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CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS E ANÁLISES

3.2 Seleção das Categorias de Análise

3.3.1 Cartas Familiares

Texto 1 – Aluna De.

Brasil, 28 de agosto de 2014. Querido D., hoje faz 6 meses que você partiu para ser voluntário na África, desde então não deixo de pensar em você, a saudade vem me consumindo dia após dia. Aqui continua tudo igual, a C. e a M. vivem perguntando quando você volta, até mesmo o R. tão pequeno já sente sua falta.

Ele falou papai pela primeira vez a semana passada, se você estivesse aqui ficaria muito orgulhoso.

Eu sempre explico para eles que você está longe por uma boa causa, é sempre muito bom ajudar o próximo.

A semana que vem a M. vai fazer 4 anos, vou fazer uma festa para ela, a festa da princesa que ela quer, ela está muito feliz, eles estão todos tão grandes.

O R. está cada dia mais parecido com você! Ele está tão sapeca, já as meninas como sempre quietinhas, a C. como já está moça, ainda me ajudando com os afazeres domésticos, ela vai ingressar na universidade daqui a dois meses. E por aí, meu amor, como estão as coisas? As crianças como estão? Eu espero que esteja tudo melhorando, não deve ser fácil para você ver essas pessoas doentes, com fome e com sede, mas se Deus quiser tudo vai melhorar, com sua ajuda e de outras pessoas de coração tão bom quanto o seu, essas crianças irão melhorar. Me conte mais sobre como é tudo por aí, tenho vontade de saber, fico imaginando como seria estar aí com vocês, cuidar dessas pessoas.

Meu amor vou ficando por aqui, espero notícias suas, estamos todos com muitas saudades de você e esperando ansiosamente seu retorno.

De sua eterna apaixonada,

De.

1.a) Introdução dos referentes - ativação não-ancorada

No parágrafo 1, a aluna introduz o primeiro referente por meio de uma ativação não-ancorada: “Querido D.”. O vocativo introduz o destinatário da carta e os próximos referentes serão ancorados nele.

Em 2, a autora introduz outros referentes não ancorados no co-texto, mas que faz parte do conhecimento partilhado dos interlocutores: “Aqui continua tudo igual, a C. e a M. vivem perguntando...”. Os referentes novos, “C. e M.” permitem

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inferir que são familiares, mas ao leitor não é possível ainda definir quem são exatamente.

1.b) Introdução dos referentes - ativação ancorada

Embora seja um elemento novo, o referente “você partiu para ser voluntário

na África” está diretamente ancorado na data: “Brasil, 28 de agosto de 2014.” Além

disso, faz parte também do contexto sociocognitivo dos interlocutores que, se

alguém inicia uma carta datando-a com o nome do país, o destino dessa carta é algum outro país.

A partida de D. para a África é o elemento novo em torno do qual se desenvolve todo o texto, conforme demonstram os referentes a seguir na forma de ativação ancorada:

“a C. e a M. vivem perguntando quando você volta”

“Eu sempre explico para eles que você está longe por uma boa causa”

Em “Eu sempre explico para eles”, temos que eles encapsula “C., M. e R.”, que, a essa altura, já se sabe que são os filhos do casal.

2.b) Recategorização dos referentes - desfocalização/desativação

Nos parágrafos 5 e 6, mantendo a progressão textual e respeitando a proposta inicial da sequência didática (a carta deveria contar uma novidade, ou um segredo, ou dar uma notícia), a aluna desativa o referente inicial (a viagem do marido para a África), deixando-o em stand-by, para introduzir um novo tópico, de maneira ancorada (notícias sobre os filhos):

“A semana que vem a M. vai fazer 4 anos, vou fazer uma festa para ela”

“O R. está cada dia mais parecido com você!”

“a C. como já está moça, ainda me ajudando com os afazeres domésticos, ela vai ingressar na universidade daqui a dois meses”

2.a) Recategorização dos referentes - reconstrução/reativação

No parágrafo 7, há uma reativação do referente inicial por meio da retomada do “diálogo” com o marido por meio de um referente ancorado por associação ao que já foi dito:

“E por aí [África], meu amor, como estão as coisas?”

Ainda nesse parágrafo, há a introdução de novos referentes: “crianças”, “pessoas doentes”, “fome” e “sede”, como se vê em:

“As crianças como estão? Eu espero que esteja tudo melhorando, não deve ser fácil para você ver essas pessoas doentes, com fome e com sede”

A escolha desses objetos de discurso está diretamente relacionada às ativações ancoradas que se associam, tanto pelo co-texto, como por inferência, ao referente inicial “África”.

