abordar os conteúdos da maquiagem durante as aulas, por meio das conexões com o que foi mencionado pelos discentes. Por outro lado, observamos que tivemos poucos encontros para a realização das práticas em sala de aula e isso impediu que abordássemos outras questões nos momentos da problematização do conhecimento.

Ainda percebemos que os discentes estão habituados a permanecerem em sala de aula de forma passiva, o que dificultou a construção dialógica do ensino. Aos poucos, percebeu-se que os discentes foram acostumando-se a falar e refletir sobre o que estava sendo proposto para as aulas, mas ao mesmo tempo observou-se que deve haver um equilíbrio, onde

o educador deve estar atento para que os momentos de diálogo não fujam dos temas propostos. Notamos que esses deslizes, por vezes, aconteceram, predominando-se a fala do educador, que, em alguns momentos, fez-se necessária para um direcionamento dos conhecimentos propostos.

Diante dos fatos mencionados, acredita-se que os objetivos da presente pesquisa foram atingidos, na medida em que a prática pedagógica do ensino de maquiagem desenvolveu-se, levando em consideração as problematizações sistematizadas por meio das questões relacionadas à aparência. Assim, proporcionamos aos discentes não somente uma reflexão sobre a arte, mas principalmente sobre conhecimentos que dialogam com a realidade dos envolvidos, observando a aparência no meio social. Nessa perspectiva, também vale lembrar das experiências que foram proporcionadas aos discentes sobre a maquiagem artística, vivenciando as práticas e percebendo o seu fazer e a sua importância para a criação cênica.

Desse modo, acreditamos que este estudo traz grandes contribuições para as pesquisas sobre os elementos visuais e sonoros da cena, tendo como princípio de discussão a sua abordagem pedagógica na educação básica. Nesse sentido, espera-se que sua leitura crítica inspire outras pesquisas da área em questão, assim como sirva de apoio aos professores da rede municipal de ensino e estudantes da graduação. Acredita-se também que as reflexões aqui traçadas são de extrema importância para o ensino de teatro, contribuindo para ampliar as possibilidades de ensino com discentes do ensino fundamental, abordando outros conhecimentos para além do jogo teatral. Assim, outros estudos e questionamentos podem vir a complementar as observações que aqui foram traçadas, enriquecendo ainda mais as investigações sobre os elementos de tecnologia cênica, como também suas experiências no contexto educacional.

ANEXO

1