A catalogação é uma das metodologias adotadas para organizar coisas e objetos do mundo, para tanto, seguindo algum parâmetro de descrição física de um documento com o intuito de localizá-lo e recuperá-lo posteriormente, consequentemente, a fim de torná-lo acessível ao usuário.
No entendimento de Mey (1995, p. 5) a catalogação pode ser definida como:
[...] estudo, preparação e organização de mensagens codificadas, com base em itens existentes ou passíveis de inclusão em um ou vários acervos, de forma a permitir interseção entre as mensagens contidas nos itens e as mensagens internas dos usuários.
Diante disso, pode-se perceber que a catalogação não é meramente uma técnica de elaborar catálogos, vai mais além, propiciando o encontro dos usuários com as fontes de informação, uma vez que, apresenta todos os elementos que compõem a descrição física de um documento; por exemplo, autoria, título, subtítulo, local, editora, data, dentre outros.
elemento de compartilhamento de informações “entre uma mesma instituição ou entre outras nacionais e internacionais”.
Portanto, a catalogação de um objeto informacional envolve a descrição minuciosa e o levantamento do maior número possível de características, com o intuito de descrevê-lo adequadamente e eficazmente, para que o usuário potencial possa identificá-lo e localizá-lo rapidamente e facilmente.
Face ao exposto, Mey e Silveira (2009) apresentam as competências do catalogador, envolvendo: leitura, conhecimentos gerais, bem como de seus usuários (reais e potenciais), preocupação em superar a prática irreflexiva e mecânica de seu trabalho.
Ortega y Gasset (2006) afirma que o ofício do bibliotecário alcança potência máxima na catalogação, na capacidade de seleção da bibliografia de interesse dos pesquisadores e no controle de qualidade da produção de livros que sejam úteis tanto para a sociedade quanto para o avanço das pesquisas.
Por conseguinte, no século XXI, têm-se a Declaração dos Princípios Internacionais de Catalogação da International Federation of Library Associations and Institutions (2016, p. 5- 6), alusiva aos princípios de Paris de 1961, objetiva a padronização internacional da catalogação para elaboração de códigos, fundamentada em 13 princípios gerais, a saber:
a) conveniência do usuário: considerado o mais importante dos princípios, consiste na realização de esforços para que todos os dados se apresentem compreensíveis e adequados para o usuário. Considera-se, este último, como qualquer pessoa que realiza a busca no catálogo e utiliza os dados bibliográficos e/ou de autoridade. Ressalta-se que, a elaboração de descrições e formas controladas de acesso devem ser empreendidas pensando sempre no usuário;
b) uso comum: o vocabulário utilizado na descrição e nos pontos de acesso deve estar de acordo com o da maioria dos usuários;
c) representação: uma descrição deve representar um recurso da mesma forma como ele se apresenta;
d) precisão: os dados bibliográficos e de autoridade devem ser uma representação precisa da entidade descrita;
e) suficiência e necessidade: utilizar-se dos elementos de dados essenciais e necessários com o intuito de: facilitar o acesso para todos os tipos de usuários, incluindo aqueles com necessidades específicas; cumprir os objetivos e funções do catálogo; descrever ou identificar entidades;
de nota e permitir distinções entre entidades;
g) economia: quando existir formas alternativas para atingir um objetivo, prioriza-se a forma que melhor promova a conveniência geral e a praticidade, em outras palavras, o menor custo ou a abordagem mais simples;
h) consistência e padronização: estabelecer uma uniformidade para as descrições e construir pontos de acesso que mantenham a coerência dos dados;
i) integração: as descrições para todos os tipos de recursos e formas controladas de nomes de todos os tipos de entidades, baseiam-se, na medida do possível, em um conjunto de regras comuns;
j) interoperabilidade: empreender todos os esforços possíveis para garantir a partilha e a reutilização de dados bibliográficos e de autoridade dentro e fora da comunidade da biblioteca. Para o intercâmbio de dados em sistemas de busca, ferramentas de descoberta, recomenda-se o uso de vocabulários para facilitar a tradução e desambiguação automática. Caso haja algum conflito nas decisões, este princípio apresenta ordem prioritária entre os de uso comum (alínea b) e de racionalidade (alínea m);
k) abertura: consiste na restrição mínima de dados para promover a transparência e a adequação aos princípios de acesso aberto, conforme à declaração da IFLA sobre livre acesso, de 2011. Sublinhe-se que qualquer restrição deve ser indicada;
l) acessibilidade: o acesso aos dados bibliográficos e de autoridade, bem como a busca de funcionalidades do dispositivo, devem obedecer aos padrões internacionais de acessibilidade, em conformidade com as diretrizes do Código de Ética da IFLA para bibliotecários e outros profissionais da informação, de 2012; m) racionalidade: um código de catalogação se constitui de regras defensáveis,
destituídas de arbitrariedade. Se, em situações específicas, não é possível respeitar todos os arrazoados aqui discriminados, é fundamental a busca de soluções práticas defensivas, explicitamente justificadas.
