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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS (T.R.S) E OS

2.3.3 Categorias encontradas

Palavras: “Cuidar, cuidado, estou, velho, novo, dias, preconceito, direitos,

idosos, viver, acho, perdas, perda da força de trabalho, morte, medo, fim, doenças, fraco, rotina, Deus, aposentadoria, aposentar, discriminação, busca da saúde, dependência, solidão, amor, paz, gosta, participação, amigos, natural, tristeza, paciência, carinho, amor, rabugento, chato, teimoso. ”

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Quadro 4 - Categorização das palavras de representação social

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Primeiramente, o grande foco de todos os artigos pesquisados da amostra, compreende a conceituação da velhice/velho pelos participantes. Todas as quatro pesquisas questionaram aos seus entrevistados como veem a velhice, ou o que pensam sobre os idosos.

Como pode ser observado pelo quadro, uma grande parte das palavras destacadas trazem uma conotação negativa para essa fase da vida. “Preconceito, discriminação, perdas, morte, medo, fim, doenças, solidão, tristeza, rabugento, chato e teimoso” são alguns exemplos de como, até mesmo os próprios idosos, encaram a fase mais avançada da vida.

Palavras que retratam o condicionamento mais fragilizado para essa fase da vida também são observadas como “cuidar, cuidado, fraco, busca da saúde, dependência, paciência”. E, palavras de conotação positiva são escassas limitando- se a termos como “amor, paz, gosta, amigos e carinho”.

Segundo Araújo (2004) e Araújo e Carvalho (2004), é importante pontuar a questão do envelhecimento populacional mas não apenas por preocupações nas esferas econômicas e políticas, mas para acentuar a percepção de que são indivíduos “em que podem ser empreendidas várias potencialidades concernentes à velhice (como a experiência, a responsabilidade, a assertividade, dentre outros)”. Cabe

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culturalmente a mudança das percepções e a modificação das características que são embutidas nos idosos sobre incapacidades e inutilidade.

Vale ressaltar que “aposentadoria” é também um termo significativo na realidade da população envelhecida. Em um dos artigos, foi considerado como uma categoria devido à recorrência da palavra citada nos discursos dos participantes. É na aposentadoria que o indivíduo se vê completamente inserido na realidade do idoso, aquele que não contribui mais para a sociedade com o seu trabalho e que, aos olhos de muitos, tornam-se um tipo de “estorvo”.

Aposentado, o idoso perde muitas vezes seu objetivo de vida e pode desencadear em casos de depressão e até morte. É necessário, nessa fase, o idoso não encarar essa nova etapa da vida como “o começo do fim”, mas sim criar novos interesses e objetivos de vida.

Experiências e preconceitos

Palavras: “Minha, hoje, família, graças, pessoa, idoso, vida, idade, respeito,

pessoa idosa, carinho, sociedade, parte, forma, atenção, experiência, velhos, lado, pais, social, alguém, amor, mente, dificuldade, preconceito, desgosto, Deus, queria, falta, asilo. ”

De características antagônicas, essa categoria mostra que o idoso, devido a sua extensa idade, adquiriu muita experiência e sabedoria durante sua jornada de vida e que merece o respeito e reconhecimento da sociedade (“respeito, carinho, sociedade, experiência, social, alguém, amor”), porém, sabe-se que o mesmo grupo sofre preconceitos formados culturalmente provindos de uma sociedade capitalista que não vê utilidade para aqueles que não podem trabalhar e que venera o que é novo, jovem e forte (“velhos, mente, dificuldade, preconceito, desgosto, queria, falta, asilo”).

Esta categoria deixa explícita a dualidade na Representação Social sobre a velhice que afeta negativamente o cotidiano dos idosos. É explícito que, racionalmente, alcançar a fase da vida de maior experiência e sabedoria deveria ser uma experiência admirável e repleta de respeito, porém, a realidade é contrária. Neri (1993) ressalta que é desse desconhecimento do significado de ser velho que se resulta na indução das práticas da propagação de estereótipos negativos e preconceitos.

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As categorias seguintes apresentam caráteres sociais (família e grupos sociais), porém são propositalmente representadas dissociadas devido à grande importância identificada a esses grupos separadamente.

Família

Palavras: “Abandono, desrespeito, alegria, bem-estar, bom, netos, cuidados,

tudo, felicidade, casa, filhos, mãe, pai, família, filho (a), mulher, sofrem, asilo, tempo, era.”

No artigo “Representações sociais do idoso e da velhice de diferentes faixas etárias”, segundo seus autores e os resultados adquiridos, o papel da família apresentou-se como relações centrais na vida dos idosos para manter não apenas a saúde física e mental do indivíduo, como também o bem-estar e a qualidade de vida.

Mantendo-se uma melhor qualidade de vida, consequentemente o comportamento do idoso pode ser positivamente influenciado, mantendo-o alegre, ativo e garantindo uma boa convivência entre todos os indivíduos no ambiente em que esteja inserido. (MAGNABOSCO-MARTINS; VIZEU-CAMARGO; BIASUS, 2009).

Pela análise das palavras nessa categoria, nota-se outro processo antagônico e ainda assim, relevante. A maior parte dos termos constituintes nessa categoria são de conotação positiva e de cunho benéfico sendo esse um grupo social de maior valor sentimental explícito, (“alegria, bem-estar, bom, netos, cuidados, tudo, felicidade, casa, filhos, pai, família, mulher”) demonstrando o importante papel da família na vida dos idosos. Porém termos negativos, apesar de formarem uma pequena porção da categoria, indicam que a relação idoso-família também pode ser conturbada.

