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2 PSICOPATIA E RESPONSABILIDADE PENAL

2.1 IMPUTABILIDADE VERSUS INIMPUTABILIDADE NA LEGISLAÇÃO PENAL

2.1.2 Das Penas e das Medidas de Segurança

Considerando o cometimento de crimes por parte do psicopata é necessário fazer uma diferenciação entre a pena e a medida de segurança. Essas duas medidas de caráter sancionário embasam o sistema punitivo brasileiro, sendo que entender o que cada uma significa e a sua devida aplicação ao caso concreto é de extrema importância para o estudo em questão.

No que respeita à pena, considera-se a forma mais antiga de repelir o sujeito que pratica algum ilícito penal. Em uma primeira acepção a pena era vista com um caráter sacral, após veio como sinônimo de vingança. Já na antiguidade Grega e Romana as duas principais penas que existiam eram: as capitais e as físicas, sendo essas últimas de uma crueldade e brutalidade sem tamanho, chegando muitas vezes a matar o indivíduo que dela sofria.

A pena é um ônus do ato criminoso, o sujeito sabendo que a lei proíbe diversas condutas mesmo assim acaba por praticá-las, deverá responsabilizar-se penalmente, nesse sentido, tem-se o entendimento de Rogério Greco (2006, p. 519)

A pena é a consequência natural imposta pelo Estado quando alguém pratica uma infração penal. Quando o agente comete um fato típico, ilícito e culpável, abre-se a possibilidade para o Estado de fazer valer o seu ius puniendi.

Nessa mesma linha, tem-se a conceituação de pena segundo o autor Fernando Capez (2006, p. 357)

Conceito de pena: Sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em execução de uma sentença, ao culpado pela prática de

uma infração penal, consistente na restrição ou privação de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar a retribuição punitiva ao delinquente, promover a sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela intimidação dirigida à coletividade.

Ainda, faz-se importante ressaltar que a pena está estritamente ligada com a norma em vigor seja ela na matéria penal, civil, administrativa, tributária, trabalhista, entre outras áreas do direito, logo, deve-se compreender que a pena não é só a aquela de caráter pessoal e de sofrimento físico, a mesma vincula-se com as diversas condutas dos seres humanos e é tratada nas mais variadas legislações brasileiras.

Em contrapartida, é fundamental afirmar que para o estudo em questão o que importa de fato é a pena definida na legislação penal, sendo que nas palavras de Isabela Escolano (2015)

As penas no direito penal são punições definidas pelo legislador e normatizadas na parte especial do Código Penal. É necessário que haja a regulamentação para que a convivência em sociedade não ultrapasse os direitos e os limites dos cidadãos. A lei tem a finalidade de corrigir, de remediar o comportamento social. Dessa forma, a lei sem punição se torna ineficaz, sendo necessário que a lei estabeleça uma forma de punição para cada ato ilícito que possa ser praticado.

Depois de elencados conceitos para o verdadeiro significado da pena, alude- se que a mesma apresenta características especiais que devem ser observadas no momento de sua aplicação, assim, segundo entendimento de Fernando Capez (2006, p. 357) as características da pena são

a) Legalidade: a pena deve estar prevista em lei vigente, não se admitindo seja cominada em regulamento ou ato normativo infralegal [...].

b) Anterioridade: a lei já deve estar em vigor na época em que for praticada a infração penal [...]

c) Personalidade: a pena não pode passar da pessoa do condenado [...]. Assim, a pena de multa ainda que considerada dívida de valor para fins de cobrança não pode ser exigida dos herdeiros do falecido.

d) Individualidade: a sua imposição e cumprimento deverão ser individualizados de acordo com a cumplicidade e o mérito do sentenciado [...].

e) Inderrogabilidade: salvo execuções legais, a pena não pode deixar de ser aplicada sob nenhum fundamento. Assim, por exemplo, o juiz não pode extinguir a pena de multa levando em conta seu valor irrisório.

f) Proporcionalidade: a pena deve ser proporcional ao crime praticado [...].

g) Humanidade: não são admitidas as penas de morte, salvo em caso de guerra declarada, perpétua (CP art. 75), de trabalhos forçados de banimento e cruéis [...].