2.c) Recategorização dos referentes – encapsulamento e rotulação

No parágrafo 8, a aluna utiliza um referente que encapsula o que foi dito anteriormente:

Texto 2 – Aluna M.

Guarulhos, 22 de maio de 2014. Querida filha,

Hoje para mim é muito importante, porque posso agradecer a Deus pelo privilégio de ter uma filha como você.

Uma pérola rara e bela, que alegra os meus dias e me faz ter esperança mesmo diante de todas as dificuldades.

Por tudo que te ensinei e por tudo que você me ensinou, sendo mais humana, mais paciente e mais aberta a todas as novidades que a vida oferece, pois é o amor filha que nos uni e o seu sorriso é o melhor presente para mim.

Recebe meu amor e carinho a um ser que é toda a minha vida e minha alegria.

Quero registrar também os meus sinceros gestos de cuidado e carinho que sinto por você minha filha.

Procure estar sempre feliz, pois estarei bem se conseguires a sua felicidade.

Quero te pedir desculpas se às vezes eu me excedo em meus conceitos antiquados e ultrapassados, mas eu tenho medo de qualquer coisa que possa te ferir ou magoar, são coisas de mãe, difícil de serem explicadas ou definidas.

Quero somente sua felicidade...

Beijos de sua mãe

PS: Eu te amo

1.a) Introdução de referentes - Construção/ativação não-ancorada

Já no vocativo (1), a aluna M. introduz um novo referente de maneira não- ancorada que direciona o leitor sobre seu projeto de dizer: “Querida filha”.

É a partir desse referente que todo o texto se desenvolve com a introdução de novos referentes ancorados, como se observa no parágrafo 2:

“Hoje para mim é muito importante”

“posso agradecer a Deus pelo privilégio de ter uma filha como você.” 1 2 3 4 5 6 7 8 9

2.c) Recategorização do referente – encapsulamento e rotulação

No parágrafo 3, a autora faz um encapsulamento e uma rotulação do referente “filha como você” a partir das expressões nominais: “pérola rara e bela”.

Essa rotulação introduz novos elementos para a progressão do texto, que são, por assim dizer, motivados pelas expressões referenciais adotadas anteriormente:

“que alegra os meus dias e me faz ter esperança mesmo diante de todas as dificuldades.”

No parágrafo 4, o encapsulamento e a rotulação aparecem mais uma vez, em dois momentos. No primeiro, “Por tudo que te ensinei”, a mãe encapsula no referente “tudo” os ensinamentos dados à filha, e no segundo, “por tudo que você me ensinou”, a sumarização dos ensinamentos advindos da filha, quais sejam:

“sendo mais humana, mais paciente e mais aberta a todas as novidades que a vida oferece”

No parágrafo 8, a autora encapsula as informações-suporte anteriores com a expressão:

“são coisas de mãe, difícil de serem explicadas ou definidas.”

2.a) Recategorização dos referentes – reativação do referente por meio de novos objetos de discurso:

Ainda no parágrafo 4, o referente “amor” representa a “união” entre mãe e filha, e o referente “sorriso” representa “presente”.

No parágrafo 5, a expressão “um ser que é toda a minha vida e minha alegria” recategoriza e rotula o referente “filha” inicialmente introduzido.

Texto 3 – Aluna T.

Guarulhos, 29 de maio de 2014. Amada filha G.,

Há duas semanas você viajou para fazer o tão sonhado intercâmbio em Londres e já sinto uma imensa saudade.

Como foi a viagem? Estranhou o clima e a alimentação dos britânicos? Seu pai e seu irmão enviam fortes abraços e B. pede para que você entre em contato com ele pela internet. Na próxima semana será o aniversário do seu irmão: não se esqueça de telefonar.

Aqui em Guarulhos tem chovido bastante e o frio continua intenso. Nas férias de julho vamos para Rio Claro. Vai ser tudo tão estranho sem você!

Cuide-se bem, proteja-se do calor que é terrível nesta época do ano aí e veja bem com quem vai andar. Seu tio pretende passar o mês de janeiro com você, se tudo correr bem. Se precisar de qualquer coisa, ligue pra nós imediatamente. Responda logo e envie fotos.

Mil beijos

T.

