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Causas gerais de exclusão da culpabilidade no direito brasileiro

1 OS TRANSTORNOS MENTAIS E A PSICOPATIA

1.2 CULPABILIDADE E TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS NO

1.2.2 Causas gerais de exclusão da culpabilidade no direito brasileiro

Para finalizar o estudo em torno da culpabilidade faz-se necessário um estudo em torno de suas exludentes. No entendimento de Julio Fabbrini Mirabete (2006, p. 194) “É necessário, porém, para se impor a pena, que se verifique se há culpabilidade, ou seja, se existem os elementos que compõem a reprovabilidade da

conduta”. Logo, o Código Penal brasileiro prevê um conjunto de excludentes, que serão abordadas a seguir.

Em uma primeira e geral acepção, tem-se a não culpabilização pela inimputabilidade do sujeito, por doença mental, desenvolvimento mental incompleto e desenvolvimento mental retardado, embriaguez fortuita e desenvolvimento mental incompleto para o menor de 18 anos de idade. A segunda situação é a exclusão da culpabilidade se dá pela ausência de conhecimento da ilicitude do fato, o que ocorre por erro de proibição escusável, erro inevitável a respeito das descriminantes putativas e obediência à ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico. Na terceira e ultima acepção, a excludente existe pela inexibilidade de conduta diversa, o que se identifica na coação moral irresistível.

Sabe-se que a imputabilidade é um conjunto de condições pessoais, que capacitam o agente a compreender o caráter ilícito do fato ou de autodeterminar-se segundo este entendimento. Deste modo, quando se comete um fato delituso, faz-se necessário que o agente que o praticou entenda a gravidade de sua ação, ou seja, deve-se atentar para a capacidade de sanidade psíquica desse sujeito. A grande problemática começa quando o autor do fato delituoso não apresenta capacidade mental para auferir sua responsabilização penal perante o ilícito, logo, tem-se a primeira excludente de culpabilidade.

A doença mental e o desenvolvimento mental incompleto ou retardado são excludentes de culpabilidade mais discutidas e interessantes aos olhos do direito penal brasileiro. Entende-se, como já mencionado anteriormente, que doença mental é um quadro que qualquer sujeito pode-se encontrar-se, há a incidência de alterações psíquicas, que podem ter uma origem patológica ou toxicológica. Seguindo essa linha de pensamento tem-se a visão de Nucci (2009, p. 292)

O desenvolvimento mental incompleto ou retardado consiste numa limitada capacidade de compreensão do ilícito ou da falta de condições de se autodeterminar, conforme o precário entendimento, tendo em vista ainda não ter o agente atingido a sua maturidade intelectual e física, seja por conta da idade, seja porque apresenta alguma caracterísitica particular, como o silvícola não civilizado ou o surdo sem capacidade de comunicação.

A embriaguez é outra causa que poderá excluir a culpabilidade, porém, a mesma deve ser causada de forma completa e acidental. Esse estado é entendido como uma quantidade elevada de substância alcoólica. Logo, essa condição apresenta seus níveis. O primeiro é o inicial, conhecido como excitação, o segundo é o intermediário que seria o da depressão, o último é o da embriaguez letárgica, caracterizado pelo sono profundo, podendo também o sujeito que ingeriu a substância encontrar-se em estado de coma.

Ao entender de Cezar Roberto Bitencourt (2011, p. 430), o estado de embriaguez possui suas formas ou modalidades, sendo que as mesmas irão se aplicar no direito penal brasileiro, logo, o autor aduz que

A embriaguez no nosso ordenamento jurídico, sob o aspecto subjetivo, isto é, referente à influência do momento em que o agente coloca-se em estado de embriaguez, pode apresentar-se como: a)

não acidental: voluntária (intencional) ou culposa (imprudente); b) acidental: caso fortuito ou força maior; c) preordenada; d) habitual e/ou patológica.

A próxima causa de não responsabilização na seara da culpabilidade está na questão do desenvolvimento físico e de personalidade do sujeito que comete o fato criminoso, trata-se de sua capacidade incompleta, pois o mesmo não apresenta a maioridade penal, ou seja, os 18 anos completos para poder ser responsabilizado penalmente pelos seus atos. Nas palavras de Fabbrini e Mirabete (2006, p. 202)

Adotou-se no dispositivo um critério puramente biológico (idade do autor do fato) não se levando em conta o desenvolvimento mental do menor, que não está sujeito à sanção penal ainda que plenamente capaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acorodo com esse entendimento. Trata-se de uma presunção absoluta de inimputabilidade que faz com que o menor seja considerado como tendo desenvolvimento mental incompleto em decorrência de um critério de política criminal. Implicitamente, a lei estabelece que o menor de 18 anos não é capaz de entender as normas da vida social e de agir conforme esse estendimento.

