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1. BASES PARA UMA COMPREENSÃO DA NATUREZA E DA DEGRADAÇÃO DO

1.3. Causas da degradação do ambiente nas sociedades modernas: considerações

Conforme visto ao longo das seções anteriores, entre as diferentes concepções de natureza foi a perspectiva utilitária e instrumental estabelecida a partir do primado da racionalidade científica e da técnica que se consagrou nas sociedades capitalistas industriais modernas. Embora a degradação do ambiente não seja um fenômeno recente e nem mesmo exclusivo de tais sociedades, considerando que profundas alterações no ambiente também

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foram empreendidas pelas sociedades capitalistas agrárias, é importante observar que foi sob esta perspectiva de natureza que a interferência humana sobre o ambiente assumiu proporções e implicações sem precedentes.

Dessa forma, diferentemente do envolvimento e da integração entre homem e ambiente que orientava o significado da natureza em diversas tradições ambientais, a natureza utilitária foi decisiva para o projeto das sociedades modernas, marcadas pela intensa produção industrial, por hábitos de consumo e modos de vida que resultaram em um contexto em que Mckibben (1990) vai identificar o fim da natureza. Ou seja, com sua retirada do mundo natural, o homem estabeleceu uma série de transformações no ambiente de forma a alterar e comprometer a integridade do sistema-Terra, resultando na morte semântica da noção de ambiente autônomo independente. Conforme o autor, o domínio absoluto do homem moderno sobre a natureza incorreu em sua nova significação - a natureza não é mais independente, pois agora é suscetível à ação humana; a natureza não é mais previsível (sua compreensão matemática), pois sua regularidade fora comprometida por fenômenos como as mudanças do clima, a redução da camada de ozônio etc.

Para observamos as causas estruturais da degradação ambiental nas sociedades industriais modernas, recorremos à sociologia, e de forma mais específica à sociologia ambiental, no sentido de compreendermos as condições primeiras que orientaram a apropriação utilitária da natureza em tais sociedades. Ao invés de nos determos nas causas diretas da degradação ambiente (uso do automóvel, produção de resíduos sólidos, lançamento de externalidades nos rios etc) nos voltamos para uma compreensão social da degradação do ambiente. Assim, apoiamo-nos em Goldblatt (1996) e Hannigan (2009) em suas análises da discussão acerca da crise ambiental na teoria social clássica. Recorremos também a alguns dos teóricos sociais contemporâneos celebrados por sua contribuição para o debate ambiental, a exemplo de Giddens, Gorz, Habermas e Beck e, finalmente, discutimos a problemática do ambiente a partir da sociologia ambiental, guiando-nos por autores como Redclift e Woodgate (2000), Hannigan (2009), Dunlap (2000) e Buttel (2000), entre outros.

Para iniciar, convém ressaltar que apesar de suas limitações, a teoria social clássica manifestou uma dimensão ambiental relevante para o debate contemporâneo. Conforme Goldblatt (1996) e Hannigan (2009), esta dimensão ambiental nos trabalhos dos teóricos clássicos da sociologia foi negligenciada pela maior parte das análises seguintes de suas obras. Contudo, para os autores, é importante perceber que Durkheim, Weber e Marx afastaram-se dos determinismos geográficos e biológicos em suas análises sobre os fenômenos sociais,

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reconhecendo de forma precursora os impactos ecológicos decorrentes da transformação do mundo natural como consequência das estruturas das sociedades modernas.

Conforme Hannigan (2009), na sociologia vinculada aos determinismos geográfico e biológico havia uma supervalorização da influência do ambiente geográfico e da natureza sobre a sociedade. Thomas Buckle, por exemplo, atribuía ao ambiente geográfico (a estética da natureza, o clima etc) papel relevante no desenvolvimento da inteligência dos povos, enquanto Hebert Spencer explicava a sociedade a partir dos conceitos evolucionistas de Darwin. Dessa forma, foi na economia que análises sobre a relação sociedade/ambiente se manifestaram de forma precursora, quando Malthus e Stuart Mill analisaram o crescimento econômico sob o reconhecimento de limites naturais. Para Goldblatt (1996) foi somente a partir da rejeição destes determinismos que especificidades nas relações entre as sociedades e o mundo natural foram assinaladas na sociologia.

