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Idade: 60 anos

Estado Civil: casado

Profissão: comerciante

Pai de 4 filhos

Gabriel ao ser convidado a dizer quem é afirma:

Sou uma pessoa simples, filho mais velho de uma prole de nove. Nasci no interior, gosto de viver na terra, num sítio, apesar de hoje morar em São Paulo. Tenho esse projeto de vida.... Gosto de horta, criar galinha. A verdadeira felicidade está nas coisas simples, me dou melhor com pessoas simples, apesar de hoje conhecer outras coisas.

Remete-se às condições sociais de sua família de origem e manifesta sua primeira identidade como pessoa simples e filho mais velho.

Para Ciampa (1987/2005) a identidade é movimento que é apresentada além do nome próprio “interiorizamos aquilo que os outros nos atribuem. A tendência é nos predicarmos coisas que os outros nos atribuem” (p. 131). Mesmo que Gabriel voltasse ao mesmo lugar, jamais voltaria àquela personagem primeira com que se deu o início do seu processo identitário. Como citado no capitulo 4, a identidade envolve tanto a concepção do próprio indivíduo sobre si mesmo quanto a concepção dos outros com os quais interage direta ou indiretamente no contexto em que se insere, o que lhe dá a condição de se constituir como ser sócio-histórico. Portanto, voltando à análise da identidade de Gabriel que carrega a sua história nos diversos

contextos pelos quais passou, e também a história dos diversos outros com os quais interagiu, mantendo a recordação como fator importante para o processo de constituição da identidade.

Se precisar, cozinho. Cuidei do meu sogro aqui em casa, antes do meu transplante, e cozinhava para ele, que estava numa cama hospitalar. Gosto disso.

Em sua simplicidade e despojamento, mesmo doente do coração, tem disposição para cuidar do sogro. Mostra indícios de autonomia; de uma identidade que não busca ser servido, mas servir. Já evidenciamos aqui o Gabriel-Servidor.

Lutei muito na vida, venci e estou vivo; nasci na miséria, e hoje aprendi a me virar. Estudei até o 4º ano primário.

Gabriel –servidor é também ao mesmo tempo o Gabriel – Lutador.

Para Habermas (1988/2002), a emancipação pode ser prejudicada pela violência, pela coerção, pela luta incessante pela sobrevivência, o que acaba desumanizando quem deveria tornar-se humano. Gabriel começa agora a relatar momentos de luta pela sobrevivência quando se refere a miséria. Essa dimensão apresentada pelo sujeito é a dimensão política da identidade discutida por Habermas (idem) e Ciampa (1987/2005) no que se refere a um conflito político provocado pelo poder internalizado subjetivamente, ou mesmo, apenas externalizado objetivamente.

Como já citado, Habermas enfatiza o fato de que no momento histórico atual se faz cada vez mais necessário que cada ser humano torne-se uma pessoa

autônoma na sociedade submersa na racionalidade instrumental. E que o próprio processo de emancipação do indivíduo o determina submisso à razão instrumental. Processo esse que podemos denominar de irracional.

Servidor e Lutador são personagens que Gabriel reproduz (repõe), por mais que passe a impressão de não transformação, a metamorfose continua a ocorrer através do “processo de re-posição” (CIAMPA, 1987/2005). A re-posição é um dos diferentes modos de estruturação da identidade. Estas são personagens da identidade que Gabriel faz questão de levar consigo no processo de construção de sua identidade.

Gabriel-Servidor-Lutador não relata muito de sua infância, não se refere mais profundamente sobre as figuras parentais. Não temos sua história antes do sete anos, nem as impressões sobre essa época.

Quando vim do interior (Lucélia) para São Paulo, meu pai arrumou emprego - serviço de ajudante; eu tinha 7 anos. Ele foi ajudante de uma fábrica de ladrilhos... Minha mãe foi uma pessoa infeliz, teve muitos filhos, mas não foi escolha dela. Foi muito boa para mim. Ela morreu quando tinha 50 anos.

Aos 7 anos Gabriel que ainda não se sabia Servidor nem Lutador, era Gabriel-filho-de –pai-trabalhador e filho–de-mãe-infeliz. Antes dos 14 anos, torna-se Gabriel-trabalhador como o pai e desde então encarna também junto com a personagem trabalhador a personagem lutador.

