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Decisões exemplares, neste sentido, encontramos no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e São Paulo:

Capítulo I: A política brasileira de combate às drogas ilícitas

47 Decisões exemplares, neste sentido, encontramos no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e São Paulo:

“Crime de tóxico. O crime é de perigo contra a saúde pública. Não se tipifica portanto quando a maconha, po r tão pequena sua quantidade, não pode conter o mínimo de tetrahidrocanabinol capaz de criar aquele perigo, que é o estado de dependência. Nenhum tipo penal é estatuído pela lei para existir p or si mesmo, sem um sentido finalístico definido. A criação de tipos em Direito Penal é determinada pelo princípio da imprescindibilidade da existência do tipo incriminador como meio de proteger bens jurídicos essenciais. Por isso. não se pode considerar como típica a conduta de portar substância entorpecente sem a indispensável presença do p en g o comum, que vem a ser. precisamente, o elemento necessário para que haja a consumação delituosa" (TJRS - AC 68006024 - Rei. Ladislau Fernando Rohnelt - RJTJRS

116/131).

“Indivíduo preso p or trazer consigo 0.5 g de maconha - quantidade ínfima não acarreta perigo à saúde do agente, nem à saúde pública, bens que a legislação de tóxico objetiva tutelar - Interpretação do art. 16 com o art. 37 da Lei de Tóxicos - sentença absolutória mantida, p or maioria” (TJRS - AC 687013847 - Rei. Moacir Danilo Rodrigues - RJTJRS 125/94).

“A apreensão de porção ínfima de maconha e o exame de um decigrama de substância reconhecida como maconha, tudo confirma que. embora substância ativa, não pode p o r si causar dependência física ou psíquica ao seu portador ou a quem venha fumá-lo. O enchimento das condições legais que tipificam 0 delito não é puramente lógico-formal. mas sim reajustam a situação concreta onde o ínfimo não constitui ofensa penal. No Direito Penal, inclusive, há outras considerações a fazer, especialmente a razoabilidade” (TJRS - AC 684000789 - Rei. Milton dos Santos Martins - RJTJRS 106/134).

“Quantidade ínfima de maconha. Inocuidade para gerar distorções psíquicas. Fato atípico” (TJSP - AC 42.883 - Rei. Gonçalves Sobrinho - RJTJSP, 102/451).

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Logicamente, este tipo de interpretação tomou-se extremamente contraditório, dividindo tribunais em todo o país.

Continuando essa breve análise sistemática da Lei 6.368/76, percebemos, no artigo 17 (crime próprio praticado por funcionário público), problema de inflação normativa. Trata o artigo de violação de sigilo das peças, autos, inquérito e processo, se assim o magistrado desejar. Esta tipificação é totalmente desnecessária, pois os artigos 153 e 154, bem como o artigo 325 do Código Penal, já tutelam a administração pública e o segredo de justiça.

Em relação ao artigo 18, que define causas especiais de aumento de pena, temos o direcionamento obstinado da repressão ao traficante internacional (inciso I), àquele que tenha praticado delitos valendo-se de função pública (inciso II), se a ação for decorrente de associação ou visando menores (inciso III) e, por fim, se os atos de preparação, execução ou consumação ocorrerem próximos à entidades de natureza educacional, social et coetera.

O artigo que finda o capítulo dos delitos e das penas prevê isenção penalógica no caso em que o agente, ao tempo da ação, em razão de dependência ou sob efeito, fortuito ou de força maior, de estupefacientes era incapaz de entender o caráter ilícito da conduta. Se absolvido nestas circunstâncias, o juiz determinará tratamento médico (artigo 29).

O capítulo quarto da Lei 6.368/76 refere-se ao procedimento criminal. Entretanto, houve inúmeras alterações dos procedimentos em face da edição da Lei dos Crimes Hediondos.

A Lei 8.072/90 duplica os prazos para os processos referentes aos

No mesmo sentido conferir também os votos dos Des. Donato João SEHENEM (RJTJRS, 89/28) e Nélson Luís PUPERI (RJTJRS, 121/122).

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dos artigos 12, 13 e 14, prazos estes determinados especificamente na lei especial e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Penal (artigo 20). Amplia 0 prazo, que pode ser prorrogável, da prisão provisória para 0 processo iniciado mediante prisão em flagrante, proibindo o direito de fiança (no caso tráfico de entorpecentes - artigo 5o, XLIII da Constituição) e prorroga 0 prazo de oferecimento da denúncia.

Notória violação constitucional ao direito de ampla defesa é encontrada no artigo 22, § 4o, que determina revelia após a citação por edital, caso o réu não seja encontrado no endereço dos autos. A lei determina revelia antes de esgotados os meios de procura pessoal do réu. A maioria dos doutrinadores entendem como inaplicável 0 dispositivo.

Outra grave violação constitucional, em que pese entendimento sumular contrário (Súmula 09 do Superior Tribunal de Justiça48), é a necessidade de 0 condenado em primeiro grau de jurisdição recolher-se à prisão como condição do apelo. No nosso entendimento, esta norma não somente fere o princípio da presunção da inocência (artigo 5o, LVII), como também os princípios do duplo grau de jurisdição e do devido processo legal, que, em hipótese alguma, poderiam ser limitados por disposição especial ou complementar49.

48 Segundo o entendimento sumular, “A exigência da prisão provisória para apelar não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência

A problemática toma dimensões draconianas no momento em que não há previsibilidade, no direito pátrio, de controle de constitucionalidade das Súmulas e da Jurisprudência ordinária. Desta forma, criamos um judiciário legislativo, que interpreta a Constituição a partir das leis ordinárias e de suas decisões aleatórias. A propósito, não seria esta uma forma de ditadura do judiciário?

49 A relação de violação dos princípios do duplo grau de jurisdição e da presunção de inocência, conferida pela necessidade do recolhimento à prisão para apelação, será desenvolvida com maior propriedade no capítulo II, em título específico sobre os princípios constitucionais.

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Os principais artigos das disposições gerais são o artigo 36, que institui a norma penal integrante da norma penal em branco dos artigos 12, 13 e 16, e os artigos 39 e 44 (normas programáticas), que instituem organização de serviços de informações oficiais relacionados com prevenção e repressão e dispõem sobre a especialização dos policiais encarregados da repressão, respectivamente.

Quanto ao artigo 35, que estabelece como condição de apelo o recolhimento à prisão, a análise será realizada nas críticas constitucionais - princípio da presunção de inocência, do devido processo legal e do duplo grau de jurisdição.

3. Crítica intra-sistemática ao sistema das drogas: desconstrução a