• Nenhum resultado encontrado

In (imputabilidade), transtornos mentais e a responsabilidade penal do psicopata

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "In (imputabilidade), transtornos mentais e a responsabilidade penal do psicopata"

Copied!
68
0
0

Texto

(1)

MARIELE CÁSSIA BOSCHETTI DAL FORNO

IN (IMPUTABILIDADE), TRANSTORNOS MENTAIS E A RESPONSABILIDADE PENAL DO PSICOPATA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Ester Eliana Hauser

Ijuí (RS) 2019

(2)

GRANDE DO SUL

MARIELE CÁSSIA BOSCHETTI DAL FORNO

IN (IMPUTABILIDADE), TRANSTORNOS MENTAIS E A RESPONSABILIDADE PENAL DO PSICOPATA

Ijuí (RS) 2019

(3)

Dedico este trabalho a Deus e a minha família, pela inspiração, força e amor em mim depositados durante toda a minha vida.

(4)

AGRADECIMENTOS

A Deus que sempre foi meu auxílio nos momentos difíceis, consolador, incentivador, acreditando em mim e me dando sempre muito amor e força para vencer as batalhas da vida acadêmica com esperança de que ao final tudo daria certo.

A minha família que não mediu esforços para me ensinar o caminho do bem e da moral, que sempre esteve presente em todas as fases da minha vida pessoal e estudantil me proporcionando educação, empatia e amor pelo que faço. Mostrando-me que a base de uma vida digna está no seio familiar, confiando na minha capacidade como estudante e estagiária durante toda a faculdade, sendo que muitas vezes entenderam meus momentos de incertezas e frustrações, não deixando em momento algum eu desistir de lutar pelo conhecimento.

À minha orientadora Ester Eliana Hauser que esteve comigo em minha jornada acadêmica, vivenciando os desafios e me sustentando com leituras e comentários construtivos sobre esse trabalho de conclusão de curso, com um olhar reflexivo e complementar sobre o tema em questão.

Aos meus colegas de trabalho da Defensoria Pública de Ijuí, Ministério Público de Ijuí e Primeira Delegacia de Ijuí, os quais colaboraram imensamente para que o meu conhecimento se transformasse em grandes aprendizagens tanto para minha carreira profissional quanto para minha vida pessoal, fazendo com que eu me torne um ser humano disposto a ajudar o próximo, sensibilizando-me com o caso concreto.

(5)

“Poderíamos dizer que o psicopata é aquela pessoa que sabe a letra da música, mas não sente a melodia” Ana Beatriz Barbosa Silva

(6)

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso propõe um estudo da (in) imputabilidade, os transtornos mentais e a responsabilidade penal do psicopata, assunto vinculado ao ramo do direito penal, com vasta ligação com a psicologia e psiquiatria, três áreas de conhecimento que evidenciam a constituição do sujeito e sua formação psicossocial. Assim, conforme o referido tema, faz-se importante investigar a responsabilização penal adequada quando os delitos são praticados por sujeitos com transtorno de personalidade antissocial, visando discutir de que modo se deve lidar com esse indivíduo que não desenvolve sentimentos primários e intrínsecos para uma boa convivência social, bem como determinar qual é a adequada classificação e medida punitiva para os portadores desse transtorno.

Palavras-Chave: (In) imputabilidade. Transtornos Mentais. Psicopata. Direito Penal.

(7)

ABSTRACT

The present course conclusion article refers to the study about the (in) imputability, the mental disorders and the criminal responsability of the psychopath, subject linked to the branch of criminal law, conected to the psychology and psychiatry, the three knowledge areas that evidence the constitution of the person and his psychosocial formation. So, according to the topic, it is importante to investigate the right criminal accountability when the crimes are practiced by a person with antisocial personality disorder, aiming to discuss the way to deal with this individual who doesn't develop primary and intrinsic feelings for a nice social relation, as determinate which is the appropriate classification and punitive mesures for those with such disorders.

(8)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 OS TRANSTORNOS MENTAIS E A PSICOPATIA... 11

1.1 TRANSTORNOS MENTAIS, PERSONALIDADE ANTISSOCIAL E PSICOPATIA 14 1.1.1 Conceito de psicopatia ... 16

1.1.2 O perfil do psicopata ... 19

1.1.3 A classificação da psicopatia entre os transtornos mentais ... 23

1.2 CULPABILIDADE E TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS NO ÂMBITO DO DIREITO PENAL ... 25

1.2.1 Teoria psicológica, psicológico-normativa e normativa pura e os elementos da culpabilidade ... 28

1.2.2 Causas gerais de exclusão da culpabilidade no direito brasileiro ... 30

2 PSICOPATIA E RESPONSABILIDADE PENAL ... 35

2.1 IMPUTABILIDADE VERSUS INIMPUTABILIDADE NA LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA ... 36

2.1.1 A semi-imputabilidade e o psicopata ... 42

2.1.2 Das Penas e das Medidas de Segurança ... 45

2.2 A RESPONSABILIDADE PENAL DO PSICOPATA: PENAS OU MEDIDAS DE SEGURANÇA? ... 52

2.2.1 Casos mais polêmicos envolvendo psicopatia ... 56

CONCLUSÃO ... 62

(9)

INTRODUÇÃO

Os temas da psicopatia e da (in) imputabilidade penal vêm ganhando mais ênfase científica, psicossocial e penal ao longo dos anos, visto que há um interesse em desvendar em que situações diárias pode-se identificar um psicopata e de que maneira responsabilizá-lo pelas suas ações infracionais.

O estudo em questão está centrado em entender a problemática penal no que respeita aos psicopatas, logo, espera-se compreender em que medida tais indivíduos, marcados por características como frieza, capacidade de manipulação, crueldade, sem sentimento de culpa ou remorso, podem ou devem responder penalmente por seus atos. Assim, a presente pesquisa buscará verificar a responsabilização penal adequada para o sujeito que infringe a lei por estar numa condição denominada transtorno de personalidade.

No instante que se evidencia que o psicopata é autor de crimes, a ciência penal tenta desvendar e classificar a imposição da pena para esse sujeito, ou seja, infere-se que o mesmo tenha que responder pelos seus atos e a discussão está na melhor maneira de responsabiliza-lo penalmente. Assim, compreender a psicopatia como condição de transtorno social que reflete no crime é de suma importância para o pesquisador do direito, pois envolve discussões produtivas e instigantes para o engrandecimento das ciências sociais.

Para a realização do trabalho a metodologia utilizada para a pesquisa foi do tipo exploratória, utilizando no seu delineamento a coleta de dados em fontes

(10)

bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Na sua realização foi utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, com seleção de material bibliográfico baseado em livros, artigos científicos, monografias e demais materiais disponibilizadas pela internet.

Preliminarmente, no primeiro capítulo far-se-á uma discussão de cunho mais psicossocial visando entender o que são os transtornos mentais, bem como adentar especificamente na questão da psicopatia, trazendo sua conceituação e abordando questões terminológicas, visto que tais indivíduos são chamados de psicopatas, sociopatas, condutopatas, ou ainda, pessoas com transtorno de personalidade antissocial, entre outros, ou seja, trata-se de sujeitos que apresentam um estado patológico fora dos padrões sociais, que muitas vezes acarretam comportamentos juridicamente desvirtuados. Também, é preciso compreender a temática psicossocial, dessa modo, será explanado a questão da diferenciação entre doença mental e transtorno mental, aprofundando-se no perfil do psicopata e elencando as possibilidades de cura para os afetados tanto pela doença mental como pelo transtorno psicossocial.

Sendo assim, na primeira metade do estudo buscar-se-á envolver o comportamento e as questões psicológicas referentes a psicopatia, bem como seus reflexos no contexto social e os riscos que os mesmos representam para a coletividade. Ainda, se falará no quesito da culpabilidade e suas excludentes para uma averiguação no tratamento da psicopatia dentro do sistema penal brasileiro.

No segundo capítulo far-se-á uma abordagem dos aspectos penais propriamente ditos, visando entender em que medida tais indivíduos, marcados por características como frieza, capacidade de manipulação, crueldade, sem sentimento de culpa ou remorso, podem ou devem responder penalmente por seus atos. Logo, a presente pesquisa pretende verificar a responsabilização penal adequada para o sujeito que infringe a lei por estar numa condição denominada transtorno de personalidade.

