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Para Chizzotti (2001, 79), a pesquisa qualitativa faz-se necessária nas ciências humanas e sociais, haja vista que os pressupostos das ciências naturais não se encontram adequados a sua especificidade – “o estudo do comportamento humano e social”. O autor afirma ainda que o uso de modelos experimentais nas ciências humanas leva pesquisadores a fazer generalizações errôneas. Nessa perspectiva, ele ressalta:

Em oposição ao método experimental, esses cientistas optam pelo método clinico (a descrição do homem em um dado momento, em uma dada cultura) e pelo método histórico-antropológico, que captam os aspectos específicos dos dados e acontecimentos no contexto em que acontecem. (CHIZZOTTI, 2001, p. 79).

A pesquisa qualitativa, conforme Chizzotti (2001), diferencia-se dos estudos experimentais, quando considera que a subjetividade do sujeito é indissociável do mundo objetivo. O pesquisador não é neutro, ele interpreta os dados conforme sua bagagem. Nesse sentido, o autor assevera:

A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência vive entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo do conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um

significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações. (CHIZZOTTI, 2001, p. 79).

A partir do exposto, podemos inferir que, quanto à natureza dos dados, a nossa investigação se enquadra nos princípios da pesquisa qualitativa. Lüdke e André (1986) arrola algumas características nas quais nossa pesquisa se enquadra:

1. A pesquisa qualitativa tem ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento.

2. Os dados coletados são predominantemente descritivos.

3. A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto.

4. O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de

atenção especial pelo pesquisador.

5. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.11-12).

A investigação é desenvolvida dentro do ambiente natural, a escola, que representa uma fonte direta de obtenção de dados. Os dados são descritos densamente, de forma que o leitor possa se imaginar no local ou na situação. Este estudo explora a concepção dos sujeitos da pesquisa: as crianças, o professor, o orientador pedagógico e o diretor da escola sobre o espaço escolar, considerando tanto a expressão verbal, quanto à artística (desenhos).

Ao sintetizar as características de uma pesquisa com abordagem qualitativa, Lüdke e André (1986), baseando se em Bogdan e Biklen (1982), pontua que a pesquisa qualitativa ou naturalística “[...] envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.13).

Chizzotti (2003, p. 221) confirma essa perspectiva:

O termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível e, após este tirocínio, o autor interpreta e traduz em um texto, zelosamente escrito, com perspicácia e competência cientificas, os significados patentes ou ocultos do seu objeto de pesquisa.

O procedimento adotado na pesquisa discutida é o estudo de caso, pois investiga um caso particular, na intenção de descobrir novos conhecimentos sobre o tema espaço, baseando-se na lógica indutiva. De acordo com Lüdke (1983, p. 15), o estudo de caso é indicado para pesquisas qualitativas educacionais, pois “[...] procura retratar naturalmente a realidade do fenômeno educacional em sua inteireza, sem depender muito de artifícios analíticos utilizados por outros métodos mais tradicionais da investigação científica.”

Conforme André (2008), na abordagem qualitativa, a unidade escolhida para ser estudada pode ser representativa de outros casos ou completamente distinta: o importante é que a escolha seja bem delimitada, justificada e descrita. Essa autora salienta que, se o pesquisador “[...] quiser entender um caso particular levando em conta seu contexto e complexidade, então o estudo de caso se faz ideal” (ANDRÉ, 2008, p. 29). Os sujeitos e o ambiente em que se consolida a investigação são delimitados.

André (2008, p.33) acrescenta: “Uma das vantagens do estudo de caso é a possibilidade de fornecer uma visão profunda e ao mesmo tempo ampla e integrada de uma unidade social complexa, composta de múltiplas variáveis.”

Para Chizzotti (2001, p. 102),

[o] caso é tomado como unidade significativa do todo e, por isso, suficiente tanto para fundamentar um julgamento fidedigno quanto propor uma intervenção. É considerado também como um marco de referência de complexas condições socioculturais que envolvem uma situação e tanto retrata uma realidade quanto revela a multiplicidade de aspectos globais, presentes em uma dada situação.

Esse autor aponta três fases necessárias para o desenvolvimento do estudo de caso: a seleção e a delimitação do caso, que consistem em selecionar o caso que merece ser investigado e delimitar os aspectos do trabalho; o trabalho de campo, que corresponde a recolher informações e documentá-las; e, por fim, a organização e a redação do relatório, que significa enfatizar a relevância do problema, descrever o contexto e propor possibilidades de alterá-lo.

Para cumprir essas fases, selecionamos uma turma de pré-escola, situada em uma instituição que atende exclusivamente a crianças de Educação Infantil, a fim de compreender suas concepções e expectativas sobre o espaço escolar e de sua respectiva professora, orientadora pedagógica e diretora. Realizamos a pesquisa de campo, na escola, por um período de dois meses, e preparamos o relatório científico.

O estudo de caso se utiliza de diversas fontes de informação para fazer a triangulação de dados, checando o problema central diversas vezes, na tentativa de comprovar ou invalidar os dados. Tanto a pesquisa qualitativa quanto o procedimento escolhido, estudo de caso, permitem a implementação de técnicas multidisciplinares.

Assim, este estudo de caso busca compreender como as crianças, seu respectivo professor, orientador pedagógico e diretor concebem o espaço escolar, quais os lugares preferidos pelas crianças e, se pudessem, quais alterações fariam nesse espaço. Para isso, adotamos como fonte de informação a pesquisa de campo. De acordo com Severino (2007,

p.123), “[...] o objeto/fonte é abordado em seu meio ambiente próprio. A coleta de dados é feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo assim são diretamente observados, sem intervenção e manuseio por parte do pesquisador.”

Vale salientar que o poema dos desejos realizado com as crianças e a seleção visual feita com todos os sujeitos da pesquisa foram primeiramente quantificados e depois analisados qualitativamente. Nessa perspectiva, Chizzotti (2001, p. 84) assevera: “Algumas pesquisas não descartam a coleta de dados quantitativos, principalmente na etapa exploratória de campo ou nas etapas em que estes dados podem mostrar uma relação mais extensa entre fenômenos particulares.”

Quanto aos objetivos, a pesquisa apresentada se denomina descritiva ou explicativa, pois, além do registro e análise, identifica as causas dos fenômenos estudados. No próximo item, abordamos a instituição e os sujeitos envolvidos na investigação.