1.a) Introdução de referentes – ativação não-ancorada

No vocativo (1), a aluna T. introduz o primeiro referente “Amada filha G.”, a partir do qual serão apresentados outros referentes ancorados, como se observa a seguir:

“Há duas semanas você viajou” (par. 2)

“Seu pai e seu irmão enviam fortes abraços” (par. 4)

“Na próxima semana será o aniversário do seu irmão” (par. 4)

No parágrafo 6, há a introdução de um novo referente, “seu tio”, que, embora não esteja ancorado em nenhum referente anterior, tem associação com elementos já presentes no contexto sociocognitivo dos interlocutores.

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2.b) Recategorização dos referentes – desfocalização/desativação

No parágrafo 5 há uma desfocalização dos referentes iniciais “filha”, “viajou para Londres” e “seu pai e seu irmão” para, conforme a proposta da sequência didática, dar notícias de quem ficou no Brasil:

“Aqui em Guarulhos tem chovido bastante e o frio continua intenso. Nas férias de julho vamos para Rio Claro.”

2.c) Recategorização dos referentes – encapsulamento e sumarização

Os referentes “Aqui em Guarulhos, “férias de julho” e “vamos para Rio Claro” são encapsulados pela expressão:

“Vai ser tudo tão estranho sem você!” (par. 5)

No parágrafo 6, ocorre outro encapsulamento a partir da introdução de um novo referente, “seu tio”:

“Seu tio pretende passar o mês de janeiro com você, se tudo correr bem.”

2.a) Recategorização dos referentes – reconstrução/reativação

No parágrafo 6, a autora reativa o referente inicial “filha”, trazendo novamente para o foco a viagem para Londres:

“Cuide-se bem, proteja-se do calor” “veja bem com quem vai andar”

Texto 4 – Aluna R.

Guarulhos, 20 de agosto de 2014. Querido irmão, espero que todos estejam bem de saúde já faz muito tempo que nós não nos vemos, estou com saudades dos meus sobrinhos. Nesse feriado o tio Valdomiro me levou na casa do pai, precisa ver como está bonito a plantação esse ano plantou feijão, milho, mandioca, cana e a horta que beleza. Fiquei muito feliz de passar o feriado lá. Nós ficamos lembrando quando nossos filhos eram pequenos e que todas as férias passavam com o avô.

Rimos muito quando lembrou dos apelidos dado por ele nas crianças. Da Karina era meio kilo, da Maria Fernanda era um kilo, da Helen era teteia e o Rafael perna seca. Histórias antigas que só ele lembra. Ficamos horas e horas debaixo daquela árvore grande que tem uma mesa que ele fez de cimento. Tomamos café, fiz um bolo de milho, olhei para aquele cabelinho branco, os olhos azul, nossa quanta saudades eu senti quando nós éramos crianças.

Bom, meu irmão só queria passar pra você a saudades que eu sinto da nossa infância. Aqui em casa todos nós estamos bem, graças a Deus. Precisamos nos ver e marcar de ir visitar o pai. Fica com Deus. Beijos em todos e abraços. Aguardo resposta.

R.

1.a) Introdução de referentes – ativação não-ancorada

No parágrafo 1, há a introdução do referente novo, “Querido irmão”, em torno do qual a autora fará reminiscências da infância dos filhos e sobrinhos, pais e tios.

Ainda em 1, a autora introduz um novo referente:

“Nesse feriado o tio Valdomiro me levou na casa do pai”

A partir desse referente não-ancorado, parte-se para uma recategorização dos referentes por meio da desativação dos objetos de discursos anteriores, “querido irmão” e “sobrinhos”, deixando-os em stand-by, e passa-se a seguir a proposta da sequência didática da produção das cartas (contar as novidades).

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Para tanto, a autora lança mão das estratégias de ativação de referentes presentes no contexto sociocognitivo de seu interlocutor, transformando as novidades a serem contadas em objetos de discurso ancorados na memória de ambos:

“Nesse feriado o tio Valdomiro me levou na casa do pai,”

“Fiquei muito feliz de passar o feriado lá. Nós ficamos lembrando quando nossos filhos eram pequenos e que todas as férias passavam com o avô.”

1.b) Introdução de referentes – ativação ancorada

No parágrafo 2, surgem novos referentes ancorados na memória que os interlocutores têm do avô, da própria infância e da infância dos filhos:

“Rimos muito quando lembrou dos apelidos dado por ele nas crianças.

“Histórias antigas que só ele lembra.”

“Ficamos horas e horas debaixo daquela árvore grande que tem uma mesa que ele fez de cimento.”

