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3 Variação dos elementos do clima

3.2 Umidade relativa do ar (UR)

Representativa da quantidade de vapor d’água em um determinado local, a umidade relativa do ar reflete o comportamento de alguns elementos climáticos, tais como temperatura, nebulosidade e precipitação.

A umidade relativa varia inversamente com a temperatura: mais elevada durante a noite, especialmente, no final da madrugada, e mais baixa no começo da tarde, quando a temperatura é mais elevada.

Na Região Sul do Brasil, as maiores variações ocorrem associadas ao deslocamento das frentes frias. Em situação pré-frontal, sob domínio do Anticiclone Semi-fixo do Atlântico Sul (ASAS), os ventos sopram de nordeste a noroeste e a UR fica muito variável, sendo mais alta no litoral e mais baixa no interior. Em condições frontais, a umidade é máxima, geralmente entre 95 e 100%, em virtude da presença da nebulosidade, da chuva e do declínio das temperaturas. A estabilidade volta a retornar a partir do momento que a frente fria se afasta, geralmente, para o Sudeste brasileiro, com a chegada de um anticiclone polar à Região Sul. Sob influência desse sistema atmosférico, a umidade relativa fica muito baixa e os menores porcentuais, que podem ficar entre 20 e 30%, ocorrem quando o anticiclone é continental, ou seja, com o centro da massa de ar frio sobre a Argentina, Uruguai, Paraguai ou Sul do Brasil, principalmente no inverno. Há casos em que ainda está chovendo e a umidade relativa começa a cair bruscamente, e passa de 100% para 80% em poucos minutos; assim que

a chuva cessa, e a ação da massa de ar frio passa a ser maior, a umidade declina mais de 20%, em apenas uma hora. Por outro lado, se o anticiclone polar se desloca pelo oceano Atlântico, trajetória mais freqüente, a umidade no litoral Sul do Brasil se mantém elevada até tornar-se tropicalizado, já distante do estado. Nesse caso, ocorrem muitas nuvens e até chuva isolada, que é mais persistente de Porto Alegre a Joinville. Na BHRA, a umidade fica mais concentrada nas proximidades das escarpas da Serra Geral, que é o lado barlavento, onde os ventos úmidos são forçados a ascender. Fora da área da bacia mas próximo das escarpas, Orleans é o município que apresenta os maiores valores de umidade.

A intensa dinâmica dos sistemas atmosféricos é responsável pela maior variação de UR no Sul do Brasil. No Centro-Oeste, por exemplo, existe um período de máxima umidade que ocorre no verão, em função da cobertura de nuvens e da precipitação diária, e de mínima no inverno, por influência da Massa Tropical Continental (mTc) quente e seca; neste período é comum a umidade cair para valores inferiores a 20%. Nesse caso, é comum a Defesa Civil alertar a população para umidificar o ambiente, permanecer em locais protegidos do sol, interromper qualquer atividade ao ar livre entre 10 e 16 horas, evitar aglomerações em ambientes fechados e usar soro fisiológico para olhos e narinas.

Além da variação da UR estar relacionada a outros elementos climáticos e aos sistemas meteorológicos, o relevo possui influência significativa. Conforme a figura 23, as localidades de maior altitude apresentam umidade relativa mais baixa em relação às costeiras e a diferença torna-se mais evidente no inverno e na primavera. Este fato pode ser explicado pelo efeito do relevo, pois dentro da Troposfera os valores de UR tendem a diminuir com a altitude. O vapor d’água se origina na superfície terrestre pela evaporação e transpiração e fica concentrado nas camadas mais baixas da atmosfera, com quase metade do total abaixo de 2000 metros. Segundo Landsberg, apud Ayoade (1991), a quantidade de vapor d’água nas latitudes médias é de 1,30% do volume ao nível médio do mar e diminui para 0,81% a 1500 metros de altitude.

Caxias do Sul apresenta valores baixos de umidade também no verão, que pode estar associada à estabilidade do ar que ocorre em boa parte do Rio Grande do Sul. Estudos efetuados por Lima (s/d) na Região Metropolitana de Porto Alegre apontam para valores de umidade relativa semelhantes aos registrados na estação de Caxias do Sul, durante o verão. Em Torres, apesar de estar na mesma latitude de Caxias do Sul, o efeito da brisa oceânica contrasta com o ar seco proporcionando umidade relativa do ar mais elevada no verão.