Passei fome na minha infância... Não era brincadeira! Comecei a trabalhar com a carroça, catar ferro velho. Antes dos 14 anos, fui Office boy no Hotel Danúbio...

Hoje por meio da memória Gabriel reconhece que aos 14 anos o Servidor já havia se concretizado na personagem do Office boy do Hotel Danúbio

Aos 14 anos, no Hotel Danúbio levava a coluna de Mrs. Mary no estadão; era jornalista...fazia com carinho um trabalho para ela...Sempre tive afinidade com o bem. Isso que eu acho que me ajudou a ter essa sobrevida.

Gabriel se reconhece como um homem bom e atribui sua sobrevivência à doença à sua disposição para o bem.

Aos 17 anos separa-se da família, mas leva consigo a memória desta identidade familiar. A fome, a miséria e o trabalho persistem, mas Gabriel é lutador, não desiste facilmente.

Larguei minha família aos 17 anos, pois não tinha como morar lá. Morava num depósito de ferro velho, e aí foi que desestruturou tudo.

Para Habermas, como já citado anteriormente, a violência, a coerção, a luta incessante pela sobrevivência acaba desumanizando quem deveria tornar-se humano.

Fui uma vez, de ônibus, a Santo Amaro, depois de um dia árduo de trabalho, quando me deparei com uma metalúrgica chamada "Aquanove..., me apresentei como catador de alumínio, cobre e latão e ofereci esse material para vender para o comprador dessa metalúrgica. Pedi para que eles me ajudassem, porque queria crescer... começaram a comprar. Eu juntava, colocava num saco de estopa, depois num saco de farinha de trigo, colocava nos ombros e

carregava 80 quilos nas costas. Subia a Ladeira Porto Geral, ia de ônibus até Santo Amaro e levava a mercadoria (...).

Gabriel-lutador, assume a luta pela existência e busca novas personagens, encarna o Gabriel-que-quer-crescer. Já era Gabriel-catador-de-cobre, Gabriel- catador-de-alumínio, Gabriel-catador-de-latão, ou seja, continua o Gabriel-do-ferro- velho. A identidade segundo Ciampa (1987/2005) nos aparece como articulação de várias personagens, articulação de várias diferenças, constituindo e constituída por, uma história pessoal “.

Apesar da história de miséria da família e, da colonização do mundo da vida, que se refere ao cotidiano no qual a vida se dá, a individuação está se expressando pelo crescimento de sua autonomia individual.

O Gabriel-que-quer-crescer é reconhecido pelas pessoas de referência do novo grupo de que realmente é: Gabriel-que-quer-crescer.

O Gabriel-trabalhador-lutador-que-quer-crescer, quer emancipar-se do Gabriel-humilde-miserável concretizando uma identidade de Gabriel-humilde- empresário.

Depois, comecei a usar uma carroça (...) como a carroça não era minha, comprei a carroça; depois, fiquei sócio de um português durante 1 ano, e montamos um ferro velho... Comprei a parte dele...

Gabriel-lutador é também um homem de fé, fé que aprendeu com seu avô desde pequeno, Gabriel não dá uma idade para esse “desde pequeno”, mas nos sugere uma primeira socialização já em convivência com a fé.

Aprendeu a partir da fé ensinada pelo avô a nunca “desistir das adversidades”, o que nos remete ao mito do herói: Gabriel recorre a uma personagem mito. Mitologicamente a meta do herói é a superação de obstáculos; o alcance de determinadas metas – encontrar o tesouro, o elixir da vida – psicologicamente são metáforas de um verdadeiro sentimento de um potencial único, o trabalho heróico consiste em assimilar os conteúdos inconscientes em vez de ser por eles subjugado. O resultado potencial é a liberação da energia que estava presa aos complexos inconscientes. Nos mitos, o herói é aquele que conquista o dragão e não aquele que é por ele devorado, não é herói aquele que jamais se encontra com o dragão ou aquele que tendo visto declara a seguir que nada viu. Apenas aquele que se arriscou na luta com o dragão e não foi por ele vencido conquista o premio: o tesouro difícil de ser atingido, adquiriu o direito de acreditar que será capaz de sobrepujar todas as ameaças futuras com os mesmos meios.

