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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO: O ENSINO DAS LÍNGUAS E AS METAS

2.5. Reflexos das MCP em manuais de Português do 7.º Ano

Os programas e orientações curriculares de Português do Ensino Básico têm sofrido sucessivas alterações nos últimos anos. Neste sentido, tem sido necessário produzir materiais didáticos que estejam em sintonia com toda esta evolução, nomeadamente no que respeita aos manuais escolares, que são considerados o

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recurso de maior relevo para os professores e para os alunos. Segundo Castro (1999, p. 189):

Os manuais escolares são objectos particularmente complexos, característica para que contribuem decisivamente a rede de relações intertextuais em que estão posicionados, a natureza plural dos seus destinatários, a multiplicidade de objectivos que a sua utilização persegue, o tipo de condicionalismos que marcam a sua produção e difusão. Transpondo, com as necessárias adaptações, o princípio bernsteineano de que a linguagem é a expressão visível das relações sociais, direi ser teoricamente defensável o princípio de que a análise do manual, de um manual, permitirá aceder, desde que usada a instrumentação adequada, às características dos diversos factores que o configuram.

Assim, consideramos pertinente analisar dois manuais de Português do 7.º Ano de escolaridade, na sequência da implementação das MCP do Ensino Básico, que obrigou à adaptação dos manuais de Português adotados pelas escolas, de acordo com as novas orientações curriculares definidas pelo Ministério da Educação e da Ciência (MEC), segundo o calendário de implementação fixado no Despacho n.º 15971/2012.

Será, pois, importante verificar as alterações que as MCP poderão ter implicado em manuais escolares de Português do Ensino Básico.

Para esse efeito foram selecionados dois livros de Português do 7º Ano, adotados no ano letivo de 2013/14 e previamente certificados pelo MEC:

1) Novas Leituras, Português, 7º Ano de Alice Amaro. Porto: Edições Asa, 2013, 271 pp. (ME1);

2) (Para)Textos, Português, 7º Ano de Ana Miguel de Paiva, Gabriela Barroso de Almeida, Noémia Jorge e Sónia Gonçalves Junqueira. Porto: Porto Editora, 2013, 288 pp. (ME2).

A escolha destes dois manuais prende-se com o facto de serem, em tempo útil, os mais acessíveis para efetuarmos a sua apreciação e análise, e por se tratar, do nosso ponto de vista, de manuais de editoras com elevados níveis de aceitação no mercado.

A sua análise de conteúdo recairá, apenas, no livro principal e, mais concretamente, na chamada “Edição do Professor”, de acordo com critérios que entretanto se explicitam.

Assim, no que respeita à metodologia de análise destes manuais escolares, ela terá em consideração duas dimensões complementares: por um lado, os textos de abertura dos manuais e, por outro, a estrutura interna dos manuais.

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2.5.1. Análise dos textos de abertura dos manuais

Relativamente a este ponto, a análise incidirá nos textos de abertura desses manuais, no sentido de perceber que orientações são aí indicadas relativamente às

MCP. Como refere Silva (2008, p. 275), “É natural que a análise […] seja feita a partir

das introduções e das apresentações dos manuais, verificando-se quais as orientações teóricas subjacentes […].”

Os aspetos fundamentais a analisar nos textos de abertura são os seguintes: a capa e contracapa, o texto de abertura do autor (um prefácio ou uma introdução), a apresentação esquemática do manual e/ou a unidade 0 (com a explicação da estrutura e da organização do manual). Esta análise é realizada com a intenção de verificar como os títulos, os textos introdutórios e as suas mensagens, as informações

complementares constantes da unidade introdutória do manual sugerem ou indicam como foram implementadas as orientações das MCP.

Daqui resultarão algumas ilações a apresentar num ponto específico do Capítulo III.

2.5.2. Estudo da estrutura interna dos manuais

Depois de olhar criticamente para os discursos introdutórios, num outro aspeto da análise dos manuais escolhidos, será dado enfoque, também, à descrição da estrutura interna dos manuais e à sua organização, com o objetivo de realizar a delimitação e caracterização das suas unidades didáticas, no que respeita, especificamente, às atividades associadas aos cinco domínios (Oralidade, Escrita, Gramática, Leitura e Educação Literária).

Entretanto, a análise, propriamente dita e mais específica, que propomos levar a cabo, incidirá apenas nos domínios da Leitura e da Educação Literária, uma vez que são esses os domínios que, como justificaremos a seguir, mais se interligam e, também, pelo facto de a Educação Literária ser vista como um domínio novo.

Ora, como se pode verificar nas MCP, dois dos objetivos do domínio da Leitura são: “Ler textos diversos” e “Interpretar textos de diferentes tipologias e graus de complexidade” (Buescu et alii, 2012, p. 50). No que diz respeito ao novo domínio da Educação Literária, dois dos seus objetivos têm a ver com: “Ler e interpretar textos literários” e “Apreciar textos literários” (Buescu et alii, 2012, p. 53). Daqui se

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depreenderá que a Leitura tem como objeto todos os géneros de texto, ao passo que a Educação Literária se ocupará especificamente sobre textos do género literário.

Podemos, em todo o caso, considerar que estes dois objetivos do domínio da

Educação Literária implicam os dois outros objetivos do domínio da Leitura, para que, assim, haja um processo gradual de aprendizagem e interpretação das diferentes tipologias de texto com que o aluno é confrontado e que lhe permitirão, em última análise, apreciar textos literários, tornando-se, por isso, difícil conceber estes domínios como totalmente estanques.

Os dados da análise de conteúdo dessas secções específicas dos manuais selecionados também serão apresentados num outro ponto do mesmo Capítulo III, cuja apresentação se faz já de seguida.

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