• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II – Constituição da amostra

II. 4 Caraterização dos sujeitos da amostra

Situada a amostra no concelho de Valongo, em três dos seus agrupamentos, relembramos os critérios de elegibilidade selecionados para a sua validade:

· Lecionar em escolas do 2.º e 3.º ciclos do concelho de Valongo.

· Ser professor do ensino regular a lecionar disciplinas curriculares comuns a alunos com a medida educativa CEI.

· Ou ser professor do ensino regular a lecionar disciplinas curriculares específicas a alunos com a medida educativa CEI.

Com base nos critérios de elegibilidade apresentados, definimos a seguinte constelação de informantes, sendo que a sua denominação descritiva é apresentada na legenda do esquema 2.

Esquema 2 - Constelação dos informantes

Legenda: A, B e C escolas da amostra; A1,B1,C1 diretores de turma; A2,B2,C2 professores do ensino regular a lecionar a disciplina curricular; A3, B3, C3 professores do ensino regular a lecionar a disciplina específica

Com base no referido, caraterizamos cada um dos informantes relativamente a dados de identificação pessoal, situação profissional e recolha de elementos de envolvência de emoções e valores, que consideramos que faça sentido e dê visibilidade à sua atividade diária com os CEI.

· Entrevistado A1 – Do género feminino, tem quarenta e dois anos de idade e pertence ao quadro de agrupamento da escola A desde há quatro anos. Como formação académica possui uma licenciatura em humanidades, com habilitação profissionalizada para lecionar as disciplinas de português e latim e tem como tempo de serviço total dezassete anos. A sua atividade letiva nesta escola relaciona-se com a disciplina de português do grupo disciplinar 300, que ministra ao 2.º e 3.º ciclos.

Neste sentido, surge como a entrevistada referente ao papel de diretora de turma, em que a disciplina de contacto direto com os CEI é a área da cidadania, com a unidade curricular de cinquenta minutos, uma vez que estes alunos não frequentam a disciplina de português, em turma. Acompanha esta turma desde o ano letivo anterior como professora de português e diretora de turma, pelo que o contacto com os CEI surge desde esse tempo. A escolha desta função foi por nomeação dos órgãos de gestão sem consulta prévia de concordância. No entanto, ressalva que a sua postura perante estes alunos foi desde sempre de aceitação, curiosidade e alguma ansiedade inicial, que posteriormente foi-se dissipando. Talvez porque o tempo letivo partilhado é muito reduzido e também pelo facto de os dois alunos com CEI que frequentam a turma, apresentarem limitações cognitivas e de autonomia, mas não comportamentais, o que facilita a sua interação com os colegas, que demonstram para com eles bastante afetividade. No papel que exerce, revela preocupação para dar cumprimento às suas obrigações perante os alunos com CEI, mas ressalva a exigência desta atuação e a dualidade que esta obriga no tratamento, também, dos outros alunos da turma, que requerem muita atenção e disponibilidade. A atividade diária com estes alunos é condicionada pela ansiedade que mantém, principalmente pela dificuldade de comunicação e pelo receio de não conseguir corresponder às suas necessidades e, como tal, permitir-lhe um melhor desenvolvimento de competências. Reconhece, no entanto, que aprendeu a gostar de trabalhar com estes alunos e que de uma forma geral, a sua atividade de docente tornou-se numa experiência enriquecedora.

· Entrevistado A2 – Quarenta e cinco anos de idade, do género feminino e

pertence ao quadro de Agrupamento da escola, onde leciona há onze anos e tem como tempo total de serviço vinte e dois anos. Como formação académica de base possui a licenciatura em educação física e pertence ao grupo 260 da mesma área disciplinar que leciona, em turma e no 2.º ciclo. De outras formações complementares releva-se o mestrado em Ciências do Desporto, pós-graduação em Administração Escolar e pós-graduação Supervisão Pedagógica e Formação de Professores. A sua atividade de docente com alunos com CEI divide-se em quatro anos em escolas anteriores e outros quatro na presente escola, onde leciona a disciplina de

tecnologias de informação e comunicação (TIC), num período bissemanal de cinquenta minutos cada unidade. A escolha da referida disciplina específica foi da iniciativa da equipa de educação especial, com a anuência da docente, que por opção considera que adora trabalhar com os alunos com CEI, exatamente na mesma proporção que com os outros alunos. Nesta contextualização, apesar de lecionar a sua disciplina de habilitação académica, leciona a disciplina específica a estes alunos e não pertence ao seu conselho de turma. A fragilidade que menciona no trabalho com estes alunos passa pela dúvida de encontrar a melhor estratégia ou a melhor forma de chegar até eles, ressalvando que toda a atividade é sempre pensada no interesse dos alunos e no seu desenvolvimento.