“Desde pequeno, através do meu avô, tive referências religiosas muito fortes. Ele era católico, sempre me deu força em pedir, em ter fé e tudo mais. A intuição e a religião sempre acompanharam minha vida. Eu nunca desisti das adversidades da vida. Eu só não fui

favelado, porque naquela época não havia favela, e sim cortiço. E foi lá que eu morei.”

Acontece que no meio do caminho do Gabriel-lutador-homem-de-fé surge um obstáculo muito grande, um obstáculo do tamanho de um coração doente.

Gabriel descobre que tem um problema grave no coração, lutador e herói, se depara com a morte, mas nem poderia se permitir morrer, em primeiro lugar porque

herói não se permite ser vencido, ele deve lutar contra a própria morte, em segundo lugar porque sequer tinha onde cair morto.

Descobri (...) que tinha problema no coração, e os médicos me mandaram fazer eletro e outros exames em médico particular, e fui encaminhado para o Instituto do Coração. Fizeram avaliação, o coração estava muito dilatado, e disseram que eu não podia mais trabalhar, e sim só administrar: mas administrar o quê? Eu não tinha onde cair morto!

Na flor da idade Gabriel como “herói” precisa enfrentar o maior de seus obstáculos; é como homem-de-fé, que busca soluções outras, pois as soluções que a tecnologia lhe oferece, a falta de dinheiro não lhe permite ter.

Morava só, na rua. Eu já com 17 anos estava com problemas, e na flor da idade saber que se tem um problema grave é terrível. Não tinha dinheiro.

No momento em que se vislumbrava com a morte, começa a construir uma nova personagem, o “sonhador”, aquele que tem planos para o futuro, aquele que deseja um devir, um amanhã.

...tomava Diempax, porque eu não dormia; pois imagine, com dezessete anos o médico pedir para eu não fazer nada...tinha sonho de ter família, casar, ter, filhos. Tinha sonhos...era ativo...trabalhava com uma carroça catando ferro velho na rua...

O “Sonhador” que não queria abrir mão de seu projeto de vida une-se ao “herói”; Gabriel vê nessa personagem a possibilidade estratégica de enfrentar o obstáculo iminente da morte; o “herói” deve vencer tanto a morte do corpo quanto a morte dos sonhos, para que o “sonhador” realize seus sonhos.

A intensidade da ansiedade diante da morte leva o Gabriel-herói a buscar uma saída estratégica, visto que, segundo seu entendimento, a proposta da medicina era impedir a realização do Gabriel-sonhador. Para Gabriel então com 17 anos não fazer nada também significava morrer. Não tinha condições financeiras para “não fazer nada”. Procurou um Centro Espírita e recebeu orientações.

... e comecei a "receber", e tenho até hoje mensagens psicografadas por Bezerra de Menezes, que incorporava D. Guiomar, que começou a me dar receitas fitoterápicas, e pediu para eu continuar com a vida normal. Disse que eu tinha essa deficiência nos meus órgãos e que eles estavam acostumados com essa deficiência. Então, era para eu ter uma vida normal, que eu não poderia ser atleta, mas que, dentro da normalidade, eu poderia continuar a viver como qualquer outra pessoa.

Depositou no outro significativo expressado por D. Guiomar a resolução dos seus problemas; integrando o “herói”, o “sonhador” e o “lutador”, Gabriel encontra alternativa para ultrapassar os obstáculos, realizar seus sonhos e continuar a viver.

Aí, depois disso, larguei mão dos tratamentos, e só fiquei fazendo tratamento espiritual, pois com os medicamentos receitados pelo médico estragou meu estômago e muitas coisas. Então, comecei a tomar chá de ervas, remédios homeopáticos, e consegui um equilíbrio.

A única alternativa considerada viável por Gabriel nesse momento, uma solução adaptativa a sua realidade contextual, foi encarnar a personagem Gabriel- espírita-homem-de-fé. Refugiou-se nessa personagem. Gabriel, na verdade, trocou a tecnologia médica alopata por uma técnica alternativa, das ervas indicadas pela D. Guiomar, a técnica fitoterápica.

além de me tornar muito espírita, sempre ajudei as pessoas. Mesmo não tendo nada, sempre tive este lado, sempre estive com Deus.

Além de todas as personagens apresentadas, Gabriel não deixa de encarnar também o Gabriel-servidor, o qual já se apresentou no início da narrativa e que se mantém.

