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Esta categoria é apropriação do termo utilizado por Juarez Cirino dos SANTOS (As Raizes do Crime) quando se refere a soma do iuspositivismo com o positivismo naturalista:

brasileiro de entorpecentes

7 Esta categoria é apropriação do termo utilizado por Juarez Cirino dos SANTOS (As Raizes do Crime) quando se refere a soma do iuspositivismo com o positivismo naturalista:

de drosas?

Alessandro Baratta, em sua clássica obra “Criminologia Crítica y Crítica dei Derecho PenaP\ afirma que a ideologia da Defesa Social é suscetível de reconstrução, seguindo a principiologia subseqüente:

(a) Princípio da Legitimidade. O Estado, através de suas agências

(legislação, polícia, magistratura, instituições penitenciárias) interpretam a legítima reação da sociedade na reprovação e condenação dos indivíduos desviantes, reafirmando os valores e normas sociais8.

(b) Princípio do Bem e do Mal. A infração de normas é considerada

como dano social e o delinqüente como elemento disfuncional e negativo. Assim, o desvio criminal é o mal e a sociedade, juntamente com os fiéis cumpridores da lei, o bem9.

“(...) um modelo de superpositivismo: as elaborações técnicas do positivismo jurídico são integradas às propostas essenciais do positivismo criminológico, em um sistema orgânico autodefinido como ‘Política Criminal humanizadora, estruturada segundo imperativos deliberadamente aceitos (p. 51).

8 A ideologia da Defesa Social será extremamente criticada pelas teorias sociológicas interacionistas e pelas teorias psicanalíticas. Este marco teórico, situado principalmente nos Estados Unidos a partir dos anos 30, estabelecerá uma crise paradigmática na etiologia, possibilitando uma ruptura e a estruturação do paradigma da Reação Social.

A negação do princípio da legitimidade dar-se-á pelas teorias psicanalíticas da criminalidade e da sociedade punitiva, cuja penalidade teria uma dupla função: (a) satisfação da necessidade inconsciente de castigo, que impulsiona a ação proibida, e (b) satisfação da necessidade de castigo da sociedade, mediante sua inconsciente identificação com o delinqüente, via eleição de ‘bodes expiatórios’ sobre os quais se projetam as tendências delituosas, conscientes e/ou inconscientes, do corpo social (Alessandro BARATTA, op. cit., p. 44-54).

9 O princípio do Bem e do Mal será desconstruído pelas teorias estrutural-funcionalistas e da anomia, representadas principalmente por Durkheim e Mertón.

A teoria estrutural-funcionalista da anomia possibilitará uma profunda revisão crítica dos postulados basilares da Criminologia ao afirmar que (a) as causas do desvio não são predeterminadas e que (b) o desvio é um fenômeno normal em toda estrutura social, atuando como (c) um fator necessário e útil ao equilíbrio e desenvolvimento sócio-cultural.

Durkheim passa a afirmar o delinqüente não mais como um corpo putrefado de uma sociedade sã, mas como um elemento catalizador e agregador, como um ‘agente regulador da vida

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(c) Princípio da Culpabilidade. O delito representaria atitude

reprovável, porque contraria os valores e normas sociais sancionadas pelo legislador10.

(d) Princípio do Fim ou da Prevenção. A função da pena é prevenir a

delinqüência (prevenção geral negativa), impondo intimidação e contramotivação ao indivíduo. Concretamente, atua como ressocializadora (prevenção especial positiva)11.

(e) Princípio da Igualdade. Os criminosos representam minoria, sendo

que a lei penal atua igualmente contra todos indivíduos que a infringem12.

social', no momento em que toda a estrutura social se volta contra o desviante (Alessandro BARATTA, op. cit., p.56-65).

10 Como vimos no primeiro capítulo, para a teoria das sub-culturas criminais, 0 comportamento

desviante não deve ser interpretado como expressão de comportamento interior, dirigido contra o valor, pois não existe um sistema de valoração oficial (Alessandro BARATTA, Criminologia e Dogmática atual: passado e futuro do modelo integrado da Ciência Penal, p. 09).

11 Estabelecido enquanto novo paradigma em Criminologia, o Labelling Approach desconsidera o Princípio do Fim ou da Prevenção, visto os processos de seleção, etiquetamento e os efeitos estigmatizantes da pena.

“(■■) ponen em duda el princípio dei fm 0 de la prevención v, en particular, la concepción

reeducativa de la pena. Esos resultados muestran. en efecto, que la intervención dei sistema penal, y especialmente las penas que privan de libertad. en lugar de ejercer un efecto reeducativo sobre el delincuente. determinan. en la mayor parte de los casos, una consolidación de la identidad de desviado dei condenado y su ingresso en una verdadera y própria carrera crim in a r (Alessandro BARATTA, Criminologia Critica y Critica dei Derecho Penal, p.89).

12 E igualmente através do paradigma da reação social que será desconstruído 0 mito da igualdade em

Direito Penal. Os estudos de Sutherland sobre a criminalidade de colarinho branco e sobre as cifras ocultas da criminalidade (estudo das estatísticas criminais) concluem que, apesar de tipificados, os delitos empresariais e econômicos não eram passíveis de seleção, etiquetamento e estimatização, pois estes fenômenos estavam concentrados nos estratos superiores da sociedade. Desta forma, estes grupos sociais não estavam vulneráveis às agências.