No que tange ao novo Código de Catalogação, explana-se no quadro 3 um breve cotejo entre AACR2 (última atualização de 2002) e RDA (engendrado como substituto do AACR2, tendo sua primeira versão lançada em 2010, vem sofrendo atualizações anuais por meio da ferramenta de assinatura on-line – RDA Toolkit).
Quadro 3 – Breve cotejo entre AACR2 e RDA
Características Código de Catalogação Anglo-
Americano - 2ª edição (AACR2) Recursos: Descrição e Acesso (RDA) Fonte de informação para
catalogação
Folha de rosto é recomendada como fonte principal de informação.
Não se limita apenas a folha de rosto como fonte de informação.
Regra para mais de três autores
Quando mais de 3 autores, citar apenas o primeiro nome seguido de "... [et al.]"
(RDA 6.27.13) Esta regra foi ignorada, os mais de três autores podem ser citados, no entanto há também uma opção de continuidade à regra, em vez de [et al.] utiliza- se [e 3 outros], por exemplo.
Imprecisão
Indica-se a transcrição do termo erroneamente grafado no item, sucedido da expressão latina [sic]
Transcreve-se o título conforme aparece no recurso, no entanto a correção pode ser feita em formas variantes do título (campo 246 do MARC21.
Designação Geral do Material (DGM)
A estrutura do DGM e do AACR2 são incompatíveis à descrição de materiais digitais, sem qualquer provisão de criação de metadados, inclusive
possuem uma terminologia
desatualizada, alusiva à época do catálogo em fichas.
Alteração da terminologia utilizada no AACR2. Adição dos termos: tipo de conteúdo (campo 336), tipo de mídia (campo 337), tipo de suporte (campo 338) substituem o DGM. O RDA configura-se mais coerente aos tipos de conteúdo e mídia atualmente existentes.
Dados de copyright e descrição física
Dados de copyright são apresentados por meio da abreviação c., por exemplo, c1989, além do uso de outras abreviações, como p., il., v., broch.
Elimina-se as abreviaturas e adota-se a expressão completa: páginas, ilustrações, volume, brochura, dentre outras. Os termos indicação de publicação, distribuição, fabricação, data de copyright passam a figurar nos campos 264 do MARC21.
Elemento de individualização -
Em conformidade com o princípio da diferenciação, coberto nos canônes de individualização de Ranganathan e baseado no modelo conceitual Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade (FRAD), proporciona maior detalhamento descritivo, uma maior individualização e identificação de autor, descritos nos atributos de pessoa e nos campos do MARC21 para registro de autoridade, a saber: data de nascimento, data de morte, ocupação/profissão, títulos. Registro da editora e local de
publicação não identificados
As abreviações [S.l.], [s.n.] são usadas para comprovar a ausência de local de publicação e editora, respectivamente.
Substituído por: [local de publicação não identificado] e [editora não identificada]
Nível de descrição Dois níveis de descrição com número limitado de elementos descritivos.
Número de elementos mais descritivos foram adicionados, alguns deles para o modelo entidade-relacionamento.
Tradução para o português e utilização por instituições
brasileiras
Tradução da 2ª edição de 2002 realizada pela FEBAB e uso consolidado no Brasil.
Tradução recomendada em 2017, durante o IV Encontro de Estudos e Pesquisas em Catalogação (EEPC), evento ocorrido paralelamente ao 27º Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (CBBD). A utilização do RDA ainda é incipiente no Brasil.
Fonte: Adaptado de Chandel e Prasad (2013); Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (2017).
Apresentam-se ainda como possíveis barreiras na utilização do RDA em ambientes informacionais: maior tempo despendido na catalogação em relação ao AACR2, devido ao extenso nível de detalhamento descritivo; investimento em treinamentos, tanto acerca do RDA como de seus modelos conceituais: requisitos funcionais para registros bibliográficos, dados de autoridades e de assunto – FRBR, FRAD e FRSAD; custos de assinatura da versão digital; tradução em português não disponível (MACHADO, 2015).
No contexto da mediação, o bibliotecário é quem desempenha a atividade de catalogação, assim como a classificação e a indexação, interferindo indiretamente e diretamente por meio da mediação da informação, para que a necessidade informacional do usuário seja completamente ou parcialmente atendida, gerando conflitos ou novas necessidades informacionais.
Por fim, a aplicabilidade da catalogação como elemento de mediação se estabelece: a) por meio do registro e da descrição de dados consistentes e funcionais, pautados na
conveniência e apropriação da informação pelo usuário;
b) fonte de referenciação por meio do produto catálogo, conforme exemplos elucidativos, discutidos na seção 3.6.3 Produtos: aplicabilidades;
c) consulta bibliográfica, sendo que após a descrição e o registro de dados qualitativos e convenientes para o usuário, é possível atender às demandas e consultas de materiais; d) princípios e políticas de catalogação, desta forma, aproxima-se do serviço de
referência também, pois utiliza-se de perspectivas de atuação tanto da mediação técnica como da mediação pedagógica. A primeira para viabilizar a padronização e as diretrizes que norteiam a técnica; e a segunda para elaboração de estratégias de disseminação e uso das políticas, mediante instrumentos pedagógicos.