Nesse sentido, em uma segunda acepção o trabalho buscará fazer a diferenciação entre imputabilidade e inimputabilidade, penas e medidas de

(11)

segurança e consequentemente quais dessas duas modalidades se aplicam mais adequadamente ao caso concreto, e, por fim, será elencado e explicado os casos de maior repercussão pelo mundo sobre psicopatas.

Assim, a partir da pesquisa, espera-se aprimorar o conhecimento acadêmico na área da ciência penal, entendendo a subjetividade do sujeito que comete ilícito sendo portador do transtorno mental da psicopatia para compreender de que forma estrutura-se o agir desse indivíduo e os seus reflexos na responsabilidade penal.

(12)

1 OS TRANSTORNOS MENTAIS E A PSICOPATIA

A mente humana é um verdadeiro mistério, em meio a tanta evolução científica percebe-se que o ser humano é interessante aos olhos do conhecimento na medida em que o mesmo sofre alterações psíquicas, sociais e ambientais. Observa-se que o sujeito vem apresentando comportamentos diferenciados, sendo que todo e qualquer desvio deste acarreta interesse para diferentes áreas, em especial a psiquiatria, psicologia e o direito, isso porque tais campos de conhecimento buscam entender, conhecer, avaliar e buscar soluções adequadas para os indivíduos que apresentam os chamados transtornos mentais, especialmente quando estes se manifestam em condutas agressivas ou tipificadas como criminosas.

Os transtornos mentais são conhecidos pela sua significativa implicação na vida do ser humano, isso porque, os mesmos podem desencadear sérias anomalias, alterações e impulsões na mente humana, prejudicando o desenvolvimento social, econômico, familiar, pessoal e profissional do sujeito que deles sofre. As doenças da mente podem ocorrer em qualquer etapa da vida, manifestando-se desde o nascimento, desenvolvendo-se na infância devido a algum trauma, por exemplo, e também na fase adulta, muitas vezes, em razão do estilo de vida do indivíduo, que acaba por aderir uma doença que atinge seriamente a sua condição psicossocial, entre outras situações diárias que demonstram a fragilidade do ser humano quando o assunto é a sua saúde mental.

Entendendo que qualquer pessoa pode tornar-se vítima de sua própria mente, os psiquiatras, psicólogos, entre outros profissionais da área da saúde investiram seus conhecimentos para classificar os principais transtornos mentais, os quais serão basicamente explicados abaixo.

Segundo Mariana De Andrade (2018) na atualidade podem ser identificados diversos tipos de transtornos mentais, mais ou menos intensos, e que se manifestam em diferentes faixas etárias. Um dos mais conhecidos problemas que afetam a mente humana, sobretudo nos dias atuais, é a depressão, conhecida como transtorno ou doença mental. Trata-se de anomalia que abala seriamente o estado

(13)

der humor de seu paciente, afetando profundamente os sentimentos intrínsecos humanos e causando muito desânimo e frustração, ressalta-se que não há um tempo de duração da doença, o nível mais sério desse transtorno é quando seu portador comete o suicídio.

Andrade (2018) também observa que outro transtorno bastante frequente é a bipolaridade que se encontra na seara do humor do sujeito, levando-o a episódios de extrema felicidade, seguido de uma tristeza profunda sendo que, nesses casos, não que se falar em tempo determinado para a duração da doença.

Nas palavras de Andrade (2018) o transtorno da ansiedade, conhecido como o mal do século, pois atinge de forma abrangente as pessoas e suas causas são diversas, mas os efeitos muitas vezes podem ser confundidos com o de outra doença qualquer. Trata-se de anomalia que causa séria incapacidade humana nas atividades diárias e pode desencadear outras doenças. A quarta modalidade de alteração mental diz respeito ao transtorno de pânico que é uma consequência da ansiedade extrema, gerando sensações desagradáveis, como por exemplo, de morte, falta de ar, palpitações, sudorese, entre outras.

O transtorno de estresse pós-traumático é um tipo de ansiedade, derivada de um episódio traumático, causando uma experiência muito estressante para seu portador. O sexto é o transtorno obsessivo compulsivo que ocorre quando pensamentos causam compulsões que o seu portador não consegue controlar, acabando por agir de maneiras repetidas em suas ações diárias (ANDRADE, 2018).

Outra classe de transtornos são os alimentares, sendo que os dois mais comuns são a anorexia e a bulimia. No primeiro a pessoa fica obcecada por sua aparência física, olhando-se no espelho e enxergando-se sempre com alto peso, resultando em uma má alimentação. Já no segundo o portador acaba por ingerindo diversos alimentos de forma compulsória e ao perceber que agiu desse modo acaba por provocar a expulsão dos mesmos, induzindo o vômito.

Na sequência tem-se a esquizofrenia. Seu portador apresenta psicoses, ou seja, anomalias na percepção, comunicação, sentimentos, comportamentos diários,

(14)

causando seu isolamento de outras pessoas, trata-se de um dos transtornos mentais mais graves, pois o sujeito que o possui perde totalmente a noção da realidade e na maioria das vezes causa grande sofrimento físico para si mesmo.

Há também a personalidade antissocial, conhecida como psicopatia ou sociopatia, que é caracterizada pela falta de empatia, solidariedade, emoção e negação ao próximo. Seu portador pode revestir-se de diversas personalidades para atingir suas vítimas, no entanto, sua maldade e seu ódio pelo outro sujeito é algo intrigante. Por derradeiro, existe a hipocondria que envolve sintomas físicos, em que seu portador persiste no pensamento de que está com uma doença física, a qual não há diagnóstico (ANDRADE, 2018).

Diante da variedade de transtornos mentais e de sua consequência na seara social, profissional e até mesmo jurídica, elenca-se que um dos transtornos mentais citados acima é de grande interesse para a ciência penal brasileira, o chamado transtorno de personalidade antissocial ou dissocial, o qual será devidamente explicado durante esse trabalho de conclusão de curso.

Ainda, mostra-se necessário mencionar que os transtornos mentais de personalidade antissocial não se confundem com as doenças mentais como a esquizofrenia, por exemplo. No entender de Guilherme de Souza Nucci (2019, p. 266), a doença mental refere-se a alterações da saúde mental que são mais graves e representa “[...] um quadro de alterações psíquicas qualitativas, como a esquizofrenia, as doenças afetivas [...] e outras psicoses.”

Assim, diante dos mais variados transtornos mentais vistos nesse tópico, fica mais fácil de entender a diferença de comportamento entre uma pessoa portadora de doença mental de outra que sofre de transtorno de personalidade antissocial, entre as quais se situa a psicopatia. Neste aspecto, é necessário compreender que esta representa um grande desafio para as ciências, visto que é um transtorno de personalidade antissocial que vem crescendo ao longo dos anos e preocupando a sociedade, devido à crueldade que os portadores dessa anomalia podem manifestar em seus comportamentos.

(15)

1.1 TRANSTORNOS MENTAIS, PERSONALIDADE ANTISSOCIAL E PSICOPATIA

Sabendo que o ser humano está em constante mudança física, social, econômica, moral e psicológica, pode-se atentar para essa última transformação, pois a mesma carrega consigo sérias consequências no que tange o desenvolvimento saudável da mente humana, sendo que o sujeito que apresentar algum tipo de transtorno mental, certamente terá que aprender a superar desafios diários e a convencer-se de que deve estar buscando diariamente sua melhora.

Em referência ao transtorno da psicopatia em si, entende-se que o portador dessa condição apresenta perfeita capacidade volitiva de responder pelos seus atos, logo, o referido indivíduo pratica a ação de forma normalizada, mesmo que a sua atitude cause extremo dano a outrem. Em simetria ao que foi dito, a autora Ana Beatriz Barbosa Silva (2008, p. 18) alude que

A parte racional ou cognitiva dos psicopatas é perfeita e íntegra, por isso sabem perfeitamente o que estão fazendo. Quanto aos sentimentos, porém, são absolutamente deficitários, pobres, ausentes de afeto e de profundidade emocional. Assim, concordo plenamente quando alguns autores dizem, de forma metafórica, que os psicopatas entendem a letra de uma canção, mas são incapazes de compreender a melodia.