Nas análises de Goldblatt (1996) e de Hannigan (2009) sobre as questões ambientais em Durkheim, Weber e Marx, as divergências são apenas quanto à acentuação desta vinculação em cada um deles. Enquanto Marx é consensual quanto à sua contribuição diferenciada, o pensamento de Weber é apontado por Goldblatt (1996) como aquele mais afastado das questões ecológicas, enquanto Hannigan (2009) o faz acerca de Durkheim, sobretudo, em função do seu empenho em elaborar um método sociológico centrado nos fatos sociais e na consciência coletiva. Neste caso, o afastamento das questões ambientais resultou na percepção da sociedade a partir da noção de solidariedade orgânica - equilíbrio social assegurado pela interdependência decorrente da divisão social do trabalho - que, segundo o autor, é influenciada pelo darwinismo social e desprovida de interesses ecológicos.

Já a conexão de Max Weber com as questões ambientais decorre de suas observações sobre as disputas por recursos naturais no contexto da história das religiões. Hannigan (2009), apoiando-se em Buttel (2002) e West (1984), observa que Weber percebeu a racionalização da sociedade como causa da reorientação da sua relação com a natureza em que esta passou a despontar como recurso a ser explorado e dominado pelo homem. Weber caracteriza a economia capitalista a partir da racionalidade (primado do conhecimento técnico e científico), uma forma de assegurar altos níveis de eficiência à produção industrial, mas que ignora qualquer perspectiva ecológica. Esta percepção reconhece haver uma irracionalidade ecológica que se manifesta em desastres ambientais decorrentes do privilégio pelo desenvolvimento tecnológico. Além disso, conforme Hannigan (2009), Weber também destacou a centralidade da racionalidade intelectual, reconhecendo os especialistas como

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atores sociais privilegiados em um contexto marcado pela crença ilimitada nos progressos da própria ciência.

Apesar do interesse reduzido pela degradação do ambiente, a obra de Karl Marx, entre os teóricos clássicos, é aquela de maior relevância ao pensamento ambiental contemporâneo. Para Hannigan (2009), Marx observa o capitalismo e sua expansão como promotores de alienação das pessoas em relação ao mundo e à natureza, causador de doenças, da superpopulação, do desgaste dos solos em função da agricultura mecanizada etc, e que deveria ser substituído por uma outra ordem social. Dessa forma, o marxismo oferece relevantes contribuições à compreensão da atual crise ecológica, sobretudo em função de sua crítica à expansão capitalista e de seu reconhecimento da necessidade de se estabelecer uma relação metabólica entre a sociedade e natureza. Defende-se que Marx tanto reconhece e valoriza essa interdependência orgânica como também denuncia o capitalismo como empreendedor do afastamento do homem da natureza. Assim, é a teoria marxista que sinaliza que nas sociedades capitalistas a economia política legitima a degradação ambiental em favor do acúmulo de riquezas e do crescimento econômico. Portanto, Marx, além de pioneiro defensor de uma agricultura orgânica, desponta como teórico sociológico que aproximou o pensamento da sociologia para as questões ecológicas.

Goldblatt (1996), diferentemente de Hannigan (2009), atribui a Weber as maiores limitações quanto às questões ambientais, uma vez que apesar de evidenciar impactos ecológicos decorrentes do nomadismo e da produção agrária, seu interesse recaiu sobre a propriedade e à produção. Dessa forma, em Marx e Durkheim são reconhecidas maior clareza acerca das interações entre a sociedade e a natureza, sobretudo pela ênfase atribuída à economia e à demografia em suas obras. Conforme o autor, a noção de economia de Marx compreende a transformação do mundo natural através da produção material.

Ainda de acordo com Goldblatt (1996), Marx e Durkheim revelaram que a sociedade industrial moderna não enfrentou constrangimentos quanto aos limites ambientais. Assim, com eles observamos que o capitalismo industrial, em sua fase inicial, assegurou um desenvolvimento econômico empreendendo profundas transformações na organização social e também no meio ambiente, mas os impactos ambientais dos métodos de produção não constituiriam uma problemática para o seu avanço. Marx reconheceu ameaças como o esgotamento dos solos e o uso intensivo dos recursos naturais, mas foram os constrangimentos decorrentes da organização social em curso que constituíram a principal pauta da teoria social marxista e não as questões ecológicas. Para Goldblatt (1996), apesar desse reduzido interesse teórico pela relação sociedade e ambiente, foi Marx, entre os teóricos

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sociais clássicos, quem avançou significativamente nesse questionamento. Contudo, ressalta- se que tais abordagens foram limitadas pela incipiente compreensão acerca dos impactos da economia e da produção sobre o mundo natural e pela observação das questões ecológicas no contexto da influência do ambiente nas sociedades pré-modernas e na superação de suas imposições pelas sociedades modernas.

