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Estudo comparativo da estrutura interna de dois manuais de Português

CAPÍTULO III – DESCRIÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

3.5. Estudo comparativo da estrutura interna de dois manuais de Português

Uma outra dimensão da análise dos manuais prende-se com a organização interna dos dois livros de Português do 7.º Ano. Citando Silva (2008, p. 277), “Fazendo- se a descrição dos [2] manuais que constituem os corpora [ME1 e ME2], poderemos não só delinear a sua macroestrutura pela identificação das mais correntes ‘unidades didáticas’, mas também determinar ao nível da microestrutura, o espaço atribuído, nas diversas ‘sequências didáticas’”, às MCP.

Fazendo, entretanto, a análise do índice do manual Novas Leituras (ME1), podemos constatar que este é constituído por cinco unidades, cada uma delas com uma temática abrangente às diversas sequências didáticas, compreendendo, cada uma, atividades em diferentes domínios, como se pode observar no Quadro 12.

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Quadro 12 – Número de atividades por unidade didática nos vários domínios (ME1)

Manual Escolar 1 (ME1) Texto/Fonte Domínio da Leitura Domínio da Oralidade Domínio da Gramática Domínio da Escrita Unidade 1

(Textos dos Media e Utilitários) 11 9 6 8 6 Unidade 2 (A Literatura Tradicional Popular) 5 5 3 4 1 Unidade 3 (Texto Narrativo) 10 10 9 10 8 Unidade 4 (Texto Dramático) 6 6 2 5 4 Unidade 5 (Texto Poético) 13 13 8 8 7 Total 45 43 28 35 26

Como é possível observar no quadro acima (Quadro 12), o ME1 não contempla o domínio da Educação Literária. No entanto, no índice geral, da unidade dois à unidade cinco, estão discriminadas, nas diferentes atividades, as aprendizagens essenciais a realizar pelos alunos, aparecendo a menção “Metas” na margem lateral, imediatamente antes do parâmetro Texto/Fonte, sempre que o texto em questão ou as atividades propostas para cada domínio estão em conformidade com as MCP. Assim, tendo em conta os textos selecionados, os domínios da Leitura e da Educação Literária complementam-se.

Tal como refere o documento das MCP, a Educação Literária integra uma mais- valia indispensável a um bom percurso escolar no ensino básico.

Foi criado o domínio da Educação Literária, que congregou vários descritores que antes estavam dispersos por diferentes domínios. Tal corresponde a uma opção de política da língua e de política de ensino. Por um lado, a Literatura, como repositório de todas as possibilidades históricas da língua, veicula tradições e valores e é, como tal, parte integrante do património nacional; por outro, a Educação Literária contribui para a formação completa do indivíduo e do cidadão. (Buescu et alii, 2012, p. 6)

Pelo que acabamos de ler, é fácil compreender, segundo o nosso ponto de vista, a supremacia do número de atividades, no que respeita aos domínios da Leitura e da Educação Literária (Texto/Fonte), relativamente aos outros três domínios, pois,

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como se pode verificar no índice (ME1, pp. 7-11), todos os textos da sequência dois à sequência seis estão de acordo com as MCP, à exceção de dois desses textos pertencentes à unidade dois, que vão somente na sequência do PPEB (ME1, p. 7).

O manual ME1, “Novas Leituras, incorpora um suporte gramatical com os conteúdos do Conhecimento Explícito da Língua (CEL) trabalhados ao longo do manual.” (ME1, p. 3)

Neste apêndice gramatical, é possível observar uma nota informativa relativa às MCP, que diz: “As subclasses de palavras apresentadas são as que constam das

Metas Curriculares de Português do Ensino Básico.” (ME1, p. 244)

Relativamente ao índice do manual (Para)Textos (ME2), verifica-se que este, tal como o ME1, também é constituído por quatro unidades, cada uma delas com uma temática abrangente às diversas sequências didáticas, dado que cada uma delas remete para atividades em diferentes domínios, como se observa no Quadro 13.

Quadro 13 – Número de atividades por unidade didática nos vários domínios (ME2) Manual Escolar 2 (ME2) Texto/Autor Domínios da Educação Literária/ Leitura Domínio da Gramática Domínio da Escrita Domínio da Oralidade Unidade 1 (Comunicadores do Século XXI) 12 12 10 6 7 Unidade 2 (Narrativas Prodigiosas) 26 26 26 11 6 Unidade 3 (Nas Esferas da Poesia) 14 14 9 6 9 Unidade 4 (Espaço Cénico) 4 4 4 4 2 Total 56 56 49 27 24

Como podemos verificar neste quadro (Quadro 13), estão contemplados os cinco domínios, apesar de constatarmos a presença de apenas quatro colunas no que respeita a esses mesmos domínios. Tal facto deve-se à associação efetuada entre os domínios da Leitura e da Educação Literária, uma vez que ambos se complementam. É, ainda, visível a supremacia do número de atividades no que respeita aos domínios da Educação Literária/Leitura, relativamente a todos os outros domínios.

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Os conteúdos gramaticais estão explanados ao longo do manual em fichas informativas. Para além disso existe, no final do livro, um Suporte Gramatical com os conteúdos trabalhados ao longo do ano letivo. A designação dos títulos das unidades quebra com a tradicional nomenclatura que é pressuposto aparecer nos manuais escolares, no sentido de os tornar, na nossa opinião, mais apelativos e sugestivos.

Nas páginas finais do manual ME2, encontra-se um apêndice com diversas sugestões de atividades de Escrita, de Educação Literária e de Oralidade. Ao longo do livro, em cada uma das sequências didáticas, os domínios previstos nas MCP estão todos assinalados com um símbolo (MC) que, a nosso ver, é bastante útil e facilitador, para os identificarmos como obrigatórios.

Em suma, o manual ME2 aborda, de forma mais explícita, nos textos de abertura, as MCP, fazendo, inclusivamente, no índice, a articulação dos domínios da Educação Literária e da Leitura. Por outro lado, o manual ME1, embora faça referência às MCP no texto de abertura da autora e no índice, não faz referência, neste último, ao domínio da Educação Literária. No entanto, todas as informações necessárias ao cumprimento das MCP, nomeadamente a sua certificação, estão presentes nestes dois manuais de Português, uma vez que ela é feita pelas autoridades educativas.

Como afirma Silva (2008, p. 147)

Em síntese, o poder dos manuais resulta, antes de mais, do facto de os professores, que os adoptam e utilizam, serem por eles influenciados. A verdade é que os próprios documentos programáticos não são tão divulgados nem referenciados como os manuais: estes assumem mais claramente um discurso de regulação e de inovação, apesar de, na prática, também contribuírem para a manutenção de certas práticas tradicionais.

No próximo capítulo passaremos às considerações finais, onde será feita uma apreciação global dos resultados obtidos a partir deste estudo sobre as MCP.

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