Diante do exposto acima, sabe-se que o transtorno mental que desperta muita curiosidade e indignação por parte da sociedade é conhecido como transtorno de personalidade antissocial. Igualmente, existem outras nomenclaturas para esse distúrbio mental, o portador dessa anomalia pode ser chamado de sociopata, psicopata, condutopata, ou conhecido por apresentar transtorno de personalidade sociopática. A partir dessa dificuldade terminológica, Nachara Palmeira Sadalla (2017, p. 12) aduz

Compreendemos que as discussões acerca das terminologias atualmente empregadas decorrem, em grande parte, do equívoco quanto ao sentido etimológico da expressão: doença da mente [do grego psyche (mente) e pathos (doença)]. Estudos evoluíram e restou comprovado que psicopatia não configura-se como doença mental, mas de um transtorno. Tal fato foi importante e propulsor para que outras terminologias fossem apresentadas ao campo científico.

(16)

Tem-se, em uma acepção do psiquiatra forense Guido Palomba, uma definição de doença da mente (apud NUCCI, 2018, p. 266)

Nas palavras de Guido Arturo Palomba, “por dença mental compreende-se todas as demências (de, negação; mentis, mente;ausência de mente) cujos quadros mentais manifestam-se por rebaixamento global nas esferas psíquicas. Compreende-se, também, todas as psicoses (psicose epilética, psicose maníaco-depressiva, psicose puerperal, esquizofrenia, psicose senil, psicose por traumatismo de crânio.), mais o alcoolismo crônico e a toxicomania grave. Essas duas últimas entidades mórbidas, embora possam engendrar quadros psicóticos, não são originalmente psicoses, mas nem por isso deixam de ser verdadeiras doenças mentais, uma vez que solapam do indivíduo o entendimento e o livre-arbítrio, que diga-se de caminho, são arquitraves da responsabilidade penal.

Quanto aos transtornos mentais, tem-se o posicionamento do autor Guilherme de Souza Nucci (2019, p. 266)

Deve-se dar particular enfoque ás denominadas doenças da vontade

e personalidades antissociais, que não são consideradas doenças

mentais, razão pela qual não excluem a culpabilidade, por não afetar a inteligência e a vontade. As doenças da votade são apenas personalidades instáveis, que não expõem de maneira particularizada, desviando-se do padrão médio, considerado normal. Ex: o desejo de aparecer; os defeitos éticos-sexuais; a resistência a dor; os intrometidos, entre outros.

No que se refere à psicopatia, essa anomalia está relacionada com um comportamento insensível de seu portador, este ser não consegue identificar o certo do errado, sendo desprovido de responsabilidade moral e ética, quando fala é capaz de inventar as histórias mais cabulosas para se aproximar de suas “presas”, sendo carente de consciência para com seus atos. Logo, existe uma dificuldade muito elevada em estabelecer a melhor classificação para esse sujeito, além de conceituar e entender quais são suas características mais essenciais. Na obra da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva (2008, p. 36), é possível perceber essa grande inquietude, quando a mesma discorre

Estamos agora num terreno assustador, intrigante e desafiador: a mente perigosa dos psicopatas. Como já foi exposto na introdução deste livro, eles recebem outros nomes, tais como: sociopatas,

(17)

personalidades dissociais, antissociais, personalidades psicopáticas, entre outros. Muitos estudiosos preferem diferenciá-los, com explicações ainda subjetivas que, no meu entender, poderiam apenas confundir o leitor. Devido à falta de um consenso definitivo, a denominação dessa disfunção comportamental tem despertado acalorados debates entre muitos autores, clínicos e pesquisadores ao longo do tempo. Alguns utilizam a palavra sociopata por pensarem que fatores sociais desfavoráveis sejam capazes de causar o problema. Outras correntes que acreditam que os fatores genéticos, biológicos e psicológicos estejam envolvidos na origem do transtorno adotam o termo psicopata. Por outro lado, também não encontramos consenso entre instituições como a Associação de Psiquiatria Americana (DSM-IV-TR) e a Organização Mundial da Saúde (CID-10).

No que respeita a personalidade do psicopata, sabe-se que não existe certeza de que o mesmo nasce com predisposição para a vida criminosa, logo, os traços que influenciam para ações delinquentes por parte desse sujeito podem se exteriorizar em vários momentos de sua vida, desde a infância, até sua adolescência, etapas em que o comportamento dissocial aparece com mais frequência. Desse modo, pesquisas apontam o transtorno como um déficit na função de pensamentos, conforme dito por Nachara Palmeira Sadalla (2017, p. 67)

Em razão dos estudos ora abordados, não nos resta dúvidas de que os psicopatas possuem certa debilidade no sistema cerebral responsável pela parte emocional – déficit básico em seu pensamento (decorrente de imprecisões da constituição cerebral). Contudo, não podemos deixar de considerar que, além de restarem grandes evidências de que haja anormalidade cerebral dos psicopatas, diversos fatores ambientais (sociais, econômicos, educacionais, familiares, etc.) atuam conjuntamente.

Em que pese a dificuldade mencionada, no próximo tópico, se buscará construir um conceito para a psicopatia, vez que este é o objeto principal de estudo e análise da pesquisa que ora se desenvolve.

1.1.1 Conceito de psicopatia

O ser humano é extremamente volátil, sendo que em certas situações apresenta dificuldade de empatia, no entanto, a grande problemática é quando o sujeito ultrapassa os limites e abusa psicologicamente ou fisicamente de outrem,

(18)

Nessa ocasião, tem-se o conhecido transtorno de personalidade antissocial. Os pesquisadores da medicina, psicologia, psiquiatria forense, criminologia e medicina legal apresentam uma grande dificuldade em conceituar a psicopatia, pois existe uma vasta terminologia e ausência de diagnóstico claro, todavia, com o grande interesse em torno da mente humana, construíram-se algumas definições sobre o tema.

Segundo Michele Oliveira de Abreu (2013, p. 12) os portadores de psicopatia “[...] são egocêntricos, mentirosos, desprovidos de sentimentos e afetividade e, em alguns casos, podem incorrer à prática de delitos”. Caminhando na mesma definição encontra-se a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva,(2008, p. 35), pois para a ela “[...] eles são verdadeiros atores da vida real, que mentem com a maior tranqulidade, como se estivessem contanto a verdade mais cristalina”.

No livro “Imputabilidade Penal e Psicopatia: A Outra Face No Espelho”, de Nachara Palmeira Sadalla (2017, p. 25), a autora alude sobre uma pesquisa feita Hervey Cleckley a qual apresenta critérios específicos que podem identificar um psicopata. Assim, segundo consta no livro referido acima

Em sua pesquisa Hervey Cleckley apresentou uma lista com desesseis critérios específicos capaz de identificar a figura do pasiopata. Na lição do autor, a superfície exrterna do psicopata parece igualou melhor do que a do normal e não há nenhuma pista de um transtorno interior nada nele surge estranheza, inadequação ou fragilidade moral. Sua máscara é de saúde mental robusta. Os critérios diagnósticos são: 1. Encanto superficial e boa “inteligência”, 2. Ausência de delírios e outros sinais de pensamentos irracionais, 3. Ausência de “nervosismo” ou manifestações psiconeuróticas, 4. Inconfiabilidade, 5. Desonestidade e inscinseridade, 6. Falta de remorso ou vergonha, 7. Comportamento antissocial inadequadamente motivado, 8. Julgamento ruim e falha em aprender pela experiência, 9. Egocentrismo patológico e incapacidade de amar, 10. Pobreza generalizada nas principais reações afetivas, 11. Perda de crítica específica, 12. Falta de responsividade nas relações interpessoais em geral, 13. Comportamento fantasioso e não convidativo com bebidas e algumas vezes sem, 14. Raramente ocorre suicídio, 15. Vida sexual impessoal, trivial e pobremente integrada e 16. Falha em seguir qualquer plano de vida ( CLECKLEY apud SADALLA, 2017, p. 25)

(19)

Em uma visão etimológica do termo tem-se a compreensão de que esse trantorno mental trata de um sujeito que tem comportamentos antissociais, ou seja, sua principal característica é a aversão ao meio social, após essa definição básica depreeende-se que as demais estão estreitamente ligadas à falta de empatia do sociopata para com o seu próximo. Segundo o entendimento de Sadalla (2017, p. 19)

Termo psiquiatrico e médico-legal para designar o que costumava ser chamado de imbecilidade moral. É definido pela Lei da Saúde Mental, de 1959, como ‘um distúrbio ou incapacidade persistente da mente (incluindo ou não subnormalidade de inteligência) que resulta em conduta anormalmente agressiva ou seriamente irresponsável por parte do paciente, e necessita ou é suscetível de tratamento médico’. A ‘promiscuidade ou outras condutas imorais’ são especificamente excluídas das formas de conduta que tornam um paciente sujeito a esse diagnóstico. O conceito constitui um híbrido lógico, pois combina critérios mpedicos que os infratores sejam tratados em hospitais especiais.

