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CASO REINO UNIDO

No documento Manuel Alberto Malhado Ribeiro (páginas 34-41)

A atuação do AFM, enquanto elemento responsável pela supervisão comportamental, é na

generalidade dos autores destacada como um ponto positivo deste modelo, apontando como

principal ineficiência a capacidade de interligação entre a política monetária e a micro e macro

supervisão prudencial (FMI, 2011; Parst et al, 2004; Dort, 2012; Kremers e Schoenmaker, 2010).

No entanto destacam igualmente, com exceção da Dort (2012), que este modelo teve uma

atuação na sua globalidade melhor que a dos restantes modelos da europa (G30, 2008),

sobretudo pela capacidade de resposta aos efeitos de contágio e controlo do risco sistémico.

Reconhecidos os pontos menos fortes do modelo, várias medidas estão a ser tomadas para os

colmatar, designadamente, um fortalecimento dos poderes de atuação e sancionatório das

agências de forma a ter uma atuação mais proactiva e conclusiva, e um incremento das políticas

de gestão e tratamento da supervisão macro prudencial para conseguir controlar melhor os ciclos

de expansão e de retração (FMI, 2011).

2.2 CASO REINO UNIDO

A regulação financeira no Reino Unido até aos anos 70 focava-se essencialmente nas regras dos

contratos celebrados entre os intermediários e os clientes, caraterizavam-se pela informalidade

sendo regidos pelo senso comum ou pressões que as agências sofriam (G30, 2008). A supervisão

estava sobre a alçada do “Bank of England” (doravante BoE) com a parceria do “Her Majesty’s

Treasury” (doravante HMT), agência criada para apoio direto na supervisão das entidades

bancárias, em particular para os processos de insolvência.

No ano de 1997, o Reino Unido opta por um modelo de regulação e supervisão financeira

integrado, com a estrutura visível na figura 3, como resposta ao crescimento dos intermediários

financeiros, aos problemas da regulação das seguradoras dos anos 80 e como forma de

acompanhar a globalização financeira. (G30, 2008).

Este novo modelo só entrou em total atividade em 01 de Dezembro de 2001, quando a agência

Financial Services Autority (doravante FSA) assume a supervisão e regulação de todo o sistema

financeiro do Reino Unido (BCE, 2010; G30, 2008). No entanto, as duas agências que já existiam

permaneceram em atividade ficando o BoE responsável pela gestão da política monetária e

estabilidade financeira (Dort, 2012). O HMT manteve o seu papel na gestão da supervisão em

particular nos processos de insolvência de algum agente financeiro e enquanto intermediário entre

o FSA e BoE e o parlamento Inglês (Dort, 2012)

O FSA, enquanto agência independente do poder governativo (Dort, 2012) e segundo o artigo do

G30 (2008), tinha quatro objectivos, a atingir sempre sob os princípios da “boa” regulação:

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a) assegurar a confiança no mercado e nos seus intervenientes,

b) assegurar a proteção dos consumidores,

c) promover a concorrência justa e transparente, e

d) reduzir os crimes financeiros.

Figura 3: Modelo de Regulação integrado do Reino Unido

Fonte: Group of thirty, “The structure of Financial Supervision: Approaches and Challenges in a Global Marketplace”. (p.179). Disponível em http://www.group30.org/images/PDF/The%20Structure%20of%20Financial%20Supervision.pdf. Acedido em 28 de junho, 2013.

Com esta alteração de estrutura eliminaram a dupla supervisão e permitiram uma visão geral

sobre todo o mercado financeiro. Não obstante, a supervisão prudencial e comportamental

estavam separadas da política monetária e ainda da agência que fazia a interligação com o

Parlamento. Apesar da visão global, havia ainda necessidade de assegurar que as relações e

trocas de informações entre os três organismos (FSA, HTM, BoE) fluíssem, para evitar conflitos de

interesses e barreiras geradoras de entraves aos princípios da “boa” supervisão. Neste sentido foi

assinado um Memorando de Entendimento em 1997, que determinada as responsabilidades de

cada um e como seriam coordenadas as atividades.

O Reino Unido é dotado de uma das maiores e mais evoluídas praças financeiras da europa e do

mundo (Langfield et al, 2012). O seu sistema financeiro, em 2006, era composto por 22 350

agentes com licença de exercício (G30, 2008), tendo aproximadamente 400 bancos e 1100

empresas de seguros. O relatório da Autoridade Bancária Europeia (doravante ABE) de 2012,

indica que o total de ativos sob gestão dos bancos do Reino Unido ultrapassa em 500% o Produto

Interno Bruto (doravante PIB).