· Entrevistado A3 – É um elemento do género feminino com quarenta e quatro anos de idade, pertencente ao quadro de agrupamento da escola A e tem como formação académica a licenciatura em ensino básico com variante de educação visual e tecnológica. Exerce para tal, funções de professora de educação visual no 2.º ciclo, do grupo disciplinar 240, e tem vinte anos de tempo total de serviço letivo. Leciona na presente escola desde há cinco anos com currículos regulares e CEI, sendo que com os últimos, também já tinha exercido estas funções durante um ano letivo, em outro agrupamento. Assim, leciona extra turma, aos CEI a disciplina de “manualidades”. A escolha desta nomenclatura foi selecionada pelas docentes de educação especial conjuntamente com a docente, por considerarem ser mais abrangente a nível das atividades a realizar e, também, de fácil captação auditiva e memória para a sua identificação pelo aluno. O seu trabalho com CEI surgiu inicialmente de uma proposta dos elementos de gestão da escola e posteriormente das docentes de educação especial, mas a concretização foi sempre com a sua concordância. O trabalho que efetua com os CEI é, na sua opinião, um desafio e uma experiência enriquecedora. Reforça, contudo, que no início deste desafio, ainda num período de adaptação, foi-lhe um pouco difícil fazer a gestão da atividade relativamente às caraterísticas dos alunos, mas atualmente gosta muito do que faz e sente-se realizada.

· Entrevistado B1 – Tem quarenta e oito anos de idade, é do género

masculino e pertencente ao quadro de agrupamento. Na sua formação base consta a licenciatura em ciências físico-químicas e uma pós graduação, sem

especificação da temática. Exerce no grupo 510 pertencente à sua área disciplinar a nível do 3.º ciclo e ensino secundário, num total de serviço de aproximadamente vinte anos, oito dos quais na presente escola. A sua relação com os CEI a nível de atividade académica ocorre no presente ano como diretor de turma, sendo este um ano de experiências e de aquisição de novos conhecimentos. Considera, no entanto, não sentir nada em especial pelo facto de trabalhar com estes alunos. A disciplina que leciona com os CEI denomina-se área da cidadania, corresponde a quarenta e cinco minutos semanais, e como se trata de uma disciplina do currículo comum, o docente faz parte do conselho de turma. Manifesta alguma inquietação no contacto com estes alunos, considerando que a sua presença em sala de aula só se justifica por ser uma escolha da direção. Ao longo do discurso é percetível alguma frustração, essencialmente pela falta de comunicação, definição de estratégias, formação especializada e ainda a antecipação desta angústia, sabendo que este quadro se vai repetir num processo de continuidade e semanalmente. Apesar de ser um ano piloto relativamente ao trabalho com os alunos de CEI, o entrevistado mantém a esperança de não voltar a ter casos destes, só se a direção assim decidir, e propõe ainda, o seu acolhimento numa instituição local.

· Entrevistado B2 – É do género feminino, com cinquenta anos de idade e

pertencente ao quadro de agrupamento. Como tempo de serviço total tem, aproximadamente quinze anos e há dez que leciona na presente escola a nível de 3.º ciclo, a disciplina de TIC, do grupo disciplinar 550. O entrevistado tem como formação de base a licenciatura em Informática, sendo este o primeiro ano que leciona a alunos com CEI num período semanal de noventa minutos, em contexto turma e pertence ao seu conselho de turma. No processo de diálogo, o entrevistado manifestou agrado no trabalho com os CEI, colocando como entrave a ausência de feedback por parte dos mesmos, relativamente ao gosto pela disciplina. Constata-se ainda a procura de um envolvimento destes alunos na disciplina, com a preocupação de reunir ferramentas úteis à sua aplicabilidade, assim como à construção do seu plano curricular. Mostrando, no entanto, desconhecimento das várias fases deste processo, pelo que as suas afirmações basearam-se

não no que pode efetivamente estar a ser feito, mas no que pensa que provavelmente já existe e é aplicado.

