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CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS E ANÁLISES

3.2 Seleção das Categorias de Análise

3.3.2 Cartas para amigos(as)

Texto 1 – Aluna G. Querida T.,

Não acredito que se faz oito meses que não nos vemos! Anda acontecendo tantas coisas, eu estava trabalhando num salão de cabeleireiro, estava indo super bem, aí eu pedi pra auxiliar cortar só as pontas do meu cabelinho, ela vai e me corta quase o cabelo inteiro! Eu fiquei transtornada e disse pra ela, “se fosse alguma cliente nunca mais voltaria; pedi pra você cortar as pontinhas”, ela achou ruim e no outro dia quando voltei para trabalhar fui demitida, meu patrão disse que fui demitida porque fiz escândalo, mas depois eu descobri que ela era amante dele, mas tudo bem, aqui se faz, aqui se paga!

Lembra daquela banda que tinha?! Então, não tenho mais, a galera não queria nada com nada, era tudo eu que tinha que fazer os acordes, os ritmos, as letras, então resolvi montar outra.

Também conheci um garoto que é tão parecido comigo e ao mesmo tempo tão diferente, o nome dele é G., ele é bem legal e muito fofinho, mas às vezes me dá vontade de esganá-lo. Quando você aparecer por aqui te apresento, sabe como é difícil eu gostar de alguém...

Mas e você? Como está sua vida, o que anda acontecendo por aí? E aquele garoto do signo de touro que você gostava, ainda gosta? Eu continuo não indo com a fuça dele. E como está esse calor de Salvador?! Acho que eu não duraria uma semana aí, detesto calor!

Sabe, T., sinto muitas saudades das nossas conversas, das nossas risadas, das nossas brigas, às vezes me bate uma nostalgia da nossa infância sem preocupações, muitas travessuras, como naquele dia que jogamos uma lagarta no tio C. e ele correu tanto que acho que emagreceu dois quilos. Ainda tenho aquela pulseira de caveirinha que você me deu (risos). Enfim, estou ansiosa para te ver de novo! Venha o mais rápido que conseguir, câmbio desligo (risos).

De sua Sister G. PS: Ainda coloco adoçante na boca do tio S. quando ele está dormindo bêbado. 1 2 3 4 5 6 7

1.a) Introdução de novos referentes – ativação não-ancorada

Ativação não-ancorada do referente “Querida T.”, que passa a preencher o nódulo principal de todo o texto, sendo desativado e reativado, e origina ativações ancoradas, como veremos a seguir.

1.b) Introdução de novos referentes – ativação ancorada

A partir de (2), a aluna G. fará a introdução de novos referentes no texto a partir dos seguintes objetos de discurso:

“Anda acontecendo tantas coisas”

Os referentes “tantas coisas” encapsulam os novos referentes que serão introduzidos de maneira ancorada com o objetivo expressar o projeto de dizer da autora, que é contar as novidades para a amiga, como se observa em:

“eu estava trabalhando num salão de cabeleireiro, estava indo super bem”

“pedi pra auxiliar cortar só as pontas do meu cabelinho, ela vai e me corta quase o cabelo inteiro!”

“Eu fiquei transtornada”

“ela achou ruim e no outro dia quando voltei para trabalhar fui demitida”

“meu patrão disse que fui demitida porque fiz escândalo”

1.a) e b) Introdução de novos referentes – ativação não-ancorada/ancorada Em (3), a autora introduz um novo referente, não-ancorado no co-texto, mas ancorado no contexto sociocognitivo das interlocutoras, “banda:

“Lembra daquela banda que tinha?!”

A partir desse novo referente, são construídos e introduzidos novos objetos de discurso a ele ancorados, como é o caso de “galera”, “acordes”, “ritmos”, “letras”:

“Então, não tenho mais, a galera não queria nada com nada, era tudo eu que tinha que fazer os acordes, os ritmos, as letras, então resolvi montar outra.”

O mesmo acontece em (4), com a introdução de novo referente “um garoto”, não-ancorado no co-texto, a partir do qual são construídos novos objetos de discurso ancorados no contexto sociocognitivo das interlocutoras:

“Também conheci um garoto” (ativação não-ancorada)

“tão parecido comigo e ao mesmo tempo tão diferente” (ativação ancorada em “garoto”)

“o nome dele é G.” (ativação ancorada)

“ele é bem legal e muito fofinho” (ativação ancorada)

“às vezes me dá vontade de esganá-lo.” (ativação ancorada)

“Quando você aparecer por aqui te apresento, sabe como é difícil eu gostar de alguém...” (ativação ancorada no conhecimento partilhado das interlocutoras)

2.c) Recategorização dos referentes – encapsulamento e rotulação

Em (3), o referente “tudo” serve de rotulador para o que vem a seguir, como se observa a seguir:

“Então, não tenho mais, a galera não queria nada com nada, era tudo eu que tinha que fazer os acordes, os ritmos, as letras, então resolvi montar outra.”

2.a) Recategorização dos referentes – desfocalização/desativação

Em (5) temos a desativação dos referentes iniciais, associados à própria autora, e a ativação de novo referente: “você”.