“quanta saudades eu senti quando nós éramos crianças.”

2.b) Recategorização dos referentes – desfocalização/desativação

No parágrafo 3, a autora recategoriza os referentes por meio da desfocalização momentânea das reminiscências da infância e do feriado, para dar notícias de sua própria família:

“Aqui em casa todos nós estamos bem, graças a Deus.”

E no parágrafo 4 reativa o referente anteriormente mencionado e em torno do qual gira todo o texto, “o pai”, colocando-o em foco novamente:

“Precisamos nos ver e marcar de ir visitar o pai.”

2.c) Recategorização dos referentes – encapsulamento e rotulação

O referente “saudades dos meus sobrinhos.” traz implícita a ideia de que o irmão tem filhos e que o referente anterior “todos” encapsula e rotula esses e outros membros da família que está distante. (par. 1)

Ainda no parágrafo 1, a aluna R. introduz um novo referente, “a plantação”, que encapsula e rotula os demais objetos de discurso que se seguem associados ao novo referente, “feijão”, “milho”, “mandioca”, “cana” e “horta”:

“precisa ver como está bonito a plantação esse ano plantou feijão, milho, mandioca, cana e a horta que beleza.”

Texto 5 – Aluna N.

Guarulhos, 20 de agosto de 2014. Saudação querida irmã

C., em primeiro lugar desejo muita saúde e felicidade graças ao nosso bom Deus nós aqui até este momento ficamos todos com saúde.

Eu estou escrevendo para convidar para minha formatura que vai ser no meis de dezembro. Não sei o dia mais depois eu aviso. Depois de 61 anos estou escrevendo uma carta pela primeira veis e você está sendo a premiada para ler a carta. Eu estou muito felis graças a escola da eija [EJA] e os professores tem muita paciência com nosco e a gente acaba aprendendo. A prova é esta carta.

Descupe pelos erros. Por hoje é só. Fique com Deus. Aguardo a sua resposta. Beijo da sua irmã.

N.

1.a) Introdução de referentes – ativação não-ancorada

O novo objeto de discurso introduzido pela aluna N. é o próprio vocativo, “Querida irmã”.

1.b) Introdução de referentes – ativação ancorada

Ancorados nesse novo referente, são introduzidos os novos objetos de discurso por associação:

“C., em primeiro lugar desejo muita saúde e felicidade” (par. 2), em que “C.” é o nome da irmã.

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1.a) Introdução de novos referentes – não-ancorada

Feita a saudação inicial, nos moldes do conhecimento tipo frame presente na memória discursiva da autora, por meio dos objetos de discurso que expressam seus desejos:

“C., em primeiro lugar desejo muita saúde e felicidade”

No parágrafo 3 ela passa a dizer o motivo de estar escrevendo a carta: convidar a irmã para sua formatura.

“Eu estou escrevendo para convidar para minha formatura que vai ser no meis de dezembro. Não sei o dia mais depois eu aviso.”

Dizemos que essa é uma ativação não-ancorada porque até esse momento não há nenhuma menção no co-texto que indique que a autora está estudando.

Essa ativação não-ancorada produz novos objetos de discurso a serem partilhados pela interlocutora, como, por exemplo, “formatura”, “meis de dezembro”.

1.b) Introdução de novos referentes – ancorada

No mesmo parágrafo 3, a aluna N. introduz novos objetos de discurso ancorados no referente inicial “irmã” para lhe informar que demorou 61 anos para a escrever uma carta pela primeira vez. Fica explícito aqui qual o seu projeto de dizer:

“Depois de 61 anos estou escrevendo uma carta pela primeira veis”

O esclarecimento dessa sentença está logo em seguida, com a introdução de novos objetos de discurso, “escola da eija”, “professores”, “aprendendo”, ancorados no referente “formatura”:

“Eu estou muito felis graças a escola da eija [EJA] e os professores tem muita paciência com nosco e a gente acaba aprendendo.

A introdução da última frase: “A prova é esta carta.” encapsula o que foi dito anteriormente: “os professores tem muita paciência com nosco e a gente acaba aprendendo”. A carta é uma “prova” do aprendizado.

2.c) Recategorização de referentes – encapsulamento e rotulação

A autora utiliza a expressão “premiada” para rotular o referente inicial “irmã”:

“e você está sendo a premiada para ler a carta.”

Os implícitos presentes no referente “premiada”, por meio da análise dos objetos de discurso construídos pela aluna, denotam o desejo da autora em comunicar à irmã sua mais nova conquista: aprendeu a escrever uma carta.