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O mercado financeiro do Reino Unido demarca-se, ainda, por duas características muito

específicas (e que também se verificaram na Holanda): a concentração e a interligação. Os seis

maiores bancos do Reino Unido, em 2011, eram detentores de mais de 80% do total do

envolvimento bancário registado. Por outro lado, o volume de crédito interbancário atingiu, em

2011, 78,5% do capital exigido para o core tier one dos seis grandes agentes presentes no

mercado inglês (G30, 2008).

No ano de 2011, foram emitidos 176 relatórios dirigidos às agências de supervisão das 490

Instituições bancárias com licença de exercício. Os restantes 314 são os referidos como

não-bancos, instituições financeiras que são derivados dos principais grupos bancários aumentando a

concentração e o risco de contágio deste setor.

A figura 4 espelha os laços de ligação entre os diferentes agentes bancários faltando ainda a

interligação também existente ao setor segurador, sendo fácil de perceber a forte dependência

que existe entre os diferentes intermediários.

Figura 4: Interligação do sistema Bancário no Reino Unido

Fonte: Langfield, S., Liu, Z., & Ota, T. (2012). Mapping the UK interbank system. European Banking Authority Mimeo (p.13)

Com um mercado financeiro com estas características, os efeitos da crise do subprime fizeram-se

sentir de forma acentuada. As entidades de regulação financeira inglesas e a Autoridade Bancária

Europeia (doravante ABE) determinaram que o principal fator de ineficiência da regulação foi a

supervisão macro prudencial (Langfield et al, 2012). O facto de manter o foco nas árvores e não

na floresta, subavaliando o efeito do risco sistémico num mercado tão concentrado e interligado,

foi apontado pelo FSA (2009) como uma das causas para os fortes efeitos da crise que ainda hoje

atravessa o mercado financeiro do Reino Unido e Europeu.

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A crise do subprime e os seus efeitos levantaram um conjunto de críticas à atuação das agências

de regulação, levando mesmo a alteração do modelo de supervisão para o Twin Peaks que entrou

em total atividade no dia um de abril de 2013 (CII, 2013).

Segundo a MacNeil, I. (2011), esta alteração resulta do reconhecimento das falhas no controlo e

monitorização do sistema financeiro.

Como já foi referido, o FSA era uma instituição não governamental com poderes para definir e

gerir as regras, técnicas e intensidade da supervisão. A reunião de tais capacidades e a captura

dos regulados sobre os reguladores são algumas das críticas apontadas ao modelo integrado.

Paralelamente, as dificuldades de cooperação entre a supervisão comportamental, prudencial e as

políticas de estabilidade, quanto aos interesses e metas a atingir são outro ponto apontado por

MacNeil, I. (2011) para alteração para o modelo Twin Peaks, referindo ainda que a crise serviu

como catalisador da cooperação entre o FSA e o BoE mas sempre com relevante controvérsia.

Foram estes os principais motivos que levaram, em 16 de Junho, a ser anunciado no Parlamento

Inglês a alteração do modelo de supervisão para o Twin Peaks, como alternativa ao criticado

modelo em vigor, em particular ao FSA e de como geriu a situação de insolvência do Norden

Rock, procurando um sistema mais eficiente e que dê melhores respostas aos períodos de crise

como o iniciado em 2007 (Dort, 2012).

A figura 5, infra, representa o esquema da nova estrutura do modelo de regulação e supervisão do

Reino Unido.

Nesta nova estrutura, o FSA deixa de existir (HMT, 2010; Dort, 2012; CII, 2013) e surgem dois

novos agentes de regulação: o “The Prudentional Regulation Authority” (doravante PRA) e o “The

Financial Conduct Authority” (doravante FCA). Como ilustra a figura 5, a nova estrutura

regulamentar é, ainda, composta pelo “Financial Policy Committee (Doravante FPC)

O BoE mantem a gestão da política monetária e passa a agregar a responsabilidade da

supervisão macro e micro prudencial através de duas agências independentes, mas parte

integrante da estrutura do BoE, FPC e PRA, respetivamente.

Neste enquadramento, o FPC (Dort, 2012, CII, 2013; HMT, 2011; BCE, 2010) assume a

responsabilidade pela supervisão macro prudencial, tendo assim o objetivo de garantir a

estabilidade do sistema como um todo e detetar possíveis pontos de desequilíbrio com

antecipação para minimizar os seus efeitos de contágio entre os diversos intermediários.

Detetadas imperfeições no sistema, o FPC dispõe de autorização para utilizar um conjunto de

medidas como exigir níveis de capitais reforçados, alterar a percentagem de capital necessária

para cada tipo de ativo detido pela IF e definir o nível máximo que o rácio de transformação pode

atingir.

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F

igura 5: Diagrama da nova Estrutura Regulatória

Fonte: CII (2013). Towards twin Peaks: the UK´s emerging regulatory landscape. Policy briefing.(p.2).

O HMT enquanto elemento próximo das entidades governativas tem a responsabilidade de

aconselhar e apoiar o FPC na gestão da supervisão macro prudencial. Contudo, o FPC tem

legitimidade para recusar qualquer medida que o HMT sugira caso não concorde com ela (CII,

2013).