Percebe-se que o psicopata é um individuo atípico na sociedade, no entanto, ele pode ser perfeitamente confundido com uma pessoa de boa fé, caridosa, amável, inteligente, cuidadosa, entre outras características boas, muitas vezes, ele é exaltado pelas pessoas ao redor, pois é um sujeito que faz a diferença no meio em que convive. No entanto, no seu íntimo sabe que é capaz de passar por cima de qualquer coisa para conseguir seu objetivo, o sociopata é extremamente volátil e veste uma personalidade para cada ocasião que lhe convém.

Outro conceito importante para esse transtorno é o desenvolvido pela autora Nachara Palmeira Sadalla (2017, p. 17)

Desta forma, temos por psicopatia uma caracterísitca da personalidade de determinadas pessoas que demosntram comportamento social aversivo. São desprovidas de emoções e incapazes de expressar os mais singelos sentimentos; são capazes de praticar quaisquer atos que lhe sejam necessários para a consecução do itento planejado.

Ana Beatriz Barbosa, em seu livro Mentes Perigosas (2008), revela a personalidade extremamente antissoacial desse sujeito, todavia, a mesma demonstra como o portador desse transtorno camufla-se conforme sua vítima,

(20)

normalmente obedecendo a um perfil caracterísitico para executar o individuo, todavia, até o sociopata atingir seu objetivo final é capaz de cometer qualquer atrocidade e desfarzer-se facilmente de sentimentos intrinsecos pelo próximo. Assim, a autora explica

Este livro discorre sobre pessoas frias, insensiveis, manipuladoras, perversas, trangressoras de regras sociais, impiedodas, imorais, sem consciência e desprovidas de sentimento de compaixão, culpa ou remorso. Esses predadores sociais com aparência humana estão por aí, misturados conosco, incógnitos, infiltrados em todos os setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer raça, credo ou nível social. Trabalham, estudam, fazem carreira, se casam, tem filhos, mas definitivamente não são como a maioria das pessoas: aquelas a quem chamaríamos de “pessoas do bem” (SILVA, 2008, p. 16).

Outrossim, no que concerne ao perfil e modo de vida desses indiviudos transtornados psicologicamente, cabe ressaltar que nem todos os seres que apresentam essa condição irão necessariamente delinquir ou praticar brutalidades exorbitantes. O que se visualiza atualmente é uma grande difirença entre o psicopata com instigação para a vida criminosa e o transtornado socialmente que apenas pratica comportamentos mais “aceitáveis no meio social”, como por exemplo, a mentira no ambiente de trabalho, a falta de bondade, a timidez, a inteligência aguçada, a autoestima elevada, entre outras caracteríticas.

1.1.2 O perfil do psicopata

A ideia de que o psicopata apresenta um perfil cracterísitico é defendida por vários estudiosos, entre eles estão Vicente Garrido (2005), Robert Hare (1973), Ana Beatriz Barbosa Silva (2008), Michel Stone (1999) e Nachara Palmeira Sadalla (2017) que pontuam os comportamentos emocionais e interpessoais, quais sejam: eloquência e encanto superficial, personalidade egocêntrica e presunçosa, ausência de remorso ou culpa, ausência de empatia, talento para mentiras e manipulações e emoções superficiais. Também existe o perfil do psicopata conforme seu estilo de vida, sendo que os mesmos apresentam as seguintes caracterísitcas: impulsividade, autocontrole deficiente, necessidade de excitação continuada, falta de responsabilidade, problema de conduta na infância e comportamento antissocial na fase adulta (ABREU, 2013).

(21)

Entendendo que existem vários perfis para os portadores dessa anomalia, os estudiosos da área, principalmente aqueles citados acima, começaram a organizar algumas caracteríticas preponderantes, as quais a maioria dos sujeitos que sofrem desse transtorno carrega consigo, algumas em maior incidência, outras nem tanto, entretanto, ressalta-se a importância de entedê-las.

A primeira classificação está no que envolve a questão da afetividade. O sentimento humano é intrigante, e nos casos do sociopata esse não é observado pelo mesmo, isso porque, este é extremamentes insensível, é incapaz de conhecer a si mesmo, sendo que todos os atos que um sujeito normal pratica suas emoções para o condutopata tratam-se de uma mera simulação. Sadalla (apud HARE, 2003, p. 57) ressalta “muitas pessoas são impulsivas, simples, frias, insensíveis ou antissociais, mas isso não significa que sejam psicopatas. A psicopatia é uma síndrome: um conjunto de sintomas relacionados”.

Em uma segunda acepção, tem-se a questão da sedução social. O psicopata tem uma habilidade para inventar as histórias mais mirabolantes, sendo que ele próprio acredita e apresenta propriedade ao narrar seus contos. Quando o mesmo quer atingir um objetivo ou uma pessoa, é capaz de seduzir, encantar e convencer (SADALLA, 2017).

A próxima característica do sociopata está ligada a sua personalidade, pois a mesma é egôcentrica e presunçosa. O sujeito em questão possui uma autoestima muito elevada, pensando apenas em si e no que melhor lhe satisfaz. Entende que seu jeito é superior, por isso, é extremamente arrogante, presunçoso e dominador (SADALLA, 2017).

Seguindo o perfil do condutopata, tem-se como uma das características mais presentes e facilmente observadas, a questão da falta de remorso para com seus atos. Em contrapartida, observa-se a ausência do sentimento de culpa, o psicopata tem o interesse em fingi-lo, é o que aponta Silva (2008, p. 72) no livro Mentes Perigosas

(22)

O psicopata pode até externar qualquer sentimento de remorso ou pena, porém não passará de uma demonstração superficial do sentimento na qual foi ‘obrigado’ a aprender para conseguir seus intentos ou até mesmo para se ajustar socialmente, “Uma das primeiras coisas que os psicopatas aprendem é a importância da palavra remorso e como devem elaborar um bom discurso para demonstrar esse sentimento”.

O portador desse transtorno também apresenta falta de empatia, ou seja, a ausência na constituição de uma ligação mental e sentimental com o outro ser humano. Esse indivíduo não se comove com o sofrimento alheio, ou seja, nunca se coloca no lugar do próximo e possue carência de sentimentos intrínsecos como o amor e afeto. Pode-se afirmar que o sociopota nunca sentirá dor ao ser traído ou arrependimento ao tirar a vida de alguém (ABREU, 2013).

No que respeita ao comportamento do psicopata, elenca-se que o mesmo é extremamente manipulador, sendo que possui uma elevada capacidade em mentir, enganar, trapassiar, tornando essas habilidades suas maiores paixões de vida, sentindo um enorme prazer ao atrair seus objetivos, ultilizando-se desses para devastar o próximo.

Ainda, na seara comportamental tem-se a questão do emocional desviante. Alude-se que em função de uma disfunção cerebral, o sociopata não é capaz de sentir qualquer tipo de emoção, ou seja, são seres extremamentes frios e calculistas, vivendo em extrema superficialidade, sendo que suas emoções são forçadas e planejadas para atingir seus planos (ABREU, 2013).

