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2 Os sistemas atmosféricos atuantes na área da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá

2.2 Sistemas instáveis

2.2.9 Cavados

Cavados são modificações no fluxo do ar que ocorrem em superfície, em médios e altos níveis da atmosfera. Os cavados em superfície possuem fluxo de vento, de modo geral, de leste para oeste, e os em médios e altos níveis, de oeste para leste.

2.2.9.1Cavados Invertidos (CI)

Os cavados em superfície são referidos como “cavados invertidos” (CI) devido ao fluxo invertido que apresentam em relação àqueles com escoamento de oeste (SATYAMURTY e FERNANDES, 1996).

Freqüentemente, após a passagem de frente fria, um CI se forma a norte do anticiclone polar. Em muitos casos, essa situação sinótica é observada na Argentina, assim que o anticiclone cruza os Andes.

Pelo efeito de Coriólis a circulação da alta pressão é anticiclônica, divergente e no sentido anti-horário no HS. No caso da formação de um CI essa circulação não se completa e o ar acaba apresentando circulação ciclônica configurando um fluxo em forma de U, conforme pode ser observado em destaque na figura 14.

Segundo Fernandes (1996), a ocorrência de cavados na América do Sul se dá ao sul de 20ºS, mais precisamente sobre a Região Sul do Brasil, Paraguai e nordeste da Argentina.

Na região onde se instala o cavado invertido, na maioria das vezes, ocorre tempo instável com muitas nuvens e chuva. As condições sinóticas mais favoráveis para a formação de um CI em Santa Catarina são quando uma frente fria encontra-se sobre o Paraná ou São Paulo e o anticlone polar, está nas imediações do Uruguai e do Rio Grande do Sul. Sem a presença do CI, a posição do anticiclone polar determinaria para Santa Catarina, ventos de sudoeste a sudeste, tempo estável com poucas nuvens, temperaturas em declínio e baixa umidade relativa por influência da massa de ar frio. Porém a presença do CI ocasiona tempo instável com muitas nuvens e chuva, às vezes, até de intensidade moderada a forte acompanhada de trovoada, apesar das temperaturas estarem mais baixas, e ventos de sudeste a leste na zona costeira, nordeste a norte no planalto e noroeste a sudeste no Meio-Oeste e Oeste de Santa Catarina.

Na BHRA esse sistema pode tornar-se muito instável, especialmente no verão, pois os ventos de sudeste a leste transportam muita umidade e calor o que favorece a convecção tornando-a mais ativa nas proximidades das escarpas da Serra Geral pelo reforço do processo orográfico (ar quente e úmido que resfriado adiabaticamente produz nebulosidade e chuva a barlavento).

Figura 14 – Cavado Invertido no Sul do Brasil entre o Oeste de Santa Catarina e o Rio Grande do Sul no dia 12/05/04 às 09 UTC (destaque). Plotada e analisada pelo autor.

Conforme constatado por Monteiro e Silva (2003), CI’s podem ser verificados com freqüência nas cartas sinóticas no norte de Santa Catarina, no estado do Paraná, de São Paulo e na zona costeira do Rio de Janeiro. A circulação originada no ASAS, bem afastado do litoral da Região Sudeste, deveria resultar em ventos de nordeste nesses locais, porém verifica-se

que nesta situação os ventos sopram de leste a sudeste. Esse fato também foi verificado para a zona costeira do Rio Grande do Sul, com ventos predominantes de leste em Porto Alegre, oriundos também do ASAS, conforme Lima (s/d). Esse Cavado no litoral gaúcho deve se prolongar para Santa Catarina e ser responsável pela variação na direção dos ventos no sul catarinense. Embora esses CI’s se apresentem sem atividade, ou seja, com poucas nuvens e até com ar seco, podem auxiliar, por exemplo, na formação do processo convectivo que resulta em temporais localizados.

2.2.9.2Cavados em médios e altos níveis

Existem alguns cavados associados aos jatos e outros não relacionados diretamente a esses sistemas. São formados por correntes de oeste e possuem características semelhantes aos jatos e vórtices. A diferença entre os três sistemas está na organização dos fluxos de oeste: os jatos possuem fluxo mais zonal, ou seja, percorrem milhares de quilômetros quase na mesma latitude; os vórtices ciclônicos são caracterizados por um fluxo fechado no sentido horário no Hemisfério Sul (baixa pressão) e os cavados de médios e altos níveis apresentam inclinação do fluxo para sul na tentativa de organizar uma baixa pressão.

A instabilidade cada vez mais intensa faz, de modo geral, as correntes de jatos originarem os cavados e estes, os vórtices ciclônicos.

Cavados a partir de uma corrente de jato podem freqüentemente ser encontrados onde as nuvens associadas ao sistema frontal começam a se dissipar e ficam mais esparsas ou em área marcada por cumulus mais desenvolvidos na vertical (GEM, 2005). Ainda de acordo com a mesma fonte, estas zonas de cumulus desenvolvidos podem ser áreas de possível desenvolvimento ciclônico.

Os cavados não relacionados aos jatos ou aos sistemas frontais penetram na América do Sul, geralmente oriundos do Pacífico e ao cruzarem os Andes, ocorre, via de regra, instabilidade e precipitação a jusante do seu eixo.

Na figura 15 é verificado um cavado em médios níveis da atmosfera (500hPa) sobre o centro-leste do Rio Grande do Sul no dia 24 de janeiro de 2004. Neste dia, o tempo era instável com muitas nuvens, no início do dia, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina (EPAGRI/CIRAM).

Figura 15 – Campo de vento das 12 UTC do dia 24 de janeiro de 2004 no nível de 500hPa. (Reanálise do Modelo ETA)

Os cavados em médios e altos níveis, geralmente, estão associados a mau tempo com presença de muitas nuvens e chuvas persistentes. Em Santa Catarina diversas instabilidades foram observadas associadas a esses sistemas. Um exemplo foi a ocorrência de tempo instável com muitas nuvens e chuvas contínuas com intensidade moderada a forte, em alguns momentos, entre os dias 21 e 31 de janeiro de 2004, conforme o relatório de monitoramento das condições de tempo efetuado pelo setor de meteorologia da EPAGRI/CIRAM. O volume de precipitação variou de 50 a mais de 100 mm na zona costeira catarinense, conforme dados das estações hidrológicas da ANA e da EPAGRI/CIRAM. Essas chuvas amenizaram uma situação de estiagem que já persistia há mais de um mês. A figura 16 mostra o estado de Santa Catarina com muitas nuvens; no dia da imagem (24/01/2004) ocorreu chuva moderada a forte, em alguns momentos, em todas as regiões catarinenses (EPAGRI/CIRAM).

Figura 16 – Imagem de satélite das 12 UTC do dia 24/01/2004 com intensa nebulosidade em Santa Catarina associada a um cavado em altitude. Fonte: NOAA/NESDIS