“Estas investigaciones han conducido a otra corrección fundamental dei concepto corriente de criminalidad: la criminalidad no es un comportamento de una minoria restringida, como quiere una difundida concepción (y la ideologia de la defensa social conexa a ella), sino.

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(f) Princípio do Interesse Social e do Delito Natural. O delito

representa a ofensa aos bens comuns, aos interesses fundamentais e essenciais da sociedade13.

Percebe Vera Andrade14 que a ideologia da Defesa Social se mantém constante até nossos dias, principalmente quanto ao Princípio do Interesse Social e do Delito Natural e 0 Princípio do Fim ou da Prevenção, porque cria mitologia relativa a um Direito Penal igualitário. Tal categoria seria estabelecida pelas proposições de que 0 Direito Penal protege igualmente todos os cidadãos das ofensas aos bens essenciais e de que todos são igualmente vulneráveis em receber a incidência das agências de controle penal.

p o r el contrario, el comportamiento de amplios estratos o incluso de la mayoria de los miembros de nuestras sociedades” (grifemos) (Alessandro BARATTA, op. cit., p. 103).

Zaffaroni chega a afirmar que “a disparidade entre o exercício de p oder programado e a capacidade operativa dos órgãos é abissal, mas se p ô r uma circunstância inconcebível este poder fosse incrementado a ponto de corresponder a todo exercício programado legislativamente, produzir-se-ia 0 indesejável efeito de se criminalizar várias vezes toda a população”, Exemplifica avaliando que “se todos os furtos, todos os adultérios, todos os abortos, todas as defraudações, todas as falsidades, todos os subornos, todas as lesões, todas as ameaças, etc. fossem concretamente criminalizadas, praticamente não haveria habitante que não fo sse, p o r diversas vezes, criminalizado” (Em busca das Penas Perdidas: a perda de legitimidade do sistema penal, p.

16).

13 O princípio do interesse social e do delito natural estrutura-se na teoria dos bens jurídicos protegidos pelo Direito Penal comuns a toda a sociedade. Tem como pressupostos fundamentais que (a) a criminalidade é uma qualidade ontológica de certos comportamentos e certos indivíduos e que (b) os valores protegidos são homogêneos.

A sociologia do conflito critica este princípio pelo feto de que 0 desvio não é algo que

precede as definições e as reações sociais, mas uma realidade construída, e qüe a criminalidade não é uma qualidade ontológica, mas um status social atribuído através de mecanismos - formais e informais - e processos - formais e informais - de reação (Alessandro BARATTA, op. cit., p. 123). 14 Vera Regina Pereira de ANDRADE, Dogmática e Sistema Penal: em busca da segurança jurídica prometida, p. 231.

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“A ideologia da defesa sociai sintetiza, desta forma, o conjunto

das representações sobre o crime, a pena e o Direito Penal construídas pelo saber oficial e, em especial, sobre as funções socialmente úteis atribuídas ao Direito Penal (‘proteger bens jurídicos lesados garantindo também uma penalidade igualitariamente aplicada para os infratores’) e à pena(controlar a criminalidade em defesa da sociedade, mediante a prevenção geral - intimidação - e especial - ressocialização)”15.

A estrutura principiológica da ideologia da Defesa Social permitiria, assim, função legitimadora do establishment. Legitimaria o Sistema Penal - racionalizado pelo discurso oficial das instituições - induzindo o consenso no qual o Estado, através do legislativo, tutelaria bens jurídicos universais e monolíticos, compartilhados por toda a sociedade de determinado local, em determinada época; e instrumentalizaria os aparelhos repressivos, determinando atuação letal que visa a manutenção da estrutura hierarquizada e seletiva, a partir da atuação do modelo repressivo.

Nesta concepção, valores como pluralidade, tolerância e respeito à diversidade são substituídos pelas seculares noções de monismo valorativo, intolerância e homogenização. Não obstante, ocorre a adesão de perspectiva social consensual, ao contrário da perspectiva conflitiva demonstrada pela Criminologia da Reação Social.

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“Obviamente, é um modelo consensual de sociedade que opera por detrás deste paradigma [etiológico], segundo 0 qual não se problematiza 0 Direito Penal - visto como expressão do interesse geral - mas os indivíduos, diferenciados, que 0 violam. A sociedade experimenta uma única e maniqueísta assimetria: a divisão entre 0

bem e 0 mal”16.

Político-criminalmente, tal perspectiva, fundada na ideologia da Defesa Social, estabelece estrutura autoritária e genocida de controle penal.

Eugênio Raúl Zaffaroni, avaliando as características da Política Criminal Latino-americana, sustenta que nosso Direito Penal é opressivo por crer, em sua auto-imagem, que sua finalidade seria defender a sociedade pela eliminação do delito.

“Una Política Criminal, que suene con que su objetivo sea la erradicación será absurda, porque el delito, en su contenido concreto, es un concepto cultural y, por ende, relativo, historicamente condicionado. Siempre habrá delitos, siempre habrá

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conductas juridicamente prohibidas y reprochables .

Igualmente entende a função intimidatória da teleologia proposta pelas teorias relativas da pena, particularmente a prevenção geral. Logo,

16 Vera Regina Pereira de ANDRADE, Do paradigma etiológico ao paradigm a da reação social: mudança e permanência de paradigmas criminológicos na ciência e no senso comum, p. 07.