Gabriel, então, começa a se apresentar como aquele que consegue realizar seus sonhos; Gabriel-realizador-de-sonhos permite-lhe apresenta-se como Gabriel- feliz. Homem casado que tem três filhos bem sucedidos.

Dei formação a todos, espiritual e profissional. O que dá sentido à vida é o que você é, e não o que você fala. Aprendi a honestidade com meu pai. Minha vida daria até para escrever um livro.

Aqui Gabriel nos remete ao passado quando já sonhava em casar e ter filhos. Sonhos, esperança e projeto de vida, são constituintes do processo de construção do “vir-a-ser” de uma identidade (Ciampa,1987/2005). Identidade, esta, que Gabriel concretiza.

Casei aos 29 anos, e já tinha um depósito de papelão. Deixei o ferro velho. Antes do casamento, avisei minha esposa que eu tinha problema no coração, que poderia ter problemas e morrer.Ela disse que não havia garantia de se casar com um homem sadio, e depois ele perder a saúde.... tive os filhos, continuei trabalhando e esqueci que tinha problema no coração.

Mas esta personagem esquecida sobrevive e volta a se manifestar. Gabriel- doente-do-coração reaparece modificada em outro contexto. Ser doente do coração, aos 40 anos, casado, com família formada e financeiramente bem estruturado, é praticamente outra personagem, que pouco tem a ver com a anterior personagem Gabriel-doente-do-coração. Parece a mesma, mas, metamorfoseada, articula-se a tantas outras, afetada pela piora do seu quadro cardíaco.

... estava com mais ou menos 40, (...) tive uma crise muito forte e tive que operar. (...) O meu coração era dilatado, imenso, (...) adquiri outras cardiopatias, miocardia dilatada, valvopatia e coronariopatia. Fiquei muito fraco, estava com 25% da minha capacidade cardíaca.

Na crise, necessitando de intervenção médica, diante da técnica que lhe permitiu uma sobrevida, mas que também lhe causou iatrogenias, Gabriel busca informações sobre os procedimentos tecnológicos:

Os médicos, naquele tempo, quiseram fazer um estudo, uma experiência: é um tipo de implosão, onde colocavam um catéter no coração, e tinha um tipo de uma "pólvora", que ocasionava uma implosão, e eu poderia ter uma sobrevida de mais uns 6 meses. ...essa técnica era usada com pessoas que tinham problemas de diabetes, com problemas de cicatrização e queriam fazer isso comigo (...)resolveram me operar, apesar da minha fraqueza e perda de peso. Fiquei numa clínica particular tomando soro na veia, para que eu pudesse me fortalecer, para depois operar.

Gabriel-doente-do-coração convive agora com Gabriel-empresário-bem- sucedido, o que torna possível ficar em uma clinica particular. Esse Gabriel-doente- do-coração metamorfoseado têm onde cair morto; já é também o Gabriel-realizador de sonhos; casou-se, tem filhos.

Quanto ao transplante:

A idéia foi amadurecendo (...) mas confesso que achei que já que pedi 20 anos e Deus me deu, os filhos já estão criados, trabalhando, achei que já poderia morrer. Estava conformado. Chegada minha vez, tudo bem, vou embora, mas com essa idéia do transplante adquiri um novo estímulo para viver, e estou aqui.

O novo Gabriel-doente-do-coração tem melhores condições financeiras, sociais e pessoais para concretizar diferentemente essa personagem, o que o Gabriel-doente-do-coração de antes, efetivamente, não tinha. Identidade é desenvolvimento do concreto, é metamorfose, por isso a pergunta sobre identidade deveria ser: como essa identidade vai se formando e se transformando, como é o processo? (CIAMPA, 1984/1992). Devido a condições objetivas, expectativas da sociedade e expectativas internalizadas, a identidade vai sendo construída num constante processo de “vir-a-ser”. (CIAMPA, 1987/1998, p.36)

Um amigo cardiologista do Centro Espírita “Perseverança” havia me dito que meu caso era perfeito para transplante. Fui motivado a fazer a cirurgia, sem esperar a morte chegar (...). Isso foi coisa de Deus: o transplante, para amenizar a situação. Foi mais difícil entrar na fila do que o tempo que eu demorei para fazer o transplante. Houve muitos obstáculos por parte dos médicos, mas acabou dando certo.