Pode-se dizer que a pena também causa um certo sofrimento para quem a está cumprindo, isso porque, o sujeito que está passando por essa determinação judicial deve entender que já não pode levar sua vida de forma normal, tomando qualquer decisão e agindo da maneira que bem lhe convir, isso porque ele está sujeito a punição que lhe foi imposta seja ela de caráter restritivo de liberdade, restritivo de direito ou de multa.

Quanto à finalidade da pena, Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 88) afirma que

Apesar do acirrado debate que a questão dos fins da pena suscita, variando seu enfoque de acordo com o posicionamento histórico, morais, sociológicos, filosóficos, religiosos, políticos e institucionais, pode-se estabelecer, com base em dispositivo legal vigente (art. 59 do CP), que a pena apresenta finalidade mista: retribuição e

prevenção.

Após entender que a pena é uma medida extremamente necessária para o sujeito que viola a norma penal vigente, faz-se necessário trazer ao estudo as espécies de pena, assim, dispõe de Rogério Greco (2006, p. 532) sobre a primeira modalidade de pena, qual seja: a privativa de liberdade

As penas privativas de liberdade previstas do Código Penal para os crimes ou delitos são as de reclusão e detenção. Deve ser ressaltado, contudo, eu a Lei das Contravenções Penais também prevê sua pena privativa de liberdade, que é a prisão simples.

No que tange à segunda modalidade de pena, quais sejam as restritivas de direito, o autor Rogério Greco (2006, p. 532) diz que

As penas restritivas de direito, de acordo com a nova redação dada ao art. 43 do Código Penal pela Lei nº 9.714/98 são: a) prestação pecuniária; b) perda de bens e valores; c) prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; d) interdição temporária de direitos e e) limitação de fim de semana.

A terceira e última classificação da pena é a multa, nesse sentido, Rogério Greco (2006, p. 532) alude que

A multa penal é de natureza pecuniária e o seu cálculo é elaborado considerando-se o sistema de dias-multa, que poderá variar entre um mínimo de 10 (dez) ao máximo de 330 (trezentos e sessenta) dias-multa, sendo que o valor correspondente a cada dia multa será de 1/30 do valor do salário mínimo vigente à época dos fatos até 5 (cinco) vezes esse valor. Poderá o juiz, contudo, verificando a capacidade econômica do réu, triplicar o valor do dia-multa, segundo a norma contida no § 1º do art. 60 do Código Penal.

Outro apontamento relevante faz referência quanto ao momento na fase judicial para a aplicação da pena, sendo assim, o autor Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 110) enuncia que

Deve ser a pena fixada incialmente entre os limites mínimo e máximo estabelecidos para o ilícito penal. Nos termos do art. 59 do Código Penal, o juiz, atendendo às circunstâncias judiciais, deve não somente determinar a pena aplicável entre as cominadas alternativamente, como também fixar, dentro dos limites legais, a quantidade de sanção. Estabelecerá, ainda, o juiz, sentença, o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade e sua substituição por outra espécie de peba, se cabível.

No que respeita ao limite da pena privativa de liberdade tem-se o entendimento consolidado pelo artigo 75 do Código Penal, o mesmo faz referência ao tempo de cumprimento da pena, o qual não pode ser superior a 30 anos. Esse período de tempo tem gerado uma série de inquietações por parte da sociedade, conforme dispõe o autor Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 118)

Esse limite de tempo para o cumprimento de pena tem gerado

debates em alguns segmentos da sociedade e também no universo jurídico. Para alguns, o limite é baixo em razão da gravidade de alguns delitos praticados, sustentando-se a adoção, no Brasil, de limites maiores ou de prisão perpétua. Para outros, trata-se de

limite adequado, não somente em vista da garantia constitucional da inadmissibilidade de penas de caráter perpétuo no Brasil (art. 5º, XLVII, b, da CF), como também em vista do tempo mais que suficiente para o Estado promover a recuperação e a ressocialização do condenado.

