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CATEGORIA DE EXCREÇÃO DA ALBUMINA

4. Resultados e Discussão

4.3 Categoria II: Máquina vilã ou heroína?

De acordo com Costa, Coutinho e Santana (2014), a hemodiálise é representada por sentimentos ambíguos de amor e ódio de pessoas que precisam deste tratamento para sobreviverem, já que esta é uma terapêutica que lhes assegura a vida, mas os tornam dependentes da tecnologia. Por essa razão é identificado binômios ambivalentes como vida e morte, entre os símbolos atribuídos à hemodiálise. Ela é vinculada tanto a sobrevivência quanto à obrigação.

Campos et al (2015) colocam que o significado da terapêutica implica em reconhecer-se carregado de sofrimento e limitações, possivelmente determinados por conhecimentos prévios desses participantes relacionados ao caráter invasivo e permanente do tratamento da hemodiálise. Sua representação pode incorrer na dualidade raiva e gratidão, dependência e manutenção da vida.

Quando falaram “ah você tem que ir para a máquina”, eu imaginava outra coisa. Eu não imaginava assim. Ai meu Deus! Eu pensava até que tinha que entrar dentro de uma máquina. Passa mil coisas na cabeça da gente. Mas é hipocrisia eu falar que não fiquei triste, mas a gente está se entendendo, porque eu sei que eu preciso dela para seguir em frente. Não tenho nada o que falar dela não, ela está me ajudando (ROSA)

Eu nem presto muita atenção nela não. Eu quero só entrar e sair numa boa. (CINZA)

Ela é o que me ajuda né, sem ela eu retenho muito liquido, então não tem como. No momento hoje, eu estou dependente dela, e ela me ajuda bastante mesmo. (AZUL)

No início eu pensava que a máquina era o que me mantinha viva. Mas é o tratamento em si que me mantém viva. (VIOLETA)

É complicado né. Porque não é uma coisa boa, é uma coisa bem invasiva. Porque as vezes a gente sai bem, as vezes a gente sai meio baleado. (MARROM)

Ah foi um caminho andado né, porque senão eu já teria falecido já. Para mim ela é muito coisa. Ela melhorou muito a minha vida. Me fez pensar um pouco na vida mais que antes, porque eu não pensava em nada. (AMARELO)

Ela é a vida. (PRETO)

Minha vida. Infelizmente eu dependo dela. É o que eu falo: graças a Deus tem esse tratamento, é uma doença que a gente não tem escolha, né? Não queria, tanto é que eu vou transplantar novamente porque é muito ruim, suga muito paciente (VERDE)

Para mim é a vida. Porque as pessoas dizem que antigamente morriam muito né. [...] eu pensei que eu fosse ser mais uma a morrer. (LARANJA)

As falas acima registram o significado da máquina de hemodiálise. Assim como aparece na literatura, as falas dos entrevistados apresentam uma ambiguidade de sensações quanto a representatividade da máquina, evidenciando tanto o sentimento de gratidão por terem uma terapia que lhes possibilitem viver, como o sentimento de dependência por necessitarem dela para sobreviverem. A máquina não é vista como uma vilã pelos pacientes que compreendem sua importância na manutenção de sua saúde, porém conseguem expor com clareza que a terapêutica possui aspectos positivos enegativos.

Na categorização das principais respostas encontradas quanto aos aspectos positivos foi a melhora do quadro clínico, como controle da pressão arterial, e melhora dos sintomas da doença como o inchaço, e a manutenção da vida. A maioria dos pacientes relacionaram a vida como um aspecto positivo do tratamento, possuindo um sentimento de gratidão em relação a terapêutica que os permitiu enfrentar a doença. Quanto aos aspectos negativos encontrados, destacam-se a dor, o desânimo, mudanças no vínculo familiar, sofrimento, cansaço, privação, prisão, mal-estar e tempo gasto com a terapêutica.

Em uma contrabalança, os aspectos negativos apareceram muito mais do que os aspectos positivos, levando a percepção de que a terapêutica hemodialítica está ancorada na vivência de sentimentos negativos, porém mesmo assim, ela apresenta-se como salvadora e conservadora da vida.

Eu nem falo que tenho que ir para hemodiálise, eu falo “ amanhã é dia de batalha, amanhã eu tenho que ir para a máquina” (ROSA)

O cérebro fala “ não vou hoje não”, aí depois a gente pensa que precisa ir fazer esse tratamento senão morre, senão a pessoa vai inchar, então tem que ir. Tem que ter aquele pensamento de tem que ir, é obrigado né. (AMARELO)

Ao ligarem o tratamento hemodialítico a sentimentos negativos, alguns pacientes apresentam barreiras a serem superadas para conseguirem ir para a terapia. Todos os pacientes entrevistados estavam saindo de suas casas para realizarem a hemodiálise, ou seja, nenhum deles estava internado. Sair do conforto do seu lar e deixar sua família para realizar um tratamento que você não escolheu, mas que foi imposto por uma doença, é muitas vezes um obstáculo a ser superado. Alguns pacientes ancoram seu sentimento na luta, como se enfrentassem uma batalha entre o não querer ir para aquele tratamento, e ter a obrigação e a necessidade de ir, pois ele é a manutenção da saúde e da vida.

Quanto ao momento da realização da terapia, cada indivíduo demonstrou uma representação diferente. Para alguns o tempo de duração da hemodiálise é marcada por reflexões de sua vida e doença, para outros durante esse momento deve-se esquecer de todos os problemas e não pensar em nada, para outros é um momento de tédio, agonia e prisão, e para outros é um momento marcado de mal-

estar físico. Essa diferença deve-se a singularidade de cada indivíduo marcada pelos seus conhecimentos anteriores, suas crenças e sua vivencia.

Essa representação pode ser relacionada com que Costa, Coutinho e Santana (2014) colocam sobre representação social, em que diz ser um processo de transformação daquilo que não é conhecido em algo familiar e particular. Ou seja, cada indivíduo em sua singularidade reage de uma forma diferente a mesma situação, que nesse caso é o tratamento hemodialítico, pois possui uma forma singular de ancorar o que era até então era desconhecido de acordo suas experiências e conhecimentos.

A gente sente várias coisas ao mesmo tempo. Alívio de ir para casa, mas também preocupação em saber se a dialise foi bem e se não vou passar mal (VIOLETA)

Uma sensação maravilhosa de ir para casa (MARROM) Ah, um alívio. Menos cansaço e mais leve [...] (AMARELO) Alivio. Um alivio. De poder ir para a casa (PRETO)

Eu fico aliviado por ter acabado (VERDE) Ah, eu fico doida para ir embora (LARANJA)

A maioria dos pacientes relata a saída da máquina e o término da terapia como uma coisa boa, principalmente com sentimento de alivio. Esse sentimento se contrapõe aos sentimentos negativos sentidos pelo tratamento. Sua representação é pela sensação de libertação, pois eles se veem livres de algo que os aprisionavam e os acorrentavam, mesmo que tenham que retornar novamente, pois naquele momento se está livre. Outra dimensão da representação é o refrigério de ter passado bem pela máquina, pois o medo do mal-estar também ficou evidenciado pela fala dos entrevistados, sendo assim, terminar a terapia com bem-estar pode ser vista como uma conquista.

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