Mas, a teoria social clássica não foi relevante apenas por identificar a problemática ambiental como consequência da estrutura social. Suas análises acerca dos conflitos políticos contribuem significativa para à compreensão das políticas ambientais contemporâneas e da emergência dos movimentos ambientalistas, é o que defende Goldblatt (1996). Durkheim concebia a emergência dos conflitos políticos como consequência da divisão social do trabalho, assinalando que as divergências de interesses demarcavam a mobilização política. Para Marx, não somente os interesses mas também os ideais orientavam a mobilização política, uma vez que esta traduzia a luta de classes e o enfretamento da injustiça decorrente do sistema moral estabelecido pela transformação cultural ideologicamente estabelecida. Para Weber a mobilização política decorria dos conflitos de interesses políticos e econômicos estabelecidos, mas era limitada quanto à capacidade da classe trabalhadora superar essas desigualdades de interesses. Em meio ao ceticismo weberiano acerca das potencialidades da mobilização política, Marx e Durkheim acreditavam em sua capacidade de minimizar as desigualdades sociais.

Nesse sentido, apesar de a teoria social clássica mostrar-se insuficiente à compreensão das relações entre a sociedade e o ambiente, suas concepções acerca da mobilização política revelam a estrutura social em sua influência na determinação de interesses políticos e econômicos, e também sobre a dinâmica do desenvolvimento cultural nas sociedades modernas. Além disso, o reconhecimento dos movimentos socialistas enquanto forças de oposição política é relevante à compreensão dos movimentos sociais e ambientalistas que mais tarde viriam a se manifestar.

Esse breve panorama acerca da interface entre a teoria social clássica e as questões ambientais orienta-nos a perceber, conforme acentua Goldblatt (1996), a degradação ambiental simultaneamente como problemática econômica, política e demográfica, cujo enfrentamento deve resultar da mobilização política em favor de uma causa moral da preservação da natureza, reivindicando menos imposições por parte dos interesses econômicos e políticos. Para Hannigan (2009), embora não seja consensual o reconhecimento das contribuições dos clássicos para o debate ambiental, sobretudo pela sociologia dedicada a compreender a modernização das sociedades e que vigorou nas décadas de 1950 e 1970, foi

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com a emergência da sociologia do ambiente que tais contribuições passaram a ser valorizadas. Dessa forma, foi a partir dessas contribuições que a teoria social contemporânea contemplou a ecologia com maior ênfase, seja através das questões econômicas, culturais ou políticas.

Entre o distanciamento da sociologia clássica em relação às questões ambientais até a centralidade destas na sociologia ambiental, é importante considerar que a teoria social contemporânea foi decisiva para o debate ambiental, sobretudo a partir de suas contribuições para a compreensão das origens, dos impactos e das condições políticas para o enfrentamento da problemática do ambiente nas sociedades modernas. Dessa forma, apoiando-nos em Goldblatt (1996), recorremos a Giddens, Beck, Gorz e Habermas no sentido de observarmos suas contribuições para a compreensão das causas estruturais da degradação ambiental e também das motivações que resultaram na mobilização em torno da política do ambiente. Autores como Dunlap (2000), Cable, Shriver e Mix (2009), McCarthy e King (2009) e Goldblatt (1996) ressaltam esses teóricos da sociologia por suas relevantes influências na sociologia do ambiente.

Anthony Giddens observa a degradação do ambiente a partir de suas análises sobre a modernidade – um contexto marcado por uma configuração particular do capitalismo, industrialismo, fiscalização do estado e poder militar. Conforme o autor, a lógica capitalista (GIDDENS, 2001) e o industrialismo (GIDDENS, 1991) configuram as causas estruturais da degradação ambiental nas sociedades capitalistas industriais modernas.

O que se torna central no pensamento do autor é a ideia de que o industrialismo permitiu à expansão do capitalismo, estimulando seu crescimento a partir da superação dos constrangimentos ambientais. Dessa forma, a dinâmica do industrialismo moderno, marcada pela intensa mecanização em busca do aumento da produtividade industrial, expandiu os mercados e a produção, mas também resultou no crescimento populacional, na intensificação da poluição e no maior consumo de recursos naturais. Giddens (1991) ressalta que nas economias capitalistas industriais o poder transformador da tecnologia se tornou mais intenso, assegurando um grau inédito de interferência no meio ambiente.