O Gabriel-doente-do-coração apoia-se no Gabriel-homem-de-fé, pois até o seu transplante foi legitimado por um colega da fé, ou seja, um outro homem-de-fé. Gabriel tem seu comportamento legitimado pelo seu grupo espírita como homem-de- fé.

Sempre digo que não cai uma folha de uma árvore, se não for pela vontade de Deus. Só que passei a acreditar nisso depois do transplante. Sempre soube da misericórdia de Deus. No Incor, não se passa na frente por dinheiro, só se estiver mal. Feliz daquele que pode fazer o bem, daquele que sofre amando a Deus, que tem fé. Porque é tão triste a pessoa caminhar na vida sem ter fé, passar as

adversidades sem ter fé, sem ter Deus. Sempre tive Deus, amigos, tive de tudo, nunca me faltou nada.

Como já citado, através do universo simbólico há a ordenação para a apreensão subjetiva da experiência biográfica, de modo que haja integração pela incorporação ao mesmo universo de significação. Esse universo é construído no contato com o outro, com o grupo do qual se faz parte.

Ganhei uma caixa em formato de coração imensa, com muitas mensagens que me mandaram. Mensagens que eu guardo até hoje, eis algumas:

- "Que Deus derrame sobre você bênçãos de saúde e que sua recuperação seja rápida."

- "O nosso coração é seu!"

- “te amamos demais. Estávamos pedindo a Deus sua mais rápida recuperação."

- "Querido amigo: que privilégio ter você como amigo. Aprendemos a te amar, você é como um pai, amigo e grande homem de fé. Logo você estará novamente conosco. Já está em nossos corações e orações. Te admiramos muito e desejamos sorte nesta nova etapa de vida. Te amamos."

- "Você é um exemplo de vida que nos faz lutar, acreditar e vencer. Obrigado por esta oportunidade de aprendizado."

A identidade afirma-se no reconhecimento do outro e o entendimento se dá através da intersubjetividade do mundo da vida; o indivíduo situa-se nessa vida, assimilando e compartilhando intersubjetivamente sua história de vida, de forma consciente guiado por uma individualidade, que foi adquirida e que deseja ser identificada como alguém que fez por conta própria.

Recebi também mensagens de espíritos, psicografadas de um poeta, amigo que tive em vida, e agora ele se comunicou:

- "Ao meu caro amigo. Temos todos que aprender que a doação no silêncio nos faz reviver. Receba hoje meu abraço de saudade em poesia. Saiba que Jesus quer você vivo, disseminando alegria". (Eurípedes Formiga)

- “Você tinha um coração preparado, o próprio merecimento deu-lhe outro renovado. Seu coração é simplesmente peça de um bombeamento, de um sangue cheio de amor que brota do pensamento."

Quando recebi mensagens antes do transplante, foi muita energia de amor. Os pacientes que estão espiritualmente bem são muito mais fáceis de recuperar, e serem bem sucedidos na operação. Sei que foi provado cientificamente: os que não estão bem não se recuperam bem. Vi isso pessoalmente.

Ao mesmo tempo Gabriel-transplantado fundamenta sua fé recorrendo a argumento “provado cientificamente”. Parece não negar a racionalidade tecno- científica, deixa claro que a considera subordinada à vontade absoluta de Deus.

Tenho cabeça boa e não "encuco", graças a Deus. Há pessoas que pensam que tem alguém que vai morrer para eu viver. Eu não penso assim. Se existe (a tecnologia), é porque Deus permite e, se eu recebi, é porque Deus quis, e claro que eu não vou ficar feliz que alguém morra para eu receber o coração. É um processo natural de vida: toda hora nascem e morrem pessoas, e isso acontece.

Não penso que estou com o coração de outro. Isso aceitei como uma coisa normal. Se não fosse para eu receber naquele momento em que recebi, não receberia... Deus permitiu. Então, estou bem, não tenho nenhum tipo de problema. Agora, com esse coração, eu sei que posso viver mais; a troca de válvulas dura 8 anos, e não era garantia de vida.

Não importa se uma folha cai da árvore, ou uma cirurgia de transplante salva sua vida, não há dúvida que o sentido de ambos acontecimentos é dado pela vontade de Deus. Assim é que Gabriel se metamorfoseou, tornou-se um outro

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