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Categoria “Género”

No documento A arbitragem no desporto escolar (páginas 104-107)

4.3. Dimensão “Estrutura organizacional”

4.3.1. Subdimensão "Recrutamento"

4.3.1.2. Categoria “Género”

Nesta categoria tentamos percecionar a existência de discrepância, por género, no recrutamento para a arbitragem no desporto escolar, tentando, nos casos em que ela se regista, analisar as causas para que tal suceda (Quadro 10).

Quadro 10. Categoria - Género

Subcategorias (Número de US) Professores (Número de US)Alunos (Número de US)Árbitros (Número de US)Dirigentes

Discrepância Elevada 6 7 6 2 Moderada 3 2 - 1 Causas de discrepância Preconceitos 7 4 6 3 Falta de gosto pela modalidade 4 2 1 - Total 20 15 13 6 US – Unidades de Significado

O nosso estudo deixa evidente a discrepância entre alunos do sexo masculino e feminino, na adesão à arbitragem, com destaque para as opiniões de alunos e árbitros, que são quase unânimes nessa constatação. Este facto vai ao encontro dos vários estudos realizados no âmbito da prática desportiva, quanto às diferenças de género, os quais revelam que há uma tendência para uma maior participação masculina, face à feminina. Segundo as teorias feministas (Bryson, 1994; Messner, 1994, citados por Marivoet, 2003, p. 62), “a menor participação feminina no desporto deve-se ao facto deste ser marcado pela dominação hegemónica da cultura masculina. Quando se trata de desporto de competição, intenso e organizado, as assimetrias entre os sexos aumentam drasticamente, sendo este um espaço marcadamente masculino”.

Apesar do desporto e da atividade física serem reconhecidos como sendo ferramentas para eliminar os estereótipos de género socialmente construídos, a incorporação da mulher no âmbito desportivo é lenta e difícil. O afastamento da mulher da prática desportiva deveu-se tanto a causas sociais, dada a posição frágil da mulher na sociedade e ao papel que esta lhe atribui, como a causas relativas à própria natureza da atividade desportiva (Costa, 2004).

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Os nossos entrevistados referem a existência de discrepância na adesão por género, sendo as opiniões consensuais aos quatro tipos de agentes inquiridos.

“…existe uma grande diferença, só quase há rapazes a aderir. Às vezes, aparecem equipas femininas que têm árbitras, mas raramente querem arbitrar, querem é ir para a mesa.” (Aluno 2)

“Há uma grande discrepância na adesão por género e eu sei bem porque tento convencer muitas alunas a irem para a arbitragem, tanto no DE, como no núcleo de árbitros, e não consigo. Existe muito mais adesão por parte de alunos do sexo masculino.” (Árbitro 4)

Apesar da generalidade dos entrevistados reconhecerem as diferenças, registam-se algumas opiniões a apontarem alguma moderação, em função, fundamentalmente, do contexto geográfico. De facto, da análise das entrevistas, constata-se que, tanto professores, como alunos da CLDE da Guarda, reconhecem que, apesar de haver mais rapazes do que raparigas a arbitrar, em vários jogos de equipas femininas de escolas dessa coordenação local, os elementos da arbitragem são do sexo feminino.

“Aqui na CLDE Guarda, por norma 60 a 70% nos escalões femininos do futsal são meninas a apitar e nos masculinos são sempre os rapazes. A regra é quase sempre essa. Temos tido uma boa adesão feminina até. Ainda é muito raro ou nem acontece raparigas a arbitrarem jogos masculinos.” (Professor 5)

Na opinião de outros entrevistados, a discrepância também diminui em função do meio, designadamente em meios rurais, facto que está em linha com o pensamento de Marques (2011) já aflorado anteriormente, para quem o desporto escolar é oportunidade única de praticar desporto.

“Há uma discrepância, muitos mais rapazes. No entanto, quanto a mim, é atenuada em função do meio onde estão inseridos. Isto é, mediante os grupos-equipa e modalidades existentes, quer na escola, quer na localidade onde residem, a questão do género pode variar. Pela minha experiência, em sítios mais rurais há mais raparigas a aderir ao desporto escolar.” (Professor 7)

No entanto, parece haver melhorias, facto a que não estará alheio o desenvolvimento recente do futebol feminino no nosso país e a implementação de medidas estratégicas da FPF, como a criação dum plano nacional para a arbitragem feminina.

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“Essa situação era muito pior há uns anos atrás. Antigamente não havia árbitras. Hoje, existe um plano de desenvolvimento na FPF, no qual um dos principais objetivos é ter cada vez mais árbitras.” (Dirigente 3)

As causas para a discrepância verificada, de acordo com as opiniões recolhidas são, fundamentalmente, os preconceitos e o gosto pela modalidade. Os nossos entrevistados referem que, culturalmente, os alunos do sexo masculino estão mais familiarizados com os desportos coletivos, nomeadamente o futebol e as suas variantes. Destaca-se que praticamente não há referência ao gosto pela arbitragem, já que o exercício desta é, segundo algumas opiniões recolhidas, uma forma de ter algum contacto com a modalidade que apreciam.

Os resultados revelam um consenso nos quatro tipos de agentes auscultados e são um indicador que ainda persistem alguns valores culturais associados à prática desportiva feminina, como o do desporto masculinizar as mulheres (Costa, 2004).

“…A meu ver isso deve-se aos rapazes, pela nossa cultura, terem maior gosto pela arbitragem devido a estarem mais familiarizado com o futebol, futsal e esse género de desportos. Na minha opinião trata- se mesmo de uma questão cultural e não tanto de preconceito.” (Aluno 1)

“Por ser rapariga, acham logo que estou a fazer as coisas mal…algum preconceito. As outras meninas não querem arbitrar porque não se querem dar a esse trabalho, desinteresse total e também ninguém as motiva para tal nem ouvir os comentários desagradáveis dos colegas, nem saber lidar com isso.” (Aluno 6)

“…preconceito no panorama geral da arbitragem, a forma como a arbitragem é entendida na sociedade, como o árbitro é criticado constantemente (…) Para mim, é o fator mais importante de inibição das raparigas de aderirem e possivelmente uma certa insegurança que daí advém.” (Dirigente 3)

Na ausência de estudos encontrados sobre a temática, no âmbito do desporto escolar, mais uma vez enquadramos o exercício da arbitragem na prática desportiva, do que se conclui que os resultados obtidos vão ao encontro do estudo de Veigas, Catalão, Ferreira e Boto (2009) onde se sugere que os jovens se envolvem na prática regular do desporto escolar devido a motivos de cariz intrínseco, sendo as raparigas o grupo que, apesar de possuírem as oportunidades, apresentam mais motivos para a não prática.

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Também Costa (2012) estudou os motivos para a prática e não prática de desporto escolar, em alunos com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, tendo-se verificado que, para o sexo feminino, os motivos mais relevantes para a prática são os objetivos desportivos e a orientação para o grupo, e para a não prática é a falta de tempo, algo que não corresponde às opiniões recolhidas, já que apontam sobretudo os preconceitos e a falta de gosto pela modalidade.

Com o intuito de percebermos a evolução do número de árbitras no desporto escolar gostaríamos de ter dados atuais, mas como já foi referido, apesar de insistentemente os termos solicitado, os mesmos nunca foram cedidos por qualquer das entidades a que recorremos.

No documento A arbitragem no desporto escolar (páginas 104-107)