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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO: O ENSINO DAS LÍNGUAS E AS METAS

2.4. Descrição dos instrumentos de recolha de dados

2.4.4. Categorias de análise das entrevistas

Tal como esclarece Bardin (2013, p. 146), o essencial do método da análise de conteúdo consiste particularmente no processo de classificação (ou categorização):

Classificar elementos em categorias impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com outros. […] A categorização é um processo de tipo estruturalista e comporta duas etapas: o inventário: isolar os elementos; a

classificação: repartir os elementos, e portanto procurar ou impor uma certa

organização às mensagens.

O processo de categorização empregue neste estudo é, segundo este autor, o procedimento por “acervo”, dado que só no final da análise é que é atribuído o nome da categoria, ou seja, “O sistema de categorias não é fornecido, antes resulta da classificação analógica e progressiva dos elementos. […] O título conceptual de cada categoria somente é definido no final da operação.” (Bardin, 2013, p. 147)

Assim, depois de efetuada a leitura e a análise atentas das respostas fornecidas pelos professores às perguntas da entrevista sobre as MCP, realizou-se o cruzamento das respostas, correspondendo cada uma das questões ou grupos de questões às diversas dimensões de análise, que permitiram obter vários padrões e que levaram ao estabelecimento de categorias emergentes.

Em alguns casos, constatou-se, naturalmente, que era possível descrever mais do que uma categoria a cada uma das questões / dimensões em análise. Desta forma, estabelecem-se e definem-se, no Quadro 7, a seguir apresentado, as oito categorias elencadas por ordem alfabética e definidas em termos do seu sentido nesta análise.

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Quadro 7 – Elenco e definição das categorias analíticas

Categorias Definição

Atualização Frequência de ações de formação, pelos professores, sobre as MCP.

Descrença Ceticismo na implementação das MCP como documento normativo, orientador do processo de ensino e aprendizagem, relativamente aos domínios de ensino da língua.

Mais-valia Contributo prático das MCP para melhorar as competências básicas dos alunos.

Mudança Alterações na forma de pensar e nas práticas docentes (introdução de novas metodologias), por parte dos professores, com a implementação das MCP.

Normalidade Processo de implementação das MCP.

Oportunidade Timing concedido à formação e/ou implementação das MCP.

Resistência Dúvidas e incertezas, transmitidas pelos professores, relativamente à concretização dos objetivos propostos pelas MCP.

Relevância Possível valorização concedida pelas MCP, a algum dos domínios do ensino da língua, do ponto de vista dos professores.

Depois de mencionadas as várias categorias e a respetiva definição, interessa fazer uma ligação às várias dimensões de análise, através do guião das entrevistas, servindo o questionário para comparar a forma como os docentes percecionam a implementação das MCP nas suas diferentes turmas. Para tal, apresentam-se, de seguida, alguns exemplos de discursos que comprovam a ocorrência destas categorias.

Neste sentido, na primeira questão/dimensão de análise (1) – Implementação

das MCP e análise do decurso deste processo na prática docente – destacam-se duas

categorias: i) Normalidade; ii) Oportunidade; a seguir exemplificados com a transcrição de alguns dos relatos dos professores:

i) O processo decorreu com relativa tranquilidade, até porque não senti que as

MCP correspondam propriamente a uma inflexão brusca no que se refere à

imposição de conteúdos e de estratégias. (P07)

ii) O timing da implementação foi péssimo. Os manuais para o sétimo ano já tinham sido adotados, quando vieram as MCP o que obrigou a uma reformulação daqueles, por parte dos autores. (P08)

No que respeita à segunda questão/dimensão de análise (2) – Frequência de

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professores – distinguem-se duas categorias: i) Atualização; ii) Oportunidade, como se

verifica nos excertos aqui apresentados:

i). Frequentei a ação Metas Curriculares de Ensino do Português. (P01) ii) Acho que refresquei muito a base teórica da minha ação prática. (P10)