Muitas vezes devido à demanda de atenção e cuidados que o idoso necessita, a relação familiar pode ser abalada por sentimentos de “abandono” (no qual o idoso se sente desvalorizado por parte de seus familiares ou ainda quando esses admitem o idoso em “asilos”) e até “desrespeito” (podendo incluir situações onde o idoso se sente excluído das decisões da casa que envolvem a família).

Grupos sociais (ou grupos de convivência)

Palavras: “Vai, velho (a), idade, grupos, amigos, alegria, importante, respeito,

amizade, dança, atividades, escuta, amor, minimizar solidão, apoio, solidariedade, participação, educação física, ginástica, dança, terceira idade”

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Essa categoria representa, pela própria ocorrência nos artigos, uma parte importante na vida dos idosos. Como pode ser observado, não é composta por palavras de conotação negativa, sendo uma característica única nesse levantamento de dados e, aparentemente, esses grupos fazem parte de uma dinâmica social que deveria ser essencial na vida desse segmento populacional. É nos grupos sociais que o idoso ocupa o seu tempo livre, preenchendo-o com atividades divertidas, saudáveis e criando oportunidades para contato social que muitas vezes lhe falta até mesmo em seu âmbito familiar.

Uma das conclusões imediatas do artigo “Representações Sociais da Velhice entre Idosos que Participam de Grupos de Convivência” de Araújo, Coutinho e Carvalho (2005) afirma a importância desses grupos como práticas sociais:

“Importância desses grupos de convivência, nos quais as práticas sociais desenvolvidas contribuem para que os idosos exerçam seu papel de cidadãos, uma vez que esses espaços de relações interpessoais possibilitam construir novos amigos e propiciam momentos de ‘alegria’, que é algo relevante nessa fase da vida. ”

Com base nesses dados algumas conclusões foram possíveis:

Papel do idoso

Uma forma de comprovar e ter a convicção da possibilidade de mudanças na realidade das Representações Sociais para o contingente da terceira idade na contemporaneidade é saber que, historicamente, os idosos eram vistos de uma forma diferente: eram valorizados. Sua experiência e conhecimentos o tornavam um consultor, tinha-se um status de importância na idade avançada que proporcionava orgulho para todos os envolvidos, tanto o idoso quando as gerações mais jovens que aprendiam com eles, detentor de técnicas no trabalho e experiências na vida.

Atualmente, com o advento digital, o acesso à informação e a aprendizagem se torna uma atividade individual, acentuando ainda mais a realidade segregativa dos idosos. A produção coletiva digital que adiciona e disponibiliza informações para todos (de forma praticamente ilimitada) sobre qualquer assunto fez o aprendizado rápido, simples e fácil. Inúmeras vantagens vieram com o advento da tecnologia, mas dessa forma, uma importante parte do dever com a sociedade que cabia ao idoso, foi retirada de suas responsabilidades.

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Assim, a metáfora social de caráter industrial de uma máquina que, passando pelo processo de atualização, faz melhorias em suas partes, desprezando e descartando as antigas, é de fato a melhor comparação para se fazer no contexto de uma sociedade capitalista que não consegue ver que o idoso é de grande valia. Cabe à população mudar suas formas de encarar a velhice e voltar a inserir o idoso no contexto social.

Contexto familiar

Na atualidade brasileira existem algumas características que podem separar em grupos como os idosos convivem em um contexto familiar. Primeiramente, o idoso pode ser institucionalizado ou não institucionalizado, isto é, residir em ILPI’s com ou sem visitas regulares dos parentes. Caso more na casa de filhos, a dinâmica social vai ter uma influência direta no bem-estar do idoso que pode se sentir acolhido ou excluído.

Nessa realidade, o papel do idoso está, de todo modo, simplificado. Fora da economia, o idoso se limita (quando sua saúde permite) a dedicar o seu tempo a cuidar da família, netos ou procurar novas atividades para ocupar o tempo ocioso, caso contrário, a qualidade de vida será diretamente afetada de modo negativo alimentando os sentimentos de abandono e inutilidade.

E, em contrapartida ao cenário anterior, “se, numa situação abastada, a presença do idoso é um problema e motivo de preocupação, na família pobre de periferia o idoso é disputado” (JUNGES, 2004). Assim, Junges explicita que o papel do idoso em famílias que passam por necessidades financeiras é de provedor.

Sua aposentadoria se torna a única renda fixa de uma família que pode conter além do idoso e seu companheiro de vida, filhos e netos. Nessa realidade, o idoso é visto com maior importância, pois é o fator de ingresso de renda familiar, dessa forma sendo incluído nas decisões e tratado com maior respeito, porém, essa valorização, segundo o mesmo autor, pode também ser interesseira, engendrando relações patológicas de manipulação e aproveitamento em detrimento do bem-estar do idoso.

O Estado e o idoso

“O bem-estar do idoso não depende apenas de relações pessoais de cuidado por parte de familiares ou profissionais. Ele se baseia, muito mais, em políticas públicas que assegurem os direitos do idoso, criando condições para a promoção de sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. “ (Junges, 2004)

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Muitas leis foram criadas com o intuito de garantir direitos aos cidadãos da terceira idade. A Constituição de 1988 (a primeira a envolver especificamente os cidadãos idosos), a criação do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI) em 2002 e o Estatuto do Idoso criado em 2003, por exemplo, expõe a importância dos cuidados com essa parcela da população.

Segundo a Constituição Federal, “a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida” (BRASIL, 1988, p.149) e, mais “recente”, o Estatuto do Idoso conta com 118 artigos que regulamentam os direitos das pessoas com idade igual ou superior a 60 anos e define as medidas de proteção.

O envolvimento do Estado e suas preocupações com os idosos apresentam um caminho evolutivo para a melhora da qualidade de vida desse grupo, apesar de que ainda falta fiscalização para garantir esses direitos criados e toda a utopia das leis que se mantém, infelizmente por muitas vezes, apenas no papel.