A impulsidade é outra característica do psicopata, que pratica vários atos desenfreados, apenas para obter uma satisfação no momento. Diz-se que a referida característica não retira a capacidade volitiva de entender o que está a praticar. Existe também a questão do autocontrole deficiente, ou seja, quando o portador dessa anomalia sente-se desconfotável com alguma situação cotidina, o mesmo pode vir a perder seu controle emocional, agindo muitas vezes de forma agressiva e inesperada para com o próximo. No entanto, segundo entendimendo de Ana Beatriz Silva (2008, p. 90) “Ainda que perca o controle da situação, o psicopata não perde a

(23)

consciência dos atos que estão por vir, como magoar, amendontrar ou machucar uma pessoa”.

O condutopata apresenta uma necessidade de estar sempre vivendo com excitação. Aqui, nessa seara, muitos portadores desse trantorno encontram nas substâncias ilicitas, na vida criminosa e na transgressão as regras de convivência a verdadeira vontade de continuar, pois esses comportamentos lhe proporcionam uma sensação de adrenalina. Importante aludir que o sociopata tem aversão a responsabilidades, o mesmo não suporta viver pressionado por compromissos rotineiros, na medida em que não conseguem focar em suas tarefas diárias, assim, por exemplo, existe por parte desse ser uma série de faltas injustificadas no trabalho, nos encontros de família, entre outras atividades (SILVA, 2008).

No que respeita aos problemas que o psicopata apresenta, tem-se que a fase preponderante para o desenvolvimento de comportamentos antissociais é a infância. Segundo as palavras de Sadalla (2017, p. 50)

São sinais precoces demonstrativos do perfil psicopático: divertimento com o sofrimento alheio, constantes mentiras para se safarem das punições, roubos e furtos, fugas de casa e da escola, uso de substâncias ilícitas, violência, provocação de incêndios, vandalismo, sexualidade precoce e arrogância no agir, falar e no modo de se vestir. Já no ambiente doméstico, apresentam condutas desafiadoras e agressivas em relação aos familiares.

Ainda, faz-se necessário evidenciar que os psicopatas na fase incial de suas vidas, externam prazeres ao matar animais e ao maltratar crianças e familiares, principalmente os irmãos.

Para concluir a questão do perfil do condutopata tem-se o desenvolvimento e aperfeiçoamento do comportamento antissocial na vida adulta, muitas vezes, como uma continuidade de suas tiranias quando criança. Salienta-se que o psicopata adulto apresenta diversas habilidades, sendo que sua maior saisfação é desenvolver a cada dia estratégias de persuasão, maldade, mentira, calculismo entre outras características citadas acima.

(24)

Diante do exposto acima, compreende-se que há um perfil caracterísitico para o sujeito que apresenta o transtorno de personalidade antissocial. Verifica-se não ser fácil constatar a presença de um psicoapata na sociedade. No entanto, existem diversos estudos que buscam entender e classificar esses indivíduos, visto que existe um interesse social em desvender a personalidade do psicopata e como o mesmo se porta. Analisando esses vetores, faz-se necessário a compreensão acerca da classificação da psicopatia em meio aos transtornos mentais existentes.

1.1.3 A classificação da psicopatia entre os transtornos mentais

Segundo Michele Oliveira Abreu (2013), os critérios em vigência nos dias atuais para as doenças mentais estão dispostos na décima Classificação Internacional de Doenças e na quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, sendos adotadas pela Organização Mundial de Saúde e Associação Psiquiátrica Americana. Todavia, a adesão dos critérios acima referidos é bastante questionada, isso porque, após diversos estudos em relação ao tema, sabe-se que a psicopatia não se trata de uma doença mental, mas sim, de um transtorno de personalidade dissocial, ou seja, deve haver um cuidado no quesito da nomenclatura para o portador. Nas palavras de Abreu (2013, p. 28):

De acordo com a décima revisão da Classificação Internacional de Doenças (também conhecida como CID-10), datada de 1995, a psicopatia está, dentre outros transtornos, elencada como Transtorno de Personalidade Dissocial (F60.2).

Segundo tal classificação, o transtorno de personalidade é caracterizado por um deprezo quanto às obrigações sociais e falta de empatia para com os outros. Há um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. O comportamento não é facilmente modificado pelas experiências adversas, inclusive pelas punições. Existe baixa tolerância à frustração e baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe a tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade (ABREU, 2013).

A Associação Psiquiatrica Americana caracteriza, em seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), os

(25)

referidos indivíduos como portadores de transtorno de personalidade antissocial. Logo, esse manual é composto de descrições, sintomas, entre outros critérios para diagnosticar o transtorno mental antissocial, sendo que, a Associação Psiquiátrica Americana separa em três grupos os portadores de transtorno mental. (SADALLA, 2017, p. 31 e 32).

De acordo com o citado Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, os transtornos de personalidade são tratados e classificados em três grupos. No grupo A, encontram-se os transtornos da personalidade paranoide, esquizoide e esquizotípca. No grupo B, aparecem os transtornos da personalidade antissocial, bordeline, histriônica e narcisista. Por fim, encontramos no grupo C os transtornos de personalidade esquiva dependente e obsessivo-compulsivo e uma categoria chamada transtorno da personalidade em outra especificação (ABREU, 2013).

Ainda, conforme a classificação desses sujeitos, pode-se entender que nem todo o ser que apresenta características que se assemelham à psicopatia realmente apresenta esse transtorno de personalidade antissocial. Diante disso, tem-se o entendimento de Nachara Palmeira Sadalla (2017, p. 35)

Interessante apontar que os critérios diagnósticos do Transtorno Antissocial são dirigidos para a identificação das caracterósticas da personalidade- o que pode ou não caracterizar a psicopatia. Dessa forma, é possível, através dos critériso previstos na referida classificação, identificar quem, apesar de apresentar traços antissocoais, não é protador de psicopatia.

Desse modo, fica clara a diferenciação do transtorno mental para a doença mental, sendo que a psicopatia é um desvio de personalidade gerado pela aversão ao meio social, encaixando-se em uma Classificação Internacional de Doenças e no Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, sendos adotadas pela Organização Mundial de Saúde e Associação Psiquiátrica Americana.

(26)

1.2 CULPABILIDADE E TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS NO ÂMBITO DO DIREITO PENAL

Para melhor compreender os transtornos mentais e seus efeitos na seara jurídico-penal é necessário entender o conceito de imputabilidade, pois esta é um dos requisitos para o reconhecimento da culpabilidade do agente, ou seja, a primeira é requisto indispensável para atribuição da segunda, assim, em uma acepção genérica pode-se definir a culpabilidade como a capacidade de responsabilização por um ato criminoso.

Ainda, nessa mesma linha, faz-se importante relacionar a culpabilidade com as palavras culpa e culpado, as mesmas estão presentes quando o sujeito comete um ilícito penal, na concepção de Fabrini e Mirabete (2012, p. 181)

A palavra culpa e culpado têm sentido lexical comum de indicar que uma pessoa é responsável por uma falta, uma transgressão, ou seja, por ter praticado um ato condenável. Somos “culpados” de nossas más ações, de termos causado um dano, uma lesão. Esse resultado lesivo, entretanto, só pode ser atribuído a quem lhe deu causa se essa pessoa pudesse ter procedido de outra forma, se pudesse com seu comportamento ter evitado a lesão.

Pode-se entender a culpabilidade, enquanto conceito jurídico-penal, como um juízo de valor que recai sobre o indivíduo que cometeu a conduta típica e antijurídica e que permite que tal comportamento seja reprovado e passível de pena (NUCCI, 2008). Tem entre os seus fundamentos ou requisitos a imputabilidade, ou seja, a capacidade de compreensão e autodeterminação do indivíduo, devendo ser analisada sempre que uma ação criminosa for praticada, mesmo quando feita por portadores de transtornos mentais, pois os mesmos quando incidem no cometimento de ilícitos penais estão a mercê de uma avaliação jurídica, psicológica e psiquiátrica para auferir a existência de culpabilidade e/ou seu grau de periculosidade. Logo, se o esquizofrênico, o psicopata, o bipolar, o depressivo, entre outros comete um crime, é preciso avaliar se são ou não imputáveis ou inimputáveis, ficando sujeito à penas e/ou a tratamento curativo, que para esses sujeitos deve ser obrigação e dever do Estado e de seus participantes. Em simetria com o que foi dito acima, tem-se o entendimento de Nucci (2009, p. 283) sobre o conceito de culpabilidade

(27)

Trata-se de um juízo de reprovação social, incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente ser imputável, atuar com consciência potencial e ilicitude, bem como ter a possibilidade e a exigibilidade de atuar de outro modo, seguindo as regras impostas pelo Direito (teoria normativa pura proveniente do finalismo).