Na terceira questão para análise (3) – Introdução de novas metodologias ao

nível do ensino das línguas e eventuais alterações inerentes às práticas docentes –

evidencia-se apenas a ocorrência de uma categoria: i) Mudança, como sugere o texto abaixo:

i) Não senti que estivesse a fazer algo de diferente com a implementação das MCP. Reconheço que este documento veio dar alguma ênfase sobretudo no domínio da oralidade, todavia a minha prática letiva já contemplava o uso de metodologia pedagógica que ia ao encontro do que é preconizado nas mesmas. (P06)

No que respeita à quarta dimensão de análise (4) – Estatuto privilegiado de

algum dos domínios do ensino da língua e critérios que subjazem a essa seleção –

distingue-se uma categoria: i) Relevância, que a resposta do P05 representa:

i) Não considero que privilegiem algum dos domínios, o que há de novo é o domínio da Educação Literária. (P05)

A quinta dimensão/questão de análise (5) – Alteração na forma como os

docentes veem a Escola com a Implementação da MCP e razões subjacentes a essa mudança – evidencia-se uma categoria: i) Mudança; que se justifica pelo seguinte

depoimento de um professor:

i) Sim, sim, claro. Agora o papel do professor é mais exigente. Como se dizia há pouco numa reunião o que é preciso é que os alunos aprendam, não que os professores só ensinem. Ensinar, só por si, não chega. (P08)

Para a sexta dimensão/questão de análise (6) – Adequação das MCP aos

objetivos do Programa Educação 2015 e inerente influência nas competências básicas dos alunos – destacam-se duas categorias: i) Resistência; ii) Descrença, a seguir

exemplificadas com a transcrição de alguns dos relatos dos professores:

i) Talvez. Mas como referi, algures, a língua é um material complexo e há diferentes abordagens e todas podem conduzir a bom porto. O Importante não é desorientar. Como dizia Kant: ‘mais que fazer grandes descobertas, o importante é não cometer erros’. Às vezes, neste ímpeto reformulador, receio que nos perturbemos nos objetivos finais: preparar os alunos para a aprendizagem. (P02)

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ii) Quanto às MCP, parece-me que contribuirão sobretudo para pressionar mais os professores a cumprir programas (e Metas!), o que até pode contribuir para aumentar as tais competências mas só dos alunos com facilidades ou acompanhamento extraescolar; quanto aos outros, serão cada vez mais excluídos do sistema, pois as escolas têm cada vez menos meios (humanos, materiais e orçamentais) para os ajudar por isso me parece que alguns dos outros objetivos do Programa educação 2015 como a diminuição do abandono escolar, são completamente irrealistas. (P05)

Na sétima e última questão/dimensão de análise (7) – Papel da implementação

das MCP nas Escolas inerentes aos resultados dos alunos – evidenciam-se duas

categorias: i) Mais-valia; ii) Resistência, justificadas por depoimentos de professores:

i) como professora, com a tentativa de introdução das MCP reconheço que devo provocar o aluno a fazer parte da construção do saber, tornando-o cúmplice, obrigando-o a saber pensar; a criticar; a estar sempre com o pensamento em atividade. Como maestrina na sala de aula deverei interagir com todos e cada um em busca da melhoria dos seus resultados, para, em conjunto reconstruirmos conhecimento. (P04)

ii) Sinceramente, penso que é prematuro dizer-se que foi positiva ou negativa devido à sua implementação ser tão recente e ter sido acompanhada em simultâneo de outras alterações curriculares. […] é necessário deixar que o tempo o comprove. (P05)

Entretanto, no próximo capítulo, serão então apresentados os resultados completos da análise de todas as entrevistas, não só por meio de gráficos e de tabelas, mas sobretudo pela descrição narrativa e pela explicação dos dados mais significativos. Pretende-se, como era de esperar, cruzar as diferentes respostas dadas nas entrevistas dos onze professores de Português a lecionar no 5.º e no 7.º Anos de escolaridade.

Antes disso, porém, define-se, de seguida, um estudo complementar de análise de conteúdo de manuais escolares de Português do 3º Ciclo, que já foram elaborados de acordo com as orientações das MCP. O objetivo central desse estudo é o de verificar a introdução de alterações e/ou inovações nesses mesmos manuais.