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4.2 As concepções e expectativas das crianças sobre o espaço da escola

4.2.2 O lugar preferido da escola

No intuito de identificar os lugares prediletos das crianças, solicitamos que desenhassem, completando a sentença “O lugar de que eu mais gosto na escola é…” As crianças desenharam o parque, a quadra, a sala de aula, a sala de televisão e a área externa. Foram excluídos, dos espaços preferidos, aqueles que atendem às suas necessidades fisiológicas, como banheiros e refeitório. Desse modo, os espaços preferidos, conforme a ordem dos mais desenhados, foram: o parque (38,88%), a quadra (33,33%), a sala de aula (16,66%), a sala de televisão (11,11%) e a área externa (5,55%)34, conforme indica a Figura

113, a seguir:

Figura 113 – O lugar de que eu mais gosto na escola

Fonte: Trabalho de Campo (2015). Org.: Ariadne de Sousa Evangelista (2015).

Percebemos que existem espaços que constam na rotina das crianças, os quais não foram mencionados por elas, como a cama elástica e a brinquedoteca. É como se não existissem, porque são praticamente inutilizados, ficando, dessa maneira, "desconhecidos" pelas crianças.

Três outros espaços foram indicados, não como preferidos, mas como elementos notáveis no percurso até o lugar predileto: os banheiros, a sala do sono e a sala da diretora (área administrativa). Cada espaço foi citado e materializado em desenhos diferentes, de forma que cada um representa apenas 5,55% do total.

Assim, como demonstrou a pesquisa de Agostinho (2004), as crianças preferem os espaços onde elas possam brincar e usufruir da liberdade monitorada, ou seja, o parque e a quadra permitem que as crianças brinquem livremente. A professora interfere apenas quando solicitada.

Cassimiro (2012) também constatou que, mesmo em escolas adaptadas, as crianças destacam os espaços de brincar e os que ensejam o contato com a natureza como lugares de que mais gostam, e frisam como espaços de que menos gostam os locais que não se constituem como espaços infantis ou espaço onde é proibido brincar.

O volume 3 dos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1998) reflete sobre a importância do brincar para o desenvolvimento físico, social e cultural ao afirmar: “Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas” (BRASIL, 1998, p.15).

Existem dois elementos que comparecem em grande quantidade, nos desenhos, por isso merecem destaque: as figuras humanas e os elementos da natureza. Em doze desenhos (66,66%), aparecem pessoas e, em onze desenhos (61,11%), estão presentes elementos da natureza.

Dentre as pessoas, podemos observar cinco categorias: eu, amigos, educadora, familiares e indeterminados. Nomeamos “indeterminadas” as caracterizações generalizantes (crianças, meninos, meninas, jogadores) e aquelas nas quais a criança não definiu as pessoas presentes no desenho.35 A tabela abaixo apresenta o número de ilustrações em que as subcategorias foram desenhadas e suas respectivas porcentagens.

Tabela 5 – Pessoas do meu lugar preferido da escola

PESSOAS 12 66,66% Eu 7 38,88% Amigos 5 27,77% Indeterminados 4 22,22% Familiares 2 11,11% Educadora 1 5,55%

Fonte: Trabalho de Campo (2015). Org.: Ariadne de Sousa Evangelista (2015).

O fato de a criança desenhar preferencialmente ela mesma demonstra a importância do trabalho com a formação do “eu”, da identidade pessoal. Após essa categoria, os amigos

são os mais registrados. Dessa maneira, as crianças apontam que valorizam os parceiros, nos jogos e brincadeiras e nos aprendizados, ainda que isso não seja consciente. Na concepção de Carvalho e Rubiano (2000),

[...] a criança participa ativamente em seu desenvolvimento através de suas relações com o ambiente, especialmente pelas suas interações com os adultos e demais crianças (coetâneas ou mais velhas), dentro de um contexto sócio- histórico especifico. Ela explora, descobre e inicia ações em seu ambiente, seleciona parceiros, objetos, equipamentos e áreas para a realização de atividades, mudando o ambiente por intermédio de seus comportamentos. (CARVALHO; RUBIANO, 2000, p. 127).