Texto 6 – Aluno L.

Guarulhos, 20 de agosto de 2014. Querido irmão

Tudo bem? Venho por meio desta te fazer saber o quanto estou saudoso, pois faz bem um ano que não nos vemos, assim sendo, precisamos por o nosso papo em dia. Diga-me como vai a L. e as crianças, vão bem? E o R. já sarou da bronquite? Espero que estejam todos com saúde. Mano, quero saber como está o sítio este ano, você plantou o morango na parte baixa? E a videira você podou na data certa? Você bem sabe que se podar fora de época elas ficam mirradas.

Agora quero te contar um pouco de mim, estou com saúde, a R. está bem e acabou de nascer mais uma netinha a filha da V. com o L. F. o nome dela é I., a primeira neta fêmea da família, nasceu com quatro quilos e cem gramas.

Meu irmão vê se escreve e nos dar notícias suas pois fico apreensivo com seu silêncio. Fico por aqui, eu e a R. estamos enviando abraços para todos e um especial para você. Até mais querido.

Sem mais.

L.

1.a) Introdução de novos referentes – ativação não-ancorada

O texto se inicia com a introdução do novo objeto de discurso não- ancorado e que passa a preencher um nódulo central no texto: “Querido irmão”.

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No parágrafo 2, novos objetos de discurso são introduzidos, ainda de maneira não-ancorada, pois não há referência anterior a eles no co-texto, como o caso de “L.”, “as crianças” e “R.”

“Diga-me como vai a L. e as crianças, vão bem? E o R. já sarou da bronquite?”

Embora não-ancorados no co-texto, esses novos objetos de discurso trazem implícita a ideia de família, ou familiares, que é partilhada pelos interlocutores. Assim, os novos referentes estão associados ao contexto sociocognitivo dos interlocutores e passam a ser, portanto, ancorados.

2.a) Recategorização dos referentes – Reconstrução/reativação

Em (3), o autor introduz novos referentes não-ancorados no co-texto, como “sítio”:

“Mano, quero saber como está o sítio este ano”

A partir da introdução desse novo referente, há uma recategorização por meio da introdução de novos objetos de discurso, “morango” e “videira”, que se associam de maneira ancorada ao referente “sítio”:

“você plantou o morango na parte baixa? E a videira você podou na data certa?”

Em seguida, o aluno L. introduz novos referentes, desta vez ancorados ao referente “videira”, de maneira implícita, pois não são mencionadas “uvas”, mas a adjetivação “mirradas” está ancorada no contexto sociocognitivo dos interlocutores:

“Você bem sabe que se podar fora de época elas [as uvas] ficam mirradas.”

2.b) Recategorização referentes – desfocalização/desativação

No parágrafo 4, há uma desfocalização visível dos referentes até então tratados e a introdução de novos referentes:

A partir daí, dá-se a introdução dos novos objetos de discurso que pretendem preencher o nódulo anunciado “contar um pouco de mim”. Embora não-ancorados no co-texto, observa-se que, da mesma forma como acontece em (1), esses novos referentes estão associados a elementos presentes no contexto sociocognitivo dos interlocutores, que partilham conhecimentos:

“estou com saúde” “a R. está bem”

“acabou de nascer mais uma netinha” “filha da V. com o L. F.”

“o nome dela é I.”

“a primeira neta fêmea da família”

Observa-se que sobre o autor mesmo há apenas uma informação: “estou com saúde”. As demais são objetos de discurso que expressam o seu projeto de dizer, ou seja, “contar um pouco sobre mim” implica contar sobre minha família.

Texto 7 – Aluna C.

Guarulhos, 20 de agosto de 2014. Meu querido pai,

Escrevo-lhe esta, para contar-lhe sobre todos esses anos. Desde que tudo aconteceu, muita coisa mudou, inclusive eu. Perdoe se pareço forte demais, se troco lágrimas por sorrisos, ou prefiro me perder entre fatos, do que olhar pra trás e pensar com saudades.

Lhe amo! Mas a vida segue seu curso e no final, as pontas da linha se encontram.

A mãe mesmo no começo foi forte o bastante, e quando fraquejava, eu estava lá para ajuda-la. Ela me educou, me ensinou a ser forte e como ela, aprendi a ser mulher. E são pra ela todos os méritos, não quero lhe ofender, apenas lhe mostrar com orgulho a guerreira que me criou!

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