Como foi indicado, o PRA é também um interveniente diretamente dependente do BoE

(considerado na figura 5 como agente subsidiário). Como o próprio nome o indica, é o organismo

responsável pela regulação prudencial, uma vez que, a macro prudencial é da responsabilidade do

FPC. O PRA está incumbido da gestão da supervisão micro prudencial das seguradoras, das

empresas de investimento e das IF’s que podem aceitar depósitos. Em suma, de todas as IF’s

onde o risco de contágio é relevante.

A particularidade desta agência é ter como objectivo, não evitar a insolvência de todas as firmas

mas sim, assegurar que em caso de falência a mesma não influencia os seus concorrentes

(minimizar o efeito de risco de contágio). Não obstante, o controlo das exposições, dos níveis de

liquidez e capital de cada IF individualmente são, assim, as funções do PRA.

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Com uma concentração de poderes no BoE o seu líder será um elemento com extrema

importância, responsabilidade e influência sobre um dos maiores e complexos sistemas

financeiros (CII, 2013; Dort, 2012), facto que tem levantado algumas preocupações no seio político

Inglês.

O FCA, independente das outras agências de supervisão, foi criado com o intuito de coordenar a

supervisão comportamental de todo o sistema financeiro, sendo ainda o responsável pela

supervisão prudencial de pequenas IF’s, como pequenas instituições de investimentos e

corretoras. Com efeito, o FCA adquire poderes para promover a confiança e transparência dos

serviços financeiros e fortalecer a proteção dos consumidores.

A defesa dos consumidores e a luta contra o abuso de posição dominante são os grandes

objetivos do FCA, tendo a função de validar todos os produtos financeiros a lançar, com a

necessária agilidade e pro-atividade em detetar situações que possam ser prejudiciais para os

clientes, sendo que só com o seu aval podem ser comercializados (HMT, 2012; CII, 2013). O fim

último é promover uma concorrência transparente e que vá de encontro com os interesses dos

clientes.

Em conformidade com os restantes Twin Peaks conhecidos na Europa, também, neste caso a

necessidade de a comunicação fluir e a definição de objetivos claros para todas as entidades é

visto como uma premissa fundamental para o sucesso do modelo (Dort, 2012; DLA, 2012). O

artigo da DLA (2012) destaca mesmo o risco de conflitos de interesses entre os reguladores como

uma das principais pontos que pode pôr em causa a validade de um modelo que consideram

trazer melhorias importantes para o sistema financeiro inglês.

Ao nível da supervisão europeia é o BoE que se vai fazer representar no AEAB e o PRA vai

assumir a responsabilidade de ser o intermediário com a ABE, sendo que o HMT mantem-se como

representante do Reino Unido na negociação das diretivas europeias de regulação e supervisão.

A DLA (2012) aponta algumas preocupações sobre a independência e liberdade das agências

inglesas desenvolverem a sua atividade num período de reforço da supervisão a nível Europeu

centralizado, retirando alguma hegemonia às entidades locais, funcionando muitas vezes

enquanto intermediários e limitados na sua capacidade de atuação. Desta forma, as agências

nacionais poderão ver limitados os seus poderes de intervenção no sistema financeiro.

Os Twin Peaks Holandês e Inglês foram os selecionados para este estudo pois permitiam ter uma

perspetiva das motivações e causas da sua adoção em estados de economia mundial diferentes.

No caso Holandês, a sua implementação é feita numa época de grande expansão dos mercados

financeiros, dos conglomerados e forte interligação das suas IF´s com intermediários nacionais e

internacionais. Por outro lado, o Reino Unido surge como resposta às consequências da crise

financeira de 2007. Com estruturas semelhantes na aplicação do modelo (centralização no Banco

Central da política monetária e supervisão prudencial, apesar do modelo Inglês criar subsidiária

para a gestão especializada da micro e marco supervisão prudencial) a versão Inglesa por só

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estar em plena atividade cerca de um ano, ainda, não permite validar os propósitos que pretende

atingir, como o Holandês que já teve que enfrentar a crise do subprime. No entanto, a perspetiva

do Reino Unido é importante para se validar os pressupostos da sua adoção e quais os métodos e

práticas que estiveram na base da definição dos objetivos das agências supervisoras para evitar

os erros do passado.

No próximo capítulo, vai ser analisado o caso Português. A evolução que teve a regulação e

supervisão, as agências que hoje operam neste campo, o tipo de mercado financeiro existente e,

por fim, testar a possibilidade de adoção do Twin Peaks tendo por base as especificidades do

mercado Português e as experiências e metodologias que Holanda e Reino Unido utilizaram nos

seus modelos.

No documento Manuel Alberto Malhado Ribeiro (páginas 34-41)

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