A partir da noção de Globalização, Giddens (1991) assinala que o industrialismo globalizado introduziu impactos ambientais de ordem global (mudanças climáticas, chuva ácida etc), reconhecendo que acontecimentos ambientais localizados podem repercutir em todo o planeta. Trata-se de observar a degradação ambiental considerando a diversidade geográfica dos ecossistemas em suas diferentes condições de suportar e reagir aos impactos ambientais. Além disso, e ainda mais importante, é que ao reconhecer que as origens e as

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consequências da degradação ambiental não estão confinadas em uma mesma região, o autor torna evidente a assimetria entre processos sociais e degradação. Assim, na perspectiva do autor, a modernidade (economia capitalista mundial) pode ser compreendida como um contexto marcado por diferenças políticas e econômicas que configuram as consequências ecológicas atuais e que resultam em uma assimetria quanto ao poder de degradação e o poder de enfrentamento de suas consequências entre as nações.

Em linhas gerais, para Giddens (1991), o industrialismo globalizado é responsável pela degradação ambiental na modernidade. Consequentemente, observa-se que a Globalização estabelece impactos não apenas na esfera econômica e produtiva, mas sobretudo na vida cotidiana, quando a intensificação da degradação do ambiente resulta na apreensão do mundo moderno como um contexto de graves riscos e ameaças ecológicas. Assim, a degradação do ambiente traduz, acima de tudo, os impactos das inovações tecnológicas estabelecidas no interior da produção industrial nas sociedades modernas.

Em Gorz (1980) a degradação ambiental nas sociedades modernas está associada à economia política pós-industrial6, caracterizada pelo empenho dos sistemas políticos em assegurar o crescimento da produção industrial, o consumo e o acúmulo de riquezas. Defende-se que esta lógica de crescimento da produção, que também fora internalizada por economias socialistas como a China e a Rússia, orienta-se exclusivamente por interesses econômicos, mas termina por ser incapaz de assegurar a prosperidade a longo prazo e também o equilíbrio ecológico. Gorz (1985) é contundente ao ressaltar que o capitalismo nem manifesta uma orientação moral nem reconhece limites do mundo natural.

Sob a perspectiva da economia política observada por Gorz (1980) a degradação do ambiente também é fortemente influenciada pela dimensão cultural das sociedades ocidentais pós-industriais. Conforme o autor, não é apenas a elevação da produção industrial que ameaça a natureza, mas também o aumento nos níveis de consumo que caracteriza os estilos de vidas destas sociedades. Dessa forma, a esfera do consumo desponta como fator relevante para o agravamento da crise ambiental, orientando-nos a perceber que o enfrentamento desta crise não passa apenas pela imposição de mudanças na dinâmica produtiva, mas pela adoção de mudanças no plano cultural de forma a estabelecer uma reorientação moral tanto em relação ao consumo quanto à vida política.

6 Andre Gorz ressalta os impactos da tecnologia na produção capitalista, sobretudo as implicações decorrentes da revolução do micro chip e da informática. A esse contexto marcado por profundas alterações no mercado de trabalho, na organização e no controle da produção, em que a inovação tecnológica desponta como elemento de transformação social, o autor denomina de sociedade pós-industrial. Ver mais em Gorz (1980).

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Nesse contexto, a crise ecológica estabelece um dos maiores desafios à manutenção do capitalismo, conforme observa Gorz (2013). Para o autor, os danos ambientais decorrentes da expansão capitalista estabeleceram um impasse entre crescimento econômico e reconhecimento de limites ambientais, sobretudo face aos impactos da internalização dos custos socioambientais – elevação da tributação sobre a produção capitalista. Nesse contexto, o capitalismo passa a ser observado em sua tendência de expandir a produção e também à degradação, enquanto ao Estado cabe o papel de reconhecer e internalizar os custos sociais e ambientais dai decorrentes. Convém atentar que autor acentua as inovações tecnológicas e não as relações capitalistas como causa estrutural da degradação do ambiente nas sociedades pós-industriais.

