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CAPÍTULO II – O PESADELO: A LÓGICA DO CAPITAL E A EDUCAÇÃO COMO

2.6 CENÁRIO BRASILEIRO

Analisando a formação da sociedade brasileira, Ohlweiler (1990) admite que desde a origem o Brasil adotou um modelo de exclusão social: em um primeiro momento, sob o jugo do império lusitano por meio das políticas adotadas pelo Estado português, dentro de um pacto colonial que envolvia a classe dos grandes proprietários de terra e a burguesia mercantil portuguesa; em um segundo momento, a exclusão social foi perpetuada após a independência política brasileira e a constituição do Estado nacional, com o patrocínio da classe senhorial dominante, a qual detinha não apenas a propriedade da terra, mas também o controle do aparelho estatal, que era utilizado para fazer prevalecer os interesses desta classe dominante.

Ainda segundo este autor, com o processo de industrialização e urbanização no Brasil, ocorre uma total dependência dos interesses oligárquicos aos da acumulação de capital e, ao mesmo tempo, uma sujeição do trabalhador à lógica capitalista. Reconhecidamente, grandes parcelas da população brasileira não dispõem dos meios para atender as suas necessidades básicas e vivem em um estado de pobreza absoluta. A distribuição dos rendimentos procedentes do trabalho sofreu uma grande concentração ao longo do processo de industrialização e o desemprego e/ou o subemprego foi uma característica marcante da industrialização e urbanização, a qual foi acentuada na década de 1990.

2.6.1 Taylorismo/Fordismo no Brasil

No Brasil, com base em Ferreira (1994), podemos verificar que o taylorismo/fordismo teve um desenvolvimento bastante diferenciado em relação ao que ocorreu nos países centrais, e repleto de contradições.

Apesar do dinamismo econômico que ocorreu no Brasil entre as décadas de 1940 e 1980, os problemas sociais nunca foram resolvidos e as desigualdades aumentavam na mesma proporção. Nas palavras de Ferreira (1994, p. 16), “Uma das principais características do padrão brasileiro será a de combinar o elevado dinamismo econômico com o mais vergonhoso descaso social, agravando as carências sociais, a miséria e a marginalidade urbana.”

Enquanto nos países centrais as políticas voltadas para o bem-estar social foram intensificadas, no Brasil, a exploração do trabalhador e a total indiferença ao sofrimento humano parecem ser traço marcante em nossa história.

Por causa desse caráter excludente com forte concentração de renda, nunca ocorreu no Brasil uma norma de consumo de massa, não houve participação nos lucros, nem mesmo correção inflacionária dos valores salariais. A perda do poder aquisitivo foi a marca do assalariado brasileiro. Ferreira (1994, p. 17) pontua que “[...] considerando somente o período 1960-80, observa-se um acentuado descompasso entre o ritmo de crescimento de produção e o salário mínimo.” Isso teve um impacto negativo sobre a distribuição de renda.

Para os trabalhadores, restou apenas a superexploração de sua força de trabalho com jornadas exaustivas, rotinização de tarefas, desvalorização do profissional, instabilidade no emprego e forte repressão sindical em decorrência da ditadura militar a partir do golpe de 1964, com reversão do quadro repressivo na década de 1980.

2.6.2 Reestruturação Produtiva no Brasil

Apesar da disseminação do toyotismo ter ocorrido no mundo na década de 1970, tal modelo só ganhou força e amplitude no Brasil a partir da década de 1990, trazendo grandes alterações nas características do trabalho.

Segundo Antunes (2011, p. 127),

Depois de um primeiro ensaio, no governo Fernando Collor, significativo, mas logo estancado pela crise política que se abateu sob seu governo, o processo de reestruturação produtiva deslanchou por meio do Plano Real, a partir de 1994. Sob o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Araújo, Cartoni e Justo (2001) apontam a adoção dos Círculos de Controle de Qualidade (CQC) no setor metalúrgico como resposta à situação econômica recessiva na década de 1970 e indicam a reestruturação na década de 1980 concentrada, inicialmente, na indústria automotiva sendo expandida no final da década para outros setores produtivos. Mas é na década de 1990, com a abertura de mercado e pressão pela modernização das empresas que o toyotismo é generalizado e passa a ser defendido intensamente pelos gestores, com o discurso a favor do movimento pela qualidade.

Os mesmos autores destacam a intensidade dos impactos da reestruturação no setor financeiro. O incremento desse quadro no Brasil deu-se a partir do governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992). A partir de 1995, o governo Fernando Henrique Cardoso deu novo impulso à adoção de medidas neoliberais, acelerando o processo de privatizações e aprofundando a desregulamentação do mercado financeiro. Nesse período, a estabilização econômica, que reduziu a rentabilidade dos bancos, e a permissão para o aumento da participação de instituições estrangeiras no país desencadearam a quebra de vários bancos e um processo de fusões/aquisições e de privatizações de bancos públicos, resultando em uma concentração do sistema bancário nacional, no interior do qual também ocorreu maior concentração de poder por parte dos bancos estrangeiros. (FREITAS, 1998).

Antunes (2011, p. 128) ainda especifica que,

Como consequência das práticas flexíveis de contratação da força de trabalho nos bancos (mediante a ampliação significativa da terceirização, da contratação de trabalhadores por tarefa ou em tempo parcial e da introdução dos call centers), presenciou-se uma ainda maior precarização dos empregos e a redução de salários aumentando o processo de desregulamentação de trabalho e de redução dos direitos sociais para os empregados em geral e, de modo ainda mais intenso, para os terceirizados.

A flexibilização propagada a partir da reestruturação produtiva chegou à esfera dos direitos trabalhistas, ameaçando a desregulamentação de leis que asseguravam alguns benefícios aos trabalhadores, tais como férias, 13º salário, FGTS e outros. Os contratos de trabalho por tempo determinado, prestação de serviços com modalidades de contratação, isentam o empregador de boa parte dos encargos trabalhistas, deixando o trabalhador em posição totalmente desfavorável.

Despojado dos meios de produção na sociedade capitalista, sendo a sua força de trabalho uma mercadoria como qualquer outra, e subjugado aos desígnios do capital, o trabalhador além de espoliado e sem qualquer controle sobre o processo de trabalho, fica também totalmente dependente das condições de oferta de trabalho para garantir a reprodução de sua existência. A economia capitalista, levada pelas contradições de seu desenvolvimento, encarrega-se de criar “excedentes” de mão de obra, uma vez que aumenta seus investimentos em inovações tecnológicas (máquinas, instrumentos, instalações, matérias-primas, etc.), ao mesmo tempo em que diminui os recursos destinados para a parte que é empregada em força de trabalho. Ou, em outras palavras, com base nas ideias marxianas, o que ocorre nessa relação é a substituição cada vez maior do trabalho vivo, a força de trabalho, pelo trabalho morto, os meios de produção. Assim, quanto mais se desenvolve uma sociedade, em termos de uso de tecnologia, maior a possibilidade do desemprego.

Desta forma, à medida em que flexibilizam-se as relações de trabalho com a desregulamentação dos direitos dos trabalhadores, aumentam-se os índices de desemprego e subemprego, levando o ser humano a condições precárias de existência.

A crise do emprego é uma realidade em todo o mundo e a “empregabilidade” é a nova forma de dizer ao trabalhador que ele é o grande responsável por sua requalificação e inserção no mercado de trabalho. A lógica capitalista do desemprego dissemina a crença de que todo trabalhador que investe em cursos e estratégias de aprendizagem resolvem a questão da empregabilidade à revelia das questões socioeconômicas que envolvem a discussão sobre a questão do desemprego.