Em uma segunda acepção de sanção penal, tem-se a Medida de Segurança, a qual é aplicável para todos os casos em que há constatação nos autos processuais de que o criminoso é acometido de doença mental que o impede de entender e se posicionar de forma adversa quando do cometimento de infrações penais, nesse viés, conforme entendimento de Rogério Greco (2006, p. 725-726)

Hoje, depois da reforma penal de 1984, afastada o sistema do duplo binário, pelo vicariante que quer dizer sistema de substituição aplica-se medida de segurança, como regra, ao inimputável que houver aplicado uma conduta típica e ilícita, não sendo, porém, culpável. Assim, o inimputável que praticou um injusto típico deverá ser absolvido, aplicando-se-lhe, contudo, medida de segurança, cuja finalidade direta da pena.

Fernando Capez (2006, p. 357) traz outra conceituação para as medidas de segurança

Conceito: Sanção penal imposta pelo Estado, na execução de uma sentença, cuja finalidade é exclusivamente preventiva, no sentido de evitar que o autor de uma infração penal que tenha demonstrado periculosidade volte a delinquir.

O autor Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 128) aduz sobre conceito e aplicação da medida de segurança

A medida de segurança é uma espécie de sanção penal imposta pelo Estado aos inimputáveis (art. 26, caput, do CP) visando a prevenção do delito, com a finalidade de evitar que o criminoso que apresente periculosidade volte a delinquir.

No que respeita à aplicação da medida de segurança sem que essa seja empregada de maneira errônea, deve-se observar que o sujeito que comete ilícito penal e que após devidamente examinado sobre suas condições psíquicas fica

comprovada a alta periculosidade do mesmo para si mesmo ou para a sociedade deve-se de forma imediata ser adotada a segregação do mesmo através de uma internação psiquiátrica e tratamento ambulatorial, nesse seguimento, o autor Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 128) aduz sobre conceito e aplicação da medida de segurança

No caso dos inimputáveis, a periculosidade é presumida, pois a lei determina a aplicação da medida de segurança. No caso dos semi- imputáveis, a periculosidade é real, pois deve ser verificada pelo juiz a luz do caso concreto, ensejando a escolha entre a aplicação da pena reduzida ou a imposição de medida de segurança.

A medida de segurança como visto é uma espécie de sanção para aqueles considerados perigosos para à sociedade devido aos delitos cometidos e sua incapacidade psíquica e moral de se autocontrolar. Assim, existem duas espécies de medidas de segurança estabelecidas nos artigos 96, incisos I e II do Código Penal, são elas: a medida de segurança detentiva, a mesma consiste em internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico e medida de segurança restritiva, equivalendo ao cumprimento de tratamento ambulatorial. Nessa seara, o autor Guilherme Nucci (2019, p. 549) tece um comentário relevante quanto ao caráter punitivo e de cura que esse instituto penal possui

Ademais, apesar de seu caráter de sanção penal, a medida de segurança não deixa de ter o propósito terapêutico e curativo. Ora, enquanto não for devidamente curado, deve o sujeito submetido a internação permanecer em tratamento, sob custódia do Estado. Seria demasiado apego à forma transferi-lo de um hospital de custódia de tratamento criminal para outro, onde estão abrigados insanos interditados civilmente, somente porque foi atingido o teto máximo da pena correspondente ao fato criminoso praticado, como alguns sugerem, ou o teto máximo de 30 anos, previsto no artigo 75, como sugerem outros.

Ainda existe uma certa dúvida ainda quanto a aplicação do tempo que o inimputável ficará a mercê de tratamento específico para sua doença mental, no entanto, conforme alude o autor Rogerio Greco (2006, p. 729)

A medida de segurança, como providência judicial curativa, não tem prazo certo de duração, persistindo enquanto houver necessidade

do tratamento destinado à cura ou manutenção da saúde mental do inimputável. Ela terá duração enquanto não for constatada, por meio de perícia médica, a chamada cessação da periculosidade do agente, podendo, não raras as vezes, ser mantida até o falecimento do paciente. Esse raciocínio levou parte da doutrina a afirmar que o prazo de duração das medidas de segurança não pode ser completamente indeterminado, sob pena de ofender o princípio constitucional que veda a prisão perpétua [...].