No que diz respeito à Teoria da Ação Comunicativa de Habermas, Goldblatt (1996) ressalta que a degradação ambiental nas sociedades industriais pode ser compreendida como uma das patologias da modernidade. Em síntese, Habermas (2012) compreende as sociedades modernas a partir do paradoxo moral em torno do abandono da ética tradicional e do desafio da busca por normas morais em si mesmas. Como alternativa para essa estruturação da ética moderna, o autor valoriza a ação linguística defendendo que a racionalidade comunicativa - o emprego da linguagem (atos comunicativos) para coordenar as ações humanas – é condição para uma mútua compreensão entre os indivíduos. Contudo, de acordo com o autor, esse potencial é raramente manifestado nas sociedades modernas o que resulta em um desenvolvimento unilateral e patológico, sobretudo pela ênfase atribuída ao sucesso material e pela negligencia em relação aos progressos morais. Em sua perspectiva, o progresso social deveria ser orientado por normas morais e de justiça, pela busca do consenso entre as diversas perspectivas e pelos potenciais da racionalidade comunicativa de forma a assegurar uma visão mútua do mundo.

Ainda de acordo com esta perspectiva, as sociedades modernas são descritas por sistemas (a política e a economia) que privilegiam poder e riqueza em detrimento de referenciais éticos e normativos com base no ato da comunicação (o mundo da vida). Dessa forma, Habermas (1980) observa essa racionalização sociocultural do “mundo da vida” como causa das patologias da modernidade, em um contexto em que o próprio Estado-previdência vai legitimar as ações econômicas e enfraquecer a ação do indivíduo em favor do crescimento econômico. A esse processo de reprodução da racionalidade da modernidade Habermas (1980) vai denominar de colonização do mundo da vida, em que o privilégio pelos sistemas econômicos resulta na desarticulação dos interesses políticos e econômicos com os anseios coletivos, além do empobrecimento cultural e da consciência fragmentada do quotidiano.

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Nesse contexto, a degradação ambiental pode ser observada como uma das patologias da modernidade quando do privilegio ao desenvolvimento capitalista e do consequente impacto da política e da economia sobre o meio ambiente, sobretudo legitimada pela cultura decorrente do mundo da vida racionalizado. Em Habermas é a racionalidade capitalista a causa estrutural da degradação ambiental, não o industrialismo como o desponta em Gorz e Giddens.

A perspectiva da Sociedade de Risco de Beck (2010) desponta como uma das mais influentes abordagens sociológicas contemporâneas acerca da degradação do ambiente. Para Beck (2010), as sociedades contemporâneas são caracterizadas por um contexto de riscos e ameaças decorrentes da intensa industrialização. Trata-se de uma modernidade reflexiva, pois as transformações tecnológicas que orientam o crescimento econômico se revelam responsáveis pela degradação ambiental, introduzindo riscos de alcance global e com elevada toxidade (destruição da camada de ozônio, mudanças climáticas etc). Assim, as sociedades de risco são marcadas pela percepção de perigos e ameaças provenientes da ação humana sobre o planeta, um contexto complexo em função das dificuldades de mensuração e previsibilidade acerca de tais ameaças. Contudo, há uma invisibilidade social quanto ao reconhecimento e associação das origens, consequências e agentes promotores dos riscos, e também sérias limitações na capacidade dos sistemas legais de responsabilização e punição. Na verdade, para Beck (2010), é a ciência que assume centralidade na interpretação e enfrentamento (oferecendo alternativas tecnológicas) diante desta complexidade dos riscos na modernidade reflexiva, uma vez que ela também desponta como responsável pela degradação do ambiente (ao impulsionar o desenvolvimento tecnológico).

É interessante observar que Beck (2010) analisa a economia política da modernidade a partir das noções de irresponsabilidade organizada e explosividade social do perigo. O autor considera que o Estado, incapaz de enfrentar a dinâmica capitalista e sua orientação pautada nos riscos e na insegurança social, se esforça por negar a degradação ambiental, empreendendo uma legislação ambiental abrangente, mas desinteressada (ou incapaz) em atribuir responsabilidades. Dada a essa irresponsabilidade generalizada, a ineficiência dos sistemas jurídicos-políticos constitui um mecanismo decisivo para assegurar a invisibilidade social dos riscos em sua complexidade. Além disso, a ocorrência de problemas ecológicos com abrangência global resulta em ameaça à estabilidade social, afetando atitudes e comportamentos, sobretudo em decorrência de catástrofes ambientais (Chernobyl, Love Canal etc). Assim, essa explosividade social dos perigos expõe a fragilidade do Estado em assegurar