Entre os municípios costeiros, Torres é mais úmido; já Araranguá e Laguna são um pouco menos úmidos, sendo que Araranguá apresenta, entre o final da primavera e início do

verão (novembro a janeiro), valores de UR semelhante às estações serranas, portanto a temperatura já é elevada, porém a umidade é baixa. Esta baixa umidade relativa do ar (figura 23) aliada ao baixo volume de chuva (tabela 15) e as temperaturas relativamente elevadas (figura 22) tornam o referido município vulnerável ao controle no consumo de água, podendo resultar em conflitos, conforme discutido mais adiante em precipitação.

Tendo como base a classificação de névoas através da diferença de UR, que com valor igual ou superior a 80% a névoa é considerada úmida, e inferior a esse valor, névoa seca (COMAER, 2001), é verificado que os municípios costeiros são úmidos na maior parte do ano, sendo os meses de fevereiro, março e setembro os mais úmidos, e novembro e dezembro, os mais secos. De todos os municípios, Orleans é o mais úmido, e o mais seco, São Joaquim, com valores superiores a 80% somente no período de fevereiro a abril (figura 23).

73 78 83 88

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

U m id a d e R e la ti v a ( % ) Araranguá Bom Jesus Caxias do Sul Laguna Orleans São Joaquim Torres Urussanga

Estação/Mês JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Araranguá 79 83 83 82 83 82 82 81 82 80 78 77 Bom Jesus 81 82 82 81 81 81 79 78 79 79 78 79 Laguna 80 81 82 80 81 81 82 83 83 81 80 79 Orleans 83 84 85 84 84 86 84 84 84 83 83 83 São Joaquim 79 81 81 81 79 77 76 74 76 77 77 77 Torres 83 84 83 80 82 81 83 83 84 82 81 82 Caxias do Sul 77 79 82 81 80 80 78 78 77 78 75 76 Urussanga 79 80 82 82 83 83 83 81 80 78 76 76

Figura 23 – Média mensal da umidade relativa do ar.

Fonte: Banco de dados da EPAGRI/CIRAM..

As figuras 24, 25 e 26, mostram as variações diárias da umidade relativa às 9, 15 e 21 horas, respectivamente, para as estações de São Joaquim, Urussanga e Araranguá.

Pela manhã, de acordo com a média mensal das 09 horas (figura 24), a variação entre os dados das três estações é mais acentuada no período de inverno e início da primavera, uma vez que São Joaquim apresenta uma diminuição da UR a partir das primeiras incursões polares mais ativas. Na primavera a umidade baixa nas três estações, e em Urussanga de modo mais acentuado. Novembro e dezembro são os meses de menor UR nas três estações analisadas. Apesar das variações, no decorrer do ano, Araranguá é o mais úmido, seguido por Urussanga e São Joaquim, indicando a influência do oceano Atlântico, da altitude e das massas de ar.

75 80 85 90

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

São Joaquim Urussanga Araranguá

Figura 24 – Média mensal da umidade relativa das 09 horas.

Fonte: Banco de dados da EPAGRI/CIRAM..

À tarde, a UR baixa sensivelmente nos três municípios e São Joaquim é o que apresenta menor índice, e Araranguá o mais úmido (figura 25). Comparando com o comportamento das 9 horas e 21 horas, figuras 24 e 26, respectivamente, a UR é mais estável às 15 horas, no decorrer do ano.

60 65 70 75

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

São Joaquim Urussanga Araranguá

Figura 25 – Média mensal da umidade relativa das 15 horas.

Fonte: Banco de dados da EPAGRI/CIRAM..

Existe uma elevação no índice nos meses de maio e junho para as três estações analisadas, justamente nos meses de pouca chuva (tabela 15). A estabilidade atmosférica que se forma nesse período favorece a formação de nevoeiros mesmo durante a tarde, conforme a tabela 5 no capitulo 2. Como esse fenômeno exige umidade elevada (entre 98 e 100%) para se formar, se reflete no aumento da umidade média, conforme a figura 25.

O mês que apresenta a umidade mais baixa durante o dia é novembro, pelo menos para Urussanga e São Joaquim (figuras 24 e 25), reflexo da estabilidade atmosférica.

O período noturno é o mais úmido e todas as três estações analisadas apresentam umidade relativa superior a 80%, conforme figura 26.

Na comparação do comportamento da UR nos três horários de observação é verificado que em Araranguá a umidade relativa se mantém mais constante, provavelmente como decorrência da proximidade com o oceano, enquanto nas estações mais distantes do mar os valores são mais variáveis ao longo do dia.

80 85 90 95

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

São Joaquim Urussanga Araranguá

Figura 26 – Média mensal da umidade relativa das 21 horas.

Fonte: Banco de dados da EPAGRI/CIRAM.