Quando o agente, em que pese o reconhecimento do transtorno de personalidade antissocial é declarado imputável, pois não era, ao tempo do fato, inteiramente incapaz de compreender ou autodeterminar seu comportamento, este ficará sujeito a um sanção penal de natureza retributiva, consistente na privação de liberdade, restrição de direitos ou multa, conforme estabelecido em lei. No caso de privação de liberdade, uma vez que a Lei de Execuções Penais assegura ao condenado o tratamento a saúde durante o cumprimento da pena, o mesmo deverá ser sujeito a acompanhamento e tratamento adequado. (NUCCI, 2019)

No caso de reconhecimento da semi-imputabilidade, do mesmo modo, em sendo aplicada ou não sanção de natureza penal, o agente deverá ser acompanhado e tratado adequadamente. No caso de reconhecimento da inimputabilidade, por força da incapacidade total de compreensão ou autodeterminação, o acusado ficará sujeitos a medidas de caráter curativo, descritas na lei penal como Medidas de Segurança. O tema da responsabilidade penal será aprofundado no segundo capítulo do trabalho mas, pode-se afirmar, desde logo, que os portadores de transtornos ou doenças mentais que venham a se envolver com ilícitos penais devem ter, em qualquer caso, assegurado o adequado tratamento, visando o enfrentamento da situação que vivenciam.

No que respeita ao tratamento dos variados transtornos mentais, como por exemplo: ansiedade, bipolaridade, transtorno obsessivo-compulsivo, depressão, esquizofrenia, em sua maioria são tratados de maneira parecida, a recomendação dos médicos e psicólogos é de que o indivíduo que apresenta alguma dessas condições referidas acima faça uso de medicação adequada para a sua situação e seja acompanhado continuamente por profissionais da área da saúde que possam auxiliá-lo a lidar com esse estado mental e acompanhá-lo quando desencadear alguma crise.

(28)

Nos casos mais graves, o sujeito precisará de outras medidas curativas, nesse contexto, enquadram-se as internações em clínicas psiquiátricas e se o sujeito vir a cometer um delito e apresentar alto nível de periculosidade, o recomendável é interná-lo, sendo que na maioria das vezes essa medida é feita de forma compulsória e o lugar adequado são os institutos psiquiátricos forenses. Ressalta-se que nesse último caso as hipóteses de transtornos mentais que levem o sujeito ao local citado são mais restritas. (STALCHUS, 2011)

Os psicopatas estão presentes nos mais variados ambientes e relacionando-se com outras pessoas, assim, é perfeitamente cabível que esrelacionando-se sujeito cometa uma série de crimes, com intuito de satisfazer seu prazer momentâneo. A grande preocupação para com o sociopata é a forma de pará-lo, como amenizar os estragos e de que maneira tratar esse transtorno de personalidade antissocial.

No que tange ao transtorno de personalidade antissocial, segundo a visão de especialistas da área, não há um tratamento adequado e aplicável que resolva essa anomalia, isso porque a psicopatia é um modo de ser do sujeito e para amenizar essa situação devem-se observar os sintomas desde a infância para que nessa fase o mesmo possa ao menos estabilizar seu grau de periculosidade e apresentar o mínimo de empatia para com o próximo. Importante enfatizar que quando o sociopata comete um delito, os juristas, psicólogos, psiquiatras forenses, defendem em sua maioria, a realização de acompanhamento profissional ao portador dessa condição dissocial, mediante a utilização de medicamentos e terapias. (SADALLA, 2017).

Outrossim, na seara do tratamento vale ressaltar que no ano de 2011 foi editada a Lei 10.216/01- que dispõe sobra a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, que visa a humanização do tratamento oferecido pela medida de segurança, seja ela ambulatorial ou de internação, visando, desta forma, uma maior eficácia das mesmas, buscando proporcionar à sociedade um maior retorno, no que tange à reintegração do indivíduo, portador de algum tipo de anormalidade (STALCHUS, 2011).

(29)

Os estudos acerca da possibilidade de tratamento de tratamento para os portadores de psicopatia evidenciam que a cura é objetivo muito difícel de ser alcançado, isso porque, esses sujeitos são contra a qualquer tipo de auxílio psiquiátrico, psicológico, clínico, pois os mesmos preferem negar o referido transtorno, ao contrário dos pacientes que desenvolvem crises de ansiedade, síndromes de pânico, depressão, transtornos alimentares, entre outros. Paralelo ao que foi explanado, tem-se o entendimento de Nachara Palmeira Sadalla (2017, p. 73)

As razões para sua ineficácia são diversas. Primeiramente, como já declinamos, os psicopatas são incapazes de reconhecer eu necessitam de ajuda. A visão do mundo e de si os impede de reconhecer suas debilidades, e por conseguinte, de submeter-se às terapias. Do ponto de vista do psicopata, não há motivos para que venha a procurar ajuda. Outrossim, quando obrigatoriamente submetido a tratamento psicológico, seus poderes de simulação, eloquência e manipulação também desvirtuarão os propósitos do tratamento.

A partir dos estudos desse tópico, ficou compreendido que a cura efetiva para a psicopata ainda é uma grande dificuldade para os estudiosos da area da saúde, visto que esse sujeito apresenta uma elevada inteligência e percepção em suas ações e omissões, logo, um tratamento para o psicopata não vai garantir a melhora e cura do mesmo, as chances são mínimas, no entanto, não se pode pensar em deixar um sociopata sem nenhum tipo de acompanhamento psicológico e psiquiátrico a fim de evitar os efeitos que esse transtornos causam.

1.2.1 Teoria psicológica, psicológico-normativa e normativa pura e os elementos da culpabilidade

A culpabilidade como referida acima é pressuposto fundamental para reconhecer a capacidade psíquica e normativa do sujeito, desse modo, existe duas grandes fontes a respeito do tema. A primeira teoria é a psicológica, esta trata a culpabilidade como a relação psíquica entre o autor e o fato, elencando o dolo e a culpa como formas de culpabilidade. Todavia, atualmente sabe-se que não se pode limitar tal teoria às espécimes acima referidas. A esse respeito, leciona Cezar Roberto Bitencourt (2011, p. 395)

(30)

Dentro dessa concepção psicológica, o dolo e a culpa não só eram as duas únicas espécies de culpabilidade como também a sua totalidade, isto é, era a culpabilidade, na medida em que esta não apresentava nenhum outro elemento constitutivo. Admitia, somente, como seu pressuposto, a imputabilidade, entendida como capacidade de ser culpável. Ora, essa concepção partia da distinção entre externo e interno, ou seja, de um lado a parte exterior do fato punível - aspecto objetivo -, que era representada, primeiramente, pela antijuridicidade e, posteriormente, também pela tipicidade, e, de outro lado, sua parte interior, isto é, seus componentes psíquicos – aspecto subjetivo -, representada pela “culpabilidade é uma ligação de natureza anímica, psíquica, entre o agente e o fato criminoso”, contendo somente elementos anímicos, puramente subjetivos.

