• Nenhum resultado encontrado

2 PSICOPATIA E RESPONSABILIDADE PENAL

2.1 IMPUTABILIDADE VERSUS INIMPUTABILIDADE NA LEGISLAÇÃO PENAL

2.1.1 A semi-imputabilidade e o psicopata

Após o estudo da imputabilidade e da inimputabilidade, torna-se necessário enfatizar a questão da semi-responsabilidade, semi-imputalibilidade ou responsabilidade diminuída, que está abrangida no artigo 26, parágrafo único, do Código Penal e que deve ser objeto de reflexão quanto à aplicação desse conceito nos casos que envolvem psicopatia. No que respeita ao reconhecimento da semi- imputabilidade tem-se o entendimento a seguir

Como podemos verificar, a semi-imputabilidade deve ser reconhecida quando presente alguma perturbação mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado que torne o indivíduo parcialmente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com tal entendimento (ABREU, 2013, p. 150).

Existe também certa crítica por parte dos doutrinadores para com a expressão semi-imputabilidade e outros sinônimos citados acima, isso porque, para alguns autores a responsabilização criminal acontece, porém sua pena será diminuída, entendendo que esse não tinha no tempo da conduta criminosa perfeita definição e entendimento do que poderia acontecer no momento em que efetuasse o crime. Nesse sentido, têm-se as palavras de Júlio Fabbrini Mirabete (2006, p. 211)

Embora se fale, no caso, de semi-impitabilidade, semi- responsabilidade ou responsabilidade diminuída, as expressões são passíveis de críticas. Na verdade, o agente é imputável e responsável por ter alguma consciência da ilicitude da conduta, mas é reduzida a sanção por ter agido com culpabilidade diminuída em consequência de suas condições pessoais. O agente é imputável mas para alcançar o grau de conhecimento e de autodeterminação é- lhe necessário maior esforço. Se sucumbe ao estímulo criminal, deve ter-se em conta que sua capacidade de resistência diante dos impulsos passionais é, nele, menor que em um sujeito normal, e esse defeito origina uma diminuição da reprovabilidade e, portanto, do grau de culpabilidade.

É preciso entender que o juiz ainda tem um grande desafio quando constatada a semi-imputabilidade do sujeito, isso porque, o magistrado pode escolher a pena ou a medida de segurança, conforme melhor se adeque ao caso concreto. Andreucci (2008, p. 78) observa que nestes casos “Não há exclusão da imputabilidade, persistindo a culpabilidade do agente e a consequente aplicação de pena. Excepcionalmente, pode o juiz optar pela imposição ao semi-imputável de medida de segurança.” No entanto, essa maleabilidade pode deixar expressivas lacunas e causar um malefício grave para aquele que é acometido pela responsabilidade diminuída.

No caso da psicopatia, alude-se que o sociopata tem uma imaginação aguçada e suas atitudes criminosas refletem sua inteligência e falta de sensibilidade para com as pessoas em sua volta. Nesse segmento, têm-se as palavras a seguir

Como verificamos ao longo do trabalho, uma das maiores qualidades do psicopata consiste na sua engenhosidade de planejar planos quase infalíveis e de executá-los de forma surpreendente. O psicopata possui capacidade intelectual intacta. Muitas vezes, inclusive apresenta coeficiente intelectual acima da média (SADALLA, 2017, p. 159).

Seguindo esta linha de raciocínio, alude-se que o psicopata sabe e tem perfeita capacidade de evitar cometer a infração penal, mas mesmo assim a faz. Nesse viés, Nachara Palmeira Sadalla (2017, p. 159) diz

Assim, não há que se falar que o psicopata trata-se e forma exemplificativa de desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Além disso, ainda que restasse comprovado que psicopatia trata-se de doença mental, essa afirmação não seria suficiente para declará- lo inimputável. Os elementos consequenciais precisariam ser avaliados e verificados.

Importante dizer que o psicopata apresenta uma autossuficiência elevada, isso faz com que o mesmo crie sua própria maneira de viver, a qual é diferente de toda a sociedade. Para esse sujeito ele tem o controle de tudo, nada pode ser diferente do que ele pensa e suas atitudes são regadas de malícia, crueldade e artimanhas. Assim, o psicopata cria suas próprias normas e faz questão de não

observar nenhuma lei, visto que o mesmo acha que é a própria lei, assim, nessa sequência tem-se o entendimento a seguir

O psicopata nasce conhecendo as normas que imperam na sociedade para tornar uma convivência mais saudável e justa. Em razão da divergência de ideais entre a finalidade de tais normas e dos seus intentos, o psicopata geralmente cria sua própria norma, porque tem consciência que a norma vigente é fator impeditivo para a prática livre de seus atos (SADALLA, 2017, p. 160).

Nas palavras de Michele Oliveira de Abreu (2013, p. 182-183) a mesma traz a seguinte observação a respeito desse tópico do estudo

Verificamos que os psicopatas não possuem qualquer perturbação na saúde mental. São plenos em sua capacidade psíquica. A psicopatia é apenas uma forma de ser do ser humano no mundo. Os seus atos são meio para apenas satisfazer suas necessidades (ABREU, 2013, p. 181-182).

Já Nucci (2019, p. 268) ao abordar os temas da imputabilidade, da inimputabilidade e da semi-responsabilidade observa que é necessário ter muita cautela, para analisar as situações consideradas limítrofes “[...] que não chegam a constituir normalidade, já que se trata de personalidade antissocial, mas também não caracterizam a anormalidade a que faz referência o art. 26 do Código Penal.”

Citando Palomba, Nucci (2109, p. 268) observa que os condutopatas apresentam distúrbios de comportamento e podem ser, em muitos casos, identificados como “[...] indivíduos que ficam na zona fronteiriça entre a normalidade e a doença mental” pois apresentam “[...] comprometimento do afetividade (insensibilidade, indiferença, inadequada resposta emocional, egoísmo), comprometimento da conação (intenção mal dirigida) e da volição (movimento voluntário sem crítica)”. Deste modo, nestes sujeitos muitas vezes a “[...] capacidade de autocrítica e julgamento e de valores ético-morais está anormalmente estruturada, pois se estivesse boa haveria inibição da intenção”.

Assim, diante da abordagem sobre o tema da semi-responsabilidade, é possível compreender que esta representa uma forma de culpabilidade diminuída do

sujeito que comete o ilícito penal, sendo possível, em casos excepcionais substituir a pena por medida de segurança. Mas, no que concerne ao psicopata existe o entendimento majoritário de que o mesmo não se enquadra na seara da semi- imputabilidade, isso porque, o mesmo tem plena capacidade psíquica de evitar a prática criminosa, mas não age de forma diferente, pois sente extremo prazer com a dor alheia.

Documentos relacionados