A questão da obediência à ordem também está no rol das excludentes de culpabilidade, da qual o indíviduo que a comete não consegue compreender a

ilicitude do fato, em sua obra o autor Guilherme de Souza Nucci (2009, p. 299) faz menção sobre o tema “É a ordem de duvidosa legalidade dada pelo superior hierárquico ao ser subordinado, para que cometa uma agressão a terceiro, sob pena de responder pela inobservância da determinação”. Entende-se que a ordem hierarquica respeita algumas elementares, quais são: existência de uma ordem não manifestamente ilegal, ordem emanda de autoridade competente, a subordinação hierárquica, estrito cumprimento da ordem e a existência de três envolvidos, o superior, o subordinado e a vítima.

Em simetria ao conteúdo, faz-se necessário citar os outros dois casos do não conhecimento da ilicitude do fato, quais são: o erro de proibição escusável e as descriminantes putativas. Nas palavras do renomado Guilherme de Souza Nucci (2009, p. 309), a primeira excludente de culpabilidade está ligada ao erro “[...] cuida- se da hipótese do agente que atua sem consciência potencial da ilicitude, razão pela qual não deve sofrer juízo de censura, caso pratique um fato típico e antijurídico”. A segunda excludente acima citada está relacionada com as descriminates putativas, nas palvras de Nucci (2009, p. 309) “[...] trata-se de excludente de ilicitude imaginária, que retira do agente a capacidade de atuar conforme o direito, tendo em vista a ausência de consciência potencial da ilicitude”.

Em uma última classificação, tem-se a excludente da culpabilidade pela coação moral irresistível, a mesma está de acordo com a inexigibilidade de conduta diversa perante o fato criminoso. Portanto, entende-se que havendo uma coação moral tão violenta a ponto de não se poder tomar a atitude correta perante o acontecimento delituso, não pode ser exigido do coato que haja de maneira diversa, não lesando seu próximo, isso porque o não obedecimento do coator pode gerar prejuízos significativos se desobedecida a sua vontade. Nas palavras de Bitencourt (2011, p. 421)

Coação irresistível, com idoniedade para afastar a culpabilidade, é a

coação moral, a conhecida grave ameaça, uma vez que a coação física exclui a própria ação, não havendo, consequentemente, conduta típica. Coação irresistível é tudo o que pressiona a vontade impondo determinado comportamento, eliminado ou reduzido o poder de escolha, consequentemente, trata-se da coação moral.

Após o delinear desse primeiro capítulo e diante das diversas inquietações que o tema em questão gera, foi possível constatar que os transtornos mentais vêm crescendo na sociedade, sendo que a psicopatia é um dos que mais chama a atenção. Também, evidenciou-se a questão da culpabilidade no direito brasileiro, entendendo que esse instituto funda-se no juízo de reprovabilidade por um ato criminoso, e autoriza a imposição da pena. Diante das mais variadas teorias para a culpabilidade o nosso ordenamento pátrio adotou a normativa-pura, a qual excluiu o dolo dando maior ênfase para a questão da censura ou da reprovação que recai sobre a conduta de quem escolheu livremente a prática da conduta criminosa. Por último, podem-se demonstrar nesse primeiro capítulo da pesquisa as diferentes causas de exclusão da culpabilidade, sendo que entre estas a que realmente importa para a pesquisa é a da inimputabilidade do sujeito, a qual será devidamente estudada no decorrer do segundo capítulo.

Na segunda parte desse estudo, a abordagem ficará na questão da responsabilização penal mais correta para o psicopata, dessa forma, é preciso fazer uma diferenciação entre imputabilidade e inimputabilidade, a questão da semi- imputabilidade como um caminho intermediário entre a sanidade e a doença mental, além disso, falar-se-á sobre as penas versus as medidas de segurança e por fim o trabalho irá tentar solucionar qual a medida de caráter sancionatória mais adequada para o sujeito que não apresenta empatia com o seu próximo.

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