· Entrevistado B3 – A sua idade situa-se nos quarenta e três anos, é do género feminino, encontra-se na situação de contratada e pertence ao grupo disciplinar 520. Possui a licenciatura em ciências naturais e como outra formação, um mestrado, sem identificar em que área. O tempo de serviço total corresponde a doze anos e leciona esta disciplina aos alunos do 3.º ciclo há um ano, na presente escola. O trabalho com os alunos com CEI divide-se entre um ano em escola anterior e outro ano na vigente, em que leciona a disciplina específica “mundo atual”, com cento e cinquenta minutos semanais. A escolha da referida disciplina partiu da equipa de educação especial, com a concordância da docente, e a sua indicação para a lecionar foi da direção do agrupamento. Por ser docente da disciplina curricular comum da turma que a aluna frequenta, pertence ao seu conselho de turma. Releva a gratificação por trabalhar com estes alunos, a determinação em considerá-los todos diferentes e o intento de os preparar para a vida ativa. · Entrevistado C1 – Tem quarenta e um anos de idade, é do género

masculino e como formação académica possui a licenciatura em história, disciplina que leciona, pertencente ao grupo 400 e enquadrado na situação profissional de contratado. O seu tempo total de serviço letivo é de dezoito anos, sendo que nove, trabalhou com os currículos CEI em outra escola, e na presente trabalha com estes currículos a nível do 3.º ciclo há um ano. Atendendo à sua área profissionalizante em história e ao facto de desempenhar o papel de diretor de turma, pertence ao conselho de turma dos referidos alunos e a disciplina comum que leciona é a área da cidadania, num período de quarenta e cinco minutos semanais. O contacto diário com estes alunos e a envolvência disciplinar que estabelece com eles, provoca no entrevistado o sentimento de frustração, acrescido ao excesso de trabalho que o cargo acarreta e a dificuldade em fazer esta gestão de forma a “trabalhar condignamente com estes meninos”.

· Entrevistado C2 – É do género masculino, tem sessenta e três anos de

idade e pertence ao quadro de agrupamento, ao grupo disciplinar 240. Possui licenciatura e pós graduação na área das artes e leciona as disciplinas curriculares de educação visual e educação tecnológica,

pertencendo, como tal, ao conselho de turma destes alunos. A sua atividade letiva total é de vinte e quatro anos, docente na presente escola há 10 anos e trabalha com os CEI há um ano. O seu contacto com os CEI estabelece-se não só através das disciplinas curriculares comuns que leciona num período de noventa minutos semanais para cada uma das disciplinas, mas também a específica, a que denominou de “expressões” e que abarca um período de quarente e cinco minutos semanais. Considera que exerce esta função por escolha da direção da escola, atendendo ao seu perfil e competência demonstrada e que efetivamente, o trabalho com estes alunos é para si um desafio. Menciona, ainda, que a sua orientação pedagógica é direcionada no sentido de “explorar o currículo” e que a forma como sente a escola está no valorizar o trabalho dos alunos e, acima de tudo, “gosta de ter liberdade de criar”.

· Entrevistado C3 – É do género feminino, tem quarenta e dois anos de idade, pertence ao quadro de Agrupamento do grupo disciplinar 550 e leciona nesta escola há um ano. A licenciatura que possui é na área de Informática, dirigida aos alunos do 3.º ciclo e o tempo total de serviço letivo corresponde a quinze anos. Leciona com os alunos com CEI há oito anos, em escolas anteriores, e há um, na atual, num período de quarenta e cinco minutos semanais, não sendo, contudo, um elemento do seu conselho de turma. A escolha da disciplina designada de introdução às novas tecnologias partiu da direção, assim como a sua nomeação como docente para a sua aplicabilidade. Revelou, ainda, encontrar-se muito satisfeita por trabalhar com estes alunos, considera “gratificante”, essencialmente quando depara nem que seja com uma pequena conquista por parte deles, ao que afirma “é fantástico, conseguir que eles se envolvam um bocadinho e eles também dão muito valor”.

Numa análise síntese, constatamos que os entrevistados maioritariamente pertencem ao quadro do agrupamento, embora com alguma troca de nomenclatura ao mencionarem quadro de escola, são também do género feminino e as suas idades oscilam entre quarenta e um e sessenta e três anos. No prosseguimento deste estudo, e após a caraterização dos entrevistados, pretendemos descrever os aspetos operacionais a recorrer para a obtenção e tratamento de dados, assim como as formas de os analisar.

Capítulo llI – Metodologia de investigação

empírica