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Categoria “Constrangimentos”

No documento A arbitragem no desporto escolar (páginas 131-135)

4.4. Dimensão “Significado social da arbitragem”

4.4.3. Categoria “Constrangimentos”

Nesta categoria pretendemos identificar os constrangimentos que os alunos encontram no exercício da arbitragem, considerando, uma vez mais, que o árbitro desempenha as suas funções num quadro da prática desportiva em concreto. Na identificação dessas dificuldades, percebemos que os motivos de constrangimentos são basicamente os mesmos que ditam o abandono, pelo que os analisaremos de forma paralela (Quadro 16).

Quadro 16. Categoria - Constrangimentos

Subcategorias (Número de US) Professores (Número de US)Alunos (Número de US)Árbitros (Número de US)Dirigentes

Conflito de horários 7 3 3 2

Preconceitos 6 3 6 3

Desmotivação 2 4 3 1

Total 15 10 12 6

US – Unidades de Significado

As razões identificadas pelos nossos inquiridos são, de uma forma geral, os preconceitos com que a figura do árbitro é culturalmente associada, a imagem de “réu”. Os preconceitos no geral, consubstanciados nos problemas dos insultos são, em particular, bastante referenciados pelas entrevistadas do sexo feminino e pelos árbitros federados. Tais episódios conduzem a uma desmotivação para a atividade, sendo esta razão a mais referenciada pelos alunos participantes no estudo, independentemente da área geográfica. Foram também apontados como constrangimentos significativos, os horários e o conflito destes, tanto com os estudos, que se manifesta na pressão dos pais ou mesmo dos professores/diretores de turma, como com

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a ausência de transportes que possibilitem a presença em treinos e competições. Este último facto é particularmente sensível nas áreas geográficas das coordenações locais alvo do nosso estudo, na medida em que estas são eminentemente rurais.

“Talvez a desmotivação pessoal pelas palavras e “nomes” que se ouvem seja a principal razão. Por vezes também os pais chatearem na altura dos testes, para estudarem e não perderem tempo.” (Aluno 1)

“…às vezes temos de faltar às aulas e a diretora de turma está sempre a chamar à atenção. E mesmo os meus pais, por faltar. “ (Aluno 7)

“… acho mal que os jogos sejam quase todos aos sábados, isso faz com que os meus colegas que jogam às vezes faltem, porque não têm transporte ou têm de sair de casa muito cedo.” (Aluno 6)

Apesar do contexto ser totalmente distinto, as razões apontadas estão em linha com algumas que Sarmento, Marques e Pereira (2015), num estudo com árbitros de futebol de 11 apontam, sobretudo os comportamentos agressivos de dirigentes e público e as dificuldades de conciliação com a vida familiar e profissional, neste caso com a vida académica.

Percebe-se que a falta de acompanhamento da atividade, que conduz à desmotivação, é outro dos fatores que constitui constrangimento e é causa de abandono, facto que já escalpelizámos na dimensão formação, na medida em que os alunos não têm feedback do seu desempenho e sentem-se desvalorizados.

“As principais razões são a desmotivação por falta de acompanhamento, alguma pressão por parte dos colegas e essencialmente o conflito com estudos.” (Árbitro 4)

“O acompanhamento é muito relevante, caso não exista começam a desmotivar. Arbitrar um jogo torna-se um frete e não um prazer. Os problemas no jogo acabam por aparecer. Sentem que não são valorizados. Daí é importante um acompanhamento inicial, alguém que os vai ver, os apoia, lhes dá motivação.” (Dirigente 3)

Outro dos fatores que concorre para alguma desmotivação e, em alguns casos, para o abandono da prática, prende-se com o facto das competições para os grupos-equipa menos competitivos terminarem cedo. Esta consideração foi, sobretudo, referenciada por indivíduos que exercem as suas funções na Coordenação Local de Vila Real, facto que, no nosso entender, deverá ser precavido pelos responsáveis.

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“Desmotivação pela pouca competição, ou seja, quando acaba o 2º período deixa de haver jogos e eles não aparecem mais. Por outro lado, os professores das várias disciplinas dizerem aos alunos para não faltarem às aulas sob pena de perderem a lecionação das várias matérias e pressão de colegas responsáveis para beneficiarem a equipa das suas escolas, etc.” (Professor 8)

“...no 3º período quase não há jogos.” (Aluno 7)

Como se percebe, os jogos ao sábado são outro fator muito focado pelos nossos entrevistados, designadamente alunos e professores pertencentes à Coordenação Local do Tâmega, onde parece ser prática corrente as competições decorrerem aos sábados.

“Os constrangimentos são os horários e os transportes. Na nossa CLDE há jogos aos sábados e os concelhos são grandes e estamos muito limitados em termos de transporte de recolha e entrega dos alunos. É muito difícil. Se fosse durante a semana, seria mais flexível com os alunos já agrupados, a irem em conjunto… Muitos são da aldeia e moram a quilómetros da vila. Isso provoca constrangimentos.” (Professor 6)

“Uma das grandes razões para a falta de adesão, sobretudo para os miúdos de fora, está na falta de transporte, conjugado com os horários… Isso torna-se complicado para os miúdos porque estamos num meio rural. Treinamos às quartas-feiras e para algumas aldeias não há transporte. Com os jogos ao sábado o cenário ainda é pior, porque não há transportes.” (Professor 5)

Pelo exposto, percebe-se que a realização de jogos ao sábado provoca problemas com os transportes, para além de tal se traduzir em alguma desmotivação para os alunos, pela fraca assistência que presencia as competições. A este propósito, num estudo realizado por Resende et al. (2014), os alunos mencionaram que não apreciam as competições ao sábado de manhã, por não terem público. Tal facto, na opinião de Teixeira (2007), repercute-se numa ausência de promoção do desporto escolar, já que apenas estão presentes os intervenientes diretos. Este é um problema de difícil gestão, uma vez que a calendarização do quadro competitivo tem contornos de grande complexidade. Em muitas coordenações locais as competições são marcadas ao sábado, para não colidir com as atividades letivas, mas geram-se vários problemas. Alguns autores apontam soluções para atenuar esta situação, sobretudo centradas na insatisfação por parte dos professores, como é o caso de Sousa (2006, p. 19) que sugere “a transformação do custo das horas de redução dos professores responsáveis por grupos-equipas

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do desporto escolar, em horas remuneradas, por razões de economia e por razões de motivação quanto ao enquadramento de competições, que devem ser realizadas, preferencialmente, aos fins de semana”.

Parece-nos que, apesar da sugestão colher simpatias por parte de uma franja de professores, o princípio está errado, na medida em que as preocupações de qualquer projeto educativo devem, em primeiro lugar, garantir o superior interesse dos alunos.

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No documento A arbitragem no desporto escolar (páginas 131-135)