“Mas e você? Como está sua vida, o que anda acontecendo por aí?” A partir dessas perguntas, segue-se a introdução de novos objetos de discurso ancorados no contexto sociocognitivo das interlocutoras:

“E aquele garoto do signo de touro que você gostava, ainda gosta?” “Eu continuo não indo com a fuça dele.” (ativação ancorada em “aquele garoto”)

“E como está esse calor de Salvador?! Acho que eu não duraria uma semana aí, detesto calor!” (ativação de novo referente ancorado no contexto sociocognitivo das interlocutoras)

2.b) Recategorização dos referentes – reconstrução/reativação

Em (6), temos a reativação do referente inicial “T.”, que volta ao foco do texto por meio da reintrodução de um nódulo já preenchido, e a introdução de novos objetos de discurso ancorados na memória discursiva das interlocutoras e que são responsáveis pela progressão do texto e manutenção do foco:

“Sabe, T., sinto muitas saudades das nossas conversas, das nossas risadas, das nossas brigas”

“às vezes me bate uma nostalgia da nossa infância sem preocupações, muitas travessuras”

“Ainda tenho aquela pulseira de caveirinha que você me deu (risos).” “como naquele dia que jogamos uma lagarta no tio C. e ele correu tanto que acho que emagreceu dois quilos.” (ativação ancorada no referente “travessuras”)

“PS: Ainda coloco adoçante na boca do tio S. quando ele está dormindo bêbado.” (ativação ancorada no referente “travessuras”)

Texto 2 – Aluna E.

Guarulhos, 21 de maio de 2014. Saudações

Minha querida amiga S., tudo bem com você?

Comigo tudo! Graças a Deus estou vivendo um novo tempo em minha vida, bem legal. Voltei a estudar e tem sido muito proveitoso, além de estudar, conheci novos amigos, os professores são maravilhosos e a escola é muito boa, tem nos oferecido o melhor que pode. Eu pretendo terminar os estudos, mesmo sendo cansativo como disse tem sido muito bom voltar a estudar, tem me feito descobrir tantas coisas que posso fazer ainda, estou cheia de expectativa. Tem alguns eventos bem legais pela escola. Já fui ao teatro e vamos ter festa junina. Eu me divirto muito, temos aulas de Libras que eu adoro e tem na minha classe um rapaz que é mudo que tenho muita admiração pois acho ele muito inteligente. O nome dele é A. Tem um senhor que quer namorar, o seu J., e outros alunos que são uns fofos, e fiz amizade com a Ad. e a Si., que temos a mesma idade. Nós ficamos no fundo da classe e é só alegria nós três... vou finalizar com saudades. Me responde. Beijos

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1.a) Introdução de novos referentes – ativação não-ancorada

No caso desta carta, o vocativo “Minha querida amiga S.” é apenas um pretexto para a construção do projeto de dizer da autora. Esse referente inicial só volta a ser ativado ao final do texto: “vou finalizar com saudades. Me responde.”

A partir de (2), a aluna E. passa a construir novos objetos de discurso para o seu projeto de dizer, ativados de forma não-ancorada no co-texto, mas de forma ancorada no contexto sociocognitivo das interlocutoras

O novo referente “Estou vivendo um novo tempo em minha vida” passa a preencher o nódulo principal de todo o texto e origina ativações ancoradas, como veremos a seguir.

1. b) Introdução de novos referentes – ativação ancorada

A partir da introdução do referente “um novo tempo em minha vida”, a autora passa a introduzir novos objetos de discurso que explicitam o seu projeto de dizer. Assim, ancorados nesse “novo tempo”, temos os seguintes referentes:

“Voltei a estudar e tem sido muito proveitoso” “além de estudar, conheci novos amigos” “os professores são maravilhosos”

“a escola é muito boa, tem nos oferecido o melhor que pode.

Em associação ao referente “estudos”, a autora constrói outros objetos de discurso a ele ancorados:

“Eu pretendo terminar os estudos”

“mesmo sendo cansativo como disse tem sido muito bom voltar a estudar”

“tem me feito descobrir tantas coisas que posso fazer ainda, estou cheia de expectativa.”

2.b) Recategorização dos referentes – desfocalização/desativação/reativação O referente “escola” é recategorizado pela autora, que desativa temporariamente o referente “estudos” e passa a construir outros objetos de discurso ancorados em “eventos”:

“Tem alguns eventos bem legais pela escola.”

“Já fui ao teatro e vamos ter festa junina. Eu me divirto muito” (ativação ancorada em “eventos”)

“temos aulas de Libras que eu adoro” (ativação ancorada em “escola”)

Os referentes seguintes são ancorados lexicalmente em “escola” e “sala de aula”:

“tem na minha classe um rapaz que é mudo [surdo] que tenho muita admiração pois acho ele muito inteligente. O nome dele é A.

“Tem um senhor que quer namorar, o seu J.”

“e outros alunos que são uns fofos, e fiz amizade com a Ad. e a Si., que temos a mesma idade.”

A carta da aluna E. mostra, pela escolha de seus objetos de discurso, a necessidade de contar à amiga tudo o que envolve esse “novo tempo” em sua vida, por meio de referentes associados lexicalmente ao retorno à escola.

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