A segunda teoria é a psicológico-normativa, a qual não considera o dolo e culpa como únicos elementos de culpabilidade, ampliando seu conceito. Para essa teoria o reconhecimento da culpabilidade exige, para além do vínculo subjetivo entre o autor e o fato (manifesto pelo dolo), também um juízo externo de reprovação ou censura, assim como capacidade de culpabilidade. Nas palavras de Cezar Roberto Bitencourt (2011, p. 400)

Essa concepção, que proferirmos denominar psicológico-normativa, vê a culpabilidade como algo que se encontra fora do agente, isto é, não mais como um vínculo entre este e o fato, mas como um juízo de

valoração a respeito do agente. Em vez de o agente ser o portador

da culpabilidade, de carregar a culpabilidade em si, no seu psiquismo, ele passa a ser o objeto de um juízo de culpabilidade, que é emitido pela ordem jurídica. Há, então, uma reprovação, uma censura, que recai sobre o sujeito, sobre o agente autor de um fato típico e ilpicito, que se condiciona, no entanto, à existência de certos elementos: o primeiro, já existente desde o surgimento da culpabilidade, que é (I) a imputabilidade, que aliás, na teoria psicológica, era vista como um pressuposto de culpabilidade. A imputabilidade continua sendo indispensável na teoria psicológico-normativo, mas como seu elemento, e não mais como seu pressuposto; (II) o dolo ou a culpa, que de formas ou espécies da culpabilidade são transformados em um de seus elementos, no caso psicológico-normativo. E, por último, aquele elemento que foi incluído no conceito, na estrututa da culpabilidade, por Freudenthal, que é, (III) a exigibilidade de outra conduta, o conhecido “poder agir de outro modo”, Enfim, sintetizando, a culpabilidade psicológico normativa compõe-se dos seguintes elementos: a) imputabilidade; b) elemento

psicológico-normativo (dolo ou culpa); c) exigibilidade de conduta conforme ao Direito.

(31)

Por fim, a teoria normativa pura da culpabilidade, atualmente vigente no sistema penal brasileiro, que representa um juízo de reprovabilidade que recai sobre a conduta de quem praticou a conduta típica e ilícita, não vinculando-se ao dolo.

Segundo Nucci (2019, p. 258), a teoria normativa da culpabilidade corresponde ao finalismo penal, teoria contemplada pelo sistema penal brasileiro. Sob este prisma ela é

Um juízo de reprovação social, incidente sobre o fato típico e antijurídico e seu autor, agente esse que precisa ser imputável, ter agido com potencial consciência da ilicitude [...] e com a exigibilidade e possibilidade de um comportamento conforme o direito.

Neste aspecto, a culpabilidade é, segundo propõe Nucci (2019, p. 262) fundamento e limite para a pena e quando “[....] presente, fornece a razão para a aplicação da pena”, sendo o crime “[...] o fato típico e antijurídico, merecedor da punição”.

Atualmente está firmado que são três os elementos da culpabilidade, e ausente um deles já não se pode falar em incidência da culpabilidade. Desse modo, tem-se o entendimento de Júlio Fabbrini Mirabete (2016, p. 184)

Assim, so há culpabilidade se o sujeito, de acordo com suas condições psiquicas, podia estruturar sua consciência e vontade de acordo com o direito (imputabilidade); se estava em condições de poder compreender a ilicitude de sua conduta (possibilidade de conhecimento da licitude); se era possível exigir, nas circunstâncias, conduta diferente daquela do agente (exigibilidade de conduta diversa). São esses, portanto, os elementos da culpabilidade.

1.2.2 Causas gerais de exclusão da culpabilidade no direito brasileiro

Para finalizar o estudo em torno da culpabilidade faz-se necessário um estudo em torno de suas exludentes. No entendimento de Julio Fabbrini Mirabete (2006, p. 194) “É necessário, porém, para se impor a pena, que se verifique se há culpabilidade, ou seja, se existem os elementos que compõem a reprovabilidade da

(32)

conduta”. Logo, o Código Penal brasileiro prevê um conjunto de excludentes, que serão abordadas a seguir.

Em uma primeira e geral acepção, tem-se a não culpabilização pela inimputabilidade do sujeito, por doença mental, desenvolvimento mental incompleto e desenvolvimento mental retardado, embriaguez fortuita e desenvolvimento mental incompleto para o menor de 18 anos de idade. A segunda situação é a exclusão da culpabilidade se dá pela ausência de conhecimento da ilicitude do fato, o que ocorre por erro de proibição escusável, erro inevitável a respeito das descriminantes putativas e obediência à ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico. Na terceira e ultima acepção, a excludente existe pela inexibilidade de conduta diversa, o que se identifica na coação moral irresistível.

Sabe-se que a imputabilidade é um conjunto de condições pessoais, que capacitam o agente a compreender o caráter ilícito do fato ou de autodeterminar-se segundo este entendimento. Deste modo, quando se comete um fato delituso, faz-se necessário que o agente que o praticou entenda a gravidade de sua ação, ou seja, deve-se atentar para a capacidade de sanidade psíquica desse sujeito. A grande problemática começa quando o autor do fato delituoso não apresenta capacidade mental para auferir sua responsabilização penal perante o ilícito, logo, tem-se a primeira excludente de culpabilidade.

A doença mental e o desenvolvimento mental incompleto ou retardado são excludentes de culpabilidade mais discutidas e interessantes aos olhos do direito penal brasileiro. Entende-se, como já mencionado anteriormente, que doença mental é um quadro que qualquer sujeito pode-se encontrar-se, há a incidência de alterações psíquicas, que podem ter uma origem patológica ou toxicológica. Seguindo essa linha de pensamento tem-se a visão de Nucci (2009, p. 292)

O desenvolvimento mental incompleto ou retardado consiste numa limitada capacidade de compreensão do ilícito ou da falta de condições de se autodeterminar, conforme o precário entendimento, tendo em vista ainda não ter o agente atingido a sua maturidade intelectual e física, seja por conta da idade, seja porque apresenta alguma caracterísitica particular, como o silvícola não civilizado ou o surdo sem capacidade de comunicação.

(33)

A embriaguez é outra causa que poderá excluir a culpabilidade, porém, a mesma deve ser causada de forma completa e acidental. Esse estado é entendido como uma quantidade elevada de substância alcoólica. Logo, essa condição apresenta seus níveis. O primeiro é o inicial, conhecido como excitação, o segundo é o intermediário que seria o da depressão, o último é o da embriaguez letárgica, caracterizado pelo sono profundo, podendo também o sujeito que ingeriu a substância encontrar-se em estado de coma.

Ao entender de Cezar Roberto Bitencourt (2011, p. 430), o estado de embriaguez possui suas formas ou modalidades, sendo que as mesmas irão se aplicar no direito penal brasileiro, logo, o autor aduz que

A embriaguez no nosso ordenamento jurídico, sob o aspecto subjetivo, isto é, referente à influência do momento em que o agente coloca-se em estado de embriaguez, pode apresentar-se como: a)

não acidental: voluntária (intencional) ou culposa (imprudente); b) acidental: caso fortuito ou força maior; c) preordenada; d) habitual e/ou patológica.

A próxima causa de não responsabilização na seara da culpabilidade está na questão do desenvolvimento físico e de personalidade do sujeito que comete o fato criminoso, trata-se de sua capacidade incompleta, pois o mesmo não apresenta a maioridade penal, ou seja, os 18 anos completos para poder ser responsabilizado penalmente pelos seus atos. Nas palavras de Fabbrini e Mirabete (2006, p. 202)

Adotou-se no dispositivo um critério puramente biológico (idade do autor do fato) não se levando em conta o desenvolvimento mental do menor, que não está sujeito à sanção penal ainda que plenamente capaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acorodo com esse entendimento. Trata-se de uma presunção absoluta de inimputabilidade que faz com que o menor seja considerado como tendo desenvolvimento mental incompleto em decorrência de um critério de política criminal. Implicitamente, a lei estabelece que o menor de 18 anos não é capaz de entender as normas da vida social e de agir conforme esse estendimento.

A questão da obediência à ordem também está no rol das excludentes de culpabilidade, da qual o indíviduo que a comete não consegue compreender a

(34)

ilicitude do fato, em sua obra o autor Guilherme de Souza Nucci (2009, p. 299) faz menção sobre o tema “É a ordem de duvidosa legalidade dada pelo superior hierárquico ao ser subordinado, para que cometa uma agressão a terceiro, sob pena de responder pela inobservância da determinação”. Entende-se que a ordem hierarquica respeita algumas elementares, quais são: existência de uma ordem não manifestamente ilegal, ordem emanda de autoridade competente, a subordinação hierárquica, estrito cumprimento da ordem e a existência de três envolvidos, o superior, o subordinado e a vítima.