Na sala de televisão, aparece uma figura feminina adulta, não nomeada, mas se sabe que a educadora é quem utiliza esse espaço com as crianças. Os familiares (pai, mãe e irmãos) também comparecem em dois desenhos (11,11%).

A educadora é desenhada por um menino, o Ben 10 (nome fictício), o mesmo que ilustrou a professora, no desenho anterior. Para essa criança, de modo individual, o adulto responsável pela turma se mostra como uma figura de referência, aparecendo em três de seus quatro desenhos.

Figura 114 – A educadora Figura 115 – Meus familiares

Fonte: Ben 10 (2015) Fonte: Homem de Ferro (2015)

Em relação aos elementos da natureza, em onze desenhos (61,11%), aparecem, no mínimo, um elemento da natureza. Nesses desenhos, tanto os meninos como as meninas destacam esse aspecto, proporcionalmente.36 A tabela abaixo apresenta o número de

ilustrações em que as subcategorias foram desenhadas e suas respectivas porcentagens.

Tabela 6 – Natureza presente no lugar que mais gosto da escola ELEMENTOS DA NATUREZA 11 61,11% Areia/terra 5 27,77% Flor 3 16,66% Nuvem 2 11,11% Chuva 1 5,55% Árvore 1 5,55% Grama 1 5,55% Sol 1 5,55% Céu 1 5,55%

Fonte: Trabalho de Campo (2015). Org.: Ariadne de Sousa Evangelista (2015).

É relevante frisar que, em alguns desenhos da quadra, mesmo ela sendo coberta, as crianças desenharam o céu. Essa mesma situação aconteceu com a sala de televisão, quando as crianças ilustraram flores, no seu exterior, embora haja apenas árvores no caminho até o segundo prédio. Nos desenhos da sala de aula, não aparecem nenhum elemento da natureza. Ao longo da observação, pudemos perceber que não há na sala nenhum elemento da natureza ou algo artificial que a imite, apenas nos cartazes das estações do ano há uma representação.

Com o destaque dos elementos da natureza, as crianças demonstram não só o desejo, mas a necessidade de contato com a natureza. Acreditamos que é do contato que nasce o respeito e o reconhecimento de que somos parte integrante da natureza. Dessa maneira, ao garantir esse direito infantil, os professores trabalham as questões ambientais e colaboram na formação de um modo de vida sustentável.

Baseadas na Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL, 2009), Oliveira et al. (2012) apontam que os projetos político-pedagógicos e os planos de ensino devem “[...] garantir momentos para as crianças brincarem em pátios, praças, bosques, jardins, praias e viverem experiências de semear, plantar e colher os frutos da terra, permitindo-lhes construir uma relação de identidade, reverência e respeito para com a natureza [...]” (OLIVEIRA et al., 2012, p. 77).

Neste tópico, buscamos compreender quais os lugares preferidos pelas crianças e constatamos que valorizam espaços que mais frequentam, que são familiares e que proporcionam maior liberdade, autonomia e diversão. Nessa medida, Elali e Medeiros (2011) salientam que

[...] Giuliani, Ferrara e Barabotti (2000) comentam que o apego ao lugar se desenvolve gradualmente e exige algum tempo para consolidar-se, tendo como principais influências: contínua avaliação da qualidade ambiental frente as necessidades do indivíduo em questão; significado do lugar para a sua identidade; tempo de residência e familiaridade com o local. Salientando

que tais processos não são mutuamente exclusivos, ao contrário, complementam-se e interagem de modo a transformar locais indiferenciados em lugares singulares, os autores inferem a possibilidade de, em função de suas condições de mobilidade, as pessoas desenvolvem muitas (e diferenciadas) relações de apego em relação aos lugares com os quais têm contato. (ELALI; MEDEIROS, 2011, p. 56-57).

O próximo tópico traz as representações das crianças a propósito da sala de aula, haja vista que é a sala de uso individual e de referência do grupo, além de ser onde as crianças passam a maior parte do tempo, na instituição.