Diante da repercussão que a falta de prazo máximo para uma medida de segurança traz consigo, o Superior Tribunal de Justiça editou uma súmula que de certo modo limita esse período que o indivíduo está cumprindo a referida medida. Nas palavras de Guilherme Nucci (2019, p. 549)

No entanto, o STJ editou a Súmula 527 nos seguintes termos: “O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado”. Cuida-se de uma posição mais liberal que a do STF, cujo os julgados se baseiam no prazo máximo de 30 anos para a duração da medida de segurança, nos termos do artigo 75 do CP, aplicado por analogia.

Entende-se que ao delinear sobre a falta de tempo determinado que ainda é muito aplicada nos casos em que for constatada a periculosidade do indivíduo e ele é refém da medida de segurança, faz com que esse sujeito fique à mercê de uma dupla punição, pois o mesmo além de estar separado as sociedade o que já é um castigo típico das penas privativas de liberdade, ele ainda está dentro de um hospital psiquiátrico, onde muitas veze se sente violado e esquecido pelo Estado. Ou seja, é preciso muita cautela quando o assunto é o tempo de duração de uma medida de segurança, visto que a mesma não pode ultrapassar os limites aceitáveis para a boa recuperação daquele que está sofrendo a imposição judicial.

Finalizando essa parte do estudo, em síntese, observa-se que a pena apresenta aptidão retributiva e preventiva, esta alicerçada na culpa do indivíduo pelo fato criminoso cometido, no quesito do tempo as penas sempre serão por período determinado no nosso país e, ainda, as penas são perfeitamente aplicadas aos imputáveis e aos semi-imputáveis. Já no que respeita as medidas de segurança, as mesmas apresentam um caráter preventivo e estão fundadas no iminente perigo oferecido pelo agente, sem prazo de duração determinado sendo aplicáveis aos

inimputáveis acometidos por doença mental e raramente ao semi-imputáveis. Ainda, deve-se compreender que a sentença que impõe a medida de segurança para o indivíduo é chamada de sentença absolutória imprópria.

Finalizando esse tópico, faz-se importante comentar a respeito da Lei da Reforma Psiquiátrica nº 10.216/2001, a qual trouxe alterações necessárias para o instituto das medidas de segurança, nesse sentido, tem-se o comentário de Paulo Queiroz (2014, p. 527)

Excepcionalidade da medida de segurança detentiva (internação). Exatamente por isso, a internação só poderá acontecer quando for absolutamente necessária, isto é, quando o tratamento ambulatorial não for comprovadamente o mais adequado. É que, de acordo com a lei, a internação só é indicada quando os recursos extra- hospitalares se mostrarem insuficientes, devendo ser priorizados os meios de tratamento menos invasivos possíveis [...].

Ainda, conforme o autor acima citado tem-se a questão da revogação dos prazos mínimos exigidos pelo Código Penal para a medida de segurança. Nesse sentido, Queiroz (2014, p. 527) aduz que

[...].Parece certo também, que a fixação de prazos mínimos restou revogada, pois são incompatíveis com o princípio da utilidade terapêutica do internado (art. 4º, § 1º) ou com o princípio da desinternação progressiva dos pacientes cronificados (art. 5º) [...].

Depreende-se de tais questões que a medida de segurança, por ter caráter curativo, deve ser adequada às necessidades que o tratamento exige, o que pressupõe avaliação cuidadosa da espécie de medida (internação ou acompanhamento ambulatorial), bem como o seu tempo de duração (mínimo ou máximo).

2.2 A RESPONSABILIDADE PENAL DO PSICOPATA: PENAS OU MEDIDAS DE

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