Em simetria ao conteúdo, faz-se necessário citar os outros dois casos do não conhecimento da ilicitude do fato, quais são: o erro de proibição escusável e as descriminantes putativas. Nas palavras do renomado Guilherme de Souza Nucci (2009, p. 309), a primeira excludente de culpabilidade está ligada ao erro “[...] cuida-se da hipótecuida-se do agente que atua cuida-sem consciência potencial da ilicitude, razão pela qual não deve sofrer juízo de censura, caso pratique um fato típico e antijurídico”. A segunda excludente acima citada está relacionada com as descriminates putativas, nas palvras de Nucci (2009, p. 309) “[...] trata-se de excludente de ilicitude imaginária, que retira do agente a capacidade de atuar conforme o direito, tendo em vista a ausência de consciência potencial da ilicitude”.

Em uma última classificação, tem-se a excludente da culpabilidade pela coação moral irresistível, a mesma está de acordo com a inexigibilidade de conduta diversa perante o fato criminoso. Portanto, entende-se que havendo uma coação moral tão violenta a ponto de não se poder tomar a atitude correta perante o acontecimento delituso, não pode ser exigido do coato que haja de maneira diversa, não lesando seu próximo, isso porque o não obedecimento do coator pode gerar prejuízos significativos se desobedecida a sua vontade. Nas palavras de Bitencourt (2011, p. 421)

Coação irresistível, com idoniedade para afastar a culpabilidade, é a

coação moral, a conhecida grave ameaça, uma vez que a coação física exclui a própria ação, não havendo, consequentemente, conduta típica. Coação irresistível é tudo o que pressiona a vontade impondo determinado comportamento, eliminado ou reduzido o poder de escolha, consequentemente, trata-se da coação moral.

(35)

Após o delinear desse primeiro capítulo e diante das diversas inquietações que o tema em questão gera, foi possível constatar que os transtornos mentais vêm crescendo na sociedade, sendo que a psicopatia é um dos que mais chama a atenção. Também, evidenciou-se a questão da culpabilidade no direito brasileiro, entendendo que esse instituto funda-se no juízo de reprovabilidade por um ato criminoso, e autoriza a imposição da pena. Diante das mais variadas teorias para a culpabilidade o nosso ordenamento pátrio adotou a normativa-pura, a qual excluiu o dolo dando maior ênfase para a questão da censura ou da reprovação que recai sobre a conduta de quem escolheu livremente a prática da conduta criminosa. Por último, podem-se demonstrar nesse primeiro capítulo da pesquisa as diferentes causas de exclusão da culpabilidade, sendo que entre estas a que realmente importa para a pesquisa é a da inimputabilidade do sujeito, a qual será devidamente estudada no decorrer do segundo capítulo.

Na segunda parte desse estudo, a abordagem ficará na questão da responsabilização penal mais correta para o psicopata, dessa forma, é preciso fazer uma diferenciação entre imputabilidade e inimputabilidade, a questão da semi-imputabilidade como um caminho intermediário entre a sanidade e a doença mental, além disso, falar-se-á sobre as penas versus as medidas de segurança e por fim o trabalho irá tentar solucionar qual a medida de caráter sancionatória mais adequada para o sujeito que não apresenta empatia com o seu próximo.

(36)

2 PSICOPATIA E RESPONSABILIDADE PENAL

Com o avanço das ciências criminais, neurológica e psicológicas, percebeu-se que a psicopatia é um transtorno bastante prepercebeu-sente na atualidade e que a mesma pode levar a prática de crimes, o que exige averiguar qual a forma de responsabilização adequada dos portadores de tal transtorno. Algumas características do psicopata despertam interesse para as referidas ciências, como por exemplo: indiferença, sensação de poder, extrema violência física, sexual e moral para com suas vítimas, deixando-as com traumas irreversíveis. Por isso, é de suma importância a identificação do transtornado e forma adequada para sua responsabilização penal, não apenas como forma de repreender mas também evitar que esses sujeitos vivam a perseguir outras pessoas e destruir vidas alheias.

Sabe-se que nem todo o psicopata ingressa na vida criminosa, entretanto, é fundamental entender que todo o portador desse transtorno de personalidade pode ser perigoso, na medida em que carrega consigo a insensibilidade e o desprezo pela vida humana alheia. Assim, o sociopata pode vir a delinquir de forma a desafiar a capacidade humana de entendimento acerca de suas ações, pois suas condutas danosas não apresentam motivações pertinentes, todavia, existe muitos estudos em torno da temática, chamando a atenção um deles, referenciado pela psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva (2010, p. 129)

O psicólogo canadense Robert Hare dedicou anos de sua vida profissional reunindo características comuns de pessoas com esse tipo de perfil, até conseguir montar um sofisticado questionamento denominado psychopathy checklist, ou PCL. Essa escala se constitui no método mais fidedigno na identificação de psicopatas em populações prisioneiras e hoje é amplamente utilizada em diversos países no contexto forense.

Na medida em que os estudos foram avançando pode-se fazer uma estreita ligação entre a psicopatia e a responsabilização penal, pois como citado acima, existe uma parcela considerável desses sujeitos que estão respondendo por crimes brutais, assim é de absoluta necessidade entender o instituto da inimputabilidade

(37)

penal que trata da incapacidade do sujeito de entender sua conduta criminosa e agir de forma adequada perante a situação fática, para determinar de que modo o psicopata se enquadra, em termos de responsabilidade, na legislação penal brasileira.

Como visto no capítulo anterior para ser penalmente responsável e sofrer pena, o autor da conduta criminosa, precisa ser considerado culpável, entendendo-se a culpabilidade como um juízo “[...] de reprovação social, incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente ser imputável, atuar com consciência da ilicitude, bem como ter a possibilidade de agir atuar de outro modo, seguindo as regras impostas pelo direto” (NUCCI, p. 262, 2019).

Deste modo, a imputabilidade é requisito para o reconhecimento da responsabilidade penal, o que exige que se averigue sua presença, em caso de transtornos ou doenças mentais, em especial a psicopatia.

2.1 IMPUTABILIDADE VERSUS INIMPUTABILIDADE NA LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA

No momento em que se pensa na ideia de responsabilização adequada para o portador de psicopatia, deve-se, primeiramente adentrar na questão da imputabilidade e da inimputabilidade, palavras tanto quanto parecidas e muitas vezes confundidas no meio psicológico, penal e psiquiátrico, no entanto, essas apresentam diferenças bem significativas e que necessitam ser perfeitamente entendida para um enquadramento jurídico, medida judicial, tratamento psicológico e psiquiátrico apropriado para o sujeito que carrega consegue o transtorno de personalidade antissocial.

Para que se verifique a imputabilidade de cada agente, tem sido cada vez mais necessária a interdisciplinaridade entre o Direito e a Psiquiatria/Psicologia Forense. Estudar a mente do criminoso e sua personalidade, além dos elementos sociais e antropológicos que normalmente os doutrinadores focam, se torna de suma relevância frente a uma sociedade que desconhece seus delinquentes (COELHO; MARQUES; PEREIRA, 2017).

Referências

Documentos relacionados

The objectives of this course include: Provide the students with knowledge about names, actions, side effects and contraindications of drugs used in the treatment of diseases in

A quarta e última parte é dedicada às considerações finais e as conclusões, que se encaminham para a confirmação de que, no Brasil, apesar dos avanços verificados nos

O modelo conceitual para estruturar um sistema de informação contábil no ERP deve seguir o enfoque sistêmico, ou seja, partindo da análise do ambiente externo até a definição das

Dentre os entrevistados, 86,96%, afirmaram fazerem uso de plantas medicinais sempre que necessário para tratamento de alguma enfermidade, demonstrando a tradição e

antibodies, and its association with feline immunodeficiency virus (FIV) and feline leukemia virus (FeLV), in domestic cats from an area endemic for canine and human leishmaniasis

A norteamericana deseja passar o tempo com dona Orquídea porque acredita ser fundamental à senhora, podendo-lhe ensinar “conceitos filosóficos capazes de ampliar

Assim, o objetivo geral do projeto de pesquisa foi compreender os processos de acolhimento e assistência de mulheres no ciclo gravídico-puerperal no CO do HU, sob a ótica das mulheres

A origem da planta de cargas e de locação dos pilares é um desenho relativamente simples, que apresenta dois tipos de informações: seções dos pilares locadas